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iniciado em fevereiro de 2012, sendo reconhecida por parte da UNESCO em outubro de 201492. Gilberto Gil expressou em 2004 a intenção deste reconhecimento, inserindo-o no pacote de políticas para a capoeira, anunciado em Genebra no evento discutido no capítulo anterior. Em 2014, a Roda de Capoeira somou-se ao Samba de Roda do Recôncavo Baiano, à Arte e Pintura Corporal dos Kusiwa, ao Frevo e à peregrinação religiosa do Círio de Nazaré, todos bens brasileiros já reconhecidos na lista da UNESCO. Técnicos do IPHAN e diplomatas presentes na reunião simbolizavam o esforço público, e os capoeiristas93 a anuência dos detentores dos bens. Em publicação de 2008 do Ministério das Relações Exteriores é destacado que somente em 2007 “mais de 50 eventos de capoeira em todos os continentes” foram patrocinados pelo Ministério”94. Ricamente ilustrado com imagens de Carybé e Pierre Verger95, esta publicação traz diversos textos de reconhecidos pesquisadores apresentando a capilaridade da capoeira ao redor do mundo, esclarecimentos sobre a história da capoeira e a contribuição do Brasil para o conjunto do patrimônio da humanidade. A publicação demonstra um esforço do Ministério em atuar também na valorização da capoeira no cenário internacional. A partir de um recorte mais longo, podemos entender que este esforço não é inaugurado neste momento. Como exemplo temos a participação de Mestre Pastinha, em 1966, no I Festival Mundial de Artes Negras, em Dakar, Senegal, que contou também com representantes de outras esferas, como artistas, intelectuais e professores. A viagem de Pastinha a Dakar entrou para o imaginário da capoeira e insere-se num esforço coletivo de órgãos como Ministério das Relações Exteriores e Departamento de Turismo da cidade de Salvador de reforço ao turismo, a partir do que discutia-se no âmbito do nacional-popular, 92
O reconhecimento se dá pelo Comitê do Patrimônio Mundial, reunido a cada dois anos, formado por 21 representantes dos Estados-membros da UNESCO. 93 Mestres Cobra Mansa, Pirta, Peter, Paulão Kikongo, Sabiá e Janja. Disponível em https://nacoesunidas.org/roda-de-capoeira-e-declarada-patrimonio-imaterial-da-humanidade/, acesso em 20 de agosto de 2016. 94 Ministério das Relações Exteriores, Revista Textos do Brasil, v. 14, 2008. 95 Carybé e Pierre Verger fazem parte de um conjunto de artistas e intelectuais que trataram de práticas culturais afro-brasileiras, especialmente em Salvador e ligados a Jorge Amado e Édison Carneiro em seus estudos sobre o folclore. Dentre os diversos trabalhos vinculados a este grupo, destaco de Édison Carneiro, Antologia do Negro Brasileiro, José Ribeiro, Brasil no Folclore, Odorico Tavares, Bahia : imagens da terra e do povo, Carybé, Sete portas da Bahia, Jorge Amado, Jubiabá e Tenda dos Milagres, todos com citando a capoeira com perspectivas semelhantes. Sobre os estudos de folclore no Brasil, ver Vilhena (1997).