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do Acordo Ortográfico

simples e uniforme, para ser usada nas publicações oficiais e no ensino. Assim, em 1911 faz-se a primeira reforma ortográfica, baseada na proposta das Bases da Ortografia Portuguesa, de Gonçalves Viana (1885). Contudo, esta ‘reforma ortográfica simplificada’ não foi extensiva ao Brasil, país cuja Academia de Letras já tinha decidido simplificar a ortografia desde 1907. A partir desta altura, Portugal e Brasil encetam conversações no sentido de procurarem uma grafia comum aos dois países, todavia, nunca se chega a um consenso.

Só em 1943 é redigida uma Convenção Ortográfica entre Portugal e Brasil, que o Brasil implementou até à entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990, em 2009, mas que Portugal reescreve e ratifica em 1945, não sendo seguido pelo Brasil. É este Acordo Ortográfico de 1945 que se torna lei em Portugal e que é substituído agora pelo Acordo Ortográfico de 1990, embora tenha sofrido ao longo das décadas algumas pequenas alterações, sempre no sentido de se reduzirem as divergências ortográficas entre Portugal e Brasil (e.g., possìvelmente passa a possivelmente, côr passa a cor, govêrno passa a governo, etc.).

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Depois de muitas conversações entre os representantes dos países da CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe), em 1990 redigem-se as bases do Acordo Ortográfico, prevendo-se que entrasse em vigor em 1994, o que não

Acentuação gráfica

Outra das mudanças é a acentuação gráfica. À semelhança do que já acontecia em palavras como comboio, eliminase o acento agudo (´) nos ditongos <oi> que ocorrem em palavras graves (ou se - se verificou porque os sete países da CPLP de então não ratificaram todos o documento. Por esse motivo, em 1998 é assinado um protocolo modificativo do AO, em que se retira do texto a data da sua entrada em vigor, e em 2004 aprova-se um segundo protocolo modificativo do AO, segundo o qual basta que três países o ratifiquem para que entre em vigor. Na sequência destas alterações, em 2008, o AO é ratificado pelo Brasil, Cabo Verde, Portugal e S. Tomé e Príncipe, prevendo-se a sua implementação em todos os países da CPLP (agora oito, com a entrada de Timor-Leste) e estipulando um período de moratória de 6 anos (estendendose o prazo até 2014).

Assim se escreve com o acordo ortográfico:

Meses Estações do ano

Pontos cardeais, colaterais e subcolaterais janeiroprimavera norte fevereiro verão sudeste, és-nordeste

AO 1945 AO 1990

Heróico Heroico

Jibóia Jiboia

Paranóia Paranoia

Tróia Troia

AO 1945 AO 1990

Vêem Veem

Lêem Leem

Dêem Deem

AO 1945 AO 1990

Acção Ação

Objectivo Objetivo Electricidade Eletricidade

AO: acordo ortográfico ja, na penúltima sílaba da palavra). Mas este acento mantém-se se o ditongo <oi> ocorrer em palavras agudas (acentuadas na última sílaba, como constrói e herói) e nas monossilábicas (dói e mói).

Também se elimina o acento gráfico circunflexo (^) nas formas verbais terminadas em <eem> (mas os derivados dos verbos ter e vir continuam a ser acentuados na terceira pessoa do plural, como em Eles têm dois filhos ou Elas vêm de avião.):

É igualmente obrigatório eliminarse o acento gráfico nas palavras homógrafas (i.e., palavras que são escritas da mesma forma e em que o acento era usado para desambiguar):

No entanto, o acento gráfico continua a usar-se obrigatoriamente em pode/ pôde e por/pôr, sendo facultativo em demos/dêmos, cantamos/cantámos.

Consoantes mudas

Outra das mudanças são as consoantes mudas. Aplicando o critério fonético, eliminam-se obrigatoriamente as consoantes <c> e <p> que não se pronunciam:

Se se pronunciarem, estas consoantes escrevem-se obrigatoriamente,

AO 1945 AO 1990

Pára (V parar) / para (preposição) Para

Pêlo (N) / pélo (V pelar) / pelo (contração)

Pelo

Pólo (N) / pôlo (N) / polo (contração) Polo

Pêra (N) / pera (preposição arcaica) Pera

Pêro (N) / pero (preposição arcaica) Pero

Coa (contração) / côa (N) / Coa (topónimo) Coa

AO 1945 AO 1990

Casa-de-banho Casa de banho

Cor-de-vinho Cor de vinho Fim-de-semana Fim de semana como em bactéria, facto, compacto, secção, apto, egípcio, opção, etc. No entanto, se houver oscilação na pronúncia dos falantes portugueses cultos, duas grafias são possíveis, como em assético/asséptico, caraterístico/ característico, concetual/conceptual.

Hifenização

Por útlimo a hifenização. À semelhança do que já acontecia com algumas palavras formadas por prefixos como extra- (em extraordinário), as palavras que envolvem prefixos e radicais de composição perdem obrigatoriamente o hífen e aglutinam-se (note-se que se duplicam as consoantes <r> ou <s>, se o primeiro elemento terminar em vogal e o segundo começar por <r> ou <s>): Mas há várias circunstâncias em que o hífen se mantém (veja-se a Resolução 26/91, Base XVI, pp. 4379), nomeadamente, quando o prefixo tem acento gráfico próprio (pré-escolar, pós-parto); o prefixo termina com uma vogal igual à que inicia a palavra seguinte (auto-observação, com exceção do prefixo co, como em coocorrência); a palavra a que o prefixo se liga começa com <h> ou é um nome próprio (semi-hospita- lar; anti-Salazar); os prefixos hiper-, inter- e super- se ligam a palavras que começam com <r> (hiper-rápido, inter-regional, super-responsável).

O hífen também se elimina nas locuções substantivas:

Mas o hífen mantém-se se as palavras designarem espécies zoológicas (louva-a-Deus) e botânicas (boca-de-leão) e nos gentílicos (caboverdiano). De igual modo, o hífen não se suprime nas ‘formas consagradas pelo uso’ (cor-de-rosa, água-de-colónia, mais-que-perfeito, pé-de-meia, jardim-de-infância, etc.)

Também se elimina o hífen nos compostos em que se perdeu a noção de composição (mas mantém-se em expressões como guarda-chuva, salva-vidas, deus-dará e queima-roupa):

Finalmente, o hífen elimina-se nas formas monossilábicas do verbo haver, à semelhança da escrita de todas as restantes formas conjugadas deste verbo:

No sítio da Escola Superior de Educação de Lisboa estão disponíveis para consulta alguns recursos organizados pelo domínio de língua portuguesa sobre as mudanças introduzidas no português de Portugal pelo AOLP de 1990.

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