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O cara do Algodão Irrigado
from Irrigazine #81
Júlio César Busato é natural de Casca, no Rio Grande do Sul. Engenheiro agrônomo e irrigante desde 1989. A paixão pela agricultura é passada de geração em geração. Seu bisavô era agricultor no norte da Itália, que migrou para o Brasil, logo depois da Segunda Guerra Mundial. Além disso, seu avô e seu pai eram agricultores. E, seus filhos herdaram o amor pela terra também, ou seja, uma história que já vem enraizada na família.
O Engenheiro agrônomo começou ajudando na propriedade em Casca, quando tinha apenas 13 anos, estudava de manhã e à tarde trabalhava nas terras da família, que na época estava iniciando a soja.
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Para falar dessa cultura tão curiosa e rica, o produtor irrigante e engenheiro agrônomo
Júlio Busato, concedeu uma entrevista para a revista Irrigazine, confira:
Revista Irrigazine: Conte como foi a fundação da Fazenda Busato?
Júlio Busato: Somos uma família que trabalhamos juntos, temos uma agricultura familiar, era um pai e quatro filhos, eu sou o segundo filho. Logo que eu me formei em 1988, eu vim pra Bahia, morei na fazenda na época. Estávamos desbravando o Cerrado, e tive a experiência de adentrar no Cerrado sem estrutura nenhuma. Nós não tínhamos energia elétrica, televisão, muito menos estrada e escola, e para chegar na cidade mais próxima, em Barreiras, demorava mais de seis horas em uma Toyota Bandeirantes e ainda tinha que torcer para não quebrar, porque se não, ia ter que caminhar trinta quilômetros.
Eu acho que participei de todo o desenvolvimento do Cerrado da Bahia e sempre com irrigação, nós temos área de sequeiro também, mas as áreas irrigadas nos trazem uma maior segurança, depois nós fomos crescendo então veio o pai e outros irmãos. Nós trabalhamos todos juntos no que é um empreendimento familiar, que é a Fazenda Busato.
Revista Irrigazine: Quando o senhor iniciou o plantio do algodão?
Julio Busato: Nós iniciamos o plantio do algodão em 1997. Fomos pioneiros no algodão também, um dos primeiros na Bahia. Inclusive, começamos já com o algodão irrigado, plantamos 300 hectares e foi nesse momento que vimos o potencial que a cultura tinha, principalmente em termos de produtividade e de qualidade e principalmente nas áreas irrigadas. Ao longo do tempo nós fomos aumentando a área do algodão, então montamos a beneficiadora do algodão e hoje fazemos todo o processo de plantio e colheita, descaroçamento e armazenamento, tudo dentro da propriedade.
Hoje tenho dois filhos, os dois são agrônomos, eles trabalham no grupo, na parte de produção e, minha filha, na parte financeira.
Revista Irrigazine: Quais as particularidades do algodão irrigado?
Júlio Busato: O algodão é uma cultura extremamente exigente tanto em cuidados, como manejo e com tecnologia. É uma cultura bastante suscetível a pragas e doenças. No caso da irrigação nós temos um agravante, que são os nematoides, então é todo um processo, de cuidados de tecnologia, na escolha das variedades, como também a época de plantio. Diferente da soja, o algodão é uma cultura que exige muita atenção o tempo todo, é um ciclo bastante longo. Nós temos um ciclo entre o plantio e colheita de quase seis meses.
Então, é realmente uma cultura bastante trabalhosa, mas em função do clima, nós conseguimos alta produtividade. Nosso algodão possui uma das melhores qualidades a nível mundial, é muito bem aceito e podemos falar que é desejado pelo mercado.
Acho que esses fatores ajudaram o algodão a crescer na área irrigada e vai crescer cada vez mais, apesar de ser uma cultura exigente e trabalhosa, ela tem uma rentabilidade e isso que está fazendo que a área do algodão cada vez mais aumente na irrigação.
Revista Irrigazine: Qual é a técnica de irrigação mais utilizada no cultivo do algodão?
Julio Busato: Nós usamos na irrigação o pivô, é o que mais se adapta nessas culturas anuais. E, assim todo o manejo de irrigação avalia a necessidade de controle de irrigação, e a necessidade de água na cultura, para que a gente não fique gastando água e energia mais do que o necessário. Hoje nós estamos bem avançados nisso e com certeza existe uma otimização da água para a produção do algodão nas propriedades.
Revista Irrigazine: Quais são os desafios de lidar com essa cultura?
Júlio Busato: Tem que ter um cuidado muito grande, porque entrar na cultura do algodão, demanda um investimento bastante alto e são específicos, se você ver uma colheitadeira de algodão, ela custa 7 milhões de reais e ela só colhe algodão, da mesma forma a escavaçadora de algodão que só serve pra isso. Realmente quando o produtor decidir entrar na cultura do algodão, eu acho que ele tem que estar preparado para ficar e não sair, porque os investimentos são muito altos. Outro grande desafio são os cuidados que precisa ter, principalmente com as pragas, nas áreas irrigadas.
Revista Irrigazine: O algodão irrigado tem dado bons resultados ?
Júlio Busato: O pivô central é o que mais se adapta nessas culturas anuais, assim como falei anteriormente, e a gente faz rotação de cultura com milho e soja, nas mesmas áreas da irrigação. Já fizemos com feijão também, então o pivô é que se adapta bem.
Nós temos equipamentos com 95% de eficiência na lâmina aplicada, então é um equipamento bastante ágil, simples e que funciona muito bem.
A cultura do algodão irrigado tem dado excelentes resultados, principalmente em função das altas produtividades, nós estamos falando de 380 a 400 arrobas de algodão; quando é sequeiro gira em torno de 300 arrobas, mesmo com pouca irrigação, porque, basicamente, a gente irriga só o final do ciclo, então eu tenho um ganho bastante na produtividade e também na qualidade desse algodão; ele consegue formar todo o ciclo da cultura, porque não falta água no fim, que é o que acontece, às vezes, no sequeiro. E não tem chuva na época da colheita, e por isso nós colhemos o algodão com uma resistência de fibra e com uma unidade de fibra bastante grande, em relação as áreas irrigadas.
Nós temos que ter cuidado com o aumento das doenças e pragas de solo, principalmente os nematoides, para que eles não se multipliquem e não venha causar danos a cultura, por isso, nós usamos variedades resistentes tanto na cultura da soja, quanto do algodão, sempre buscando um controle desses nematoides. Além de produtos biológicos, hoje nós utilizamos uma gama muito grande de produtos biológicos, com substituição dos defensivos agrícolas de origem química e esse caminho que estamos traçando é sem volta, que só vai aumentar. Então, a utilização de insetos, fungos e bactérias, “amigas nossas”, é uma prática que nós estamos fazendo muito em nossa propriedade, e com excelentes resultados, e cada vez mais, iremos trilhar esse caminho.
Revista Irrigazine: Fale um pouco sobre a Fazenda Busato?
Júlio Busato: As fazendas do nosso grupo familiar, emprega quase mil pessoas e eu acho que o grande patrimônio que nós temos na nossa propriedade são as pessoas, principalmente em função da cultura do algodão, as pessoas precisam ser treinadas e preparadas, capacitadas para produzir o algodão, isso se reflete em bons salários e um bom padrão de vida dessas pessoas. Essa cultura, não só do algodão, capacidade de transformar uma região e olha que o oeste da Bahia era uma região extremamente pobre, ainda existem bolsões de pobreza, mas, cada vez mais, a agricultura vem transformando a região, dando oportunidade as pessoas, gerando riqueza, gerando empregos e empregos de qualidade, principalmente com a irrigação. A irrigação, multiplica a área de sequeiro por 3 a 4 vezes, em termos de rentabilidade, principalmente em geração de emprego e geração de renda porque se faz 2 safras por ano, então o oeste da Bahia tem um potencial enorme, e está aumentando. Nós temos um estudo, já que a região tem um potencial de irrigação que pode chegar a 600 mil hectares, sem comprometer a disponibilidade de água, e devemos instalar o sistema de monitoramento disso, mas esse estudo do aquífero e com certeza o algodão que vai estar a frente desse crescimento.
