Luta de classes

De um lado, um generalista com postura e maneiras de gama alta, e muita ambição. Do outro, uma das referências do segmento C premium. Como veremos, não estão assim tão distantes, nem no preço, nem nos motores Diesel. Já no equipamento…

PREÇO: 35.450 €

De vez em quando, os construtores tentam sair do seu teórico espaço de conforto em busca de novos clientes. É o caso do A3 Sportback que, como uma das portas de entrada no universo premium da Audi, goza de um estatuto no mercado que lhe permite vendas equiparáveis ou superiores à de muitos modelos generalistas.

Se dermos a volta ao argumento, o Peugeot 308 vem assumir, precisamente, o papel de carro de categoria superior na sempre competitiva classe compacta; esta nova geração não está nada longe daquilo que um premium propõe em todos os aspetos, antes pelo contrário.

E se não estão assim tão distantes é porque competem praticamente pelo mesmo espaço, preconceitos de imagem de marca à parte. Pa-

PREÇO: 39.154 € ra começar, o preço relativamente aproximado. Nas combinações em comparação, ambos com os acabamentos desportivos GT (308) e S Line (A3) de cada casa, separam-nos cerca de 3.700 €. Não obstante, há nuances, porque o equipamento de série do 308 é bastante mais rico, com elementos como os faróis Full LED com tecnologia matricial e assistente de máximos, controlo de ângulo morto e assistente de trânsito traseiro cruzado… Extras que são pagos à parte na marca alemã, onde se cobra até um dispositivo que é quase de série na maioria dos rivais do segmento, a câmara de visão traseira.

Desta forma, aqui a distância entre “classes” amplia-se a favor do modelo francês, cuja esta nova geração pode resultar, gostos à parte, mais vistosa. Desenho exterior com muita presença, fruto de uma poderosa grelha (com novo logótipo da Peugeot) e faróis afilados compõem um conjunto que cresceu em dimensões face ao antecessor. É maior em todas as cotas exteriores, exceto na altura, que reduziu dois centímetros.

ESPAÇO PARA…

Todavia, este aumento nas dimensões não tem seguimento no interior, onde encontramos um habitáculo cumpridor, mas sem excessos. Os lugares traseiros são apenas corretos, embora melhores que na geração anterior, e sentimo-nos mais apertados que no A3 Sportback (oferece mais espaço para as pernas atrás), mesmo tendo em atenção que o Audi tem menor largura interior e um túnel central mais proeminente.

Quanto à bagageira, o 308 ganha vantagem ao disponibilizar uns bons litros mais que o adversário: 412 litros (contabilizando 28 debaixo do piso) contra 380, na média do segmento. Por outro lado, numa utilização diária, o Peugeot propõe maior sofisticação no posto de condução, mas também maior complexidade. A bordo, o já habitual conceito i-Cockpit da marca francesa, com o volante de dimensões reduzidas que obriga a olhar por cima dele para ver a instrumentação ou então descê-lo para junto das pernas, ficando mais baixo do que o desejável. No acabamento GT, o painel de instrumentos disponibiliza um curioso efeito holográfico (sobrepõe distintos mostradores em várias dimensões), que pode ser desligado no caso de não convencer o condutor.

É verdade que com o passar dos quilómetros acabamos por nos acostumar, contudo, quando nos sentamos no A3 Sportback, o seu volante tem a dimensão correta e tudo nos parece mais familiar. No alemão, os mostradores cumprem melhor a sua função, começando pelo desenho dos gráficos com melhor leitura.

Digital E Minimalista

A conceção do posto de condução coincide, em ambos, na aposta por comandos minimalistas das respetivas caixas de velocidades automáticas. No 308 está posicionada numa consola mais inclinada, libertando mais espaço para porta-objetos. Não obstante, a balança volta a equilibrar-se no momento de ativar a climatização, com comandos separados melhor resolvidos no A3 Sportback face ao agrupamento de funções do ecrã do 308, ainda assim com bastante qualidade e práticos i-Toggles configuráveis para aceder às funções mais utilizadas.

Um e outro presumem de elevada qualidade no que concerne à perceção de materiais e acabamentos, premissa seguida pela forma como se defendem em andamento. Neste particular será preciso ter em conta a suavidade do modelo francês, com um agrado de condução que sobressai, mesmo ouvindo-se algum ruído “proferido” pelo motor Diesel. O modelo do leão assume um pisar sólido e resistente, na medida em que goza de uma estabilidade muito elevada, não transmitindo muitos ruídos nem incómodos para o habitáculo, propondo uma postura muito correta sobre o asfalto. Na mesma linha surge o A3 Sportback, um automóvel equilibrado como poucos. Confortável, bem-nascido e com um feelingsuperior da direção.

DIESEL AINDA MEXE…

E BEM

Nestas páginas o “combate” mecânico é alimentado por um combustível que começa a passar de moda, o Diesel. O 308 monta uma uni-

BOM COMPORTAMENTO, REFINADO E MUITO APRUMADO

Ficha T Cnica

AUDI A3 SPORTBACK

2.0 TDI S TRONIC S LINE

TIPO DE MOTOR Diesel, 4 cilindros em linha, turbo

CILINDRADA 1.968 cm3

POTÊNCIA 116 CV entre as 2.750 e as 4.250 rpm

BINÁRIO MÁXIMO 300 Nm entre as 1.600 e as 2.500 rpm

TRANSMISSÃO Dianteira, caixa auto. 7 vel. (S tronic, dupla embraiagem)

V. MÁXIMA 206 km/h

ACELERAÇÃO 10,1 s (0 a 100 km/h)

CONSUMO (WLTP) 4,7 l/100 km (misto)

EMISSÕES CO2 (WLTP) 123 g/km (misto)

PESO 1.459 kg

DIMENSÕES (C/L/A) 4.343 / 1.816 / 1.449 mm

PNEUS 225/45 R17

BAGAGEIRA 380-1.200 l

PREÇO 39.154 €

GAMA DESDE 30.182 €

I.CIRCULAÇÃO (IUC) 226,98 €

LANÇAMENTO Maio de 2020

Avalia O

PREÇO PRESTAÇÕES COMPORTAMENTO CONSUMO

✖ ✖

1. O painel de instrumentos pode ser de 10,25 ou 12,3” em opção. A sua definição é perfeita, com a possibilidade de mostrar o mapa da navegação em tamanho completo. 2. O botão para seleção dos modos de condução não está especialmente visível.

3. Climatizador com comandos próprios e físicos, fáceis de manusear. O ecrã demonstra fluidez e elevada qualidade.

Equipamento

SÉRIE Airbags frontais; laterais (dianteiros) e de cortina; controlos de tração e de estabilidade; Audi pre sense (assistente de travagem de emergência com reconhecimento de peões); aviso de transposição da faixa de rodagem; cruise control; suspensão dinâmica desportiva; sensor de pressão nos pneus; faróis LED; ar condicionado automático bizona; sensores de chuva e luz; sensores de estacionamento traseiros; travão de estacionamento elétrico; vidros elétricos; retrovisores elétricos aquecidos; volante multifunções em pele regulável em altura e profundidade; arranque sem chave; bancos dianteiros desportivos com regulação em altura; painel de instrumentos Audi Virtual Cockpit; sistema multimédia com ecrã tátil de 10,1”, entrada USB, Bluetooth e funções Android Auto e Apple CarPlay; e jantes em liga leve de 17 polegadas.

OPCIONAIS Pintura metalizada (850 €); cruise control adaptativo (345 €); assistente de luzes de máximos (125 €); Head-up display (6975 €); reconhecimento dos sinais de trânsito (35 €); Park Assist e sensores Plus (430 €); airbags laterais traseiros (295 €); suspensão adaptativa (1.195 €); ajuda ao arranque em subida (100 €); faróis LED Matrix com lava faróis (1.935 €); abertura e fecho elétricos da bagageira (440 €); bancos dianteiros aquecidos (415 €); Audi Phone Box (245 €); MMI Navigation Plus com MMI Touch (2.175 €); sistema de som Bang & Olufsen Premium 3D (950 €); jantes de 18’’ (1.215 €).

Comando eletrónico para a S tronic, uma caixa automática muito rápida também com patilhas no volante.

O comando eletrónico da transmissão ocupa pouco espaço: liberta muitos “espaços” à sua direita.

Equipamento

SÉRIE Airbags frontais, laterais (dianteiros) e de cortina; controlos de estabilidade e tração; Active Safety Break (travagem de emergência automática) com Distance Alert (alerta de risco de colisão) com câmara e radar; alerta ativo de transposição involuntária da faixa; sistema de fadiga do condutor, reconhecimento dos sinais de trânsito; vigilância do ângulo morto; alerta de trânsito traseiro transversal; ajuda ao arranque em subida; sensor de pressão dos pneus; cruise control adaptativo; faróis Matrix LED; sensores de chuva e luz; ajuda ao estacionamento dianteiros e traseiro; ar condicionado automático bizona; vidros elétricos; retrovisores elétricos aquecidos e retráteis; estofos em couro; bancos dianteiros reguláveis em altura; acesso e arranque mãos-livres; volante multifunções em couro com regulação em altura e profundidade; painel de instrumentos digital de 10’’; sistema multimédia Peugeot Connect com ecrã tátil a cores de 10’’, 2 entradas USB, Bluetooth, navegação, função Mirror Screen (Apple CarPlay e Android Auto) e comandos por voz; carregamento por indução do smartphone; chamada de emergência “e-Call”; e jantes em liga leve de 18 polegadas.

OPCIONAIS Pintura metalizada (750 €); alarme (280 €); teto de abrir panorâmico em vidro (950 €); sistema Hi-Fi Premium Focal (850 €); bancos dianteiros com regulação elétrica e massagens (1.000 €); VisioPark 360 (350 €);

O EQUILÍBRIO É A SUA MELHOR VIRTUDE: CONVINCENTE EM QUALQUER SITUAÇÃO

dade mais potente, 130 CV contra 116, contudo, convém frisar que os “cavalos” do Peugeot provêm de um bloco 1.5 litros, enquanto no Audi o

Ficha T Cnica

PEUGEOT 308 GT 1.5

BLUEHDI EAT8

TIPO DE MOTOR Diesel, 4 cilindros em linha, turbo

CILINDRADA 1.499 cm3

POTÊNCIA 130 CV às 3.750 rpm

BINÁRIO MÁXIMO 300 Nm às 1.750 rpm

TRANSMISSÃO Dianteira, caixa auto. 6 velocidades (EAT8)

V. MÁXIMA 207 km/h

ACELERAÇÃO 10,6 s (0 a 100 km/h)

CONSUMO (WLTP) 4,6 l/100 km (misto)

EMISSÕES CO2 (WLTP) 121 g/km (misto)

PESO 1.340 kg

DIMENSÕES (C/L/A) 4.367 / 1.852 / 1.444 mm

PNEUS 225/40 R18

BAGAGEIRA 412 l

PREÇO 35.450 €

GAMA DESDE 24.520 €

I.CIRCULAÇÃO (IUC) 148,58 €

LANÇAMENTO Novembro de 2021

Avalia O

propulsor é um 2 litros. Ora, é precisamente nesta última combinação que temos a fórmula de sucesso para consumos reduzidos e fiabilidade do motor, ou seja, maior cilindrada e potência mais baixa. São ambos unidades de quatro cilindros com turbo, mas o francês é sempre mais ruidoso, o que pode ter a ver com a utilização de mais materiais insonorizantes no Audi ou mesmo com o facto de ser necessário puxar mais pelo 1.5 BlueHDI para seguir o exemplo do 2.0 TDI alemão. Como referimos, este 30 TDI tem nos consumos comedidos um dos seus pontos fortes, ainda que o valor de binário seja o mesmo em ambos dos modelos e que no Peugeot seja alcançado a uma rotação mais baixa. Na prática, no Audi sente-se que a caixa automática de sete velocidades (S tronic) é mais suave e rápida a perceber o que o motor está a precisar em cada momento. A transmissão EAT8 do 308 também funciona bem, mas quando deixamos a rotação ir mais além, sente-se que o bloco é mais pequeno e esgota mais cedo. Curiosamente, as prestações e reprises são muito aproximadas, com o A3 Sportback a ser mais rápido nos 0 aos 100 km/h e o Peugeot a anunciar mais velocidade de ponta.

Em termos dinâmicos, o representante da marca dos quatro anéis é mais divertido de conduzir, mais assertivo e confiante na hora de abordar trajetos mais exigentes. É verdade que, neste particular, a distância que os separa é ténue, no entanto, o 308 mostra ser mais seco, principalmente no eixo traseiro, chegando a ser desconfortável em algumas situações, e a direção não é tão comunicativa.

Em suma, a Peugeot alcançou o seu objetivo, colocar o novo 308 a lutar de igual para igual com Audi, BMW ou Mercedes-Benz. Agora resta esperar que consiga conquistar a imagem de marca da armada germânica.

Conclus O

Pondo de parte o símbolo que ostentam no capô: o nível do 308 é elevadíssimo, quer no comportamento, quer na qualidade de construção. Porém, o seu posto de condução perde pontos perante a solução mais equilibrada e consensual do A3 Sportback, embora compense em áreas como a tecnologia e a multimédia. Os motores? Apesar de cilindradas distintas, são muito equilibrados, mais suave e económico o do Audi, mais potente o do Peugeot.