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ENTREVISTA COM A PROFESSORA DE SAMBA IMANI AANU
A E D I Ç Ã O D A R E V I S T A O L H A S Ó ! E N T R E V I S T O U A P R O F E S S O R A D E S A M B A E P A S S I S T A D A E S C O L A A U S T I N S A M B A , I M A N I A A N U
Imani: (...) muito obrigado por me incluir em seu projeto. É uma honra ser incluída. (...) Meu nome é Imani. Eu sou residente em Austin, Texas, desde 2005 (...) mudei de St. Louis, Missouri para Austin e eu viemos para Austin por causa da minha trajetória profissional. Eu estava naquela época no Programa de Auditoria Interna Global para uma empresa e a Dell me contratou para executar o programa de auditoria interna para América do Norte e do Sul. (...) Eu fiz isso por cerca de um ano e meio. E naquela época, ao executar esse programa de auditoria interna, eu tinha equipes em toda a América do Norte, do Sul e Central. Então, como você pode imaginar, esse trabalho profissional me levou ao Brasil novamente porque antes disso, na minha carreira antes da Dell (...) eu já tinha viajado bastante para o Brasil. E, claro, naquela época eu estava viajando profissionalmente. Cada vez que meu trabalho me levava ao Brasil e a qualquer outro país ou comunidade que fosse nova para mim, eu queria aprender sobre a cultura. Eu queria descobrir mais sobre a cultura. Então, naquela época, eu viajei originalmente para São Paulo. Eu viajei para Sa José Dos Campos. Estive em Porto Alegre muitas vezes por causa do meu interesse pessoal pelas raízes africanas da cultura brasileira, particularmente o samba, e pelas pessoas que vieram de Angola e da costa oeste da África por meio do comércio transatlântico de escravizados e que trouxeram essa rica cultura. (...)Eu decidi viajar para o Nordeste (...) Bahia e Salvador, que basicamente roubaram o meu coração.
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Foto de https://cbsaustin.com/

(...) eu compartilhei essa informação porque foi nessa época que eu comecei a aprender sobre a cultura brasileira.
Denise: Poderia falar um poquinho sobre teu trabalho na escola de samba aqui em Austin?
Imani: A Acadêmicos da Ópera the Austin Samba School é uma escola de samba que foi idealizada e fundada fundada por Robert Patterson, que é conhecido pelo apelido de jacaré . Ele descobriu a música brasileira e ficou tão apaixonado e tão cativado que ele quis aprender tudo sobre a Música Popular Brasileira (MPB). (...) Ele é a pessoa que plantou a semente e criou a comunidade que eu encontrei. Ele já tinha conseguido formar uma bateria gigante. Eu não sei se você sabe, mas a bateria da escola de samba de Austin é um dos maiores grupos de percussionistas no país. A escola já tinha também um pequeno grupo de dança que basicamente se concentrava nos estilos de samba do Rio de Janeiro, e ele sempre quis incorporar danças que refletissem as raízes africanas do samba. Ele queria uma dança que refletisse estilos vindos de Salvador. E então, ele me pediu para começar um grupo de dança que pudesse trabalhar vários estilos. (...) Então, a partir de 2009, entrei para o Austin Samba. Atualmente, somos a maior comunidade de samba que conhecemos em toda a América do Norte que abraçou a cultura brasileira e quer mostrar as raízes dessa cultura por meio do samba. No momento, eu sou a diretora e coreógrafa da escola.

Denise: Como acontece o Carnaval aqui em Austin?
Imani: O Carnaval nós fazemos de forma diferente porque aqui é inverno e por isso a escola se apresenta no galpão. E em vez de um desfile pela Avenida, nós preparamos uma hora de apresentações no palco. Cada ano é um tema diferente. E todos os integrantes da escola apresentam os diferentes elementos que uma escola de samba tem: baianas, passistas, percussionistas, as alas, os cantores, etc. É uma grande festa. E queremos nos divertir durante toda a temporada. Gostaria de destacar que também damos cursos e organizamos diferentes eventos pelo Caribe.
Denise: Você falava da preocupação que vocês têm de ensinar e apresentar as origens do samba, você poderia falar mais sobre como você vê essas raízes?
Imani: (...) Gosto de garantir que as pessoas entendam que esse ritmo e essas danças vêm de um povo, vêm de um lugar, vêm de uma experiência. É uma parte da história política que está profundamente enraizada e que é mantida com muita honra para mim e muitos de nós que é a história negra no Brasil. E eu tento garantir que as pessoas experimentem o samba através de minha aula, mas além da dança meus estudantes sempre vão conhecer um pouco da história do samba, que é a história do povo negro no Brasil. A história do samba se vincula a minha história, porque a gente aprende sobre a história dos nossos ancestrais e do nosso vínculo com os tambores africanos e as danças de várias partes do continente.
Denise: Como o samba e sua história fizeram você perceber que há uma ancestralidade em comum entre negros brasileiros e negros americanos?
Imani: É a história dos negros. E a nossa história, nossa cultura, é a história da luta por liberdade. (...) Eu sou uma pessoa negra que também está enraizada nesses ancestrais, e isso é muito significativo para mim. Mas é nítido, sendo uma pessoa que não nasceu no Brasil, mas que está refletindo essa cultura brasileira, é sempre importante prestar homenagem, honrar e reconhecer a importância dos ancestrais e dizer isso às pessoas que estão aprendendo comigo. Esse belo estilo de dança e música que estamos curtindo vem de um lugar de resistência e resiliência dos negros, do povo africano que foi levado ao Brasil e que teve que trilhar um caminho para sobreviver e prosperar apesar das condições em que estava. E assim, toda vez que estou (...) sambando, estou numa conexão com esses ancestrais. Estou dançando a revolução. Estou dançando a alegria e celebrando a força a energia do nosso povo.
Denise: Então você sente que tem uma conexão maior com o samba mais que com os estilos, também negros, como o Jazz ou Soul? No samba é onde você sente essa conexão que vai mais além da arte, algo ancestral?

Imani: Eu me identifico com nossos ancestrais e com a luta. E no samba, vou admitir, sempre tive uma conexão com a bateria. A bateria (...) me liga, me move. Então, especialmente no sul e no oeste do Texas os negros se conectam com essa alma do jazz, algo que também transcende. E eu gosto disso também, mas quando eu ouço a bateria, eu percebo que é uma coisa especial, uma coisa diferente. E eu sinto que através dos tambores, eu ouço a voz dos meus antepassados e ali eu sinto essa conexão. E então é sempre uma inspiração para mim (...) e meu espírito reconhece algo sobre o qual quero aprender. É isso. Eu me aproximo desses tambores, dos ritmos, da cultura, dos ancestrais, das pessoas, da comida, da história, de todas essas coisas para conhecê-las e entendê-las melhor. E depois, entender mais e me identificar cada vez mais. Porque, como você bem sabe, a experiência dos nossos ancestrais no Brasil e o que eles passaram é semelhante à experiência de nossos ancestrais nascidos no Mississippi ou em outros estados do sul dos Estados Unidos. Eu acho que isso é tão interessante!

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