A memória como projeto: tensões e limites da patrimonialização da capoeira

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sociologia clássica aponte a degradação na vida dos trabalhadores, ela entende a modernidade como um horizonte aberto de possibilidades14. Giddens afirma que há três problemas que acompanham a disciplina sociologia no entendimento da modernidade que dificultam uma compreensão mais abrangente. Primeiramente propõe uma ruptura com um olhar mais tradicional identificado exclusivamente com os três autores clássicos: Marx, Durkheim e Weber que viam respectivamente a modernidade como ordem social capitalista, complexificação da divisão do trabalho, e racionalização. Giddens ressalta o caráter “multidimensional das instituições”, tendo neste sentido cada uma das propostas algum papel na constituição da sociedade moderna. Um segundo ponto em crítica é a centralidade do conceito de “sociedade” na tradição sociológica que reforça uma noção de sistemas fechados, e enquanto unidades que possuem uma ordem interna que atua sinergicamente para sua manutenção. Em sua perspectiva deve-se atentar para como se constituem os sistemas sociais numa determinada configuração do tempo-espaço. Como terceira questão, destaca a relação entre a sociologia e seu objeto dentro do que descreve como processo de dupla hermenêutica. Na sociedade moderna há um processo dialético entre leigos e sociólogos, um modelo de reflexividade que é diferente de um modelo de acumulação. A proposta de Giddens de Dupla Hermenêutica nos ajuda a compreender a relação entre a produção de conhecimento técnico sobre os Estados-nação que alimentará a construção da nação, ao mesmo tempo que gera os próprios quadros burocráticos e profissionais de definição da mesma. A dupla hermenêutica associa-se a outra característica fundante na concepção de modernidade para Giddens (1979, 2009), a reflexividade. A reflexividade faz parte da base de reprodução do sistema na modernidade, sendo justamente uma das diferenciações com a tradição, quando se agia a partir de continuidades. Na modernidade as práticas são constantemente analisadas, abrindo ao risco as certezas, a confiança passa a ser depositada em sistemas mais amplos formados por especialistas. 14

Com diferentes matizes: em Marx a ordem social é capitalista no que concerne ao espaço de seu sistema econômico e em outras instituições, mas vislumbra uma mudança para um sistema social mais humano; Durkheim propunha que a rápida transformação não provinha do modo de produção capitalista, mas da complexa divisão do trabalho que levaria a um industrialismo harmonioso; já Weber fala em capitalismo, não em ordem industrial, que de forma um pouco mais pessimista vê a expansão da burocracia e progresso material esmagando autonomia e a criatividade. Os três autores apontam para o problema degradante da nova ordem social na vida dos trabalhadores mas não apontam para questões de outra ordem, entendendo, como exemplo, que o autoritarismo político e militar seriam problemas do passado.


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