7 minute read

Um fantasma e tanto

Next Article
Uma valsa

Uma valsa

A casa ficava no final da rua. Os moradores mais antigos a chamavam de casa mal assombrada. E como toda casa abandonada é denominada de mal assombrada, vamos falar um pouco dela. Possuía dois andares, mas ninguém sabia quantos quartos havia, afinal quem se arriscaria a entrar? A pintura externa, de cor bege, já totalmente empretecida, misturava-se com o verde do musgo que cobria o peitoril de uma das janelas. As portas, portões e janelas, estas quebradas, estavam enferrujados, evidenciando, assim, o abandono e a solidão existentes.Tinha uma varanda na entrada principal que estava coberta de folhas e restos de raízes e plantas.A área do jardim estava seca e morta, nem as ervas daninhas sobreviviam nesse espaço, apenas uma placa no local resistia ao tempo e à solidão, nela lia-se “ VENDE-SE CASA “ . Ninguém sabia quem era o proprietário ou quem já tinha morado lá.Vivia num total esquecimento. Devia guardar tantas histórias, algumas engraçadas, divertidas, ou quem sabe tristes, saudosas, mas a verdade é que poucos se 50

Advertisement

interessavam nelas muito menos nela. A maioria a ignorava ou a temia, inclusive chegava-se a evitar a calçada. As crianças do bairro eram as únicas pessoas que, de vez em quando, a olhavam e ficavam intrigadas, querendo saber por que não tinha sido ainda comprada e não a visitavam.Todos passaram a ignorá-la durante o dia, exceto à noite, porque ouviam muitos barulhos, sons estranhos que persistiam durante quase toda a noite. Algumas famílias que viviam mais próximas a casa chegavam a fechar suas janelas e apagavam as luzes mais cedo do que o habitual, amedrontadas pelo barulho que vinha de lá. Enfim, uma casa assustadora capaz de amedrontar qualquer morador ou curioso, exceto alguns como Caio e sua turma. Sim, Caio era um menino muito “ atrevido “ , gostava de investigar tudo que estava ao seu redor, mais conhecido como o “enxerido“ na escola e na rua onde morava. Era, digamos assim, o líder da turma, pois tinha ideias boas, costumava ler muito, por isso sua mente fervia com as histórias incríveis narradas nos livros, além disso tinha uma grande capacidade de liderança e os seus amigos o admiravam. Num dos intervalos da escola, Caio resolve confessar a seus amigos que pretende “invadir” a casa mal assombrada para desvendar o mistério e para tanto precisava de companhia. Imediatamente a proposta é rejeitada, pois todos, na verdade, tinham muito medo de entrar naquele local, já que o lugar provocava pavor a todos que ali moravam. Mas Caio, muito persuasivo, incentiva o grupo: - Ah..... por que não? Vocês estão com medo? Eu também tenho, e por que não enfrentar?, disse Caio. - Não sei, não, respondeu Almir. Como vamos fazer? E se tiver alma do outro mundo? - Gritaremos por Socorro !!!! rebateu Caio, aos risos..... 51

- kkkkk. Assim tão fácil? O que levaremos para nos defender? –perguntou Júlia. - Nada, apenas coragem, Kkkkkkkk. Além de água, celular e lanterna, Caio afirmou. - E quando vamos “ invadir“? –Jaime se pronunciou. - Estava pensando no sábado, já que todos os nossos pais deverão participar da festa de confraternização do condomínio e não sentirão as nossas faltas, respondeu Caio. - À noite? Tá maluco, Caio!!! – disse Ana. - Por que não? Não é durante a noite que ouvimos os barulhos incessantes vindo da casa? – respondeu Caio. - Ah............ tô apavorada..........., disse Ana. Acho que não vou me arriscar, não. - Qual é, Ana! Se anime, afinal estaremos todos juntos e um vai proteger o outro, argumentou Caio. Depois de alguns minutos de “ reflexão” , todos concordaram em sair no sábado durante a festa de confraternização do condomínio e fazer a expedição.Tinham que descobrir aquele mistério, não poderiam viver sob tensão. Era perigoso, sim, mas quem não gosta de uma aventura? Finalmente o sábado !!!! Calados e tensos passaram o dia imaginando muitas tolices. As meninas, Júlia e Ana, levaram o dia no celular trocando ideias, promessas, caso saíssem de lá vivas. Os meninos se enchendo de ânimo e coragem para enfrentar o mistério. Mas, a noite chegou e, no clima festivo, as famílias saíram em direção ao local da festa, menos os novos “ caça-fantasmas “ que tentavam disfarçar o nervosismo. Após marcarem presença na festa, cada um foi disfarçadamente saindo rumo ao ponto onde haviam acertado. Reunidos, em frente à casa, agora era uma questão de ordem: enfrente-a! Caio foi o primeiro a comentar. 52

- Pronto! Aqui estamos! Vamos seguir, não temos mais motivo a desistir. Preparados ? E os novos caça-fantasmas, responderam: - Isso ! "Um por todos e todos por um!" Atravessaram o que antes havia sido um jardim, possivelmente florido, e chegaram à porta principal.Tentaram abri-la, mas só conseguiram com esforço de todos, pois a maçaneta estava emperrada. Não é preciso dizer que o barulho da porta abrindo foi, para eles, intenso e assustador. Acenderam as lanternas para visualizar o ambiente. Encontraram um vão amplo, um chão coberto de poeira, folhas de plantas e de jornais ou revistas; as baratas passeavam rapidamente pelo chão, pois perceberam a presença dos estranhos, além das inúmeras teias de aranhas nos cantos das paredes. Não existia móvel no lugar. Havia também uma escada de madeira, cujos degraus estavam bastante danificados, faltando inclusive alguns, o que impossibilitava os “ caça-fantasmas” explorar o segundo piso da casa. Por enquanto, apenas os passos e a respiração deles quebravam o silêncio existente. Tinham vencido a primeira etapa: conseguiram entrar na casa mal assombrada. Faltava ao grupo descobrir a origem do barulho que ocorria sempre à noite. Era uma questão de tempo ou sorte? Sentaram-se um pouco no chão empoeirado para aguardar o inesperado. - Paciência, disse Caio, quase balbuciando, temos que esperar! Logo mais ouviram um som forte e estridente vindo do segundo piso. Estremeceram. O medo invadiu o grupo, fazendo com que todos perdessem a coragem de continuar a aventura. Ana e Júlia chegaram a se levantar na tentativa de sair correndo daquele lugar, entretanto Jaime e Almir as seguraram. 53

- Psiu !!! Uma nova ordem, vindo do líder. - Já que chegamos até aqui, não vamos desistir. Estamos todos juntos. Por favor! O barulho está vindo lá de cima. Precisamos investigar! – disse Almir. - Pois é...é...é.. e o que faremos? Ana perguntou. - Vamos até lá, pô! Respondeu Caio, já impaciente e nervoso. Não !!!!!! - Atenção, o barulho está se aproximando, chegando bem pertinho da gente.Vamos continuar, pô! Nada de desistir. É aqui mesmo!, determinou Caio. Nisso, no primeiro piso, justamente onde eles se encontravam, uma claridade invade o recinto, seguido de um barulho forte e um cheiro insuportável. O que será isso? Uns chegaram a tampar o nariz; outros, os ouvidos. A claridade agora tomava um novo rumo, a um outro cômodo, talvez a copa ou a cozinha, quem sabe? Caio fazia gestos para que todos se acalmassem. Ele mesmo precisava de um fôlego, de uma trégua para pensar no próximo passo. Intrigados com aquela claridade, resolvem, finalmente, vencer o medo e a passos lentos vão até a parte da casa que estava mais iluminada e o que veem é simplesmente surpreendente !! UM FANTASMA !!!!!!!!!!!!!! Sim, um fantasma !!!.... E que fantasma !!! Estranho mesmo, diferente das histórias em quadrinhos. Uma imensa massa azulada gelatinosa disposta em camadas. Não tinha cabelos, não tinha orelhas muito menos o nariz, apenas dois olhos pretos que nem duas azeitonas pretas, e uma boca carnuda vermelha. Não possuía braços nem pernas, mas movimentava-se rápido e facilmente. O susto foi grande !! Os gritos e berros dos meninos foram tantos que chegaram até a festa, onde as famílias estavam reunidas, fazendo com que todos saíssem às pressas em 54

direção a casa. Enquanto isso o fantasma, agitado, movia-se de um lado para o outro em busca de um refúgio, afinal percebera a visita de estranhos. Os novos “ caça-fantasmas” saíram correndo em direção à porta principal. Nossa! Precisavam sair imediatamente daquele lugar, pensaram todos. Já na porta da casa, preparados para correr, ouvem, mais uma vez, o barulho e sentem o cheiro insuportável, aí se voltam a olhar para o fantasma. E o que veem é surpreendente! Um fantasma peidão, um fantasma que largava inúmeros e incontáveis PUNS, além de barulhentos eram mal cheirosos.!!!!!!!!!!!! Era demais !!! Saíram todos rindo, imaginando como teriam que contar às famílias, amigos e vizinhos o verdadeiro mistério da casa mal assombrada: um FANTASMA BUFÃO.

This article is from: