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Uma tarde no zoológico

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Pânico no parque

Pânico no parque

“Nasce, no Zoológico, um filhote da onça-preta” . Essa era a notícia publicada no jornal que motivou alguns moradores da cidade a visitar o Zoológico no final de semana, inclusive as amigas Marisol e Camila. Ambas jovens e adolescentes, ambas espertas e aventureiras, e como tinham um trabalho a apresentar na escola onde estudavam, resolveram, assim, visitar o parque, a fim de publicar uma matéria sobre a onça-preta e o seu mais novo filhote. Já no ônibus conversam: - Não sei exatamente como começar esse trabalho, disse Camila. - Eu também, respondeu Marisol. - Trouxe o celular? – perguntou Camila. - Precisamos tirar fotos bem legais. - Claro, respondeu Marisol. - Aqui está. Saltaram do ônibus num ponto bem próximo ao destino e, para surpresa delas, viram o carro do pai de André, bem à entrada do zoológico, e dele saindo André e Ricardo em direção à bilheteria.

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- Que saco! Pô! Como é que eles souberam? Será que também leram a notícia do jornal? – resmungou Marisol. - Não vale a pena agora perguntar, não é?, retrucou Camila. - E o pior é que não dá para fingir.Vamos ter que falar com eles, lamentou. - Tudo bem, não vamos estragar nosso passeio. No meio do caminho, disfarçamos e caímos fora, argumentou Marisol. - Legal, confirmou Camila. Chegando à entrada, os dois já estavam pagando os bilhetes e deram um “ oi “ tão sem graça que ficou claro que também não estavam satisfeitos com a presença delas ali. Afinal toda a turma estava em busca de furo de reportagem para o trabalho em dupla que a professora de português havia passado. E, naquele local, os quatro colegas teriam que disputar um tema ou o mesmo tema? O zoológico estava repleto de crianças, jovens e adultos. A notícia tinha atraído várias famílias e estas acompanhavam as crianças que, inocentemente, davam pipocas, biscoitos e outras guloseimas aos animais. A tarde estava bastante fresca, proporcionando um ambiente agradável a quem visitava o local.Todos estavam em frente à jaula da onça-preta, tirando fotos, querendo apreciar o novo morador. Estava já insuportável permanecer ali, pois havia muita gente, e o espaço estava ficando reduzido para se observar e tirar umas boas fotos, quando Marisol resolveu sair e caminhar pelo parque para refrescar e pensar um pouco sobre o trabalho que teriam que elaborar. - Vamos caminhar e visitar outras jaulas, disse Marisol. - Quem sabe... uma entrevista com o responsável pelos animais? Quem sabe uma foto dos animais silvestres, pois estes estão sendo vendidos ilegalmente, lembra o que o professor de Biologia comentou...

Foi interrompida com o grito de Camila - Olha lá, olhá lá...André e Ricardo estão fotografando tudo, então significa que o tema do trabalho deles será sobre o novo filhote da onça-preta. - Vamos logo e pare de olhar para eles! – respondeu Marisol. Afastaram-se um pouco da jaula da onça-preta e foram em direção ao prédio da administração do zoológico. Ficaram bem embaixo de uma amendoeira para fugir um pouco do sol, quando, de repente, ouviram uma voz rouca saindo de um dos prédios do Zoo, dizendo: "Vocês vão pagar caro pelo que me fizeram.Vocês não perdem por esperar. " Assustaram-se ao ouvir aquelas palavras e com a saída brusca de um homem visivelmente aborrecido que dizia palavras bem ameaçadoras. As duas se entreolharam e, no mesmo instante, tiveram a mesma ideia: investigar o que estava ocorrendo no local. Marisol foi logo afirmando: - Pêra aí!!!!! tem alguma coisa rolando de sinistro aqui! E é barril !!!! - Será? Vamos seguir esse homem, respondeu Camila. - Não sei, acho muito perigoso.Veja como ele está, anda o tempo todo olhando pra trás e dizendo umas coisas terríveis. Prefiro não arriscar, retrucou Marisol. - Vamos investigar o local de onde esse homem saiu, isso sim. - Ah..... isso é mais perigoso, Mari, por favor! - Que nada ! Deixe de ser medrosa, viu! – afirmou Marisol. - Eu vou entrar nesse prédio, e você, Camila, ficará vigiando .... qualquer coisa, você me avisa pelo celular, tá bom assim? - Ah... não !!! Ficar aqui sozinha e se ele voltar e não der tempo para te avisar, Mari?

- Sabe de uma coisa? Não vou ficar perdendo tempo aqui discutindo, vamos nós duas então! - Certo. Acho melhor mesmo.! Abriram as portas bem devagar e se depararam com um breu seguido de um barulho esquisito. - O que é isso? Que barulho é esse, Camila? - Sei não! Vou ligar o celular, assim a gente vai poder enxergar, não é melhor? – respondeu Camila. - Psiu! Calma! Não acenda agora, vamos primeiro nos acostumar com essa escuridão, disse Marisol. - É..... respondeu Camila, com uma voz trêmula. - Que coisa esquisita! balbuciou Marisol. Alguns minutos depois, as duas resolvem ligar o celular e o que veem é inacreditável. Inúmeras gaiolas amontoadas e nelas estavam papagaios, tucanos, araras, micos, tartarugas, todos aprisionados. - Nossa!!! Mas o que é isso? perguntou Camila! - São animais silvestres, presos em gaiolas, provavelmente serão vendidos ilegalmente. Lembra que o professor de Biologia falou a respeito do tráfico no Brasil de animais silvestres? respondeu Marisol. - Ele falou que o Brasil é um dos países que mais exportam ilegalmente animais silvestres. Esse tráfico rende muito dinheiro, e milhões de animais anualmente são vendidos. - E agora, o que faremos, Mari? - Não sei ainda. Não dá muito para ver quantos bichos temos aqui, porque a luz do celular apaga no momento exato em que estou fazendo a contagem, muito menos tirar fotos. Só sei que precisamos sair daqui o mais rápido possível para denunciar à polícia. - Fale baixo, agora... avisou Camila.

Em poucos segundos, uma das portas do galpão se abre, surgindo em meio à claridade um homem trajando um chapéu de vaqueiro e botas. Imediatamente elas procuraram se esconder entre as gaiolas, mas o barulho que os animas fizeram provocou uma desconfiança, por isso, o sujeito pergunta: - Quem está aí? Apavoradas, resolveram ficar caladas. E mais uma vez ele gritou: - Quem está aí?. - Pois bem, vou trancar a porta do galpão e chamar a polícia para checar isso aqui. Quando ouviram a palavra “ polícia “ , ficaram tão apavoradas que resolveram se apresentar. Saíram do local onde estavam escondidas e.... antes mesmo de falarem, ouviram as perguntas: - Quem são vocês? E o que estão fazendo aqui? Vá... falem logo ou chamarei a polícia, vamos, estou esperando... - Viemos ao zoológico para tirar fotos do filhote da onça-preta. Meu nome é Marisol e o dela é Camila. - Sim. Mas é aqui a jaula ? Não sabem ler ou querem que eu desenhe? A jaula está bem próxima à entrada do zoológico. O que estão querendo? Não têm medo, meninas? Dessa vez a Marisol ficou bem nervosa, é bem verdade, mas se controlou e procurou responder com cuidado e firmeza. – Acredite, moço, .... que é nada não, moço!! Viemos ao Zoo para fotografar o novo filhote da onça-preta. – E por que não ficaram na jaula da onça, fotografando como todo mundo? Marisol percebeu que a voz dele estava bastante irritada, e resolveu tentar manter um diálogo ali mesmo.

- Por favor, a nossa curiosidade foi em investigar esse galpão, porque daqui saiu um homem dizendo um monte de coisas, daí decidimos entrar e estamos nessa ... como o senhor mesmo está vendo. – Meninas, não se envolvam nisso, isso é muito perigoso, sabiam? Isso o que estão vendo chama-se tráfico ilegal de animas silvestres. Existe muita gente que tem interesse em vender esses animais que vocês estão vendo ai. – Mas não estamos interessadas em vender nada disso aqui, seu moço. Apenas entramos aqui nesse galpão para dar uma espiadinha. – Pois bem, então saiam logo daqui, antes que aconteça o pior. Vamos lá! – E o senhor, quem é, perguntou Marisol. - Sou o veterinário do zoológico. Cuido desses animais todos.Tenho o maior carinho por eles.Trabalho aqui há mais dois anos. Mas o que vem acontecendo com a nova administração, eu não me conformo. Sei que estão traficando animas e isso é revoltante! – Mas.... gaguejou Marisol.... viemos para fazer uma reportagem .....disse ela - apenas um trabalho da escola. – Mas é perigoso vocês estarem aqui, ainda por cima, sozinhas.. Saiam já daqui, por favor, e não comentem com ninguém. Não posso falar muito, mas tenham cuidado. – Certooooo !!! responderam as duas amedrontadas. – Não podemos nem comentar com os nossos colegas e com a professora? – N Ã O !!!!!! Porque assim estarão envolvidas, isso é caso de polícia. – respondeu o veterinário. Elas saíram rapidamente do local, porém Camila percebeu que o veterinário continuara no galpão. – Na certa, pretendia averiguar mais ainda a situação, assim ela pensou.

Alguns minutos de silêncio, mas que foram quebrados com a pergunta de Marisol. – O que vamos fazer agora? – Acho melhor a gente ir pra casa, não estou gostando nadinha disso, respondeu Camila. – E a situação vai ficar assim mesmo? Os animais presos nas gaiolas..... e ninguém sabendo do que está ocorrendo e ninguém toma uma providência? – Deixa pra lá, já falei, Marisol, deixa pra lá ! É perigoso... você não ouviu o que aquele homem falou... – Não sei... não sei... Camila.... realmente...não sei... deixe eu pensar um pouco a respeito. – Enquanto isso vamos andando mais rápido, pois daqui a pouco o Zoo vai fechar e não vamos ficar aqui presas, aí sim, a situação vai piorar pro nosso lado. Resolveram seguir o conselho.Voltaram, desanimadas, para casa e não fizeram nenhum comentário, afinal estavam receosas que algo terrível acontecesse com elas. Dois dias depois, ainda assustadas, resolveram se reunir para, finalmente, elaborar o trabalho escolar em dupla. Antes mesmo dessa reunião, Marisol resolve passar numa banca para comprar algum jornal, quando, de repente, lê a seguinte manchete: GRAÇAS A ATUAÇÃO DE DUAS JOVENS, MAIS DE 100 ANIMAIS SILVESTRES SÃO RECUPERADOS PELA POLÍCIA AMBIENTAL Imediatamente, comprou o jornal e correu até a casa de Camila. Juntas, agora, liam a matéria que desbaratava a quadrilha que fazia o tráfico de animais silvestres no Zoológico e elogiava o trabalho de duas jovens, Marisol e Camila, as responsáveis pela descoberta do esconderijo desses animais.O depoimento era do agente disfarçado da Polícia Ambiental que vinha trabalhando como “veterinário” no local.

Pronto.Trabalho feito: a verdadeira notícia jornalística, era tudo o que elas precisavam para apresentar no colégio.

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