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ACOLHER E DAR APOIO: COMO A TURMA DE PORTUGUÊS PARA FALANTES DE ESPANHOL CRIOU UM MAPA DE RECURSOS CRÍTICOS PARA REFUGIADOS QUE VÊM MORAR EM AUSTIN, MARIANA SABINO
ACOLHER E DAR APOIO: COMO A TURMA DE PORTUGUÊS PARA FALANTES DE ESPANHOL CRIOU UM MAPA DE RECURSOS CRÍTICOS PARA REFUGIADOS QUE VÊM MORAR EM AUSTIN
Por Mariana Sabino
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Depois de três semanas que o curso de português havia começado, Nica e Oriana apresentaram para a turma a origem e as causas da atual crise de refugiados. Nessa altura do semestre, meus alunos principiantes nunca tinham se expressado com essa nitidez e entusiasmo. Foi difícil controlar minha emoção enquanto eles faziam sua primeira apresentação. Percebi que o rendimento deles estava fora do comum, provavelmente porque seus objetivos eram sociais e não pessoais. Oriana, uma imigrante venezuelana, expressou: “Os refugiados tinham uma vida inteira nos seus países de origem. Eles tinham família, amigos e emprego. Eles estão reiniciando suas vidas num outro país devido a situações no país de origem que colocaram suas vidas em risco. É importante acolhê-los e dar apoio a eles!” . Nos últimos três anos que tenho dado aula de português na UT percebi que muitos dos meus alunos tinham ideias voltadas para o ativismo e vontade de colaborar com grupos marginalizados. Mas as aulas pareciam desvinculadas das comunidades locais de falantes de língua estrangeira e os conteúdos dos livros focados em problemáticas que apontam a outras latitudes. Quando surgiu a oportunidade de estudar a metodologia de aprendizagem baseada em projetos (PBL pelas suas siglas em inglês), soube que queria trabalhar com grupos de refugiados e imigrantes em Austin com a turma de português para falantes de espanhol. A aula de português para falantes de espanhol é um espaço pedagógico único porque uma porcentagem alta dos estudantes é imigrante, ou os seus pais, ou seus avós vieram de outro país. Portanto, esperava que tivessem maior empatia para com os refugiados e isso os motivasse a apoiar qualquer iniciativa relacionada a estas populações.
Foto de Mariana Sabino
Texas é um estado fronteiriço que recebe imigrantes de todo o mundo, mas a maioria dos recursos informativos estão em espanhol. Da mesma forma, os requerentes de asilo e os refugiados que falam português precisam de informações na sua língua. O nosso objetivo foi criar um mapa para aumentar a auto-suficiência entre os imigrantes que falam português e chegam à cidade. A expectativa é que esse mapa pudesse beneficiar principalmente refugiados políticos angolanos e migrantes haitianos que moraram no Brasil e vieram ao Texas.
Para a execução do projeto, dividi a turma em três grupos e o semestre inteiro esteve estruturado em torno da elaboração dum mapa com recursos críticos. Os estudantes realizaram entrevistas a refugiados para fazer um levantamento das suas necessidades. Mais tarde, começaram um mapeamento dos recursos que se oferecem de maneira gratuita ou a baixo custo em Austin. Assim, as três apresentações e os quatro ensaios estiveram focados em refletir sobre a experiência do refugiado, apresentar os resultados da sua pesquisa, e dar retroalimentação aos seus parceiros.
Este projeto se desenvolveu com ajuda da Casa Marianella e Cultura Brasil Austin, duas organizações que trabalham com imigrantes em Austin. Educadores comunitários e voluntários destas organizações avaliaram os resultados e ajudaram na organização de eventos paralelos. A assistência técnica de Katherine Strickland, encarregada da coleção de mapas na Perry-Castañeda Library, foi também valiosa. Os pesquisadores no Centro de Inovação do Flagship Technology Center da Universidade de Havaí em Manoa apoiaramnos durante a implementação do projeto através de assessoria pedagógica. Finalmente, os estudantes consideraram as experiências que eles mesmos e a suas famílias tiveram quando migraram aos Estados Unidos. Alguns deles eram migrantes mexicanos de primeira geração, outros tinham avós ou pais brasileiros, portugueses ou cubanos. Estas histórias de êxodo potencializaram sua participação no projeto e a sua aprendizagem de português. Os estudantes desenvolveram um mapa online que pode ser acessado através dum código QR. Chande Blurton, uma estudante da turma, também criou uma versão impressa que será entregue aos imigrantes e refugiados na sua chegada à cidade. O mapa inclui recursos críticos como ajuda legal, bancos de alimentos, e centros de saúde. Depois das entrevistas, os estudantes perceberam que haviam outros recursos que tínhamos negligenciado e também eram importantes para o bem-estar desses migrantes. Os estudantes desenvolveram um mapa online que pode ser acessado através dum código QR. Chande Blurton, uma estudante da turma, também criou uma versão impressa que será entregue aos imigrantes e refugiados na sua chegada à cidade. O mapa inclui recursos críticos como ajuda legal, bancos de alimentos, e centros de saúde. Depois das entrevistas, os estudantes perceberam que haviam outros recursos que tínhamos negligenciado e também eram importantes para o bemestar desses migrantes.


Foto de Mariana Sabino
Por exemplo, a importância do embelezamento dos cabelos é uma forma da preservação da sua identidade, e a sua participação numa comunidade religiosa incide no seu processo de integração. Uma das questões que os estudantes tiveram que remediar foi a dificuldade que os migrantes tinham para ir dum lugar a outro, o que motivou a mudança do mapa do aplicativo izi.travel ao googlemaps onde teriam informação sobre as distâncias e meios de transporte entre pontos de partida e chegada. De fato, durante a execução deste projeto, os beneficiários não foram apenas os refugiados que tiveram acesso ao mapa, mas os estudantes que estiveram expostos à língua que aprenderam em situações que exigiam competências culturais difíceis de assimilar ao longo do semestre. Eles também puseram em prática metodologias que aprenderam em outras aulas, adquiriram conhecimento profundo sobre a cidade onde moram, usaram distintas plataformas para o mapeamento, desenho de logotipos e inquéritos, e aplicaram teoria migratória. Esperamos que através do Mapa ATX os refugiados tenham acesso a informações em português que os ajude a ter uma vida mais autônoma e digna. Foi uma aventura e um aprendizado imenso para todos os participantes deste projeto contribuir na realização do Mapa ATX.

Foto de Mariana Sabino
