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RODRIGO A. FONSECA
POR RODRIGO A. FONSECA
rfonseca@revistaencontro.com.br
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Ainda o fascínio do vinho francês - final
Uma análise rápida de mudanças reais, ou planejadas, em algumas regiões francesas conhecidas, revelam alterações para atender aos atuais padrões de consumo sem perder o protagonismo no mercado mundial: maior qualidade, preços competitivos com os do Novo Mundo, manutenção do status e adaptações às mudanças climáticas.
Os vinhedos franceses tornam-se cada vez mais saudáveis e sustentáveis, plantados com seleção clonal de variedades mais bem adaptadas e menos suscetíveis a doenças, e com rendimentos em geral mais baixos. A mesa de seleção de fruta na entrada das vinícolas adquiriu importância comparável à das modernas prensas. Vinhateiros experientes, em regiões menos nobres, adotaram técnicas modernas, produzindo vinhos que se contrapõem aos supervalorizados.
Os vinhedos de Bordeaux somavam 75.000 hectares (ha) nos anos 1960, e chegaram a 124.000 ha em 2005. A superprodução gerou um plano para a erradicação de cerca de 17.000 ha, com subsídios de até €12.000/ha. Sem aceitação plena, chegou-se em 2020 a 109.900. A redução ocorreu nas denominações menos importantes entre as 57, e não nas de grande prestígio. Associada à redução de rendimentos, o objetivo de elevar a qualidade e diminuir a oferta foi parcialmente alcançado. Em 2021 foram aprovadas para cultivo quatro novas variedades tintas e duas brancas, em caráter ainda experimental, após longo processo de seleção, pela capacidade de resistirem a mudanças climáticas.
Borgonha tem 28.000 ha de vinhedos, com demanda crescente pelos vinhos da Côte d’Or (19% dos vinhedos), com preços mais altos a cada ano. Em consequência, as outras denominações se beneficiaram, e simultaneamente elevaram o padrão de qualidade. Rhône (Norte e Sul) tem 68.000 ha. No Norte (menos de 10% dos vinhedos) não existe superprodução; no Sul a possibilidade de aumento de produção é grande, mas dependente de maior demanda.
O Languedoc-Roussillon, que já teve 600.000 ha de vinhas, hoje tem 280.000, ainda a maior região vinícola. Sobreviveram os melhores e mais antigos vinhedos, em um mosaico de 59 denominações e sub-denominações. Por outro lado, esta fartura se traduz em vinhedos baratos, que atraem produtores jovens e outros com experiência em outras regiões, que se unem para a produção de vinhos cada vez mais interessantes e de bom preço, resultado de dinamismo e constante reinvenção.
Entre os vinhos que deram salto em qualidade, chamam a atenção os rosés da Provence, que se tornaram referência mundial, os Crus de Beaujolais e os jovens Crus Communaux de Muscadet. Técnica e cuidados de produção elevaram vinhos simples a patamares impensados.
Champagne, de prestígio mundial, é um caso à parte. Com 34.300 ha plantados, demarcados em 1927, atingiu praticamente o limite de produção no início dos anos 2000, e um plano de expansão da área de cultivo da denominação iniciou-se em 2005, para ser aprovado até 2009. Ferindo inúmeras susceptibilidades, com inclusão de 40 novas comunas e exclusão de duas, a expectativa é de que se arraste pelos próximos 40 anos. “Entre os vinhos que deram salto em qualidade, chamam a atenção os rosés da Provence, que se tornaram referência mundial, os Crus de Beaujolais e os jovens Crus Communaux de Muscadet"
A região hoje apontada como o tesouro escondido é o Sudoeste francês. Entre o leste de Bordeaux, o norte de Toulouse e descendo até os Pirineus, seus vinhedos são cultivados há mais de 2 mil anos, em diversas sub-regiões. Sofrem influência atlântica e mediterrânea, têm variados tipos de solos e dezenas de variedades típicas. Algumas denominações são mais familiares e tradicionais, como Cahors, Madiran e Jurançon, e outras começam a se popularizar: Gasconha, Irouléguy, Gaillac, Fronton, Côtes du Tarn, Montravel, Pacherenc, Bergerac e Saint-Mont. Variedades como Duras, Fer Servadou (ou Braucol), Négrette (tintas), Colombard, Listan Blanc, Mauzac, Arruffiac, Petit Courbu (brancas) já surgem nos rótulos, ao lado das mais conhecidas Malbec, Tannat, Gros e Petit Manseng. Como outras regiões em que houve grande declínio de área cultivada pós-phylloxera, hoje somente os melhores terroirs são plantados. Com ótimas variedades, os vinhateiros que acreditaram no potencial da região começam a colher bons frutos de seu trabalho. Ao consumidor, resta ousar e colher boas surpresas com vinhos de uvas e regiões pouco conhecidos. z
Rodrigo A. Fonseca é engenheiro, chef, sócio do restaurante francês Taste-Vin e consultor de vinhos do Super Nosso.
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