38 Edição

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Escrever está na moda Escrever está na moda. Definitivamente na moda! Já ler, é algo que está a cair em desuso. Perdoem-me a analogia mas é um pouco como os políticos de bancada que resolvem todos os problemas do país e, quase de certeza, em dia de eleições vão para a praia porque está um “um calor de ananazes”, deixando a urna para os mortos... Ou para aqueles que ainda lhe conferem alguma importância. Enfim...É a realidade que temos à nossa volta. E porquê? O fenómeno da escrita compulsiva, quero dizer, criativa, é algo que se expandiu graças às redes sociais. Basta ler os comentários a uma qualquer polémica notícia para perceber o quanto as pessoas gostam de escrever. E com criatividade, se tivermos em conta os neologismos - vulgo, erros - usados por estes autores de pena sem tinteiro. A culpa é sempre do corrector ortográfico, da falta de óculos, do empurrão que levaram enquanto escreviam ou até de digitar enquanto conduzem – provavelmente isto não era para dizer. E logo aqui se percebe que a leitura não é o forte desta onda de novos-escritores, pois o que escrevem é fruto da leitura das gordas e não se darem ao trabalho de passar os olhos, sequer, pelo lead da notícia que comentam. Um bom escritor, a meu ver, passa, em primeiro lugar por um bom leitor. É aí que vai beber as palavras, o conhecimento, os

recursos expressivos - que depois se explicam numa gramática (já agora, e para quem quiser, recomendo a Nova Gramática do Português Contemporâneo de Celso Cunha e Lindley Cintra). É aí que se inspira e até copia até criar um estilo próprio, seja ele qual for. O estilo é uma marca. É o que leva o leitor a querer repetir, ou não. Pessoalmente não gosto de ler mais do que dois livros de seguida do mesmo autor – às tantas parece-me tudo igual, embora saiba que é diferente. Faço intervalos espaçados, talvez porque – por defeito de formação – faça uma leitura analítica da obra: o tipo de volcabulário, os nomes dos personagens, os espaços, as fontes de inspiração. Já tentei não levar a leitura por este caminho, mas é-me impossível. Acabo sempre no drama do professor de literatura que procura mais do que aquilo que está escrito – e por vezes é apenas aquilo. Nada mais! O certo é que escrever está na moda! As prateleiras e os tops de vendas enchemse – salvo raras excepções – de escritores mediocres e capas lamentavelmente feias, que recorrem a lugares comuns para vender. E vendem! Oh, se vendem! Multiplicam-se os maneirismos, as citações, o parafrasear de outros autores ou a si mesmos. E notase a ausência de revisão, de edição ou até de correcção. Há pouco tempo lia que “ Luís Sepúlveda (...) disse um dia que, depois de acabar um romance, o lia para um gravador, depois ouvia a gravação e, quando uma


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