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ações no âmbito do Minc, entretanto, dado o caráter polissêmico e descentrado que envolve o que se entende por cultura, suas ações nem sempre restringem-se ao entendido tradicional como seu. Este fato dá-se pela própria característica do que entende-se como cultura, sua amplidão e capilaridade nos diversos setores da vida social, especialmente na construção de consensos sobre as identidades. Como venho demonstrando, desde o primeiro capítulo, a temática da cultura e da memória passam por forte variabilidade nos interesses dos diversos governos. A memória da nação foi tratada de forma muito diferenciada: de início na rarefeita criação do(s) IHGB(s) no Império, no Ministério de Educação e Saúde em 1930, Ministério da Educação e Cultura em 1953, até, finalmente em 1985, a criação do Ministério da Cultura, depois rebaixado à secretaria no governo de Fernando Collor e recriado por Itamar Franco, em 1993. Tal variabilidade demonstra a forte instabilidade que caracteriza o setor da cultura. O setor é conhecido por três “tristes tradições”: ausência, autoritarismo e instabilidade. Antonio Rubim (2008) caracteriza a ausência pela escassez de ações, o autoritarismo, pela contemporaneidade das poucas ações mais efetivas com os períodos históricos de ditaduras – 1930-1945 e 1964-1985 –, e instabilidade justamente pela evidente descontinuidade de ações e políticas. Cabe ressaltar, como bem lembra o autor, que o SPHAN/IPHAN representa certa exceção à regra, no sentido que caracteriza-se por um órgão aparentemente que prossegue formando quadros técnicos e mantendo um imaginário de estabilidade (RUBIM, 2008, p.191). Se considerarmos o período entre 1985 a 1995 a instabilidade no Minc se confirma na variedade de nomes e de biografias dos que comandaram a pasta, sendo dez ministros36. A continuidade do Ministério, nos mandatários da pasta nos dois governos seguintes de Fernando Henrique Cardoso, por mais que acenem para a estabilidade, estão muito longe de destacar-se no conjunto de ministérios tendo escassos 0,14% do orçamento da União em 2002, último ano desta administração (RUBIM, 2008, p.192). Este momento é tratado pela
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“A cultura, além destas idas e vindas do ministério em seus primeiros anos, teve inacreditáveis dez dirigentes responsáveis pelos órgãos nacionais de cultura em dez anos (1985-1994). cinco ministros (José Aparecido, Aloísio Pimenta, Celso Furtado, Hugo Napoleão e novamente José Aparecido) nos cinco anos de Sarney (1985-1990); dois secretários (Ipojuca Pontes e Sérgio Paulo Rouanet) no período Collor (1990-1992) e três ministros (Antonio Houaiss, Jerônimo Moscardo, Luiz Roberto Nascimento de Silva) no governo Itamar Franco (1992-1995)” (RUBINO, 2008, p.191-192).