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ENTREVISTA COM LUANA LORRAYNE DE OLIVEIRA COELHO E ANDREZZA VIEIRA
A EDIÇÃO DA REVISTA OLHA SÓ! ENTREVISTOU AS AU PAIRS ANDREZZA VIEIRA E LUANA LORRAYNE DE OLIVEIRA COELHO
Luana e Andrezza são brasileiras, Luana é da cidade Betim em Minas Gerais e Andrezza é da cidade de Salto, interior de São Paulo: Ambas estão nos Estados Unidos trabalhando como au pairs e vão falar um pouco dessa experiência para nós.
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Denise: Quando começou a sua procura por um intercâmbio, Luana?
Luana: Eu cheguei nos Estados Unidos há três anos. Eu vim em (...) 2019 e esse foi um dos processos de intercâmbios mais baratos e acessíveis, na minha opinião. Eu acredito que neste intercâmbio você faz um investimento e recebe um retorno mais rápido do que nos outros intercâmbios, mas gostaria de destacar (...) que mesmo sendo o intercâmbio mais barato, na minha opinião, ainda assim reconheço que o preço não seria acessível para muitas pessoas que gostariam de participar, o que é muito triste. Eu sempre tive vontade de fazer um intercâmbio e por isso desde dos 12 anos de idade venho tentando aproveitar alguma oportunidade. Por isso, considero o meu processo de busca de um programa e de participação em algum intercâmbio um processo longo pra mim. Para que eu pudesse participar desse intercâmbio eu tive que correr atrás dos requisitos exigidos, como por exemplo a carteira de habilitação.

Foto de Luana
Luana: A pessoa deve ter entre 18 e 26 anos, carteira de habilitação e ter no mínimo 200 horas comprovadas de trabalho na àrea de cuidado infantil. Lembrando que aqui nos EUA a pessoa terá que tirar sua carteira de habilitação também, mas o processo é bem mais tranquilo. Eu não tinha a carteira e pude vir dois anos antes da idade permitida no programa de au pair.
Denise: Como uma pessoa poderia comprovar essas 200 horas de trabalho com crianças se ela nunca trabalhou numa instituição ou escola por exemplo, há outras formas aceitáveis de comprovação?
Luana: Sim. Para uma pessoa que nunca trabalhou num instituto infantil ou escolinhas, mas que ajuda a cuidar dos filhos de algum parente, vizinho ou amigos, ela tem a opção de pedir referencias e registrar as horas trabalhadas para comprovar que de fato já trabalhou com crianças. Um detalhe importante é que a pessoa tem que gostar de crianças porque ela vai trabalhar 45 horas semanais - que é o máximo - com as crianças. Então se você não gosta de criança, é complicado.
Denise: Como é o processo de escolha das famílias? Você já passou por quantas famílias?
Luana: É em comum acordo. A família te escolhe e você escolhe a família. Então há um processo de entrevista onde a familia e a au pair falam sobre os requisitos. Os requisitos são os itens que são importantes para você, por exemplo, no meu caso, num primeiro momento era ter carro, ter a empatia da família e não ser tratada de qualquer forma, mas sim como uma pessoa adulta. Eu passei por duas familias antes de chegar nessa que estou agora. A primeira desistiu na semana de eu viajar para os EUA. Eu que já estava com a papelada e tudo pronto. Encontrei rapidamente uma outra familia, mas quando cheguei vi que todos os requisitos que eles combinaram comigo não estavam sendo cumpridos. Apenas um não fugia muito do que a mãe das crianças me falou. Ela me disse que seria muito trabalho, e era muito, mas muito trabalho mesmo. (...) Fui para a terceira família. que tinha várias coisas que eu acreditei que seriam legais. Tanto é, que eu tenho um elo bacana com eles.


Denise: E sobre o idioma, você já tinha feito inglês no Brasil ou aprendeu aqui? No início foi complicado para você se comunicar?
Luana: Eu acho que foi um choque no início pra mim. Eu não sabia muito e creio que já tive uma evolução muito grande, mas eu ainda preciso melhorar, claro. (...) Eu sinto que ainda tenho muitas barreiras com o inglês. Morando com a família e conversando com as crianças diariamente eu aprendi bastante. A barreira que eu digo, vai mais além do aprendizado. Ela pode ser cultural também. Por exemplo, na minha primeira familia os pais eram indianos, então eu não entendia bem o que eles falavam porque eles também estavam no processo de aprender a falar bem o idioma.
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Eu faço de tudo para me comunicar o melhor possível. Faço mímica. E se eu não consigo falar uma palavra eu busco logo outras formas para falar, outras frases. E depois, a gente não fica trancada em casa. Você precisa se virar. Você tem que entender o trânsito, resolver problemas comuns e diários que em outro idioma ganham outra proporção. Se eu tinha que resolver isso ou aquilo, eu às vezes não conseguia. Não conseguia resolver coisas pra mim mesma no início, mas no momento eu consigo resolver tudo, sabe. Hoje em dia, sim.


Fotos de Luana


Andrezza: Quando eu estava com mais ou menos com 24 anos, eu pensei: "não gente, preciso de uma mudança" . Eu trabalhava há oito anos na mesma empresa e eu já estava enjoada de ficar ali. Não tinha uma perspectiva de crescimento, sabe. Eu gostava das pessoas com que eu não trabalhava, elas me tratavam muito bem, mas era isso. Eu não tinha visão de crescimento ali dentro.
Denise: Qual é a sua formação?
Andrezza: Eu sou formada em Comércio Exterior, e eu me formei acho que um ano antes de vir para cá (EUA).
Denise: Como você ficou sabendo do programa au pair?
Andrezza: Eu descobri o programa por uma amiga quando eu tinha 15 anos, mais ou menos. O curioso é quando eu era adolescente, eu falava sobre ir embora do Brasil porque naquela época eu dizia para as pessoas que eu não gostava do Brasil. Mas aí, quando eu comecei a viajar pelo Brasil, eu me apaixonei pelo nosso país. Eu descobri que eu amo o Brasil. Hoje eu entendo que não dá para amar sem conhecer. Eu sou do interior. Enfim, essas coisas, quem conhece o Brasil não tem como não amar. E daí eu deixei esse sonho de lado, depois tive alguns relacionamentos e só quando eu já estava com 21 para 22 anos foi que eu voltei a pensar nisso de novo.

Denise: Com quantos anos você saiu do Brasil para começar a trabalhar no programa?

Foto de Andrezza
Andrezza: Eu entrei no programa com 24 anos, vim em fevereiro de 2020. Hoje eu estou com 26
Denise: E você já falava inglês antes de entrar para o programa?
Andrezza: Sim eu trabalhava com inglês, mas o inglês que eu tinha era aquele inglês de bunisses (risos), aquele que só fala sempre as mesmas coisas (...) eu não tinha o inglês do dia a dia. Nossa... era bem fraco e isso foi uma das coisas que pesou bastante antes de vir para cá, porque eu não tinha um diálogo assim... fluente mesmo, sabe... (...) Então, isso pesou bastante. Num foi fácil no início.

Fotos de Andrezza
Denise: E quais foram os seus critérios para escolher a familia?

Andrezza: Então, eu não queria trabalhar nos finais de semana, queria ter um carro para me locomover com ou sem as crianças e também perguntava se a familia não gostava de pessoas tatuadas. E uma vez a dona da casa disse que ia perguntar/pedir pro o marido.... (risos) Aaaaa, não... se vai ter que pedir permissão sobre tatuagem para o marido, então não. É tanto que quando apareceu essa família que eu estou atualmente, eu já estava de saco cheio de tanto fazer entrevista.
Denise: Essa é a sua primeira familia ou a segunda?
Andrezza: Essa é a minha primeira familia. (...) Depois de muitas entrevistas, entrou essa família. Nós conversamos, mas eu não queria queria vir aqui pro Texas. Eu tinha uns preconceitos sobre o Texas, eu achava que era um estado muito cowboy ainda, muito conservador e muito machista. Infelizmente tem essas coisas, mas também tem as suas vantagens aqui, como por exemplo o clima, o inverno aqui não é tão severo (...) e aqui também não tem furacão... essas coisas. Eu gosto muito de morar aqui e quando eu conversei com essa família (...) eu vi que a gente se deu bem. Vi que eles gostavam das mesmas coisas que eu. (...) Eu gosto muito deles e acho que tive sorte de encontrá-los.
Andrezza: Sim, essa é a minha primeira experiência. As únicas viagens que eu fiz foram pelo Brasil. (...) Eu não conhecia nenhum outro país.
Denise: Você também teve dificuldades com o tema da carteira?
Andrezza: Eu já dirigia no Brasil desde os meus 18 anos. Eu tirei minha carta com 18. Então quando eu cheguei aqui, com esses carros automáticos, não foi tão difícil porque eu já tinha dirigido um carro automático. O que foi um pouco mais complicado foi só pelas diferenças do que se pode ou não fazer no trânsito. Aqui você pode virar um sinal vermelho, também virar para a direita e o sinal de pare é de pare mesmo. No Brasil também (risos). É, tem umas coisas diferentes. Mas depois que você se acostuma, aí é tranqui.
Denise: Depois de viver tanta coisa aqui, inclusive estar aqui durante a pandemia, e também de observar nosso país desde um outro ponto de vista, eu gostaria de saber se vocês querem
voltar para o Brasil e qual a expectativa dessa volta ou vocês querem seguir vivendo fora do país?
Andrezza: Eu não tenho mais vontade de morar no Brasil hoje. (...) Eu não me vejo mais morando na minha cidade, por ser uma cidade do interior e por várias questões. Eu amadureci aqui, eu me tornei uma outra pessoa que já não se enquadra com a cultura da cidade. Eu teria que morar em São Paulo, mas... não. Tá tudo muito caro. As questões políticas também, não dá. Eu trabalhava muito no Brasil, mas não conseguia juntar nada. Se eu trabalhasse aqui o tanto que eu trabalhava no Brasil, eu iria conseguir ainda mais coisas. Aqui você trabalha bastante, mas você tem mais oportunidade de conseguir fazer suas coisas. Tem coisas aqui eu acho que a gente deveria ter acesso gratuito como a saúde pública, ter um sistema igual ao do Brasil, mas é isso. Vejo que aqui eu trabalho e tenho mais resultado.
Luana: Essa é uma pergunta que eu me faço bastante e estou cada dia mais em crise. Há uns 3 ou 4 meses atrás eu estava certa de querer voltar pro Brasil, mas agora eu tenho dúvida. Tenho feitos planos A, B, C e D (risos), mas decidi que devo voltar para o Brasil e se eu perceber que não tá rolando nada, que as coisas não estão andando, sabe, aí é ir embora de novo. Creio que o primeiro passo eu já dei, que foi viver essa experiência e aprender outro idioma... Foi difícil tomar a decisão de voltar pro Brasil, mas também não acho que tenho que necessariamente ficar lá, se as coisas não estiverem dando certo.



