CONVITE Dancemos. Agora, Quando a noite se espicha pelos dias E as trevas se enredam em cada alma, Dancemos. Dancemos, Agora, Quando o abraço se tornou uma ameaça E o beijo é quase uma condenação à morte, Dancemos. Mais que nunca, Dancemos. Dancemos na varanda, no quintal, No banheiro, no quarto, na cozinha, No deserto de cada um preso em sua casa, Contra o vírus do medo que avança sobre nós, Dancemos! E cantemos. Agora, Quando há ódios espumando nas esquinas E mãos que fazem gestos nos matando, E há tanta raiva vindo pelas telas, Tecendo teias em cada celular e coração, Cantemos. Sim, cantemos! Mais que nunca, Cantemos. Até que o sol acorde e chame a aurora E possamos entregar nas mãos de nossos filhos Um mundo que consiga se abraçar E transmutar em canto, em dança e riso A dor que desabou em nossos dias E colocou ferrolhos em nossos gestos, E pôs medo em nossos braços e sorrisos E nos distanciou do que já foi nosso melhor: - O (n)osso humano. - O Hermano. Este é o que podemos chamar poema sobre fatos concretos, aí, sim, um poema verdadeiramente concreto, mas nada daquela estética que se chamou concretismo subsiste aqui. Na verdade o concretismo pouco deixou de concreto, em alguns casos soou como um verdadeiro engano, e momentos há em que nada mais abstrato do que muitos dos tais poemas concretos. E ao iniciar seu poema convidando-nos para a dança, convite repetido outras vezes durante o desenvolver do poema, noto naquilo que está implícito no poema e que é sua grande força, a insuspeitada metáfora invisível, que na verdade é uma dança dos desesperados em meio a um caos, não esqueçam, programada por mãos humanas e tiranas.