3 minute read

Crónica de uma experiência Angolana

Em 2011, no âmbito de um acordo de cooperação com o Instituto Superior Politécnico de Benguela (ISPB) em Angola, um grupo de professores da área de Engenharia da Eletrónica e Telecomunicações e de Computadores (ADEETC) do ISEL deslocou-se a Angola. Para além de lecionarem algumas disciplinas, o grupo realizou ações de formação e auxiliou na instalação do software Moodle. O professor Vitor Almeida, um dos docentes que integrou o grupo, contou-nos a sua experiência.

Na primavera de 2011 a ADEETC do ISEL, foi incumbida de organizar um grupo de docentes, para se deslocarem ao Instituto Superior Politécnico de Benguela, tendo sido designados para o efeito os professores Paulo Marques, Vitor Almeida, Pedro Pinho e Diogo Remédios.

Advertisement

Depois de serem resolvidos vários assuntos relacionados com a viagem como vacinas, medicamentos, vistos, carta de chamada e bilhetes, a partir de setembro lá fomos nós, em semanas distintas, dar quatro disciplinas de forma intensiva de segunda a sexta-feira, das 18 horas às 23 horas. Os cursos no ISPB são na sua maioria noturnos. Eu fui lecionar a disciplina de Segurança em Redes de Computadores.No meu caso era a primeira vez que viajava para sul do continente africano. A longa viagem até Benguela correu, no meu caso, sem percalços de maior! Saí a uma sexta e cheguei ao pequeno aeroporto da Catumbela, depois de una escala em Luanda, sábado por volta da hora de almoço. No aeroporto, estava à minha espera o professor Jorge Morgado do ISPB com a carrinha do Instituto. O Hotel era aprazível, o tempo estava ameno, e o restaurante agradável, (fui sempre ao mesmo, o "Ferro Velho", cujo proprietário é português) de aspeto rústico mas com refeições de origem portuguesa muito bem confecionadas.

A cidade de Benguela tem aspeto de ter parado no tempo, com edifícios de estilo português dos anos sessenta, alguns recuperados e muito bonitos, outros, como uma escola primária na avenida marginal ainda a funcionar, a precisarem de uma grande recuperação. Possui ainda algumas ruas com passeios de "calçada portuguesa", veem-se também bairros de "telhado de zinco". O nível de vida é tão ou mais caro do que em Lisboa. O português habituado ao ambiente de Lisboa estranha um pouco e "tropeça" em coisas como os guardas armados de metralhadora à porta dos bancos

(sendo levado a relembrar-se que não está na Europa) assim como, por exemplo, os bandos de garotos à "solta" pelas ruas e na avenida à beira da praia. Algo que também se via em Lisboa há umas décadas quando os miúdos ainda podiam brincar na rua. Durante a semana as manhãs foram passadas no hotel na adaptação das aulas à realidade local, almoçava no bar do ISPB gerido por uma portuguesa. Nas tardes prestava apoio local nas redes do Instituto e a continuar a preparar/adaptar as aulas da noite, a partir das 18 horas. Ao jantar voltava novamente ao bar durante o intervalo das aulas.

O ISPB é uma instituição privada sendo constituído por um conjunto de edifícios modernos com boas condições boas para a lecionação. Mais de mil alunos frequentam vários cursos relacionados com áreas como a engenharia, saúde e administração.

Os alunos a quem lecionei mostraram-se interessados e interventivos nas aulas respondendo às questões por mim colocadas e colocando dúvidas. No primeiro dia aproveitei para "medir o pulso" para determinar minimamente o que sabiam e para rever algumas das bases necessárias sobre Redes. Nos restantes quatro dias lecionei a matéria de forma intensiva adaptando-a às necessidades e ao grau de conhecimento dos alunos locais. Como documentação usei o mesmo livro que utilizo no ISEL, acabei por oferecer ao ISPB um exemplar dada a dificuldade que alunos possuem para adquirir livros vindos do estrangeiro. Dei-lhes ainda o link para as páginas de Redes do ISEL, para terem acesso aos meus slides sobre toda a matéria lecionada assim como as provas e respetivas correções. Por falta de tempo a avaliação foi realizada posteriormente por docentes do ISPB. Os alunos que encontrei são muito diferentes dos meus alunos do ISEL? Não!

Embora apresentem algumas lacunas motivadas pela falta de conhecimentos de base sobre redes, o interesse dos alunos foi igual ou superior aos do ISEL.

Se me importaria de voltar a lecionar naquelas condições? Não!

Desejaria apenas aumentar o tempo disponível para as aulas para poder ir a pormenores que numa semana é impossível, mesmo num ritmo intensivo. Outro pormenor importante foi a componente laboratorial que, no ISPB não existiu. Estranhei ainda a noção das "horas" que os alunos tinham. O início e o fim das aulas nunca se realizou às horas previstas inicialmente, o horário seguia o ritmo dos costumes locais.O balanço final foi positivo, conheci outra realidade de um país com muito caminho para percorrer (qual é que não tem?) mas que tem vindo a melhorar. Serviu para conhecer um pouco melhor Angola através do contacto direto, quer com angolanos, quer com portugueses que lá trabalham. Deu para entender que o ISPB está a tentar impor-se no panorama do ensino superior angolano através da qualidade dos cursos ministrados aos seus alunos. Foi uma experiência que, apesar de cansativa (milhares de quilómetros de viagem e 5 horas de aula por dia todos os dias até às 23 horas), foi enriquecedora.

Gostaria de agradecer ao incansável prof. Jorge Morgado do Instituto Superior Politécnico de Benguela o seu profissionalismo e tudo que fez para que a estadia de todos os docentes do IPL/ ISEL e a relação com o ISPB e com os seus alunos tenha sido a melhor possível.

texto de Vitor Almeida

This article is from: