A memória como projeto: tensões e limites da patrimonialização da capoeira

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mais democrática possível a participação dos mestres de capoeira na tomada de decisão das políticas a serem implementadas. Ele foi pensado a partir da experiência de Minas Gerais, em 2011, que iniciou com reuniões mensais realizadas na Superintendência do IPHAN de Belo Horizonte anteriormente à política de descentralização, e que, posteriormente, criou o Conselho de Mestre de Capoeira de Minas Gerais, em 2012105. Segundo Priscila Moreira e Luiz Renato Vieira (2014, p.8), o IPHAN-MG respondeu positivamente à solicitação de um grupo de mestres de capoeira de suporte para a realização de reuniões visando a organização de políticas públicas para a valorização da capoeira. Nesta parceria foi realizado o I Encontro de Formação do Conselho de Mestres de Capoeira da RMBH em que participaram cerca de 120 mestres. Os autores também assinalam que, a partir de 2012, com a descentralização do processo de salvaguarda, houve uma alteração desta parceria do IPHAN-MG com os mestres, mantendo-se apenas a cessão de espaço para reuniões. Para além da instabilidade no processo, a situação apresentada pelos autores revela a dificuldade das instituições envolvidas em lidar com o amplo universo da capoeira, fato também percebido posteriormente no Rio de Janeiro. Como o grupo anterior de 2012 em Minas Gerais já vinha sendo reconhecido como representante, com as novas reuniões organizadas em 2013 para a recomposição de um novo Conselho, construiu-se uma situação de dupla imagem. Criou-se a situação de representantes tanto das reuniões com os mestres iniciadas em 2011, quanto no Conselho de Mestres, criado em 2012: essa nova experiência gerou desafios e conflitos, como ocorreu na II Reunião de Avaliação da Salvaguarda de Bens Registrados, realizada em Brasília, em setembro de 2012. O IPHAN-MG recebeu recursos para enviar cinco representantes ao evento, sendo três eleitos pelos participantes das reuniões da salvaguarda e dois mestres indicados pelo Conselho, que escolheu os mestres mais antigos. Contudo, os mestres indicados não compareceram à reunião. Esse fato levou os membros do Conselho a refletirem sobre os critérios de escolha de seus representantes para encontros que envolvem questões burocráticas e políticas. (MOREIRA e VIEIRA, 2014, p.6)

A situação apresentada pelos autores sobre a experiência em Minas Gerais é reveladora de dificuldades enfrentadas e dos contextos em que as práticas de salvaguarda atuam. Em 2013, para a eleição da diretoria de seis representantes dos mestres no Comitê 105

http://comcapmg.blogspot.com.br, acesso em 15 de agosto de 2016.


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