ENTREVISTA | MÁRCIO BORGES E LÔ BORGES
Meio século de uma obra de arte mineira Os irmãos Lô e Márcio Borges são dois dos personagens que se juntaram para a criação do álbum duplo Clube da Esquina, que completa 50 anos em 2022. O disco, um dos melhores e mais significativos da música, parceria de Milton Nascimento e Lô Borges, é tema de homenagens e tem trazido à luz destes tempos as histórias que fizeram da sua gravação e dos artistas que dela participaram tão especiais
Neide Magalhães
A esquina mais famosa de Belo Horizonte fica no bairro Santa Tereza, no encontro das ruas Divinópolis e Silvianópolis. Era lá que, a partir dos anos 1960, uma garotada muito musical se reunia para conversar, tocar, cantar, falar dos Beatles, da MPB, do jazz. Nesse pedaço de chão despretensioso nasceu um dos encontros mais promissores da cultura popular brasileira. A esquina da residência do casal Borges (Maricota e Salomão), seus 11 filhos e os tantos agregados entrou para a história. Em forma de música, poesia, livro, disco, filme, pintura, fotografia e muita criatividade. Cinco décadas se passaram desde que o Clube da Esquina ganhou a forma arredondada e definitiva de um disco de vinil (dois, aliás), com o lançamento do álbum duplo que faz bodas de ouro neste 2022. A ideia, capitaneada por Milton Nascimento, o cantor-compositor mais mineiro dos cariocas de que se tem notícia, não só gerou uma das obras aclamadas da música brasileira – aqui e no exterior – como também trouxe à tona o talento de jovens artistas, entre eles Lô Borges, coautor do disco, e reuniu um time de músicos de primeira linha. De Paulo Moura (clarinete) a Eumir Deodato (teclados), de Wagner Tiso (piano) a Robertinho Silva (bateria), o álbum duplo reúne um grupo de 16 artistas, 10 deles mineiros: além de Lô, os letristas Fernando Brant e Márcio Borges; os compositores-cantores-músicos Tavito, Toninho Horta, Beto Guedes, Tavinho Moura; os músicos Nelson Ângelo, Tiso e Rubinho Batera. Dois nomes do time de mineiros já morreram: Fernando Brant (em 2015, aos 68 anos) e Tavito (em 2019, aos 71). Clube da Esquina, o registro fonográfico, foi produzido em plena ditadura militar, um tempo em que tudo que envolvia arte era alvo de suspeita, investigação e punição severa. 14 |Encontro
QUEM SÃO MÁRCIO FRAGOSO BORGES, 76 ANOS Origem: Belo Horizonte Carreira Compositor, letrista e escritor. Autor de Clube da Esquina, a primeira parceria com Lô, música que rendeu dois discos com este nome e que se transformou no título do movimento. A parceria dos dois rendeu muitas outras canções, como Um Girassol da Cor do seu Cabelo, Tudo Que Você Podia Ser e Equatorial. Em 1996, lançou o livro Os Sonhos Não Envelhecem – Histórias do Clube da Esquina. Idealizou e dirigiu o Museu Clube da Esquina, em BH. SALOMÃO BORGES FILHO (LÔ), 70 ANOS Origem: Belo Horizonte Carreira Com 50 anos de profissão, já gravou 15 álbuns de estúdio, entre eles Lô Borges (o Disco do Tênis, como é conhecido, 1972), A Via-Láctea (1979), Nuvem Cigana (1982) e Sonho Real (1984), além dos registros ao vivo. Violonista e pianista, é autor de centenas de canções, muitas delas gravadas também por outros intérpretes. Seu nome vai além do Brasil e suas músicas já chegaram a mais de 10 milhões de audições nas plataformas de streamings.