

























As mudanças climáticas seguem como um dos maiores desafios da atualidade, impactando a agricultura de forma direta e exigindo soluções inovadoras para garantir a sustentabilidade do setor. Nesta edição, exploramos a interseção entre o clima e a tecnologia, trazendo casos que mostram como o uso eficiente da água pode ajudar a mitigar os prejuízos e promover o desenvolvimento sustentável no campo.
A utilização de sistemas de irrigação surge como uma das principais ferramentas para enfrentar eventos climáticos extremos. Em Santa Catarina, produtores de frutas já utilizam a irrigação para proteger suas lavouras contra geadas, mostrando resultados promissores.
No artigo do professor Douglas Roberto Bizari o manejo da irrigação pelo método da tensiometria ganha destaque no cultivo da lima ácida Tahiti. Os recentes eventos de déficit hídrico mais acentuado e temperaturas mais elevadas nos períodos críticos para a cultura têm preocupado os produtores.
Além das plantações, a irrigação se estende a outros cenários, como os gramados de estádios de futebol. Em sua terceira parte, José Giacoia, continua a detalhar os cuidados com a irrigação dos gramados de grama natural, essenciais para manter a qualidade em arenas esportivas.
Outro destaque desta edição é a entrevista exclusiva com o professor Dr. Ricardo Gava, que compartilha sua visão sobre a criação do Vale do Rio Paraná, uma ideia inovadora que pode transformar a agricultura irrigada no Brasil. A proposta, que envolve a integração de tecnologia e gestão de recursos hídricos, pode se tornar um marco no desenvolvimento regional e na promoção de práticas agrícolas mais eficientes.
O clima, como tema central, permeia todas essas discussões. As geadas, a seca prolongada em grande parte do país e os enormes prejuízos sofridos por produtores de diversas culturas são um alerta sobre a necessidade urgente de adaptação. A inovação tecnológica, como os sistemas de irrigação, surge como a principal solução para reduzir os impactos climáticos e garantir a resiliência da agricultura.
Diante desse cenário, o Brasil tem uma oportunidade única de liderar o caminho para uma agricultura mais sustentável e preparada para o futuro. As soluções apresentadas nesta edição reforçam que a chave para o sucesso está na união entre ciência, tecnologia e a preservação dos recursos naturais.
Boa leitura!
DENIZART VIDIGAL
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Mudanças
No Brasil, há um potencial de 55 milhões de hectares para irrigação, mas apenas 9 milhões são efetivamente irrigados, conforme apresentado no I Seminário sobre Agricultura Irrigada no Cerrado.
Podemos ter um “Vale do São Francisco” para os Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais?
A Revista Irrigazine foi atrás de saber mais desse projeto junto ao mentor da ideia, o Prof. Dr. Ricardo Gava, Diretor Geral da sede Centro-Oeste do Instituto de Pesquisa e Inovação na Agricultura Irrigada – Instituto INOVAGRI CENTRO-OESTE.
Controle de geadas com uso de irrigação em frutas de caroço em Santa Catarina Manejo de irrigação na lima ácida Tahiti utilizando o método da tensiometria
Irrigação para gramados de estádios de futebol, grama natural - parte III
A Região Noroeste do Paraná, que enfrenta graves problemas de seca, é também a área com a maior cobertura de irrigação no estado. No dia 22, o governo estadual anunciou um novo programa destinado a expandir ainda mais essa área, com um investimento de R$ 200 milhões em linhas de crédito com juros subsidiados e em pesquisa científica.
O programa, denominado Irriga Paraná, visa aumentar a área irrigada no estado em 20%. O governador Ratinho Júnior ressaltou que o objetivo é promover o uso da irrigação como uma ferramenta que oferece maior previsibilidade e rentabilidade para os produtores. “Diante das mudanças climáticas e da necessidade de aumentar nossa produtividade, lançamos este programa para apoiar os agricultores com melhores condições para projetos técnicos, licenças e outorgas ambientais, além de oferecer juros reduzidos”, afirmou.
Ratinho Júnior também mencionou que o avanço na irrigação permitirá ao estado realizar até cinco safras a cada dois anos, o que deve elevar a renda dos produtores e impulsionar
o crescimento do agronegócio paranaense. O programa pretende, portanto, fortalecer a produção agrícola e contribuir para o desenvolvimento econômico do Paraná.
Foto: Divulgação/Gilson Abreu
O seminário “A Irrigação como peça-chave da adaptação climática na agricultura” realizado em 29 de agosto na Expointer marcou o lançamento de novas regulamentações sobre irrigação. Durante o evento, o governador Eduardo Leite e os responsáveis pelas Secretarias do Meio Ambiente e Agricultura apresentaram a Resolução 512/2024. Esta nova normativa atualiza os procedimentos de licenciamento ambiental, buscando otimizar os processos e garantir maior segurança jurídica e ambiental para projetos de irrigação.
A Resolução 512/2024 estabelece mudanças significativas, incluindo a restrição do licenciamento a reservatórios de água, enquanto os equipamentos de irrigação não precisarão mais de licenciamento específico. A nova diretriz classifica os empreendimentos de irrigação em categorias, com processos simplificados para projetos menores e requisitos mais detalhados para empreendimentos maiores, alinhando-se às melhores práticas ambientais.
O Programa de Irrigação do Estado, integrado ao Supera Estiagem, oferece incentivos financeiros para a implantação ou ampliação de sistemas de irrigação. Com investimentos já superiores a R$ 73 milhões e 366 projetos aprovados, o programa visa aumentar a área irrigada em 100 mil hectares nos próximos quatro anos. Além disso, a parceria com a Universidade Federal de Lavras pretende modernizar o Sistema de Outorga de Água (Siout), com um investimento de R$ 5 milhões para aprimorar a eficiência e a digitalização na concessão de outorgas.
As novas medidas visam promover um uso mais sustentável e eficiente dos recursos hídricos, contribuindo para a adaptação às estiagens e a melhoria da produtividade agrícola. A atualização do Siout incluirá melhorias na fiscalização, segurança de barragens e automação de processos, proporcionando uma gestão mais integrada e efetiva dos recursos hídricos no Estado.
No dia 9 de setembro a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e coordenadores dos Polos de Agricultura Irrigada se reuniram para discutir a possível alteração do horário de desconto da tarifa noturna de energia, atualmente aplicada à irrigação e aquicultura. O encontro, convocado pela diretora de Irrigação do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), Larissa Rego, ocorreu na sede do Ministério de Minas e Energia (MME), em Brasília.
Desde 1992, a tarifa especial de energia para irrigação e aquicultura é aplicada no período noturno, entre 21h30 e 6h. Durante a reunião, o MME considerou a possibilidade de alterar o horário de desconto para o período das 11h às 15h, que é quando ocorre o pico de evapotranspiração das plantas,
Foto: Divulgação/CNA
Flexibilização do horário de desconto foi tema de reunião
potencialmente comprometendo a eficiência dos sistemas de irrigação.
Jordana Girardello, assessora técnica da Comissão Nacional de Irrigação da CNA, destacou que o horário proposto pode afetar negativamente o desempenho dos sistemas de irrigação, especialmente em regiões com solo arenoso e sistemas de gotejamento. Ela argumentou que, embora a flexibilização possa ser útil em alguns casos específicos, a manutenção do desconto noturno é fundamental para a eficiência e os investimentos já realizados pelos produtores.
Kalinka Koza, assessora técnica da CNA, abordou a questão da aquicultura, observando que a demanda por energia na piscicultura e carcinicultura ocorre majoritariamente à noite, quando é necessário fornecer oxigênio artificial à água. Ela enfatizou a importância de manter o desconto noturno para garantir a competitividade do setor aquícola e sugeriu que a ampliação do período de desconto para o dia poderia facilitar o crescimento dos empreendimentos sem aumentar excessivamente os custos.
Concluindo o debate, os participantes concordaram que a manutenção do desconto noturno é essencial para a eficiência dos sistemas de irrigação e aquicultura. As discussões revelaram que qualquer mudança na tarifa deve considerar a complexidade dos sistemas e os investimentos realizados pelos produtores. A proposta de ampliação do horário de desconto para incluir parte do período diurno foi considerada, mas será cuidadosamente avaliada para garantir que não comprometa a eficácia e a viabilidade econômica dos setores envolvidos.
No Brasil, há um potencial de 55 milhões de hectares para irrigação, mas apenas 9 milhões são efetivamente irrigados, conforme apresentado no I Seminário sobre Agricultura Irrigada no Cerrado.
O evento enfatizou a importância da irrigação para a produção sustentável de alimentos, com o ministro Waldes Góes destacando a água como um dos pilares do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). A política de irrigação é considerada crucial para reduzir desigualdades, diminuir emissões de gases e aumentar a produção de alimentos.
Foto: Divulgação
A irrigação é a tecnologia mais eficaz para intensificar a produção sem a necessidade de abrir novas áreas
O pesquisador Lineu Rodrigues, da Embrapa Cerrados, ressaltou a necessidade de aumentar a produção de alimentos entre 60% e 100% até 2050, com metade desse crescimento previsto para o Cerrado. Ele apontou que a irrigação é a tecnologia mais eficaz para intensificar a produção sem a necessidade de abrir novas áreas, oferecendo maior estabilidade ao planejamento agrícola.
O seminário também discutiu que a irrigação depende mais da distribuição de água do que da quantidade total de chuvas e enfrentou desafios relacionados à legislação. Foram identificados mais de 37 milhões de hectares de pastagens degradadas que poderiam ser revitalizadas com irrigação, o que ajudaria na produção de alimentos. A falta de políticas adequadas para o uso de águas subterrâneas no Cerrado também foi abordada, com alertas sobre o risco de sobreexplotação.
Outros tópicos discutidos incluíram o impacto das mudanças climáticas, com previsões de aumento das estiagens e redução da disponibilidade hídrica no futuro. A geologia do Cerrado, caracterizada por solos pobres e ácidos, foi destacada como um fator importante para a agricultura. A compreensão do substrato rochoso foi enfatizada para melhorar o manejo do solo e a sustentabilidade agrícola.
A utilização de águas subterrâneas, o manejo adequado do solo para garantir a recarga dos aquíferos e a necessidade de políticas públicas para investir em áreas de depressão no Cerrado também foram abordados. Finalmente, foram discutidas iniciativas para financiar projetos de irrigação e a importância de uma gestão eficiente dos recursos hídricos para atender às futuras demandas de produção alimentar e garantir a sustentabilidade no Cerrado.
A proposta de criar um “Vale do Paraná”, inspirado pelo sucesso do Vale do São Francisco, foi apresentada no 3º Encontro de Agricultura Irrigada do Brasil Central. A ideia, lançada pelo Prof. Dr. Ricardo Gava, Diretor Geral do Instituto INOVAGRI Centro-Oeste, promete revolucionar a agricultura irrigada na região do Rio Paraná, abrangendo os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.
A inspiração para o Vale do Paraná vem da observação do sucesso da irrigação no Vale do São Francisco, que transformou uma região árida em um polo agrícola próspero. O Prof. Ricardo Gava explica que o projeto busca utilizar a vasta disponibilidade de água do Rio Paraná para criar uma região agrícola semelhante, promovendo o cultivo de culturas de alto valor econômico e social.
Essa é uma área onde a água é abundante, mas subutilizada. A ideia é armazenar e distribuir essa água de maneira eficiente para maximizar a produção agrícola.
A proposta envolve a construção de reservatórios e a implementação de técnicas avançadas de irrigação para garantir uma oferta constante de água durante todo o ano.
Cultivos irrigados na região
A região do Rio Paraná tem o potencial para cultivar uma grande variedade de produtos agrícolas. Atualmente, a irrigação pode transformar áreas de cultivo para as seguintes culturas:
• Grãos e Oleaginosas: Soja, milho e trigo, que são essenciais para a segurança alimentar e têm uma alta demanda no mercado interno e externo.
• Frutas e Hortaliças: Cultivos como melancia, tomate, alface e cenoura, que são altamente rentáveis e têm um grande potencial para abastecer mercados urbanos.
• Cana-de-açúcar e Cacau: Produtos que podem gerar emprego e desenvolver a indústria local, aproveitando a irrigação para otimizar a produção e a qualidade.
Apesar do potencial, a criação do Vale do Paraná enfrenta desafios significativos. A construção de reservatórios e a implementação de sistemas de irrigação avançados requerem investimentos substanciais e coordenação entre diferentes níveis de governo e setores privados.
É preciso unir esforços entre os estados envolvidos, pesquisadores e instituições financeiras para garantir a viabilidade do projeto. A construção de reservatórios e a integração de técnicas de irrigação são cruciais para o sucesso dessa iniciativa.
Além disso, a educação e a conscientização sobre o uso eficiente da água são essenciais. Afinal, a ideia é que a água, quando bem gerida, se torne um recurso sustentável e essencial para o desenvolvimento agrícola.
O projeto do Vale do Paraná propõe não apenas transformar a agricultura na região, mas também criar um modelo que pode ser replicado em outras partes do Brasil. Com o apoio das autoridades e da comunidade científica, o sonho de uma região agrícola vibrante e sustentável pode se tornar uma realidade.
A proposta de criação do Vale do Paraná é uma oportunidade para reimaginar o futuro da agricultura irrigada, desenvolver ideias e promover um desenvolvimento sustentável.
Podemos ter um “Vale do São Francisco” para os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais?
A Revista Irrigazine foi atrás de saber mais desse projeto junto ao mentor da ideia, o Prof. Dr. Ricardo Gava, Diretor Geral da sede Centro-oeste do Instituto de Pesquisa e Inovação na Agricultura Irrigada – Instituto INOVAGRI CENTRO-OESTE.
Revista Irrigazine: Professor Ricardo estivemos presentes no Encontro de Agricultura Irrigada do Brasil Central que ocorreu em Brasília-DF, e ao assistirmos sua palestra uma coisa chamou muito a nossa atenção e de quem assistia: seu projeto de transformar a região do Rio Paraná em algo semelhante ao que ocorre no Vale do São Francisco, utilizando a agricultura irrigada para alavancar a produção de culturas de alto interesse econômico e social. Como começou essa ideia?
Prof. Ricardo Gava: Denizart agradeço a oportunidade de
participar dessa entrevista nessa revista que é tão importante para nosso setor. Nenhuma ideia começa do dia para a noite de fato. Nesses muitos anos dedicado à pesquisa tive a oportunidade de passar por várias instituições públicas de três estados da Bacia do Rio Paraná e estabelecer parcerias com instituições dos outros dois e do Distrito Federal. Iniciei meus estudos no curso de engenharia agrícola da Universidade Estadual de Maringá, no Campus de Cidade Gaúcha, região noroeste do Paraná próximo à divisa com Mato Grosso do Sul e próximo, portanto do Rio Paraná e tive a oportunidade de conhecer a represa de Itaipu
numa visita técnica ainda na graduação. Depois disso realizei meu mestrado em produção vegetal na mesma instituição, porém na cidade de Maringá e desenvolvi minha pesquisa da dissertação no antigo Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, hoje Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – IDR, sempre trabalhando com a utilização sustentável da água como fundamental para alcançarmos segurança alimentar. Ali pude trabalhar em parceria com diversos professores e pesquisadores de outra renomada instituição daquele Estado a Universidade Estadual de Londrina – UEL. Esse período de estudos se deu entre meus 17 a 24 anos de idade (anos de 2004 a 2010). Finalizando o mestrado retornei ao estado de São Paulo, de onde sou natural, para realizar meu doutorado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ/USP na área de irrigação e drenagem. Minha vida acadêmica sempre foi voltada para a agricultura irrigada, mas foi na ESALQ que um aspecto me despertou atenção: foi através das aulas voltadas para manejo de bacias hidrográficas e a importância dos Comitês de Bacias Hidrográficas que comecei a enxergar a água com uma visão ainda mais estratégica e com muito mais cuidado. Mas antes de entrar nesse assunto técnico, já que eu me apresentei, para finalizar ainda tive a oportunidade de realizar um ano de doutorado com bolsa do Programa Ciências Sem Fronteiras na University of California, no campus de Davis-EUA, onde pude trabalhar em parceria com o Instituto de Recursos Hídricos da Califórnia.
Não estou contando isso para falar da minha história, mas para mostrar que ideias não nascem do dia para a noite. Elas são construídas, e, uma das melhores ferramentas para isso é o ENSINO!
Afinal, foi através dessas experiências e aprendizado que minha mente se voltou mais para o que é planejamento estratégico. Um país tão rico em água, mas que em anos de crises hídricas, sua população sofre mais do que muitos países que tem menos disponibilidade de água do que o nosso, porém, que desenvolveram ações ao longo do tempo para melhorar a eficiência de sua utilização.
Revista Irrigazine: Professor então antes de falarmos especificamente na possibilidade de criação do Vale do Rio Paraná, na sua visão o que falta para nosso país ter mais estabilidade hídrica frente às variações do clima?
Revista Irrigazine: Exatamente professor! Essa sua fala nos marcou muito na palestra! Fale um pouco mais sobre isso, por favor!
Prof. Ricardo Gava: Denizart eu citei a Itaipu como referência pois ela fica na jusante de uma das maiores bacias hidrográficas do nosso país. O lago de Itaipu reserva uma parte de toda a água que drena dos nossos estados à montante, ou seja, acima deste ponto. Por questões topográficas, praticamente cem por cento do estado de São Paulo, praticamente cem por cento do estado do Paraná, o sul de Minas Gerais e o Triângulo Mineiro, cerca de metade de Goiás e todo o Distrito Federal e metade do estado de Mato Grosso do Sul, toda essa região drena para o Rio Paraná, onde seu ponto final é o reservatório da Itaipu. E ainda conta com um pouquinho de contribuição do estado de Santa Catarina. Veja esse mapa!
O reservatório de Itaipu é um exemplo quando eu disse “desde que construído com critérios técnicos”. A Itaipu chega a ter 200 metros de altura em sua barragem principal, e mesmo assim permite que exista piracema através de um canal sinuoso que suaviza a subida/descida dos peixes.
Se tivermos ações voltadas para reservação de água nas microbacias que forma a grande bacia do Rio Paraná, além de armazenarmos água, ainda contribuímos para a regularização da vazão à jusante, que nada mais é do que alcançarmos uma vazão média mais alta ao longo dos anos.
Se incentivamos as cidades a ter cisternas em suas casas, porque não incentivarmos nas propriedades rurais a construção de reservatórios. Eu chamo isso de “cisterna do meio ambiente”. Muitas vezes analisa-se o fato de construção de reservatórios nos rios, mesmo que reservatórios de pequeno/médio porte, como intervenções humanas. Como se toda intervenção humana fosse algo ruim. Mas não seria uma busca por equilíbrio ambiental,
Prof. Ricardo Gava: Denizart nossos líderes precisam realizar ações em prol da reservação de água. Sim! O nome é este mesmo! Precisamos que a sociedade em geral entenda que a construção de reservatórios, dentro dos critérios técnicos, nada mais são do que grandes cisternas do meio ambiente que permitem que a água de excesso das épocas chuvosas seja reservada para utilização nos períodos secos ou anos mais secos. É muita água que drena pelos nossos rios e vai embora! Vale lembrar que menos de 2% da vazão dos rios Brasileiros que drena anualmente para o mar, é utilizada para irrigação. Mas o mais preocupante é que quando pensamos em uma mangueira jogada na calçada, logo nos vêm a ideia de desperdício. Porém, quando nossos reservatórios precisam abrir seus vertedores para “jogar fora” milhões de litros de água por segundo, em alguns casos chamam de “show das águas”, chegando a atrair turistas para assistir, como é o caso na Itaipu e nas cataratas do Iguaçu.
reservarmos água dos nossos períodos chuvosos para utilizar nos períodos secos? Quando passamos por anos secos toda sociedade paga a conta, afinal, com a baixa nos níveis dos rios a geração de energia é prejudicada, sendo necessário produzir energia de fontes mais caras, encarecendo a conta de energia para todos. Além do mais difícil para qualquer ser humano que é passar por racionamento de água. Não tem nada pior do que ficar sem água! Até sem comida nós conseguimos ficar por um tempo, mas sem água é impossível!
Revista Irrigazine: E professor, sobre a ideia de desenvolver ações para criar na região do Rio Paraná, algo semelhante ao Vale do São Francisco, como isso surgiu?
Prof. Ricardo Gava: Veja! Estou nessa região há 10 anos como pesquisador e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Há 20 anos na região do Rio Paraná. E nesse tempo todo frequentando e organizando eventos e reuniões técnicas nacionais e internacionais. Conhecendo projetos potenciais e transformadores. Quando você vai até a região de Petrolina-PE e Juazeiro-BA por exemplo, e vê como a reservação de água e o uso eficiente da mesma, por técnicas de irrigação, transformou a vida das pessoas daquela região, gerando emprego, gerando renda e melhoria social, você logo imagina que tem algo especial ali. As pessoas viajam de longe para conhecer e fazer turismo. Então o que tem de tão especial? A água! Tudo gira em torno da água, até mesmo os famosos passeios de barco pelo rio, regados a vinhos e queijos produzidos em sistemas de produção que não existiriam se não fosse pela agricultura irrigada.
Mas se tudo isso acontece graças à enorme quantidade de água que passa por ali, e logo é despejada no mar, então porque a região do Rio Paraná não poderia seguir o mesmo exemplo. E veja que interessante! Temos na região nordeste de Mato Grosso do Sul e Noroeste de São Paulo, grande porcentagem de solos arenosos e com característica de pecuária extensiva com pastagem degradada. Não chega a ser uma caatinga, mas está longe de ser um exemplo na produção agrícola.
Revista Irrigazine: E o que falta?
Prof. Ricardo Gava: Água na quantidade certa! Reservar nossas águas dos períodos chuvosos para distribuí-la de melhor maneira ao longo do ano e dos anos mais secos. Para isso é necessário que os governos Estaduais e Federal unam esforços, e pesquisadores das áreas do meio ambiente, biologia, agronomia, engenharia agrícola e todas as áreas afins, sentem juntos para discutir ações em prol de nossa segurança alimentar frente às mudanças climáticas. Sem água não tem produção de alimentos e sem alimentos até mesmo as pessoas mais pacíficas entram em guerra! Produzir alimentos é uma questão de segurança mundial. O Brasil reserva muito pouco de suas águas e precisa melhorar a comunicação entre seus reservatórios, incentivar a construção de mais sistemas integrados e até mesmo de pequeno porte. É preservando cada gota que no final termos um país menos propenso a sofre racionamentos e falta de abastecimento de alimentos.
Revista Irrigazine: Mas porque se espelhar no Vale do São Francisco?
Prof. Ricardo Gava: Temos na região do Rio Paraná os estados mais ricos do país, porém, que recebem em seus CEASA’s frutas, legumes, verduras, muitas vezes de outros estados e inclusive, recebem muito do Vale do São Francisco que fica à quilômetros de distância.
Precisamos de uma mudança cultural em nosso sistema de produção, incentivando a produção também destes alimentos que através da agricultura irrigada não só são viáveis como em geral são muito mais rentáveis financeiramente para o produtor. Sem contar que temos trechos do Rio Paraná de cerca de 15 km de largura, favorecendo o turismo, seja ele por meio de navegação ou tantos outros.
Revista Irrigazine: E professor, o senhor já tem parceiros para levar essa ideia adiante? A Irrigazine desde já se coloca à disposição para apoiar ações que venham a contribuir!
Prof. Ricardo Gava: Desde já agradeço a vocês da Revista Irrigazine pelo apoio de sempre para o avanço a agricultura irrigada, bem como da promoção da Feira Internacional de Irrigação Brasil – FIIB que muito contribui nesse sentido.
No momento estamos tendo um apoio muito grande de Mato Grosso do Sul, estado que tem compartilhado muitos dados e informações técnicas para avançarmos nessas ações. O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional – MIDR e a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste – SUDECO também tem investido esforços em ações nesse sentido. Porém, acredito que falta agora unirmos força a outros estados que vão além do Centro-oeste. Buscar interações com São Paulo e Paraná, os quais dividem fronteira com grandes extensões do rio. Mato Grosso do Sul com certeza tem o maior potencial no que diz respeito à extensão, são aproximadamente 600 km do Rio Paraná, sendo estes divididos em 200 km com o estado do Paraná e 400 com o estado de São Paulo.
Mas não se trata de dividir a água. Quando estados dessa magnitude se unem, todos só têm a ganhar. Ações conjuntas de desenvolvimento de técnicas e práticas que promovem a melhoria da infiltração da água no solo, bem como da reservação de água seja ela superficial ou subterrânea permitem o aumento na disponibilidade para todos.
Revista Irrigazine: Para finalizar gostaríamos que deixasse uma mensagem que resume tudo isso professor.
Prof. Ricardo Gava: Agradeço pela oportunidade de compartilharmos essas visões aqui na Irrigazine que tem um alcance muito grande, e dizer que como pesquisador e professor, fico à disposição para auxiliar em ações de divulgação e conscientização sobre o potencial dessa região, bem como para ajudarmos na quebra de alguns paradigmas e suporte na introdução de novas culturas, mostrando a viabilidade dessas novas oportunidades.
As geadas são fenômenos atmosféricos devastadores para a agricultura, causando a morte parcial ou total das plantas devido ao congelamento dos tecidos vegetais. Este fenômeno pode provocar rompimento das paredes celulares, queimadura das flores e/ou dos frutos e danos ao solo, resultando em grandes perdas para os agricultores.
A gravidade das geadas para a agricultura é bem conhecida. As plantas são suscetíveis ao congelamento, o que pode causar danos irreversíveis, como explica Geferson Reis, especialista da Netafim: “A geada pode causar alterações físicas na estrutura das células das plantas que, em muitos casos, congelam. O congelamento pode levar ao rompimento da parede celular até a morte parcial ou total da planta.” De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), só de 10/06 a 10/07/2024 foram registradas mais de 30 incidências de geadas. Esses números ressaltam a importância de medidas eficazes para mitigar os impactos das geadas nas colheitas.
Existem diversas tecnologias que beneficiam os agricultores, e a Netafim desenvolveu um sistema de irrigação por aspersão específico para proteger plantações contra geadas. Segundo Reis, “O Aspersor MegaNet e o Regulador de Pressão formam a dupla perfeita para mitigar os efeitos da geada. Esses componentes são instalados de 50 a 80 centímetros acima da copa das plantas.” Reis detalha o processo: “O objetivo é molhar as folhas das plantas durante todo o período de risco de geada, antes que ocorra. Quando molhamos as partes vegetativas, a água congela ao redor das plantas, formando uma espécie de ‘iglu’, onde a água não congelada faz a proteção, mantendo uma temperatura confortável dentro dessa estrutura de gelo. A água ao redor do fruto, das folhas e do caule não desce abaixo de 0ºC, enquanto o gelo pode atingir temperaturas mais baixas. Quando o sol sai e a temperatura sobe acima de 0ºC, mantemos o sistema ligado até que tudo descongele, evitando danos à plantação.”
Atualmente, produtores de frutíferas, que têm maior valor agregado, são os que mais optam pelo sistema. Culturas como pêssego, ameixa, uva e maçã, que têm ciclos críticos durante o inverno, podem se beneficiar enormemente desta tecnologia. “Estamos falando de culturas com alto valor agregado. Por exemplo, o pêssego tem, em média, um rendimento de 30 toneladas por hectare. Em caso de uma geada onde o produtor perca sua produção, o valor total por hectare dessa fruta pode
ultrapassar R$ 120.000,00 de prejuízo. Portanto, um projeto anti-geada tem um custo-benefício baixo”, afirma Reis. Outros métodos de prevenção, como fogueiras ou uso de aminoácidos, podem não ter a mesma eficácia e facilidade de manejo. O especialista da Netafim destaca a conveniência do sistema: “Os produtores gostam de ficar vigilantes em épocas de geada, mas o sistema tem a possibilidade de ser totalmente automatizado, proporcionando tranquilidade e segurança.”
Eduardo Joaquim Riva, produtor de Caxias do Sul (RS), conta que se surpreendeu logo no primeiro ano de uso do sistema: “No ano passado, junto com a Agrimar e a Netafim, a gente fez o investimento em torno de três hectares e meio do sistema de anti-geada. No primeiro ano, na primeira safra, a gente já teve o retorno do valor investido. Foi muito interessante e com certeza vou utilizar em outras áreas”.
O MegaNet da Netafim é um aspersor pop-up, o que significa que seus bocais e partes móveis ficam sempre protegidos, evitando a entrada de insetos e outras sujidades que possam vir a entupir os bicos e prejudicar o seu desempenho. Feito de materiais com proteção contra raios ultravioletas (UV), ajuda a preservar a integralidade do aspersor ao longo do tempo, garantindo durabilidade, uniformidade e eficácia mesmo com o passar dos anos, independentemente das condições climáticas. O MegaNet, quando utilizado acoplado a um regulador de pressão, torna-se autocompensado. Isso significa que, independentemente da topografia ou da variação da pressão ao longo da tubulação lateral, é capaz de manter uma distribuição uniforme de água em toda a área.
A família do produtor Renato Junior Perazzoli, da Fazenda Perazzoli, localizada em Pinheiro Preto (SC), está na fruticultura desde a década de 90. Ele compartilha sua experiência com o sistema: “Estamos utilizando o MegaNet há dois anos e estamos muito contentes com os resultados. Instalamos com a Irrigabras e a Netafim e nós preferimos o aspersor MegaNet pela função anti-insetos. Alguns dias atrás tivemos uns episódios de frio e a temperatura chegou a -3 graus. Usamos o sistema e foi sensacional, foi um aspersor que caiu como uma luva”. O produtor falou ainda sobre a expectativa para os próximos meses: “Estamos otimistas com essa próxima safra, mesmo sendo uma safra que já vem se desenhando desafiadora desde o início. Os frutos que já estão aparecendo estão com ótima qualidade e o nosso sistema da Netafim está aí para garantir a proteção contra as próximas geadas, se vierem”.
Charles Seidel1, Thiago O. Leite2, Alvaro José Back3, Alceu Assis José Vicente4
As geadas tardias têm causado um grande problema para os produtores de frutas de caroço da região sul do Brasil, em especial a região do Planalto e Meio Oeste Catarinense. As perdas devido aos danos das geadas podem chegar a 100% da produção dos produtores de pêssego, ameixa e nectarina. Neste inverno de 2024, os pomares de frutas de caroço que não tinham nenhum controle de geadas, tiveram perdas entre 30 e 100%, dependendo da sua localização. No entanto, existem diversos métodos para se evitar ou
reduzir estes danos. No meio oeste de Santa Catarina os produtores elegeram o método de irrigação por aspersão como técnica para evitar a “queima” de flores e pequenos frutos. Este artigo visa descrever o trabalho de extensão da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), executado por meio da Gerência Regional de Videira, para auxiliar os fruticultores na redução dos efeitos da geadas em frutos de caroço, no meio oeste de Santa Catarina.
1 Eng. Agrônomo, MSc. Eng Agrícola, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, (Epagri), EM Rio das Antas, CEP 89550-000, Fone(49)35616458, e-mail: seidel@epagri.sc.gov.br
2 Engª. Agrônomo, MSc., Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, (Epagri), Gerência Regional de Videira, SC
3 Eng. Agrônomo, MSc. Irrigação e Drenagem, Dr. em Engenharia, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Estação Experimental de Urussanga, Urussanga, SC
4 Eng. Agrônomo, Esp. Adm. Rural, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Epagri, Gerência Regional de Videira, Videira, SC
As geadas são fenômenos de congelamento da superfície, causado quando a temperatura do ponto de orvalho alcança valores abaixo da temperatura de congelamento da água (0°C quando a água é pura). Esse fenômeno meteorológico acontece com mais intensidade na região sul do país, devido à entrada de massas de ar de origem polar, que causam uma queda acentuada de temperatura, atingindo valores abaixo de zero graus. Segundo Kalma et al. (1992), com
avanço das massas polares, normalmente as temperaturas baixam e o céu fica claro, e a umidade do ar cai durante o final da tarde. Esse tipo de geada é o mais comum, e é conhecida como Geada de Irradiação. Porém, há eventos de frio com ocorrência de chuvas durante a madrugada, em que a massa de ar frio é tão intensa que causa geada sobre o barro gerado pela chuva da noite. Essa geada é chamada de advecção (KALMA et al.,1992). A geada de advecção
também é popularmente chamada de Geada Negra, pois não se observa a formação de cristais de gelo da superfície vegetada. No entanto, mas depois que o sol aparece e aquece o ambiente, observa-se o escurecimento das plantas, pois ocorre o congelamento interno e rompimento das paredes celulares deixando o aspecto enegrecido na vegetação.
Existem medidas indiretas importantes para evitar o plantio em locais mais propensos a geadas, devido ao microclima, como plantar em meia encosta com exposição Norte, evitando áreas de “posterno”, fundos de vales e topo de morros. Como medidas diretas, também existem o controle com aquecimento através de fogo ou fumaça. No entanto, nas condições de Santa Catarina, onde há relativa abundância de água, prefere-se o controle com uso da irrigação por aspersão. Esta prática já é adotada com sucesso por centenas de produtores que utilizam este método para o controle de geadas.
O controle da geada pela irrigação por aspersão (Figura 1) baseia-se na capacidade calorífica da água e na liberação de calor durante o congelamento, e tem a finalidade de manter a temperatura da planta em 0°C. Estima-se que para cada grama de gelo formada é liberado 80cal (SNYDER, MELOABREU, 2010). Esse calor impede que as temperaturas nas flores, gemas e muitas vezes frutos, baixe de 0°C, evitando o congelamento celular, e permanecendo acima da temperatura críticas da cultura (Tabela 1). Para tanto, são necessárias lâminas de irrigação médias de 4,5mm/h (dependendo da intensidade da geada), aplicadas enquanto as temperaturas estão abaixo de zero graus (MANDELLI, 2006).
A equipe de extensão da Regional de Videira (Figura 1) atua no sentido de orientar os produtores para o correto dimensionamento dos sistemas, bem como, para alerta dos riscos de geadas e para o início e final da operação nos dias que efetivamente ocorrem as geadas.
Para execução deste trabalho foram realizados contatos com todos os produtores que já possuíam uma forma de controle dos efeitos das geadas, tanto por aquecimento a seco, como por aquecimento úmido por irrigação. Também foram realizados treinamentos regionais para o correto controle de geadas. Foi criado um grupo em aplicativo de conversas composto por produtores e técnicos da Epagri, cooperativas, e afins, que atuam na fruticultura. Neste grupo são divulgados os alertas da previsão do tempo, principalmente a previsão realizada pelo Centro de Informações Ambientais de Santa Catarina – CIRAM, que faz parte da estrutura da Epagri, que prevê os prováveis eventos de geadas. Essa informação deve ser evidenciada tanto em escala de tempo mensal, como semanal e diária, uma vez que nas previsões climáticas já há indicativos do início das massas polares com potencial de causarem geadas.
Na semana do evento previsto é possível fazer a montagem dos sistemas de irrigação, e no dia, o efetivo acionamento no momento correto e desligamento do sistema ao final do período crítico. Além disso, alguns produtores posicionam termômetros de bulbo seco e bulbo úmido (psicrômetro), que auxiliam na determinação da possibilidade de ocorrer geada na madrugada seguinte. Cada produtor possui pelo menos um termômetro estrategicamente colocado para verificar se a temperatura está baixando e se atinge o limite (2°C) para o acionamento dos sistemas. Apesar dessa recomendação, na prática observamos que, dependendo da condição atmosférica local e da previsão do tempo, muitos produtores acabam esperando mais para acionar o sistema, chegando muito próximo a 0°C. Dependendo do microclima, pode ocorrer fenômeno de nevoeiro (Cerração), ou mesmo, esse intervalo de tempo para baixar 2 graus, pode ser de duas a 4 horas, ou ainda, se estiver próximo ao nascer do sol, nem é necessário acionar o sistema, o que representa uma economia muito grande de água e energia a ser dispensada no combate à geada.
Finalizando, a Epagri, tem um projeto integrado de pesquisa e extensão, também está desenvolvendo uma pesquisa com sensores de temperatura instalados dentro de pomares, onde serão feitos o controle de geadas, o que deverá contribuir ainda mais para conhecermos a dinâmica de temperatura dentro do dossel do pomar, antes, durante e após o controle das geadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
KALMA, J.D., LAUGHLIN, G.P., CAPRIO, J.M. & HAMER, P.J.C. 1992. Advances in Bioclimatology, 2. The Bioclimatology of Frost. Berlin: Springer-Verlag .144p
MANDELLI, F. Geadas e Métodos de Controle, Jornal da Fruta, p. 21-22, novembro, 2006 Disponível em: https://www.infoteca.cnptia. embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/541501/1/82182006p.2122.pdf Acesso em 12/04/2023.
MONDIN, V. P.. Controle de Geadas, Apostila, 51 p. , (não publicado), , s.d. MONDIN, V. P. Defesa contra geadas da Fruticultura, Videira: Êxito, 2015
SNYDER, R. L.; MELO-ABREU, J.P. de. Protección contra las heladas: fundamentos, práctica y economia; Organización de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación(FAO); Roma,2010; Tradução Disponível em: https://www.fao.org/documents/card/en/c/ca3a4ef2-284c-539a-b4e0-60e9ca232749. Acesso em 13/09/2024.
Autor: Douglas Roberto Bizari, Engenheiro Agrônomo, Professor Doutor | Instituição: Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos – CCA-UFSCar, Campus de Araras/SP | Email: dbizari@ufscar.br
A lima ácida Tahiti, conhecida popularmente como “limão” Tahiti (Citrus latifolia Tan) faz parte da rotina dos brasileiros, seja pelo seu consumo “in natura” ou na forma de produtos industrializados (bebidas, alimentos, cosméticos, etc.,) o que a torna umas das dez variedades de frutas mais importantes do país. Segundo a FAO, o Brasil ocupou em 2019 a quarta posição na produção mundial de limas ácidas e limões, produzindo, aproximadamente, 1.5 milhão de toneladas, com destaque para o Estado de São Paulo, maior produtor e responsável por quase 75% da safra brasileira. Segundo o inventário divulgado pelo Fundecitrus em 2022 a área estimada de lima ácida Tahiti no cinturão citrícola foi de 45.872 hectares, 31 % maior em relação ao ano de 2018, refletindo o interesse dos produtores pelo cultivo da fruta.
No entanto, os recentes eventos de déficit hídrico mais acentuado e temperaturas mais elevadas nos períodos críticos para a cultura (florescimento, pegamento de flores e frutos e crescimento de frutos) comprometendo a produtividade das plantas têm preocupado os produtores. Muitos deles já entenderam que a irrigação em conjunto com combinações copa-porta-enxerto mais eficientes e outras estratégias de conservação de água nos pomares são um caminho mais seguro na redução de perdas, garantia de produção e geração de renda. Não sabemos ao certo qual a área irrigada atual para limas e limões, mas se a sua expansão acompanhar o ritmo de crescimento das áreas irrigadas nos pomares de laranja, seria algo em torno de 35 % da área total plantada.
Conhecemos os inúmeros benefícios da irrigação, mas precisamos ter em mente que essa tecnologia vai muito além de apenas apertar o botão “ligar” e deixar o sistema funcionando por “x” horas. É importante no cenário atual refletirmos sobre:
• Conhecemos as características principais do sistema de irrigação utilizado?
• Conhecemos a necessidade de água em cada fase da planta?
• Sabemos como está a umidade do solo?
• Estamos conseguindo determinar corretamente quando e quanto irrigar?
Tensiômetros instalados nas profundidades de 20 e 40 cm, na área experimental de lima ácida Tahiti IAC 10 irrigada por gotejamento no CCA-UFSCar, Araras/SP (Foto: autoria própria)
Frutos de lima ácida Tahiti quebra galho em limão cravo, com subenxertia de Citrumelo Swingle irrigado por gotejamento, Taiaçu-SP (Foto Marcelo Surano)
• Estamos satisfeitos com a produtividade e qualidade da produção da nossa área irrigada?
Pois é fato que existe uma crescente preocupação com o uso eficiente da água na agricultura irrigada, especialmente diante do agravamento dos problemas de escassez de água de boa qualidade, da qual dependem diversos setores da sociedade. Por isso, os profissionais do setor precisam incentivar a adoção de estratégias para melhorar o uso da água nas propriedades e o manejo da irrigação via solo utilizando sensores pode ser uma delas. Este tipo de manejo consiste basicamente no monitoramento direto da tensão ou potencial de água no solo e indiretamente do seu teor de água e no momento em que a umidade atingir valores críticos para a cultura aciona-se o
Planta de lima ácida Tahiti quebra galho em limão cravo sob estresse hídrico intenso no ano 2021, Monte alto/SP (Foto Marcelo Surano)
sistema de irrigação, de modo que a lâmina aplicada deve ser suficiente para elevar a umidade do solo para uma situação confortável para a planta (umidade na capacidade de campo –CC). Para isso precisa-se conhecer a capacidade de retenção de água do solo na profundidade desejada e alguns critérios para manejo que auxiliem a tomada de decisão do momento ideal e quantidade adequada de água a ser aplicada.
Como é feito esse monitoramento na prática?
Pode ser feito por tensiômetros, que são equipamentos relativamente simples, de baixo custo e fácil medição, embora alguns cuidados devam ser tomados durante sua instalação e operação. Consistem basicamente de um tubo de PVC preenchido com água, uma cápsula porosa na extremidade inferior e um vacuômetro (manômetro) na parte superior. Quando o solo está úmido há um equilíbrio entre a água na cápsula porosa e no solo, e o vacuômetro registra pouca ou nenhuma tensão (potencial). À medida que o solo seca, a água começa a ser retirada do tensiômetro para o solo, criando uma tensão dentro do tubo. Essa tensão é medida pelo vacuômetro. Quanto maior a tensão registrada (mais negativa) mais seco está o solo, indicando que a água disponível para as plantas está reduzindo. Quando o solo é irrigado novamente ou ocorre a precipitação, a umidade aumenta e a tensão no vacuômetro diminui. Também pode ser utilizado um tensiômetro cuja tensão é medida por um tensímetro digital portátil, sem a necessidade de um manômetro.
Esta tensão medida se relaciona com a umidade do solo através de uma curva de retenção de água no solo (CRAS) determinada em laboratório após a coleta de amostras no campo. O potencial de água crítico determina o momento em que a irrigação se faz necessária para que produtividades desejadas sejam alcançadas.
Para a cultura dos Citros recomenda-se a utilização de 2 a 3 estações (em áreas homogêneas), sendo cada estação constituída por pelo menos 2 sensores, instalados na profundidade correspondente a 1/2 da profundidade efetiva do sistema radicular (maior concentração de raízes absorventes) e na profundidade do seu limite inferior, respectivamente. Os sensores normalmente são instalados entre 10 a 15 cm de distância da linha gotejadora e de 0,5 a 1,5 m em relação ao porta-enxerto. O primeiro (mais raso) indicará o melhor momento para iniciar a irrigação e o segundo (mais profundo) a qualidade da irrigação, evitando as perdas de água abaixo da zona radicular.
Quando ligar a irrigação:
De forma geral a recomendação para as plantas cítricas é irrigar quando os potenciais estiverem entre -30 e - 40 kPa, no entanto, outros fatores influenciam na tomada de decisão. Alguns estudos têm mostrado em cultivos com sistema de irrigação localizada (maior frequência de irrigação) pode-se
Esquema simplificado do manejo de irrigação via solo
trabalhar na faixa de variação de potencial de água no solo de -15 a -30 kPa na camada de maior concentração de raízes absorventes tem trazido bons resultados e que para irrigações realizadas em intervalos maiores pode-se adotar o potencial de -50 kPa. De acordo com as características do solo, do método de aplicação de água, das combinações copa/porta-enxerto e da estratégia adotada os valores dos potenciais para reinício da irrigação podem variar um pouco para cada situação local.
Por que devemos aderir a estratégias de manejo da água nas áreas irrigadas
Em um cenário na qual a escassez de água e a busca por práticas sustentáveis na agricultura se tornam cada vez mais urgentes, o manejo da irrigação, independente do método utilizado (solo, clima ou a associação entre eles com o objetivo de alcançar uma maior precisão) se destaca como uma solução inteligente e necessária. Ao adotar essa prática, o produtor não apenas otimiza o uso da água, economizando o recurso mais valioso que temos, mas também garante maior sanidade para suas plantas que refletirá em aumento de produtividade e qualidade das frutas. É uma ferramenta que une tecnologia e sustentabilidade, proporcionando ganhos reais para o campo e ao meio ambiente. Assim, implementar o manejo nas áreas irrigadas é, sem dúvida, um passo decisivo para quem deseja cultivar com eficiência, responsabilidade e visão de futuro. Ao entender e aplicar o manejo adequado da irrigação, o produtor estará investindo não só na sua colheita, mas também na preservação dos recursos para as próximas gerações.
José Giacoia Neto - Engenheiro Agrícola, M.Sc. em Irrigação e Drenagem (UFV) e MBA em Gestão Comercial (FGV). Gerente Internacional de Negócios Américas, Rain Bird
Dando continuidade ao nosso capítulo sobre irrigação para estádios de futebol seguiremos com os principais componentes, dimensionamento, instalação e especificação.
- ESCOLHA DE BOCAL E ESPAÇAMENTO ENTRE OS ASPERSORES
Esta etapa é a mais importante no processo de dimensionamento. Os campos possuem medidas variadas e os espaçamentos entre os aspersores possuem espaçamentos variados. Podemos ter layouts como, por exemplo, 18,3 m x 18,55 m. Este seria o espaçamento resultante do projeto mais indicado para estádio fechados e semifechados com as dimensões padrão da FIFA e UEFA que é de 110 m x 75 m.
Para isto temos que escolher bocais com alcance compatíveis com os espaçamentos obtidos através da divisão das dimensões do campo. Para eleger o melhor bocal temos que verificar a taxa de precipitação e a uniformidade obtida no espaçamento. A uniformidade de aplicação de água é crucial para a irrigação.
Atualmente temos três índices e quer determinam os critérios de avaliação da uniformidade:
A uniformidade é obtida através de testes de coleta de precipitação entre aspersores em funcionamento em campo (quando o sistema já existe), ou em laboratório. Os dados de precipitação dos aspersores se encontram disponíveis na internet, temos resultados de ensaios para vários bocais e pressão diferentes o que permite várias combinações. Estes dados podem ser adquiridos diretamente com os fabricantes ou com entidades de pesquisa ou reguladores. Um exemplo é o CIT (Center of Irrigation Technology), que testou e possui um software para simulação de resultados de vários fabricantes. http://cit.cati.csufresno.edu
1 - Coeficiente de Uniformidade de Christiansem: (CU)
Definido pela fórmula:
CU = 100 [1.0 - (X / M N) ]
CU = Coeficiente de Uniformidade em %
X = Desvio padrão dos resultados coletados de precipitação ”M”
Exemplo de teste para coleta dos dados de precipitação de aspersores
M = Média de precipitação dentro da área de contribuição entre os aspersores.
N = Número de dados coletados de precipitação.
Este índice foi largamente utilizado por anos e sua recomendação mínima é de 80 % para aspersão. Geralmente 80 % de CU ainda é um índice considerado baixo quando tratamos de irrigação de gramados.
2 – Uniformidade de Distribuição
DU = 100 (XLQ / X)
DU = Uniformidade de Distribuição em %
XLQ = A menor média de ¼ dos volumes coletados (mm)
X = Média de precipitação de todos as coletas. (mm)
Este índice é diretamente relacionado com o próximo índice e é mais restritivo que o anterior.
3 - Coeficiente de Programação – SC ou RTM
SC = PR / DA
SC = Coeficiente de Programação (valor ≥1)
PR = Taxa de precipitação (mm/hr)
DA = Percentual % de área seca do total da área (A área com a menor taxa de aplicação)
Atualmente é o parâmetro mais forte e utilizado na seleção de espaçamento de aspersores. Sua interpretação baseia-se em quanto temos que ajustar o tempo de irrigação a mais para que as áreas entre os aspersores que recebem a menor lâmina de projeto recebam a lâmina de projeto. Exemplificando: Se temos um valor de SC de 1,2 significa que temos que aumentar o tempo de irrigação calculado em 20 % para que toda a área recebe a lâmina projetada.
Desde 2009 os Estados Unidos e Europa já modificaram a nomenclatura de SC para RTM (Run Time Multiplier = Multiplicador do tempo de funcionamento).
Parâmetros
Um SC = 1,15 é excelente
Para Golfe nos Greens o SC = 1,1 e nos Fairways pode chegar até = 1,2
Gramados de campos futebol: SC recomendado = 1,2
Gramados: Ideal SC = 1,2 podendo ir até SC = 1,3 (grama batatais)
Arbustos e forrações: SC = 1,3
Agricultura: SC = 1,2 a 1,4
Nas figuras a seguir mostramos a simulação de espaçamentos e os respectivos índices obtidos de uniformidade através de densogramas.
Densograma de precipitação com baixa uniformidade de distribuição
Densograma de precipitação com boa uniformidade de distribuição
A importância da uniformidade de distribuição está diretamente relacionada ao crescimento uniforme do gramado, uniformidade de coloração e economia de água e energia elétrica, pois, afeta diretamente o tempo de funcionamento do sistema e o consequente consumo de água e energia elétrica.
Cabe também uma importante observação que a baixa uniformidade resulta em alguns pontos recebendo maior quantidade de água que mantém áreas com alto teor de umidade que podem se tornar porta de entrada para fungos e/ou afetar a respiração do sistema radicular.
Depois de termos apresentado os aspersores com suas características, detalhes de instalação e manutenção. Iremos agora começar a iniciar a apresentação de um componente não muito famoso, porém de extrema importância dentro de um Sistema de Irrigação Automatizado: As válvulas solenoides.
As válvulas solenoides são nada mais de um registro (torneira) com acionamento automático através de um contato elétrico enviado por controlador (que apresentaremos mais tarde).
A sua operação é simples o solenoide recebe um contato elétrico e se abre permitindo que a água se direcione para os aspersores.
Elas são responsáveis pela divisão de setores do sistema de irrigação, que é uma decisão muito importante dentro da confecção de um projeto.
A divisão de setores em projetos de campos de futebol é realizada com análise em vários itens.
As válvulas possuem vários tamanhos e que são medidos em polegadas. “O tamanho de válvula mais comum em projetos de irrigação esportiva é o de 1-1/2”. O que define o tamanho da válvula é a vazão do projeto que é a quantidade de água que vai passar na válvula em um intervalo de tempo. Existem também modelos específicos para trabalhar com diferentes qualidades de água e situações. Detalhe muito esquecido pelos projetistas.
A instalação das válvulas deve ser feita dentro de caixas plásticas apropriadas que ficam enterradas de forma que a tampa fique ao mesmo nível do gramado e/ou da superfície do solo. No gramado esportivo ela deve ser instalada fora da área de jogo.
Outro detalhe é de como fazer a conexão dos fios, ela tem que ser feita com conectores apropriados e nunca com fitas isolantes. Isto é de suma importância para o funcionamento pleno de um sistema de irrigação. A norma é clara e a prática demonstra que a única e melhor forma de emendar cabos é através de conectores blindados. Existem vários fabricantes, infelizmente ainda não temos modelos apropriados fabricados no Brasil.
Exemplo de um conector blindado
Na divisão de setores de um campo de futebol temos que nos atentar a uma série de particularidades, apresentamos as mais importantes:
Sombreamento:
Avaliar a incidência de sol no gramado é importantíssimo, áreas sombreadas exigem até 30 % a menos de água. Infelizmente vemos erros grosseiros em projetos devido ao excesso de “padronização de projetos”.
Observar as áreas de maior insolação e efetuar a divisão de setores separando-as é inteligente e resulta em menos problemas no gramado. Que podem ser de diferenças de altura de crescimento até doenças devido a excesso de umidade. O movimento da sombra durante o ano, mas a quantidade de entrada de luz são os fatores mais importantes na determinação do número de setores.
Através da análise de deslocamento do ângulo de incidência do sol e de modelos tridimensionais de estádios ainda não existentes, podemos determinar as áreas de sombra ao longo do ano e o esquema de funcionamento do sistema de irrigação. Onde o estádio já existe, dados locais podem ser obtidos e simulados por cartas solares. Até a próxima.