Na edição anterior a Irrigazine fez uma entrevista com “o cara” do café irrigado, agora, resolvemos convidar outros irrigantes com este perfil de destaque naquilo que fazem. São produtores com uma bonita história de vida, marcada pelo trabalho exemplar. Nesta edição a jornalista Bruna Fernandes Bonin entrevistou, “o cara” do algodão irrigado, Júlio César Busato; difícil quem não tenha ouvido falar deste grande irrigante do Oeste Baiano. Júlio Busato, gentilmente, concedeu esta entrevista a Irrigazine, o que nos encheu de orgulho em poder estampar sua história em nossas páginas.
“A irrigação e a agricultura irrigada potencializando a segurança alimentar”, nesse artigo o professor e presidente da Abid, Everardo Mantovani aborda uma questão relevante sobre a importância da agricultura irrigada para a segurança alimentar da população mundial. Estudos da FAO indicam uma necessidade de expandir a produção de alimentos entre 60 % e 70% até 2050, o detalhe é que esse aumento virá, principalmente, do aumento de produtividade e não do aumento da área cultivada, neste cenário a agricultura irrigada ganha um papel de destaque.
O professor José Luiz Viana, fala sobre um curioso equipamento projetado para elevar água em pequenos desníveis, no ano 250 a.C.; porém, nos dias atuais ganhou uma nova função na pequena produção de energia. “Usos do parafuso de Arquimedes na irrigação”.
José Giacoia Neto, prossegue com mais um capítulo, “O Kc em paisagismo – parte III”. Agora ele vai determinar e especificar os emissores para cada espécie de planta no projeto que tem usado como exemplo.
Boa leitura!
DENIZART VIDIGAL Diretor
DIREÇÃO
Denizart Pirotello Vidigal denizart@irrigazine.com.br
JORNALISTA
Bruna de Oliveira Fernandes MTB 81204/SP
COLABORAÇÃO
Everardo Chartuni Mantovani
José Luiz Viana do Couto José Giacoia Neto
EDITORAÇÃO E CAPA
André Feitosa
PRODUÇÃO/PROJETO GRÁFICO
Interação - Comunicação e Design
FOTOS
Foto de capa: Júlio Busato Arquivo pessoal/Julio Busato | Divulgação Divulgação/Netafim | Arquivo/Senninger
REVISÃO
Denizart Vidigal Barufe
CONTATO
Comercial e Editora AGROS Ltda. Fone: (17) 3046-3204 comercial@irrigazine.com.br
ASSINATURAS
Débora Pirotello Vidigal revista@irrigazine.com.br Acesse irrigazine na internet: www.irrigazine.com.br
A Revista Irrigazine não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados o pelas opiniões emitidas pelos entrevistados, fontes e dos anúncios publicitários.
“Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por onde quer que andares.”
Josué 1:9
04 Abril | 2023 Editorial
08 Conta Gotas
Notícias
12
Senninger Brasil comemora 20 anos
Em 15 de maio de 2023, a Senninger Brasil comemora 20 anos de atividades no Brasil. A empresa faz parte do grupo Hunter Industries e no Brasil foi a primeira empresa da Senninger Inc. (60 Anos no mercado americano) fora dos Estados Unidos.
Entrevista
15
O Cara do Algodão Irrigado
Júlio César Busato é natural de Casca, no Rio Grande do Sul. Engenheiro agrônomo e irrigante desde 1989. A paixão pela agricultura é passada de geração em geração. Seu bisavô era agricultor no norte da Itália, que migrou para o Brasil, logo depois da Segunda Guerra Mundial.
Artigos
25 22
A irrigação e a agricultura irrigada potencializando a segurança alimentar
Usos do Parafuso de Arquimedes na irrigação
O “Kc” em Paisagismo - Parte III
05 Índice
07 Agenda
Abril | 2023 28
07 Abril | 2023
Goiás é forte em agricultura irrigada
O estado de Goiás possui uma área irrigada de 511 mil hectares (ha), sendo o quarto estado brasileiro em extensão de terras irrigadas. Ficando atrás apenas da Bahia, com 525 mil ha, Minas Gerais com 961 mil ha e Rio Grande do Sul com 1 milhão e 163 mil ha.
Os dados são da edição de 2022 do Relatório do Programa Nacional de Agricultura Irrigada, que também revela que dos 15 maiores polos de irrigação por pivô central do país, quatro
estão em território goiano: a região do Alto do Araguaia, a oeste de Goiás, na divisa com Mato Grosso; região do Rio das Almas, ao centro do Estado; Alto do Rio Preto, polo a leste de Goiás; e o Polo São Marcos, na região de Cristalina.
Nos últimos anos o estado teve um crescimento médio de 20.000 ha/ano, nas áreas irrigadas impactando também na produtividade das culturas como soja, milho e feijão e também a possibilidade de uma terceira safra.
BNDES e Mapa anunciam R$ 2 bilhões de crédito rural para financiamento em dólar
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anunciaram, em 17 de abril, uma linha de financiamento rural em dólar com taxa fixa que será destinada a produtores rurais que tenham receitas ou contratos em dólar. O valor disponibilizado inicialmente é de R$ 2 bilhões, e a taxa de juros será de 7,59% ao ano, mais a variação cambial.
O crédito é destinado para a aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas de qualquer espécie, de fabricação nacional para a ampliação da mecanização, a renovação e atualização tecnológica da frota de tratores e colheitadeiras agrícolas, viabilizando maior produtividade no campo. Para ter acesso ao financiamento, o produtor deve ter receitas ou contratos em dólar ou atrelados à variação cambial e ter limite de crédito nos bancos parceiros.
O ministro Carlos Fávaro explicou que as linhas de crédito com equalização de juros pelo Tesouro continuarão sendo oferecidas para produtores que não tenham receita atrelada às vendas internacionais. “Quem produz leite, feijão, arroz, terá que ter linhas de crédito em reais. E para isso vamos estruturar novas linhas, inclusive com a participação do Tesouro. Mas os produtores que têm a sua receita atrelada à venda internacional não têm risco em fazer a operação dolarizada e também não tem custo para o Tesouro. Essa é uma nova forma de financiar o agro exportador, é um modelo inteligente, que não pesa nos cofres públicos e dá competitividade aos nossos produtores”, disse o ministro.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse que a nova linha de financiamento vai possibilitar a compra de silos, tratores, máquinas, além de investimentos em inovação no
campo. “Queremos uma agricultura de precisão, que inova e tenha eficiência”, disse, lembrando que o aumento das exportações do agro permite a segurança aos produtores para pegar essa linha de financiamento.
Para quem cultiva produtos de exportação como soja, milho e algodão, é vantajoso tomar financiamento em dólar, explicou o assessor especial do ministro, Carlos Augustin. “O BNDES foi ao mundo, trouxe dinheiro barato e colocou na mão dos produtores de exportação. Assim, sobra mais recursos para que o governo possa oferecer crédito equalizado para pequenos produtores e para outros produtos e outros produtos agrícolas”, disse.
Os produtores rurais poderão contar com essa nova alternativa de financiamento a partir de maio. Para obter o financiamento, o produtor deve buscar um dos agentes financeiros credenciados ao BNDES.
Fonte: imprensa@agro.gov.br
08 Abril | 2023
AGRISHOW 2023 terá novidades na infraestrutura para ampliar experiência
dos visitantes
A Agrishow – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação está constantemente trabalhando para ampliar a experiência dos seus visitantes. Para a 28ª edição da feira, que acontecerá entre os dias 1 e 5 de maio em Ribeirão Preto/SP, e com novo horário, das 9h às 18h, estão sendo realizados investimentos nas áreas destinadas à alimentação, nos banheiros e também na melhoria da mobilidade para pessoas e veículos. Há ainda novidades nas atrações para atender as demandas dos produtores rurais e profissionais do agro de todo o Brasil e do exterior.
Já a estrutura de banheiros passará por melhorias e ampliação, com a construção de um novo conjunto, cuja energia será fornecida por meio de placas fotovoltaicas, semelhantes àquelas utilizadas nas estruturas existentes. A medida vai ao encontro da proposta da Agrishow em conservar o meio ambiente, diminuindo o impacto ecológico. Nesse sentido, o evento ampliará ainda iniciativas voltadas à gestão de resíduos, como a coleta e descarte adequados de diferentes tipos de resíduos e a reciclagem de materiais.
A questão da mobilidade está sendo trabalhada em dois pontos. O primeiro é o novo horário de funcionamento (9h às 18h), que visa melhorar o acesso à feira, beneficiando os
expositores e visitantes à feira. Outro ponto foi a contratação de uma consultoria para redesenhar a mobilidade interna e a distribuição dos estacionamentos. Com isso, os visitantes contarão com um estacionamento exclusivo, e também será possível utilizar os serviços Sem Parar e Taggy.
Outra novidade, é que poderão adquirir o ticket do estacionamento antecipadamente através do site oficial do evento. Além disso, estarão disponíveis os outros três pontos de estacionamentos alternativos, localizados na Arena Eurobike e nos Hotéis Wyndham Garden e Mont Blanc, que terão transporte de van para o evento. Mais uma novidade é a área de estacionamento exclusiva para caravanas, que levará mais praticidade e conforto no desembarque e embarque dos participantes.
A Agrishow 2023 contará com mais de 800 marcas do Brasil e exterior e trará novos formatos a atrações consagradas, como o Agrishow Pra Elas, espaço dedicado às mulheres do agro com atividades de conteúdo e relacionamento, e o Agrishow Labs, que contará com uma nova área para as startups apresentarem diversas soluções tecnológicas e inovadoras diretamente aos produtores rurais.
09 Abril | 2023
Lindsay realiza o Encontro de Revendas 2023
A empresa recebeu as revendas de todo o Brasil em Campinas, SP para um grande encontro com a participação de vendedores, fornecedores e a equipe completa de colaboradores da Lindsay irrigação. Os convidados ainda tiveram a oportunidade de conhecer as instalações da empresa na cidade de Mogi-Mirim, no dia 20 de abril.
A Lindsay reforçou o convite para visitarem seu estande na 28ª edição da Agrishow 2023 e conhecerem as soluções e oportunidades que oferece ao mercado de irrigação. A
empresa estará presente com as marcas Zimmatic e FieldNET. Linha de crédito própria. Por meio de seu banco de fábrica a Lindsay está oferecendo condições especiais de crédito por meio de operação de barter, ou seja, o pagamento do equipamento pode ser negociado através da entrega futura de grãos. É uma maneira de oferecer aos clientes opções de crédito com condições próprias, em um momento de escassez de recursos no mercado. Os produtores que tiverem interesse em conhecer essas vantagens devem visitar o estande da empresa na Agrishow.
Bauer e Irricontrol apresentam sistema antifurto de
pivôs na Agrishow
Com o objetivo de evitar o prejuízo de furtos em pivôs e oferecer ainda mais segurança para nossos clientes, a Bauer e a Irricontrol anunciam o lançamento do sistema antifurto mais efetivo do Brasil. Uma solução inovadora para proteger seu patrimônio e sua irrigação.
Em parceria com a Brasil Verde, a Bauer passa a ser a primeira fabricante a oferecer o sistema antifurto diretamente de fábrica. Uma inovação que possui mais de 2000 pontos protegidos em todo o Brasil e que agora passa a fazer parte do portfólio Bauer e Irricontrol. O equipamento também pode ser instalado em qualquer marca de pivô já existente e sistema de bombeamento, visando promover a segurança de diferentes
sistemas de irrigação. No pivô, o sistema protege o seu painel central, anel coletor, cabo aéreo, caixas intermediárias, cabo do moto redutor e o moto redutor. Com um único sistema instalado protegemos todo o sistema de bombeamento, o transformador, cabos do transformador até o motor, painel da moto bomba e o motor.
Utilizamos uma tecnologia de ponta, 100% por sinal de satélite, que oferece segurança 24 horas por dia, o qual será em breve integrada na plataforma Irricontrol.
Se você deseja proteger seu sistema de irrigação, procure a revenda Bauer mais próxima para mais informações ou visite o estande da empresa na Agrishow 2023.
10 Abril | 2023
Valley aposta em tecnologia, na Agrishow
Cristiano Del Nero, presidente da Valmont no Brasil, antecipou algumas novidades que a empresa vai apresentar na Agrishow 2023. Ele disse que alguns produtos dessa área de tecnologia já estão sendo colocados no mercado, mas a “Agrishow vai ser o grande momento”. A Valley oferece ao irrigante um pacote completo de tecnologia que vai muito além do pivô ou do projeto de irrigação. “Hoje em dia não é só o pivô, a gente tem toda uma quantidade enorme de acessórios que vai ajudar o agricultor a produzir mais, economizar energia, a economizar água, para que ele tenha maior lucro, maior rentabilidade possível”, afirma Del Nero.
A Valley® Irrigation, em parceria com a Prospera Technologies, vai apresentar na Agrishow, o Valley Insights®, que é um serviço avançado baseado em inteligência artificial, que analisa imagens aéreas para identificar problemas de sanidade relacionados à aplicação de água ou outros problemas de campo. Outro produto que veio facilitar a vida do irrigante é o Valley 365, uma plataforma de fonte única que reúne os melhores recursos das ferramentas de gerenciamento remoto um uma interface simples de usar. Valley Scheduling, AgSense, Valley VRI e Valley Insights, todos integrados na mesma plataforma. Se o problema for energia os especialistas da Valley oferecem a solução mais avançada em energia solar fotovoltaica. Este é outro segmento que a empresa vem se destacando, desde a aquisição de uma importante empresa no interior de São Paulo.
Senninger Brasil comemora 20 anos de atividades em 2023
Em 15 de maio de 2023, a Senninger Brasil comemora 20 anos de atividades no Brasil. A empresa faz parte do grupo Hunter Industries e no Brasil foi a primeira empresa da Senninger Inc. (60 Anos no mercado americano) fora dos Estados Unidos e hoje a Senninger Brasil tem três segmentos de mercado: Irrigação Agrícola, Paisagismo e Dispensadores Higiênicos.
Desde o início a Senninger acreditou no potencial da agricultura e no mercado do Brasil. Sempre esteve atenta as necessidades do mercado, desenvolvendo produtos para irrigar de maneira eficiente e com economia de água e energia, mas também preocupada com o sucesso comercial de todos os clientes.
Na primeira parte da história da empresa foi investido em estoque local a fim de disponibilizar produtos para pronta entrega e com custo na moeda local, diminuindo a susceptibilidade do câmbio, depois implementamos um corpo técnico de engenheiros para proporcionar suporte técnico constante com treinamento, desenvolvimento de aplicações e análise dos produtos, proporcionando uma confiança e segurança para os produtores e clientes, porque com suporte
Senninger Brasil tem 3 segmentos de mercado: Irrigação Agrícola, Paisagismo e Dispensadores Higiênicos | Foto: Arquivo/Senninger
no campo foi possível analisar e entender o mercado e suas necessidades e analisar os processos de garantias e pronta reposição se necessário.
Marcus Schmidt – Gerente Geral da Senninger Brasil conta que, “agora, uma vez mais acreditando no Brasil e no crescimento do mercado, iniciamos nossa produção local dos principais produtos, proporcionando maior estabilidade e segurança no fornecimento, empregando funcionários e gerando renda local”.
Netafim e Embrapa Cerrados inauguram área para estudo da irrigação por gotejamento subterrâneo em grãos
Netafim, empresa líder e pioneira em irrigação por gotejamento, em parceria com a Embrapa Cerrados, inaugurou no dia 6 de abril deste ano, uma unidade de referência em manejo de água na Embrapa Cerrados em Brasília/DF. A área foi concebida com irrigação por gotejamento subterrâneo, utilizando o que há de mais moderno no setor com foco nos cultivos de soja, milho e feijão.
O sistema possibilitará o desenvolvimento de estudos pela equipe da Embrapa Cerrados, como uma área estratégica para o setor, no desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada, além de ser um centro para capacitação de irrigantes quanto as técnicas de irrigação e manejo de inovações.
Os resultados do estudo serão base para o aprimoramento dos métodos de manejo da irrigação e fertirrigação já existentes. Com isso, os irrigantes terão acesso aos avanços tecnológicos,
uma vez que as inovações podem contribuir para melhorar a eficiência do sistema, facilitar o manejo e beneficiar o meio ambiente.
A Netafim é pioneira no Brasil no desenvolvimento da irrigação por gotejamento em cereais. Este sistema possibilita a aplicação de nutrientes, biológicos e outros produtos, pois entrega no momento certo e diretamente na raiz da planta.
A tecnologia é acessível a todos os produtores, independentemente do tamanho da propriedade, possibilitando economizar recursos e alcançar o máximo rendimento na produção de grãos. Ou seja, produzir mais, com menos.
constante com treinamento, desenvolvimento de aplicações e análise dos produtos, proporcionando uma confiança e segurança para os produtores e clientes, porque com suporte
14 Março | 2023
O foco do experimento está nos cultivos de soja, milho e feijão Foto: Divulgação/Netafim
O cara do Algodão Irrigado
Júlio César Busato é natural de Casca, no Rio Grande do Sul. Engenheiro agrônomo e irrigante desde 1989. A paixão pela agricultura é passada de geração em geração. Seu bisavô era agricultor no norte da Itália, que migrou para o Brasil, logo depois da Segunda Guerra Mundial. Além disso, seu avô e seu pai eram agricultores. E, seus filhos herdaram o amor pela terra também, ou seja, uma história que já vem enraizada na família.
O Engenheiro agrônomo começou ajudando na propriedade em Casca, quando tinha apenas 13 anos, estudava de manhã e à tarde trabalhava nas terras da família, que na época estava iniciando a soja.
Para falar dessa cultura tão curiosa e rica, o produtor irrigante e engenheiro agrônomo
Júlio Busato, concedeu uma entrevista para a revista Irrigazine, confira:
15
Abril | 2023
Foto: Arquivo pessoal/ Julio Busato
Revista Irrigazine: Conte como foi a fundação da Fazenda Busato?
Júlio Busato: Somos uma família que trabalhamos juntos, temos uma agricultura familiar, era um pai e quatro filhos, eu sou o segundo filho. Logo que eu me formei em 1988, eu vim pra Bahia, morei na fazenda na época. Estávamos desbravando o Cerrado, e tive a experiência de adentrar no Cerrado sem estrutura nenhuma. Nós não tínhamos energia elétrica, televisão, muito menos estrada e escola, e para chegar na cidade mais próxima, em Barreiras, demorava mais de seis horas em uma Toyota Bandeirantes e ainda tinha que torcer para não quebrar, porque se não, ia ter que caminhar trinta quilômetros.
Eu acho que participei de todo o desenvolvimento do Cerrado da Bahia e sempre com irrigação, nós temos área de sequeiro também, mas as áreas irrigadas nos trazem uma maior segurança, depois nós fomos crescendo então veio o pai e outros irmãos. Nós trabalhamos todos juntos no que é um empreendimento familiar, que é a Fazenda Busato.
Revista Irrigazine: Quando o senhor iniciou o plantio do algodão?
Julio Busato: Nós iniciamos o plantio do algodão em 1997. Fomos pioneiros no algodão também, um dos primeiros na Bahia. Inclusive, começamos já com o algodão irrigado, plantamos 300 hectares e foi nesse momento que vimos o potencial que a cultura tinha, principalmente em termos de produtividade e de qualidade e principalmente nas áreas irrigadas. Ao longo do tempo nós fomos aumentando a área do algodão, então montamos a beneficiadora do algodão e hoje fazemos todo o processo de plantio e colheita, descaroçamento e armazenamento, tudo dentro da propriedade.
Hoje tenho dois filhos, os dois são agrônomos, eles trabalham no grupo, na parte de produção e, minha filha, na parte financeira.
Revista Irrigazine: Quais as particularidades do algodão irrigado?
Júlio Busato: O algodão é uma cultura extremamente
exigente tanto em cuidados, como manejo e com tecnologia. É uma cultura bastante suscetível a pragas e doenças. No caso da irrigação nós temos um agravante, que são os nematoides, então é todo um processo, de cuidados de tecnologia, na escolha das variedades, como também a época de plantio. Diferente da soja, o algodão é uma cultura que exige muita atenção o tempo todo, é um ciclo bastante longo. Nós temos um ciclo entre o plantio e colheita de quase seis meses.
Então, é realmente uma cultura bastante trabalhosa, mas em função do clima, nós conseguimos alta produtividade. Nosso algodão possui uma das melhores qualidades a nível mundial, é muito bem aceito e podemos falar que é desejado pelo mercado.
Acho que esses fatores ajudaram o algodão a crescer na área irrigada e vai crescer cada vez mais, apesar de ser uma cultura exigente e trabalhosa, ela tem uma rentabilidade e isso que está fazendo que a área do algodão cada vez mais aumente na irrigação.
Revista Irrigazine: Qual é a técnica de irrigação mais utilizada no cultivo do algodão?
Julio Busato: Nós usamos na irrigação o pivô, é o que mais se adapta nessas culturas anuais. E, assim todo o manejo de irrigação avalia a necessidade de controle de irrigação, e a necessidade de água na cultura, para que a gente não fique gastando água e energia mais do que o necessário. Hoje nós estamos bem avançados nisso e com certeza existe uma otimização da água para a produção do algodão nas propriedades.
Revista Irrigazine: Quais são os desafios de lidar com essa cultura?
Júlio Busato: Tem que ter um cuidado muito grande, porque entrar na cultura do algodão, demanda um investimento bastante alto e são específicos, se você ver uma colheitadeira de algodão, ela custa 7 milhões de reais e ela só colhe algodão, da mesma forma a escavaçadora de algodão que só serve pra isso. Realmente quando o produtor decidir entrar na cultura do algodão, eu acho que ele tem que estar preparado para ficar e não sair, porque os investimentos são muito altos. Outro grande desafio são os cuidados que precisa ter, principalmente com as pragas, nas áreas irrigadas.
16 Abril | 2023
Revista Irrigazine: O algodão irrigado tem dado bons resultados ?
Júlio Busato: O pivô central é o que mais se adapta nessas culturas anuais, assim como falei anteriormente, e a gente faz rotação de cultura com milho e soja, nas mesmas áreas da irrigação. Já fizemos com feijão também, então o pivô é que se adapta bem.
Nós temos equipamentos com 95% de eficiência na lâmina aplicada, então é um equipamento bastante ágil, simples e que funciona muito bem.
A cultura do algodão irrigado tem dado excelentes resultados, principalmente em função das altas produtividades, nós estamos falando de 380 a 400 arrobas de algodão; quando é sequeiro gira em torno de 300 arrobas, mesmo com pouca irrigação, porque, basicamente, a gente irriga só o final do ciclo, então eu tenho um ganho bastante na produtividade e também na qualidade desse algodão; ele consegue formar todo o ciclo da cultura, porque não falta água no fim, que é o que acontece, às vezes, no sequeiro. E não tem chuva na época da colheita, e por isso nós colhemos o algodão com uma resistência de fibra e com uma unidade de fibra bastante grande, em relação as áreas irrigadas.
Nós temos que ter cuidado com o aumento das doenças e pragas de solo, principalmente os nematoides, para que eles não se multipliquem e não venha causar danos a cultura, por isso, nós usamos variedades resistentes tanto na cultura da soja, quanto do algodão, sempre buscando um controle desses nematoides. Além de produtos biológicos, hoje nós utilizamos uma gama muito grande de produtos biológicos, com substituição dos defensivos agrícolas de origem química e esse
caminho que estamos traçando é sem volta, que só vai aumentar. Então, a utilização de insetos, fungos e bactérias, “amigas nossas”, é uma prática que nós estamos fazendo muito em nossa propriedade, e com excelentes resultados, e cada vez mais, iremos trilhar esse caminho.
Revista Irrigazine: Fale um pouco sobre a Fazenda Busato?
Júlio Busato: As fazendas do nosso grupo familiar, emprega quase mil pessoas e eu acho que o grande patrimônio que nós temos na nossa propriedade são as pessoas, principalmente em função da cultura do algodão, as pessoas precisam ser treinadas e preparadas, capacitadas para produzir o algodão, isso se reflete em bons salários e um bom padrão de vida dessas pessoas. Essa cultura, não só do algodão, capacidade de transformar uma região e olha que o oeste da Bahia era uma região extremamente pobre, ainda existem bolsões de pobreza, mas, cada vez mais, a agricultura vem transformando a região, dando oportunidade as pessoas, gerando riqueza, gerando empregos e empregos de qualidade, principalmente com a irrigação. A irrigação, multiplica a área de sequeiro por 3 a 4 vezes, em termos de rentabilidade, principalmente em geração de emprego e geração de renda porque se faz 2 safras por ano, então o oeste da Bahia tem um potencial enorme, e está aumentando. Nós temos um estudo, já que a região tem um potencial de irrigação que pode chegar a 600 mil hectares, sem comprometer a disponibilidade de água, e devemos instalar o sistema de monitoramento disso, mas esse estudo do aquífero e com certeza o algodão que vai estar a frente desse crescimento.
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Foto: Arquivo pessoal/ Julio Busato
Dicas de leitura
Reproduzimos aqui as dicas de leitura do pesquisador da Embrapa, Lineu Neiva Rodrigues, para comemorar o dia da agricultura irrigada, no próximo 15 de junho.
Esse livro é fruto do Acordo de Cooperação Técnica de “Promoção da Gestão Integrada e no Uso Sustentável dos Recursos Hídricos no Meio Rural” – ACT n° 002/2014. O Acordo de Cooperação Técnica teve como objetivo a colaboração visando a gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos no meio rural. Para consecução desse objetivo foram constituídos seis grupos de trabalho. Os resultados do Grupo de Trabalho 2 (GT2) - “Programas conjuntos de incentivo ao uso eficiente da água na agricultura irrigada” – que tinha como objetivo formular e testar programas conjuntos de incentivo ao uso eficiente da água na agricultura irrigada, são apresentados de forma consolidada nesta publicação.
A barreira da “agricultura irrigada 1.0” ainda não foi vencida. Para que a agricultura irrigada possa chegar ao futuro de forma consolidada e possa utilizar plenamente todas as vantagens das tecnologias disponíveis, é preciso garantir ao irrigante as bases para o seu desenvolvimento, ou seja, é preciso que ele tenha segurança ambiental, hídrica, energética e jurídica para o seu negócio. O conjunto de artigos apresentados nesta publicação, sobre os mais variados assuntos relacionados à agricultura irrigada, podem contribuir para esclarecer diversos assuntos e fortalecer o setor da agricultura irrigada.
Este livro traz uma contribuição ao enfrentamento do desafio produzir alimento em áreas irrigadas com sustentabilidade. Ele é um produto técnico do seminário “O Estado da Arte da Agricultura Irrigada no Brasil – Desafios e Oportunidades”, que foi realizado em conjunto pela Agência Nacional de Águas – ANA, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, o Ministério da Integração Nacional – MI, e a Fundação Centro Internacional de Educação, Capacitação e Pesquisa Aplicada em Águas –Fundação HidroEX.
Este livro é um dos produtos científicos do I Seminário da Rede AgroHidro. Essa rede foi criada com o intuito de contribuir, na forma de produtos tecnológicos e/ou subsídios técnicos para tomada de decisão, para o alcance da tão almejada produção sustentável de alimentos, considerando as possíveis alterações nos processos hidrológicos, advindas das mudanças climáticas e das alterações no uso do solo, que podem, por sua vez, afetar a disponibilidade e a demanda de água para a agricultura e a qualidade de vida da população rural. O tema central desse primeiro seminário – Água: desafios para a sustentabilidade da agricultura – foi escolhido em virtude da vulnerabilidade da agricultura às mudanças climáticas e de uso da terra, bem como seus efeitos sobre os recursos hídricos, considerando-se a diversidade dos biomas brasileiros. Neste livro, pesquisadores de renome abordam assuntos atuais e futuros relacionados ao impacto da agricultura e das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos. Espera-se que o seu conteúdo possa auxiliar não somente a divulgar e fortalecer a Rede AgroHidro, mas também contribuir para a plena compreensão dos desafios que a sociedade tem à sua frente, com relação aos recursos hídricos, para garantir uma agricultura ao mesmo tempo eficiente e sustentável.
20 Abril | 2023
Espectro busca irrigantes em pivô central para desenvolvimento de software
A Espectro Ltda. é uma empresa brasileira de pesquisa, desenvolvimento e inovação, situada em Campinas, com produtos voltados ao agronegócio no mercado desde 2019. Seu principal produto, a PALMAFLEX é uma Plataforma de Internet das Coisas (IoT) 100% nacional. Dotada de telemetria própria, é uma plataforma agnóstica, podendo ser acoplada a sensores de diferentes finalidades de coleta de dados, gateways e interface web/mobile para visualização de dashboards e geração de relatórios.
A Plataforma PALMAFLEX (www.palmaflex.com.br) é uma solução eficiente nas mais diferentes aplicações como agricultura irrigada e não irrigada, conforto e sanidade animal, qualidade da água no setor industrial, entre outras.
Em consonância com seu Lema: “Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em um só Lugar. Sempre!”, a Espectro Ltda. firmou em 2022 convênio com o Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq (Processo no. 424490/2021-8-2022-2024) para o desenvolvimento do projeto PreCISIA – Predição de Colheita por Imagem de Satélite e Inteligência Artificial. O Projeto PreCISIA conta com a parceria de três grandes universidades brasileiras, Universidade de Campinas, Universidade Estadual de Londrina, e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. O projeto tem por objetivo elaborar ferramentas de software
para a predição de safra de grãos em um primeiro momento em cultivos irrigados por pivôs centrais, nas culturas de feijão e soja, utilizando bancos de dados de imagens de satélite e histórico de produtividade dos grãos. Necessitamos como dados de entrada a informação da data aproximada de plantio e colheita, tipo de cultura, cultivar e produtividade na área para os anos de 2019, 2020, 2021 e 2022. Estes dados serão correlacionados via algoritmos de Aprendizado de Máquina e de Inteligência Artificial.
O sucesso do projeto PreCISIA permitirá que produtores de grãos tenham informação confiável de qual é a expectativa de produtividade já nas primeiras semanas após o plantio, permitindo que medidas preventivas e corretivas no manejo possam ser aplicadas visando maximizar a produtividade a um custo menor.
Nessa fase inicial do projeto, a Espectro Ltda. está firmando parcerias com produtores rurais, empresas, cooperativas e associações a fim de termos acesso a informações sobre produtividades passadas em locais específicos.
Em contrapartida a Espectro Ltda. fornecerá o aplicativo de software resultante do projeto de forma gratuita a estes parceiros.
Everardo Chartuni Mantovani - Professor Titular Sênior UFV Consultor
A irrigação e a agricultura irrigada potencializando a segurança alimentar
Em diversas oportunidades temos chamado atenção para o fato de que na agricultura tropical os ciclos de produção são definidos pela disponibilidade hídrica. Assim, na agricultura de sequeiro existe a dependência da ocorrência das chuvas, que nem sempre se dá de forma regular, no momento e na quantidade certa, prejudicando a produção e a produtividade. Neste sentido, a irrigação é a tecnologia que permite superar esta limitação, permitindo uma agricultura irrigada que valoriza, intensifica e otimiza o uso da terra, proporcionando maior produção, produtividade, rentabilidade, geração de emprego, otimização de ativos, além de outros benefícios. Sem dúvida a irrigação exige investimentos elevados, porém tem se mostrado amplamente viável, por ser a única tecnologia capaz de duplicar, triplicar ou até quintuplicar a produção por unidade de área de uma safra para outra.
Assim, uma questão recorrente é sobre a importância da agricultura irrigada para a segurança alimentar das populações, brasileira e mundial. Neste contexto é necessário considerar uma nova agricultura irrigada, conectada com a sustentabilidade e que, por apresentar grande capacidade de intensificação da produção de alimentos, fibras e agroenergia, sem, contudo, ampliar a área de produção, tem forte conotação estratégica de desenvolvimento e de mitigação das mudanças climáticas. Diversos estudos acompanham a evolução da população mundial e apresentam estimativas ao longo das próximas décadas, sendo que essas informações e projeções são utilizadas para avaliar a segurança alimentar global de longo prazo sob uma série de cenários socioeconômicos, de mudanças climáticas, crescimento da produção agropecuária etc.
Um trabalho extenso desenvolvido na Universidade de Wageningen na Holanda (Uma meta-análise da demanda global projetada de alimentos e da população em risco de fome para o período 2010-2050), apresenta uma análise onde avaliaram 57 estudos de evolução da população mundial e de projeção de segurança alimentar global até 2050 e, em cinco cenários representativos concluem que a demanda global total de alimentos deve aumentar de 35% a 56% até 2050.
As informações nesse sentido mais divulgadas e aceitas são as dos estudos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) que estimam uma população mundial entre nove e dez bilhões de habitantes para 2050 (figura 1) e uma necessidade de expandir a produção de alimentos entre 60% e 70%, com a observação de que 90% desse valor deverá vir do aumento de produtividade e apenas 10% do aumento da área plantada.
Figura 1. Evolução do crescimento da população mundial e da respectiva taxa, com dados do Projeto Madison (até 1900), do Banco Mundial (2000 a 2020) e estimados pela FAO (2030 e 2050).
22 Abril | 2023
Neste contexto, existe o consenso da necessidade da intensificação da produção agrícola e aumento da produtividade para atingir os níveis de produção necessária para atender a demanda mundial em quantidade e qualidade, sendo importante e normalmente ressaltado o papel associado ao desenvolvimento de cultivares mais adequados às distintas condições climáticas e que atendam a dinâmica dos sistemas de produção, a eficiência do controle fitossanitário, otimização dos aspectos nutricionais, eficiência nos processos de colheita, beneficiamento e armazenagem etc. Mas, sem dúvida, talvez a mais importante contribuição para atendimento das demandas futuras de alimentos, nem sempre analisadas adequadamente, é a expansão da agricultura irrigada mundial e em especial a brasileira, que dispõe de condições edafoclimáticas adequadas em que se destaca o cerrado, permitindo uma intensificação com o plantio sem risco de uma segunda safra e introdução de uma terceira safra, importante para cultivos relacionados à dieta dos brasileiros e, como exemplo, temos as culturas do feijão e outros pulses e do trigo.
Assim, das diversas tecnologias para intensificação da produção e aumento da produtividade, sem dúvida a irrigação é a mais segura e importante quando se considera os volumes produzidos, permitindo de forma única multiplicar por dois, por três ou mais a produção de uma área de uma safra para outra. A agricultura irrigada, além de permitir que as cultivares ou variedades mais produtivas atinjam o seu potencial máximo, permite a realização de calendários de plantio mais adequados, fertilização na hora certa e um planejamento de produção mais adequado a realidade de cada região e sistema de produção.
A agricultura irrigada, além de permitir o desenvolvimento de culturas olerícolas, flores, frutas e outras culturas perenes em condições de campo e em casas de vegetação muito conhecidas como estufas, permite intensificar a produção de milho e soja, possibilita a expansão de culturas importantes de outros grãos e algodão no cerrado, café em diversas áreas tradicionais e não tradicionais de plantio, pastagens, cana de açúcar, arroz e várias outras.
Os números a seguir do crescimento da área de produção agrícola no mundo, organizados com base em publicação da FAO, já indicam que esta transformação vem ocorrendo nos últimos 60 anos e nem sempre observada.
Em média no mundo, o crescimento da área de produção (14,6%) ocorreu em função exclusivamente do crescimento da agricultura irrigada (146%).
Informações disponíveis no Atlas Irrigação 2021 publicado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) indicam que o Brasil apresenta uma área irrigada de 8,2 milhões de ha, correspondendo a cerca de 10% da área cultivada. Importante ressaltar que hoje temos consolidado o conceito de agricultura irrigada sustentável, onde o sistema de produção convive com a preservação do meio ambiente, sendo a água, a energia e a mão de obra tratados como insumos que exigem responsabilidade ambiental, social, econômica e estratégica.
Associa-se os fatores de sistemas de irrigação modernos e precisos na aplicação de água, automação total para garantir eficiência nos controles, uso generalizado de sistema de manejo da irrigação em base técnica, onde o uso de controles via medidas do clima, do solo e da planta está sendo ampliado com o uso maciço do sensoriamento remoto (satélite, vants), inteligência artificial e toda tecnologia moderna disponível.
Em outros artigos sobre o potencial de crescimento da agricultura irrigada no Brasil, apresentamos três fatos que integrados permitem uma análise importante do real crescimento da área irrigada no Brasil, possibilitando uma contribuição importante para a segurança alimentar para o Brasil e o mundo.
• O primeiro trata-se do potencial (atual e futuro) da indústria e da distribuição comercial de sistemas de irrigação que têm se expandido no Brasil de forma muito ampla e técnica nos últimos anos, com ampliação significativa da área irrigada superior a 300 mil ha nos últimos anos (CSEI-ABIMAQ).
23 Abril | 2023
Tabela 1. Evolução da área mundial com agricultura de sequeiro, irrigada e total no período de 1961 a 2021
• O segundo relaciona-se a um estudo lançado em 2020 referente à análise territorial para o desenvolvimento da agricultura irrigada no Brasil (GPP/ESALQ-ANA-MDR-FAO), que avaliou diversos fatores onde o mais importante foi a disponibilidade hídrica superficial e indicou um potencial de crescimento da agricultura irrigada de 55 milhões de ha, sendo metade denominada de intensificação em áreas de agricultura de sequeiro e a outra metade em expansão em áreas sob pastagem. Identifica também um potencial efetivo a curto e médio prazo de 13,69 milhões de ha.
• O terceiro e último fato refere-se ao já citado estudo da FAO da necessidade de aumentar a atual produção de alimentos entre 60 e 70% até 2050 e que 90% deste crescimento deverá vir do aumento da produtividade.
Considerando esses três fatos, é proposto ampliar a agricultura irrigada até 2050 nos 13,69 milhões de ha disponíveis no denominado curto e médio prazo, neste sentido, seria necessário crescer em média 450 mil ha para conseguir atingir este potencial efetivo. O planejamento poderia ser de aumentar gradativamente o crescimento anual, auxiliando de
forma efetiva no atendimento da demanda de alimentos, fibras e agroenergia durante os próximos 30 anos.
Com este planejamento chegaríamos a uma área irrigada de cerca de 22 milhões de hectares em 2050, valor este de grande importância na segurança alimentar, representando cerca de 30% da área atual de agricultura de sequeiro.
Considerando que a irrigação possibilita a produção intensificada e maior produtividade, não é muito supor que a produção irrigada pudesse ser similar à produzida em condições de sequeiro, com possibilidade de superá-la em valor monetário e na rentabilidade em função de produtos com maior valor agregado para o mercado e otimização dos ativos do sistema de produção.
Este entendimento é fundamental no debate sobre a demanda futura de produção de alimentos e, sem dúvida a resposta é SIM para a pergunta se a agricultura irrigada é importante para segurança alimentar, sendo este potencial de crescimento um caminho importante para auxiliar de forma significativa na segurança alimentar do Brasil e do mundo.
Engenheiro agrônomo, José Luiz Viana do Couto (jviana7@gmail.com)
Usos do Parafuso de Arquimedes na irrigação
O Parafuso de Arquimedes é um dispositivo usado para elevar a água em pequenos desníveis; foi inventado pelo grego de mesmo nome, no ano de 250 a.C., e é usado até os dias de hoje. Como mostra a figura abaixo, essa bomba de água (ou máquina elevatória de água) funcionava à manivela, que era girada no sentido horário. Entretanto, nos últimos 15 anos, o parafuso tem sido usado como gerador de energia, quando a água flui no sentido inverso, de cima para baixo, impulsionando (pelo peso da água ou ação da gravidade) as hélices. Acoplado ao eixo na parte superior, um sistema de engrenagens e um gerador elétrico, transforma essa energia hidráulica em mecânica, e logo em seguida em energia elétrica. Neste caso, ele é chamado de Parafuso de Arquimedes Invertido.
Normalmente os parafusos de Arquimedes giram com velocidade de 20 a 50 RPM, rotação essa que é aumentada para 750 a 1.500 RMP por uma caixa de engrenagens, para torná-la compatível com os geradores elétricos padrões. Os diâmetros variam de 0,3 a 5 m; os ângulos de inclinação variam de 22 a 40 graus; os desníveis vão de 1 a 9 m; a produção de energia é de 1 kW a 500 kW; e o rendimento varia de 75 a 90 %.
A vida útil é de 30 anos ou mais. O material de fabricação, inicialmente feito de ferro, devido ao peso, tem sido substituído por alumínio ou polietileno.
Vantagens
Alta resistência, baixo custo e facilidade de instalação e de operação; acionamento contínuo e gratuito; permite a passagem de peixes sem injúrias.
Limitações
Poucos fabricantes (no Brasil), peso considerável (se for fabricado com ferro) e pouca capacidade de elevação/ desnível.
PA&ASG.gif (HIDRAULICA/Parafuso de Arquimedes)
Usos mais comuns
Os usos mais comuns da bomba de água com parafuso são: nas estações de tratamento de esgotos; na irrigação; e na drenagem de grandes áreas. O uso do gerador é para alimentar pequenas propriedades ou lugarejos.
Parâmetros de projeto
ASG_parametros-1.gif (HIDRAULICA/Parafuso de Arquimedes)
Outros:
• Vazão ou descarga (Q, em m³/s)
• Altura ou desnível (H, em m)
• Rotação (n, em rpm)
• Potência (Pw, em w)
• Eficiência (η, em percentagem)
25 Abril | 2023
Projeto de uma bomba parafuso
A planilha abaixo mostra a seleção de um Parafuso de Arquimedes para uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) de cidade com cem mil habitantes, a partir do Catálogo de um fabricante (WAM do Brasil).
ETE_xls.gif (HIDRAULICA/ Parafuso de Arquimedes)
Projeto de um gerador
A planilha abaixo apresenta um pequeno projeto de Parafuso de Arquimedes Invertido ou gerador de energia de baixa carga, aproveitando o desvio de parte da descarga de um córrego e um pequeno desnível.
ETE_xls.gif (HIDRAULICA/ Parafuso de Arquimedes)
José Giacoia Neto
Engenheiro Agrícola, M.Sc. em Irrigação e Drenagem (UFV) e MBA em Gestão Comercial (FGV).
Gerente Internacional de Negócios Américas, Rain Bird
O “Kc” em Paisagismo - Parte III
Como comentamos em nosso último artigo, iremos passar a determinar e especificar os emissores de cada espécie de planta ou como chamado em projetos de paisagismo, Paleta Vegetal.
Recordando que nosso projeto possui três espécies de plantas: grama esmeralda (Zoysia Japonica), moréia (Dietes Bicolor), e grama amendoim (Arachis Repens).
Na Fig. 1. Temos a grama esmeralda entre o passeio e a rua, a moreia depois do passeio e perto de um muro de meia altura e a grama amendoim em um canteiro elevado com uma grade atrás.
Por ser a planta base, elegemos o tubo gotejador autocompensado com escudo de cobre com vazão é o 1,6 lph. O número de linhas é função da largura da área e tipo de solo. Neste caso como a largura é de apenas 0,40 m, mesmo sem conhecer o tipo de solo podemos optar por uma linha apenas.
A taxa de aplicação (ou taxa de precipitação), para este modelo seria de 3,7 mm/h.
Com a taxa de precipitação e IR podemos calcular o tempo de irrigação da planta base.
T=IR x 60=0,50 x 60=aprox. 8 min. de irrigação. Tx 3,7
O próximo passo é determinar os emissores e vazão que irão irrigar as outras plantas de forma que elas recebam sua respectiva IR no tempo calculado de irrigação para a planta base.
Vamos para a segunda planta de menor consumo que é a grama amendoim (Arachis Repens),
Passo 1: Calcula a taxa de precipitação necessária para a irrigação da grama amendoim no tempo da planta base.
A partir deste ponto determinamos a IR (necessidade de irrigação) de cada Planta considerando uma ETr = 4mm/ dia
a - Grama esmeralda: IR = 0,72 x 4 = 2,88 mm/dia
b - Moreia: IR = 0,125 x 4 = 0,50 mm/dia
d - Grama Amendoim: IR = 0,50 x 4 = 2 mm/dia
Selecionamos o emissor para a irrigação da planta base. Para este tipo de aplicação de uma área longa e estreita (largura pequena), se recomenda o uso de tubo gotejador.
Onde:
Tx = Taxa de aplicação para a planta não base
IR = Irrigação necessária da planta não base
T = Tempo de Irrigação da planta base
Tx de aplicação para a grama amendoim será, portanto: 15 mm/h, com essa taxa de aplicação vamos na próxima equação que determina a vazão do emissor.
28 Abril | 2023
Fig. 1. Corte transversal de um passeio em um condomínio (fonte Monica Kalil).
Passo 2: Calcular a vazão unitária do emissor
de tubo gotejadores, também com o espaçamento entre emissores especificado.
Se depararmos com um dado que não existe dentro dos catálogos conhecidos repetimos o cálculo mudando espaçamento entre emissores e/ou entre linhas.
Onde:
q = vazão unitária de cada emissor em lph.
Tx = Taxa de aplicação da planta não base calculada anteriormente em mm/h
S = Espaçamento entre emissores em metros
L = Espaçamento entre linhas em metros
Ef = Eficiência de aplicação para gotejamento consideramos 90%
O espaçamento entre emissores (S) pode ser determinado de várias maneiras. Se estamos trabalhando com tubos gotejadores pode ser o espaçamento entre emissores do tubo.
O espaçamento entre linhas (L) pode ser determinado pelo tipo de solo no caso de tubos gotejadores e de acordo com o tipo de vegetação. Existem tabelas especificas para isso.
Se estamos tratando de emissores abrangentes (Micro Sprays, Sprays ou Borbulhadores de respingo), podemos trabalhar com uma superposição de 80 a 100% do raio. Neste exemplo por ser uma área com muito trânsito e não privada e também se trata de um plantio denso podemos optar também por um tubo gotejador.
Retiramos uma bordadura de 15 cm de cada lado e nos resta 30 cm de espaçamento entre linhas. Portanto L = 0,30 m.
Considerando um tubo gotejador com espaçamento entre gotejadores de 30 cm, teremos S = 0.30 metros. q = 1.5 lph, é vazão necessária de cada emissor para que a planta base receba seu IR no mesmo tempo de irrigação da planta base.
Passo 3: Especificação do emissor
A eleição do emissor depende da existência de um produto no mercado com a vazão calculada e, no caso
Neste nosso exemplo poderemos utilizar também o tubo gotejador de vazão 1,6 lph e espaçamento entre emissores de 30 cm.
Agora nos resta encontrar qual o emissor que irá irrigar a grama esmeralda que é a segunda planta não base.
Como a largura é de 0,60 metros, quem conhece produtos de irrigação de paisagismo sabe que não existe emissor com este raio.
Neste caso vamos novamente com tubo gotejador para uso enterrado com escudo de cobre.
Para grama, temos uma tabela específica para espaçamento entre linhas em gramados.
Vamos aos cálculos.
Passo 1: Calcula a taxa de precipitação necessária para a irrigação no tempo da planta base.
Passo 2: Calcular a vazão unitária do emissor
29 Abril | 2023
Fig. 2. Espaçamento entre linha de tubos gotejadores para uso enterrado em gramados de acordo com o tipo de solo.
O solo deste projeto é argiloso, pela Figura 2 temos uma variação de 30 a 45 cm entre linhas. Vamos utilizar espaçamento entre linhas de 0,30 metros.
Pelo catálogo do fabricante o espaçamento entre emissores é também de 30 cm ou 0,30m Efetuando os cálculos teremos q = 2,2 lph
Passo 3: Especificação do emissor
Vamos ao catálogo do fabricante e vemos que temos um tubo gotejador de vazão de 2.3 lph por emissor.
Finalmente teremos a especificação final de emissores para esta parte do projeto.
A avenida deste condomínio terá os seguintes emissores.
Interessante né?
Na próxima edição vamos concluir com um cálculo de um mix de plantas em plantio denso de plantio espaçado.
30 Abril | 2023
Fig. 3. Exemplos de passeios com caminhos com paisagismo composto por diferentes espécies de plantas.
Fig. 4. Tubo Gotejador para uso enterrado com escudo de cobre