











Nesta edição, convidamos nossos leitores a uma imersão nos polos irrigados do Brasil, um verdadeiro patrimônio produtivo que impulsiona o desenvolvimento sustentável da nossa agricultura. Com um total de 26 polos identificados pela Agência Nacional de Águas - ANA, damos início a esta jornada apresentando dois grandes exemplos de sucesso: o Oeste Baiano e o Alto Teles Pires.
A irrigação é, sem dúvida, uma das mais poderosas ferramentas para garantir produtividade e segurança alimentar em um cenário de mudanças climáticas e crescente demanda por alimentos. No Oeste Baiano, a agricultura irrigada transformou a paisagem e consolidou a região como uma das mais competitivas do país. Já no Alto Teles Pires, vemos um modelo de eficiência e inovação que demonstra como o uso racional da água pode maximizar a produção sem comprometer os recursos naturais.
Destacamos, ainda, o artigo especial “Da evapotranspiração à euforia dos investimentos em irrigação da cana”, escrito pelo professor da Unesp Ilha Solteira, Fernando Braz Tangerino Hernandez, e seu aluno João Otávio Bonamin Taino. O artigo traz uma abordagem aprofundada sobre o planejamento necessário para investir em sistemas de irrigação, evidenciando que essa decisão não pode ser motivada apenas por eventos climáticos extremos, mas sim por um planejamento estratégico bem estruturado.
Os autores exploram a importância do conhecimento sobre chuva e evapotranspiração para a segurança e sucesso da produção, destacando que uma base de dados climáticos consistente é essencial para a assertividade das decisões no setor. O artigo apresenta os quatro passos fundamentais da agropecuária irrigada: o Desafio de decidir pelo investimento, a Ponte, o Grande Salto e, finalmente, a Euforia, mostrando como a segurança hídrica deve ser compreendida e incorporada ao planejamento da produção agrícola.
Outro destaque desta edição é o artigo “Irrigação inteligente: a importância do teste de uniformidade no pivô central para maximizar produtividade e economizar recursos”, escrito pelo engenheiro agrônomo e Doutor em Irrigação e Drenagem, João Alberto Lelis Neto. O autor aborda a relevância do teste de uniformidade de distribuição de água no sistema de irrigação por pivô central, destacando que, apesar de ser um procedimento simples, requer a adoção de normas técnicas para assegurar resultados confiáveis.
Finalizando os destaques desta edição, apresentamos mais um capítulo da série “Irrigação para gramados de estádios de futebol-Grama natural, parte IV”, escrita pelo engenheiro agrícola José Giacoia Neto, da empresa Rain Bird. O artigo aborda os diferentes tipos de layout hidráulico de acordo com o tipo de estádio que podem ser: abertos, semifechados ou fechados.
O autor apresenta detalhes das arenas em diversas Copas do Mundo, destacando particularidades e adaptações necessárias para garantir a irrigação eficiente dos gramados. Um exemplo foi a Copa do Qatar de 2022, onde houve uma variável no layout devido à exigência de não ter válvulas nas laterais do campo, posicionando todas atrás da linha do gol. O artigo é resultado de 25 anos de experimentos, testes e análises, trazendo informações valiosas para o aprimoramento da irrigação em gramados esportivos.
Convidamos você a embarcar conosco nessa jornada pelo Brasil irrigado.
DIREÇÃO
Denizart Pirotello Vidigal denizart@irrigazine.com.br
JORNALISTA
Bruna Fernandes Bonin MTB 81204/SP
Fernando Braz Tangerino Hernandez
João Otávio Bonamin Taino
João Alberto Lelis Neto José Giacoia Neto
EDITORAÇÃO E CAPA
André Feitosa
PRODUÇÃO/ PROJETO GRÁFICO
Interação - Comunicação e Design FOTOS Divulgação
Walkyria Bueno Scivittaro/USP
Luciano Meneses/MIDR
REVISÃO
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CONTATO
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Diretor
“Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por onde quer que andares.” Josué 1:9
Grupo ITEB: Cinco décadas de inovação e compromisso com a irrigação
A Revista Irrigazine entrevistou Gabriel Cortez, Diretor de Vendas e Marketing da ITEB, para conhecer a trajetória da empresa e seu impacto no setor de irrigação.
A irrigação é um dos pilares da agricultura brasileira, que garante produtividade, segurança alimentar e desenvolvimento regional. Mas você sabe quais são os principais polos irrigados do país? Como cada região se organiza para otimizar o uso da água e impulsionar a produção agrícola?
Da evapotranspiração à euforia dos investimentos em irrigação da cana
Irrigação inteligente: a importância do teste de uniformidade no pivô central para maximizar produtividade e economizar recursos
Irrigação para
de estádios de futebol, Grama natural – parte IV
A Fenicafé - Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura, celebra 28 anos como um dos mais importantes eventos de irrigação voltados para o setor cafeeiro do Brasil. Realizada anualmente em Araguari, no Triângulo Mineiro, a feira é um verdadeiro ponto de encontro para produtores, estudantes, pesquisadores, indústrias e apaixonados pelo café.
Reconhecida por seu papel fundamental na difusão de novas tecnologias, a Fenicafé promove debates, exposições e palestras que abordam temas essenciais para o desenvolvimento da cafeicultura. O evento é uma vitrine de inovações em irrigação, sustentabilidade, mecanização e gestão agrícola, garantindo que os produtores tenham acesso às melhores ferramentas para aumentar a produtividade e a qualidade do café.
Em 2025, a organização prepara uma programação com conteúdo estratégico, contando com a participação de especialistas renomados e empresas líderes no mercado. Além disso, os visitantes poderão conferir de perto os mais novos lançamentos em equipamentos, insumos e soluções sustentáveis que estão transformando a produção cafeeira.
Com um impacto significativo na economia regional e nacional, a feira reforça o papel do Cerrado Mineiro como uma das regiões mais importantes para a cafeicultura brasileira.
Fenicafé: 07 a 10 de abril de 2025. Local: Parque de Exposições Ministro Rondon Pacheco, em Araguari, no Triângulo Mineiro
O governo do Rio Grande do Sul já recebeu mais de 670 projetos de irrigação por meio do Programa de Irrigação, iniciativa que incentiva produtores a instalarem sistemas que minimizem os impactos da estiagem no estado. Com edital aberto, o programa oferece uma subvenção de 20% sobre o valor do projeto, com limite de R$ 100 mil por beneficiário. A ação faz parte do Supera Estiagem, integrante do Plano Rio Grande, estratégia de reconstrução, adaptação e resiliência climática liderada pelo governador Eduardo Leite.
Destinado a todos os produtores rurais, o programa permite investimentos próprios ou financiamento por instituições de crédito, de acordo com a escolha do agricultor. Entre os sistemas elegíveis estão a irrigação por aspersão (pivôs, carretel, simples), localizada (gotejamento e microaspersão), sulcos (várzeas para milho e soja) e a construção de reservatórios de água. Atualmente, apenas 4% da área de sequeiro do estado é irrigada, e a ampliação desse percentual é vista como essencial para garantir produtividade e estabilidade de renda aos produtores, especialmente em períodos de estiagem.
Na fase atual do programa, os 670 projetos já cadastrados
representam um potencial de quase 9 mil hectares irrigados, com um investimento direto do governo estadual de aproximadamente R$ 22 milhões, além de R$ 170 milhões investidos pelos próprios produtores. Entre as regiões que mais enviaram projetos, as Missões lideram com 34% do total, seguidas por Planalto Médio (27%), Campanha (17%), Central (15%), Serra (4%) e outras localidades (3%).
A irrigação de grãos, como soja e milho, domina os projetos apresentados, representando 54% do total. Já a irrigação voltada à pastagem e pecuária responde por 17%, seguida pela fruticultura (16%), olericultura (13%) e outras finalidades (2%). Os produtores interessados podem acessar o edital e realizar a inscrição no site da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).
Acesse o edital: www.agricultura.rs.gov.br/programa-deirrigacao
A estimativa de janeiro para a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2025 aponta para um total de 325,3 milhões de toneladas, um crescimento de 11,1% em relação a 2024. A área a ser colhida deve alcançar 80,9 milhões de hectares, um acréscimo de 2,4% frente ao ano anterior.
Os três principais produtos – arroz, milho e soja – representam 92,9% da produção estimada e ocupam 87,5% da área cultivada. A soja lidera com uma produção projetada de 166,5 milhões de toneladas, seguida pelo milho, com 124,1 milhões de toneladas (25,2 milhões na 1ª safra e 98,9 milhões na 2ª). O arroz deve alcançar 11,5 milhões de toneladas, enquanto o algodão herbáceo deve somar 9,0 milhões de toneladas.
O crescimento da produção foi observado em todas as regiões do país: Centro-Oeste (10,1%), Sul (15,4%), Sudeste (10,8%), Nordeste (9,8%) e Norte (3,6%). O Mato Grosso mantém a liderança nacional na produção de grãos, com 29,7% de participação, seguido por Paraná (13,4%), Rio Grande do Sul (12,4%), Goiás (11,1%), Mato Grosso do Sul (7,8%) e Minas Gerais (5,4%). Juntos, esses estados somam 79,8% do total produzido.
Destaques de janeiro incluem o aumento na estimativa da produção do milho 2ª safra (3,6%) e do sorgo (8,9%). Já a produção de trigo apresentou queda de 7,7% em relação ao mês anterior, refletindo os impactos climáticos na Região Sul.
A recuperação da produção de milho em 2025, após adversidades climáticas em 2024, é um ponto relevante. O rendimento médio do cereal deve crescer 6%, alcançando 5.697 kg/ha. O milho 1ª safra apresentou crescimento de 10% em relação ao volume produzido no ano passado, enquanto o milho 2ª safra deve registrar um aumento de 7,8%.
A produção brasileira de feijão, considerando as três safras, deve alcançar 3,4 milhões de toneladas, crescimento de 10,9% sobre 2024. A mandioca, por sua vez, tem projeção de 20,3 milhões de toneladas, aumento de 6,4% em relação ao ano anterior.
Esses números reforçam a resiliência da agricultura brasileira e a importância da irrigação na manutenção e ampliação da produtividade, garantindo segurança alimentar e competitividade no mercado global.
Foto: Divulgação | São 32,6 milhões de toneladas a mais que o desempenho de 2024
O arroz é um dos alimentos mais consumidos no mundo e essencial para a segurança alimentar de milhões de pessoas. No entanto, o cultivo tradicional, baseado na irrigação por inundação, está diretamente ligado a altas emissões de metano (CH4), um potente gás de efeito estufa.
Agora, um estudo inovador conduzido por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em parceria com a Embrapa e a University of Florida, traz novas perspectivas para a sustentabilidade no setor.
Utilizando o modelo agrícola DSSAT, amplamente adotado em pesquisas globais, a equipe analisou diferentes práticas de irrigação para reduzir as emissões de metano sem comprometer a produtividade do arroz.
O estudo, realizado ao longo de quatro safras (2019–2023) em Capão do Leão (RS), demonstrou que a irrigação intermitente pode reduzir as emissões de metano em até 80%, tornando-se uma alternativa viável para produtores brasileiros. Além disso, a irrigação por aspersão se destacou como a opção mais eficiente, economizando água e mantendo altos rendimentos agrícolas.
Os pesquisadores desenvolveram um novo índice, o CWMP (Crop Water-Methane Productivity), para medir a relação entre uso de água, produtividade e emissões de gases.
Os dados apontaram que a irrigação por aspersão foi 52% mais eficiente do que os métodos tradicionais, trazendo benefícios ambientais e econômicos.
O experimento também aprimorou o código do DSSAT, permitindo simulações mais precisas das emissões de metano em diferentes sistemas de irrigação, um avanço significativo para a modelagem agrícola global.
Além de contribuir para a redução dos impactos ambientais, os resultados reforçam a importância da ciência e da inovação no desenvolvimento de soluções sustentáveis para a agricultura. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa oferece subsídios técnicos para que produtores e formuladores de políticas possam adotar práticas mais sustentáveis, assegurando a produtividade do arroz e minimizando os efeitos das mudanças climáticas.
Foto: Walkyria Bueno Scivittaro/USP
Uso de câmaras estáticas para monitoramento de emissões de gases de efeito estufa em sistemas de cultivo de arroz
Uma história de determinação e visão empreendedora
A Revista Irrigazine entrevistou Gabriel Cortez, Diretor de Vendas e Marketing da ITEB, para conhecer a trajetória da empresa e seu impacto no setor de irrigação. O Grupo ITEB nasceu do sonho de Edgard Cortez, um jovem professor do interior, que construiu uma carreira sólida ao longo de mais de 20 anos nas maiores empresas de borracha da década de 1950, como Pirelli, Firestone e Rubrasil (atual Freudenberg). Suas experiências multidisciplinares e conhecimento técnico o levaram a identificar uma oportunidade de mercado e fundar, em 1973, a Indústria Técnica de Borrachas (ITEB). Ao lado de sua esposa, Neide Cortez, e das famílias Colognoni e Gualtieri, Edgard estruturou a empresa com uma abordagem inovadora: a ITEB não seria apenas uma fornecedora de commodities, mas uma consultora especializada, capaz de entender e atender às necessidades específicas de cada cliente.
O caminho do empreendedorismo, no entanto, exigiu resiliência. No início, a falta de alinhamento na sociedade gerou desafios, superados quando Edgard e Neide adquiriram a parte dos demais sócios. “A prospecção de clientes era feita
em longas viagens de fusca pelo Brasil, com noites dormidas em postos de gasolina”, relembra Gabriel Cortez. “A família se uniu ao trabalho, com os filhos ajudando na produção. Essa dedicação se tornou a base de um legado que se consolidaria ao longo das décadas.”
Expansão e diversificação
O sucesso da ITEB logo ultrapassou as fronteiras do setor de saneamento e irrigação, alcançando mercados como o automotivo, aeronáutico, ferroviário, industrial e alimentício. Hoje, a empresa atende 19 setores e possui uma vasta biblioteca técnica de formulações para diversas necessidades. A profissionalização do negócio seguiu um caminho estruturado, com certificações como a ISO 9001:2015 e parcerias estratégicas com SENAI, ABTB e centros universitários. A governança corporativa também se fortaleceu, com participação no SINDIBOR, FIESP e IBGC. Atualmente, a empresa é liderada pela terceira geração da família: Lucas Cortese (CEO) e Gabriel Cortez (Diretor de Vendas e
Fotos: Divulgação
Segunda e Terceira Geração no Evento de 50 anos do Grupo ITEB (Lucas Cortese, Edgard Cortez Jr, Rogéria Cortese e Gabriel Cortez)
Marketing), com a segunda geração representada por Edgard Cortez Jr. e Rogéria Cortese no conselho administrativo. Compromisso com a irrigação e sustentabilidade
A relação da ITEB com a irrigação remonta às origens da família Cortez/Cortese, em Vargem Grande do Sul (SP). “As primeiras vendas da empresa foram para fabricantes de implementos, motobombas e pivôs, estabelecendo uma conexão duradoura com o agronegócio”, destaca Gabriel.
A empresa se destaca pelo desenvolvimento de soluções inovadoras, como o Anel de Dupla Vedação, patenteado para tubos de alumínio em usinas, evitando gotejamento e desperdício de água. Outra inovação é a flange ANSI/DIN, que unifica furações de normas internacionais e melhora a estanqueidade. “Essas soluções garantem maior eficiência hídrica, contribuindo para a sustentabilidade da agricultura irrigada”, explica Gabriel.
A ITEB acompanha as inovações do setor por meio de participação ativa em câmaras setoriais, como a da Abimaq, e colaborações com instituições de ensino e pesquisa, como
o Instituto Mauá de Tecnologia, IPT e Senai. “Nosso HUB de Inovação conecta academia, mercado e novas tecnologias, garantindo que a empresa se mantenha na vanguarda do setor”, ressalta Gabriel.
A ITEB redefiniu seu foco estratégico em 2017, priorizando segmentos como Irrigação, Máquinas e Implementos Agrícolas, Saneamento, Reposição de Mangueiras e Brinquedos PET. Além de fornecer soluções inovadoras, a ITEB reforça seu compromisso com a sustentabilidade, adotando práticas como Eficiência Energética do Senai, que resultou na troca de caldeira e redução do consumo de combustíveis, além de um rigoroso controle na gestão de resíduos.
Com um legado de cinco décadas, a ITEB continua a evoluir, impulsionada por um DNA de inovação, qualidade e compromisso com seus clientes. “Se você busca um parceiro estratégico para soluções sob medida, a ITEB está pronta para transformar desafios em resultados concretos”, conclui Gabriel.
*Por Bruna Fernandes Bonin
A irrigação é um dos pilares da agricultura brasileira, que garante produtividade, segurança alimentar e desenvolvimento regional. Mas você sabe quais são os principais polos irrigados do país? Como cada região se organiza para otimizar o uso da água e impulsionar a produção agrícola?
Ao longo das próximas edições, a Irrigazine apresenta uma série especial “Polos Irrigados”, que trará um panorama detalhado dos principais polos de irrigação do Brasil. Em cada reportagem, vamos explorar a geografia dessas regiões, os principais cultivos, os métodos de irrigação adotados e a importância econômica e social desses territórios para o agronegócio e para o país.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), o Brasil possui 26 polos nacionais de agricultura irrigada. Esses polos foram identificados com base na área irrigada total, na concentração e densidade de ocupação, no potencial de crescimento e no crescimento observado a curto e médio prazos.
Os polos irrigados são regiões agrícolas onde a irrigação é amplamente utilizada para potencializar a produção de alimentos e fibras. Essas áreas possuem infraestrutura específica para captação, armazenamento e distribuição de água, garantindo o fornecimento hídrico necessário para as lavouras, independentemente da variação das chuvas.
Acompanhe essa jornada pelos polos irrigados do Brasil e descubra como a água é um dos recursos mais valiosos para a agricultura moderna.
Polo Oeste Baiano: Maior polo de irrigação por pivôs centrais no Brasil
O Oeste Baiano se consolidou como o maior polo de irrigação por pivôs centrais do país, superando o Noroeste de Minas Gerais. Segundo levantamento da Embrapa, até outubro de 2024, a área irrigada por pivôs centrais no Brasil atingiu 2,2 milhões de hectares, um aumento de 14% em relação a 2022. O crescimento dessa técnica na região é impulsionado pela topografia favorável, o uso das águas do Aquífero Urucuia e o armazenamento em tanques de geomembrana.
“O crescimento da irrigação no Oeste Baiano reflete a capacidade da região de adotar tecnologias avançadas e garantir maior segurança produtiva para os agricultores”, afirma Daniel Guimarães, pesquisador da Embrapa.
Os municípios com maior área irrigada no país incluem São Desidério (91.687 ha) e Barreiras (60.919 ha), ambos na Bahia. Outros municípios em destaque são Luís Eduardo Magalhães, Correntina e Formosa do Rio Preto, que possuem grande parte de suas lavouras sob irrigação.
Principais cultivos e métodos de irrigação
A produção agrícola na região é altamente diversificada, sendo os principais cultivos: Soja, milho, algodão, feijão, hortaliças, café (em menor escala, mas com alto valor agregado).
O principal método de irrigação utilizado é o pivô central, que permite a distribuição uniforme da água e maior eficiência no uso dos recursos hídricos. Além disso, há um crescimento no uso de gotejamento e microaspersão, especialmente em cultivos de maior valor agregado.
A disponibilidade hídrica da região é garantida principalmente pelo Aquífero Urucuia, um dos mais importantes reservatórios subterrâneos do país. No entanto, a gestão dos recursos hídricos tem sido alvo de estudos para garantir a sustentabilidade da irrigação a longo prazo.
Desafios
Apesar do avanço da irrigação, o Oeste Baiano enfrenta desafios relacionados à gestão da água, licenciamento ambiental e infraestrutura para armazenamento e distribuição hídrica. O uso racional da água e a adoção de tecnologias de monitoramento têm sido essenciais para minimizar impactos ambientais.
Organizações locais e entidades de pesquisa, como a Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia) e a Embrapa, trabalham no desenvolvimento de novas soluções para otimizar o uso da água, como a adoção de sensores de umidade do solo e softwares de monitoramento climático.
“O futuro da irrigação na região depende de um planejamento hídrico eficiente, garantindo que a expansão da produção ocorra de forma sustentável”, destaca Elena Charlotte Landau, pesquisadora da Embrapa.
Localizado entre os rios Teles Pires e Verde (bacia Amazônica), abrange 13 municípios ao longo do BR-163, com destaque para Sorriso e Lucas do Rio Verde.
A extensão total da região é de 28.990 km2 e compreende, de forma parcial ou integral. Trata-se de uma das regiões mais importantes para a produção agrícola do Brasil. Possui sua história de desenvolvimento econômico fortemente impulsionada pela produção de grãos.
A região possui índices de precipitação média anual próximos a 2.000mm, permitindo até duas safras sem a irrigação. No entanto, o crescimento da terceira safra tem impulsionado o uso da irrigação na região.
Principais cultivos e métodos de irrigação
Os cultivos predominantes na região incluem: Soja, milho, algodão, arroz e feijão (principal cultura da 3ª safra irrigada).
Nos últimos cinco anos, a área irrigada por pivôs centrais cresceu 92%, passando de 24 mil hectares em 2014 para 46 mil hectares em 2019 (últimos dados divulgados no Atlas da Irrigação de 2019).
“O Alto Teles Pires se tornou referência nacional em produção de grãos e tem investido cada vez mais na irrigação para ampliar a produtividade”, afirma Frederico Cintra Belém, coordenador do MIDR.
As principais fontes de água para irrigação são barramentos e captações a fio d’água, com o uso alternativo de poços subterrâneos em áreas de baixa disponibilidade hídrica.
Importância econômica e social
A criação do polo de Irrigação sustentável do médio norte de
Mato Grosso pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR) beneficia 19 municípios da região, com uma área de 89 mil hectares voltada à irrigação.
O projeto continua solucionando gargalos em infraestrutura, apoio técnico, pesquisa e financiamento, promovendo o crescimento sustentável da produção irrigada.
Produzir com uso racional da água e de forma ecologicamente sustentável, agregando benefícios que se estendem para a natureza e a população. Na prática, esse é o trabalho que está sendo desenvolvido pelo Polo Irrigação BR 163 (Alto Teles Pires).
Os polos irrigados do Oeste Baiano e Alto Teles Pires desempenham um papel fundamental no avanço da agricultura irrigada no Brasil. Ambos são referências em inovação, produtividade e gestão eficiente dos recursos hídricos.
O crescimento contínuo dessas regiões reafirma a importância da irrigação para garantir segurança alimentar e impulsionar o agronegócio brasileiro de maneira sustentável.
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e o feijão
Fernando Braz Tangerino Hernandez1 | João Otávio Bonamin Taino2
Investir em sistemas de irrigação exige planejamento, não sendo uma ação de motivação instantânea, mesmo diante de secas recorrentes, e ainda diante da irregularidade das chuvas. Em 2024, no Noroeste Paulista, foram 174 dias seguidos sem chuvas, elevando de 91 para 97 dias consecutivos sem chuva como média da região, que produz citros e cana de forma expressiva, enquanto que a região de Cassilândia - MS que emprestará os dados climáticos para este artigo ficou 170 dias consecutivos sem chuvas (Figura 1). Chuva e evapotranspiração definem destinos da produção de alimentos e o conhecimento destas variáveis é fundamental para o sucesso desta atividade fundamental para toda a sociedade. Há inúmeras formas de apresentar estes dados, desde a caracterização climática e a variação temporal, até a frequência como se apresentam e assim diferentes usos são possíveis subsidiando decisões, mas o fundamental, é ter uma base de dados consistente para a assertividade das decisões, e para isso, investimentos no monitoramento climático sistemático tem que existir, seja público, seja privado.
São quatro os passos que definem a agropecuária irrigada, desde o Desafio de decidir pelo investimento, a Ponte, o Grande Salto e finalmente, a Euforia. Na produção de alimentos como atividade moderna, profissionalizada, sustentável, é de se esperar que no planejamento se incluem os investimentos em sistemas
de irrigação, mas, por mais evidente que seja a variabilidade no tempo e espaço das chuvas e os sucessivos déficits hídricos, e as consequentes perdas, ainda há que se convencer o Produtor de Alimentos à investir, e da percepção à realidade da segurança hídrica, existe ainda uma distância que para aproximá-la, argumentos consistentes devem ser utilizados, desde aspectos climáticos à financeiros. Por isso esta fase é chamada de Desafio, o de estar convencido que não há outro caminho para a sustentabilidade da produção de alimentos, à não ser investir em sistemas de irrigação.
Figura 1 - Evapotranspiração de referência e chuvas em Cassilândia - MS.
Se vai investir em irrigação, passa-se à Ponte, nela deve-se atentar se os recursos naturais impõem restrições, se há energia suficiente para mover os motores e garantir o acesso à água, através da outorga, antes mesmo da escolha do sistema de irrigação. Há água suficiente para a operação? Com qual qualidade? Há que se diferenciar disponibilidade real, da legal, a primeira é a vazão realmente disponível na estação seca, quando mais será preciso, e a segunda se refere à vazão Outorgada, ou seja, a licença para o uso da água autorizada pelas agências ambientais. Essa análise apontará a necessidade ou não de investimentos em barramentos, cada vez mais frequentes e desejáveis. Segurar a água na bacia hidrográfica por mais tempo, promovendo a infiltração de água no solo e a recarga do lençol freático deve ser o objeto de desejo de todo Produtor de Alimentos e, com benefícios para toda a sociedade. E por fim, há recursos financeiros assegurados para colocar os equipamentos em operação?
Um bom sistema de irrigação é assim classificado quando a água é distribuída de forma uniforme na área, e o CUC - Coeficiente de Uniformidade de Christiansen - superior à 85% é desejado, expressando a área adequadamente irrigada. O respeito às regras hidráulicas de perda de carga, ou pressão, darão o sucesso da uniformidade de aplicação de água, enquanto que no método da aspersão, a escolha do espaçamento adequado entre emissores também deve ser considerada.
O sistema também deve ser capaz de
suprir as perdas pelo processo de evapotranspiração da cultura e a escolha e/ou flexibilidade da lâmina de projeto exige um aplicado plano e ação de manejo da irrigação. Um bom projeto também tem uma montagem correta e bons materiais, fato que o sistema deverá ter longa duração.
Chegou o momento de decidir pelo método e sistema de irrigação e questões ligadas aos recursos naturais disponíveis (tipo de solo, disponibilidade e qualidade de água e clima), investimentos (CAPEX) e até a preferência e tradição do Produtor, em análise conjunta, fará a decisão pela aspersão ou a irrigação localizada e os diferentes sistemas que compõem cada método. Feita a escolha pelo sistema de irrigação, o próximo passo é a definição da lâmina de projeto ou capacidade operacional, quando aspectos econômicos contrapõem investimentos e custeio, ou seja, quanto mais robusto o sistema, maior o investimento e por outro lado, menores serão os custos operacionais (OPEX), e vice-versa, quando a fonte de energia é a elétrica, com um sistema tarifário que comporta três faixas de preços.
Mas a escolha da lâmina de projeto deve ter início com o conhecimento da variação temporal da evapotranspiração da cultura e das chuvas, e o Balanço Hídrico Normal ou Histórico é fundamental para o planejamento, pois permite reconhecer o quão importante ou estratégico será o investimento em irrigação, enquanto que com o Sequencial se entende como os extremos climáticos impactam a produção, pois sendo um recorte de cada ano ou safra, explica o sucesso ou insucesso da atividade dependente das chuvas, ou, em quanto aquele ano ou safra se descolou do esperado. Já o balanço hídrico diário, é calculado adicionando as irrigações praticadas, e, portanto, se justifica, quando o sistema de irrigação está operacional.
Sistemas de irrigação mais robustos trazem mais segurança hídrica à operação, uma vez que havendo interrupção de funcionamento e dependendo da fase fenológica, recuperar o armazenamento de água no solo antes que se atinja o crítico é facilitado.
Para este artigo usamos uma série diária de quase 17 anos do INMET obtidos na Estação Cassilândia, na Costa Leste do MS, uma região que tem se modernizado através da Integração-Lavoura-Pecuária, da Citricultura, Silvicultura e Setor Sucro-Alcooleiro-Energético e vamos, como exemplo, aplicar os dados da Evapotranspiração de Referência (ETo) calculada por Penman-Monteith através do software SMAI - Sistema para
Manejo da Agricultura Irrigada, à cultura da cana e na Figura 2 são apresentadas as médias históricas diárias também das chuvas e ainda da Evapotranspiração Atual, ou da Cultura, para um ciclo de cana soca se iniciando em 1º de agosto e com irrigação satisfatória para que os valores se os mesmos com Coeficiente de Cultura (Kc) variando entre 0,5, 1,2 e 0,5, respeitando a evolução das diferentes fases fenológicas e a aplicação de dry-off nos 30 dias anteriores à colheita.
A argumentação se dará baseada na ETo para evidenciar a influência do clima e a variação do tempo, com média anual de 4,1 mm/dia e máxima de 4,9 mm/dia em janeiro e volume de chuva médio de 1.209 mm/ano, no período de 2.008 a 2024. Esta Figura traz informações importantes para serem usadas na fase do Grande Salto, quando o sistema já operacional se decide pela época de corte, início da irrigação e pelas lâminas de irrigação a serem aplicadas visando chegar perto da produtividade potencial, ou outra estratégia, mas, as condições operacionais são definidas na Ponte com a escolha da lâmina de projeto. Se observa que a aproximação da fase de Grande Crescimento que acontecerá em 28 de dezembro tem início em novembro e irá até 27 de março, quando a evapotranspiração média da cana ficará em 5,6 mm/dia, com um total de 516 mm, para uma chuva média esperada de 560 mm ou, 46% do total de chuva esperado no ciclo, ou seja, na fase de maior exigência hídrica, espera-se contar com a presença das chuvas. No ciclo de 12 meses da cana em Cassilândia a média da Evapotranspiração Atual, ou da Cultura é de 3,6 mm/dia.
Assim, na fase ainda da Ponte, de definição da lâmina de projeto, apenas pelo lado agronômico, ou seja, aquisição de um sistema capaz de atender às necessidades da cultura, sem entrar no mérito dos custos operacionais, é para as informações da
Figura 3 com a distribuição de frequência da Evapotranspiração de Referência e Atual da Cana histórica diária, que devemos ter atenção e se percebe médias de 4,0 e 3,6 mm/dia (50%), respectivamente, portanto, se a aquisição for pela média e o sistema for por exemplo o pivô central, a lâmina bruta deverá ser de 4,2 mm/dia (eficiência de 85% sobre a ETa) ou 3,6 mm/ dia para o gotejamento em subsuperfície (SDI). Na prática, quer dizer que, na outra metade dos dias do ciclo, a necessidade da planta é superior à capacidade do sistema, e neste caso, se não chover, mesmo com um exímio manejo da irrigação, não será possível alcançar a produtividade potencial ou desejada, não sendo uma opção recomendada.
Por outro lado, se o Irrigante optar por um sistema cuja capacidade atenda 75% das demandas, a lâmina bruta (de projeto para pivô central) deverá será de 6,1 mm/dia ou 5,2 mm/dia em SDI (100% de eficiência) para se ter a lâmina líquida de 5,2 mm/dia à disposição da planta, em uma condição, em que, se não houver a chuva, em cada 3 dias, o sistema tem condições de atender a demanda evapotranspirativa da cana e serão os dias para fazer “caixa” para o quarto dia, quando o sistema não terá capacidade de atender a demanda. E quando optamos por investir em um sistema de irrigação capaz de atender 90% das necessidades da cana, a ETo e a ETa se equivalem em 5,8 mm/dia e assim, a lâmina de projeto ficaria em 6,8 e 5,8 mm/dia, respectivamente para pivô central e em SDI.
Qualquer lâmina aplicada ao longo da safra é chamada de lâmina de manejo e ela deve garantir que o armazenamento de água no solo deva ser sempre superior ao crítico, e deve ser praticado explorando ao máximo o sistema tarifário brasileiro, que estabelece valores diferentes ao longo do dia, e a irrigação
noturna, além de apresentar menor valor, deve ser incentivada pela maior eficiência de aplicação pelas condições ambientais mais favoráveis, portanto, do ponto de vista econômico, o “super dimensionamento” da capacidade do sistema, até certo limite, deve ser incentivado por razões econômicas e agronômicas, especialmente em função dos extremos climáticos e a variabilidade das chuvas.
O que se chama de Grande Salto, é quando, o Irrigante, conhecedor dos elementos climáticos (ETo), da fisiologia da planta e das demandas evapotranspirativas (Kc, ETc e ETa), da capacidade do sistema e do sistema tarifário, consegue com o manejo adequado da irrigação, superar as expectativas de produção e chegar então, na fase da Euforia pelo resultado alcançado.
Voltando à Ponte, na escolha do sistema e a sua configuração, se na aspersão a preocupação é com a CAD (Capacidade de Água Disponível) e a sobreposição dos emissores, na irrigação localizada, a granulometria definirá o bulbo úmido e deve ser analisado pelos projetistas para decidir por linha simples ou duplas de gotejadores, seu espaçamento e vazão.
Na hora de investir em um sistema de irrigação, muitos pensam apenas no preço, muitas vezes encarado como custo, mas tratase de investimento e assim, a escolha de um sistema de irrigação, uma vez equalizadas as diferentes propostas deve ser feita em uma análise conjunta de vários fatores, começando pelos aspectos do projeto (bom ou adequado projeto, relação investimento versus custeio, respeito às bases hidráulicas), assistência técnica, garantia, idoneidade da revenda, qualidade, tecnologia e solidez da empresa fabricante e finalmente o preço.
Figura 3 - Distribuição de Frequência Acumulada da Evapotranspiração em Cassilândia - MS.
Contudo, mesmo sabendo que irrigar é preciso para a sustentabilidade do negócio de produzir alimentos, mitigando as questões ligadas ao clima, pois água e fertilizantes são fatores que podem levar à produtividade potencial, alcançá-la depende de ações aplicadas ao solo, à planta e o manejo aplicado ao sistema de produção, e que nunca deve ser negligenciados.
1Fernando Braz Tangerino Hernandez, Engenheiro Agrônomo, Professor Titular da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira (www.feis.unesp. br/irrigacao) e divulga dicas sobre agricultura irrigada e agroclimatologia semanalmente no PodIrrigar - o podcast da agropecuária irrigada - em https:// podcast.unesp.br/canal/13/pod-irrigar 2Estudante de Engenharia Agronômica na UNESP Ilha Solteira.
Autor: João Alberto Lelis Neto, Engº Agrônomo, Doutor em Irrigação e Drenagem | ESALQ - USP
A irrigação é um dos principais pilares da agricultura moderna, desempenhando um papel vital na produção de alimentos em larga escala. No Brasil, onde o agronegócio é uma das principais atividades econômicas, a irrigação garante não apenas a estabilidade da produção, mas também a segurança alimentar, especialmente em tempos em que as mudanças climáticas vêm afetando cada vez mais regiões com períodos de seca, alagamentos ou irregularidades climáticas. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA) 2021, o país possui uma área irrigada de aproximadamente 8,2 milhões de hectares, chegando ao 6º (sexto) lugar entre os países com maior área irrigada do Mundo, desse total, cerca de 1,92 milhão de hectares são irrigados por sistemas de pivô central, devido à sua capacidade de cobrir grandes áreas com uniformidade e menor dependência de mão de obra. Esse crescimento é reflexo da expansão da agricultura, da necessidade de aumentar a produtividade e da demanda crescente por alimentos e outros produtos agrícolas, tanto no mercado interno quanto no externo.
O uso eficiente da água na agricultura é um desafio global,
sobretudo em regiões onde o acesso ao recurso é limitado ou enfrenta crescente competição com outros usos, como o consumo urbano e industrial. Na agricultura, onde a demanda hídrica é expressiva, a correta gestão da água é essencial para a preservação dos recursos naturais e para a maximização da produtividade. Por isso, sistemas de irrigação, como o pivô central, são ferramentas cruciais para a sustentabilidade agrícola. Porém, para que o sistema funcione de forma otimizada, é imprescindível garantir que a água seja distribuída de maneira uniforme sobre toda a área irrigada.
A uniformidade de distribuição de água em sistemas de pivô central refere-se à capacidade de o sistema aplicar a mesma quantidade de água em todos os pontos da área irrigada. Se a irrigação for desuniforme, as plantas em diferentes partes do campo receberão volumes de água variados. Isso pode resultar em áreas com excesso de água, causando erosão, lixiviação de nutrientes e aumento de pragas e doenças, ou áreas com deficiência hídrica, o que comprometerá o desenvolvimento das culturas, deste modo, a realização de testes de uniformidade
é essencial para identificar falhas no sistema e garantir que ele opere em sua máxima eficiência.
O teste de uniformidade de distribuição de água é simples de ser realizado, porém, alguns procedimentos são indispensáveis para sua realização, regulamentado por normas técnicas que visam padronizar o procedimento e assegurar resultados confiáveis. Tanto a norma ABNT NBR ISSO 15886-3:2021 que especifica os métodos e condições para testar e caracterizar os padrões de distribuição de água de aspersores de irrigação, quanto a norma ABNT NBR ISO 11545:2016 que especifica um método de campo para determinar a uniformidade de distribuição de água em pivôs estabelecendo diretrizes para a execução, que envolve o tamanho e disposição de coletores ao longo da área irrigada. Primeiramente o teste consiste em dispor os coletores que precisam ter no mínimo 8,5cm de diâmetro interno com 15cm de comprimento, serem instalados a 70 cm do solo com intervalos regulares entre 3 e 5 metros ao longo do raio do pivô, cobrindo toda a área de atuação do sistema, conforme ilustra a figura 1. A avaliação deve ser realizada em períodos com condições do vento fraco ou nulo, a velocidade que mais se utiliza o pivô, ou pelo menos em uma velocidade que supere uma aplicação de lâmina igual a 10 mm. Posteriormente, o volume de água acumulado em cada ponto é medido e utilizado para calcular os coeficientes de uniformidade, sendo o mais utilizado o de Christiansen (CUC), um indicador da eficiência do sistema.
O CUC reflete a uniformidade da distribuição de água. Quanto mais próximo o valor de 100% indica alta uniformidade, ou seja, a água está sendo distribuída de forma equilibrada em toda a área irrigada. Se o valor ficar abaixo de 80%, é um sinal de que o sistema necessita de ajustes, como a substituição de emissores e/ou reguladores de pressão, limpeza, manutenção das pressões operacionais, ou correção de outros problemas
hidráulicos. Embora seja um teste simples de ser realizado, sua execução deve seguir rigorosamente as normas para garantir precisão nos resultados.
A importância de realizar o teste de uniformidade vai além da otimização do uso da água. Ele também promove uma irrigação mais eficiente, resultando em economia de água e energia, além de melhorar a qualidade e produtividade das colheitas. Quando a água é distribuída de forma uniforme, as plantas recebem a quantidade certa para seu desenvolvimento, evitando desperdícios e melhorando o retorno econômico. Além disso, a irrigação eficiente contribui para a sustentabilidade ambiental, preservando os recursos hídricos para as futuras gerações.
Portanto, com a crescente demanda por alimentos e a necessidade de práticas agrícolas mais sustentáveis, realizar o teste de uniformidade de distribuição de água no pivô central é uma prática indispensável para qualquer produtor rural que busca garantir a eficiência de seu sistema de irrigação. A conformidade com as normas ABNT e ISO garante que o procedimento seja realizado de forma precisa e padronizada, trazendo ganhos econômicos e ambientais de longo prazo.
Ao garantir que a irrigação seja eficiente, o produtor assegura o desenvolvimento saudável das culturas, minimizando o desperdício de recursos naturais e maximizando a produtividade. A irrigação é mais do que uma prática agrícola; ela é uma estratégia de preservação dos recursos e de aumento da capacidade produtiva.
Não deixe de realizar o teste de uniformidade e faça da água um recurso bem aproveitado em sua lavoura!
José Giacoia Neto - Engenheiro Agrícola, M.Sc. em Irrigação e Drenagem (UFV) e MBA em Gestão Comercial (FGV). Agriculture International Business Manager Global, Rain Bird.
Dando continuidade, irrigação para estádios de futebol, seguiremos com a apresentação de tipos de layout hidráulico de acordo com o tipo de estádio.
Somente pare recordar temos a estádios classificados como:
1. Estádios tipo “abertos”
São aqueles que possuem entrada total de luz ao longo do dia. Não há sombra em nenhum lugar da superfície de jogo.
2. Figura ilustrativa de um estádio “Semifechado”
2. Estádios “semifechados”
Nestes estádios existem horários do dia em que predomina a sombra nas áreas de jogo. É necessário saber quais são as áreas de sombra matinal e sombra vespertina, bem como sombra de inverno e sombra de verão. Nessas etapas é necessário que os setores tenham um layout de acordo com as diferenças de entrada de luz e também características de microclima geradas por ventos predominantes e diferenças de temperatura.
O resumo dos parâmetros para projetos de irrigação para estádios semifechados está na tabela a seguir.
3. Estádios “Fechados”
Os estádios fechados apresentam condições de entrada de luz muito variadas por dia, mês e estações climáticas. Para este tipo de estádio a solução é com aspersores de funcionamento individual com um aspersor por setor. Para superfícies de jogo de dimensões oficiais máxima (75 x 110 metros), o número mínimo de emissores é de 35 aspersores de rotor.
Fig. 3. – Figura ilustrativa de um estádio “fechado” ou tipo “Arena”
Fig. 4. Padrões de dimensões mínimas e máximas para campo de futebol
Tipos de Layout Hidráulicos
O layout hidráulico é necessariamente dependente do tipo de estádio e suas características únicas em relação a orientação e cobertura.
Todos os estádios novos e estádios em reforma utilizam, em quase toda maioria, dimensão máxima de piso gramado especificado por FIFA que é 110 m x 75 m. Porém, temos que salientar que existem outras dimensões que atendem os requisitos de estádios para campeonatos nacionais e internacionais. A figura 4 a seguir mostra a dimensões oficiais.
A maioria dos tratamentos culturais, como podas e fertilizações, é realizada no sentido transversal. Porém em alguns locais também existem os tratos culturais no sentido longitudinal.
O sistema com a disposição de setores em sentido transversal é essencial. No entanto, o layout para estádios deve sempre incluir a setorização adequada para a ativação dos aspersores em 360 graus nos intervalos entre partidas.
Portanto, aspersores com ângulos ajustáveis (90°, 180° ou outros) não podem estar no mesmo setor que os aspersores de 360 graus.
Separar os aspersores de 360 graus é uma recomendação geral, pois o sistema pode realizar a irrigação nos intervalos entre partidas somente com aspersores de 360 graus.
A seguir alguns exemplos de layout hidráulico para estádios abertos.
Fig. 5. Disposição de acordo com o sombreamento, separando os lados da zona central do gramado
Fig. 6. Linhas laterais separadas e linhas centrais longitudinais
Fig. 7. Layout com 30 aspersores, campo com dimensões de 90 x 72 metros
Mudando para estádios semifechados e fechados o número de setores aumenta consideravelmente e também temos uma exigência que mesmo que os setores sejam independentes com relação a operação temos que ter a capacidade de operar setores simultaneamente para atender a aplicação de água dos aspersores de 360 graus antes e durante os intervalos de partidas.
Depois da copa de 2010 da África do Sul e com o advento do conceito de arenas deparamos com a necessidade de um controle mais meticuloso e flexível pela mudança constante de microclima ao longo do ano e também do dia.
Na copa de 2014 no Brasil ficou consagrado o layout de 35 aspersores com comandos individuais onde temos total controle da lâmina de aplicação.
Fig. 8. Layout hidráulico com 35 rotores com comando independente e linha principal em looping para copa 2014
A partir da copa de 2014 este foi o layout consagrado e mais utilizado em todo mundo em estádios fechados e semifechados. Este layout permitiu um controle flexível de aplicação de água de acordo com a diferentes IR por quadrantes do campo. A seguir uma ilustração de diferentes taxas de precipitação de acordo com o microclima dentro de um estádio fechado.
Fig. 9. Densograma de possibilidade de diferentes taxas de precipitação devido ao comando individual de cada aspersor
Fig. 10. Layout hidráulico 35 rotores com comando individual Qatar 2022 (mesmo da Arena MRV – MG) Na copa de Qatar de 2022 tivemos uma variável no layout devido a solicitação que não podemos ter válvulas nas laterais. Portanto todas ficaram atrás da linha do gol.
Este mesmo layout pode variar de acordo com estádios e dimensões. Para finalizar nosso artigo apresentamos um layout de um estádio de dimensões menores onde temos a liberdade
de posicionar as válvulas ao longo de todo o perímetro do campo.
O que apresentamos neste artigo é um resultado de 25 anos de experimentos, testes e análises. Até o próximo e último artigo sobre irrigação para estádios de futebol com gramados naturais
Fig. 11. Layout com aspersores individuais e válvulas ao longo de todo perímetro.