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Prefeitura de Ribeirão Preto promete restauro do Palácio Rio Branco para 2023

Ainda sem projeto concluído, obra está orçada em R$ 15 mi; Intenção é criar área para exposições

EVELYN RODRIGUES

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O Palácio Rio Branco, prédio histórico de Ribeirão Preto, deve ser restaurado no ano que vem. Pelo menos essa é a promessa da administração municipal, que desocupou o local recentemente.

A intenção da prefeitura é transformar a edificação em um epaço de atividades culturais. De acordo com o diretor de turismo Jose Venâncio de Souza Júnior, os salões devem ser transformados em palcos de apresentações e visitação. “A ideia é que o novo espaço contemple a maioria das expressões artísticas”, disse Souza Júnior.

O diretor disse ainda que há previsão de troca do piso de madeira, nova pintura e adaptação para acessibilidade. o custo da obra, que ainda será licitada, é estimado em R$ 15 milhões. A expectativa é que o restauro comece em 2023, com previsão de três anos para conclusão.

Mas o projeto ainda está em fase de estudos e, antes de ser executado, terá que ter o aval do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (CONPPAC).

O Palácio Rio Branco foi desocupado no dia 18 de agosto deste ano e os departamentos da prefeitura que lá ficavam foram transferidos para o prédio que fica na rua Américo Brasiliense, 426, no centro.

A Secretaria da Cultura e os conselhos de cultura e de patrimônio, que ficavam no morro de São Bento, na zona leste da cidade, passaram a ocupar o primeiro piso do Palácio.

O chefe da divisão de patrimônio, Nilton Campos, diz que a deterioração do prédio é o principal motivo da res- tauração. “Há a necessidade de recuperação, restauração e adequação da edificação, para que o imóvel tenha uma acessibilidade completa.”

A lei n.º 5.243, de 28 de março de 1.988, considera o Palácio Rio Branco de valor histórico e artístico para Ribeirão Preto. Entretanto, o prédio não é tombado como patrimônio.

De acordo com o presidente do CONPACC, Lucas Pereira, o processo de tombamento requer uma série de regras. “A importância da obra não está apenas no significado do tempo da sua criação. Tratando-se da constituição de um patrimônio cultural, o fator época não basta por si para ser tombado”, disse.

Ainda de acordo com Pereira, o processo de restauro guarda alguns desafios para a prefeitura. “É preciso decifrar a linguagem da edificação que mantém perpétua a ligação do tempo e as gerações, no sentido de constituir uma filosofia linguística, paisagista, política, arquitetônica e econômica, que incumba de traduzir os sentidos para quem vê o edifício.”

O Pr Dio

Sem passar por reforma há 30 anos (a última foi feita em 1992), o prédio de 600 metrosquadrados de área coberta, constituído por dois andares e um porão, apresenta problemas visíveis e falta de manutenção. A reportagem do Jornal da Barão esteve no Palácio Rio Branco no final do mês de outubro e constatou partes do imóvel danificadas.

Logo na entrada, que fica na praça Rio Branco, a pintura do portão principal está descascando. O hall de entrada foi decorado com alguns móveis. O primeiro pavimento, onde está o porão, tem cheiro de mofo e guarda armários e portas antigos e é depósito de produtos de limpeza.

O segundo andar tem sete salas e a maior circulação de pessoas. Porém, a pintura, portas e janelas estão mal estado de conservação. Também no segundo piso ficam os banheiros. Nenhum tem acessibilidade para cadeirantes e gente com pouca mobilidade.

No terceiro andar estão outras três salas e dois salões, entre eles o gabinete que foi ocupado pelos prefeitos e prefeita ao longo das últimas décadas. Os salões têm infiltrações que afetamas pinturas. O teto tem rachaduras. Nas paredes é possível ver as camadas de tinta colocadas ao longo do tempo que alteraram as cores originais. O madeiramento do piso também está gasto.

O cômodo principal é o salão Orestes Lopes de Carvalho, mais conhecido como salão rosa. Nele, os papeis de parede estão descascando. Também vale citar que alguns móveis de época estão com cupins e danificados.

Apesar disso, o diretor de turismo da prefeitura diz que a estrutura está preservada. “Segundo especialistas consultados pela secretaria, as condições estruturais são ótimas”, afirma Souza Júnior.

Patrim Nio Hist Rico

Inaugurado em 26 de maio 1917, o Palácio Rio Branco foi contruído para substituir a anti- ga sede da Câmara e Cadeia, localizada na rua Cerqueira César, 365. Por lá passaram presidentes da república, como Epitácio Pessoa em 1921, que foi recebido com um baile de gala. Em 20 de julho de 1938 foi a vez de Getúlio Vargas.

Em homenagem ao diplomata brasileiro José Maria Paranhos foi edificado um busto na praça Rio Branco, que fica em frente ao prédio. Por isso, em 1948 ganhou o nome de Palácio Rio Branco. Em 1956 o prédio se tornou exclusivamente sede da prefeitura, onde permaneceu até este ano.

O edifício tem inspiração na arquitetura da França, com fachada misturada pelos estilos barroco e moderno. Pela influ-

Ci Ncias Biol Gicas

ência europeia, importada pelos fazendeiros de café, a cidade foi apelidada de Petit Paris (pequena Paris em francês), em referência à cidade luz. “A referida alcunha não era e não é apenas só estética. Vai além. É comunicativa, representa o retrato da constituição de um município que nasceu para ser luzeiro”, afirma o presidente do CONPPAC.

O historiador, professor e coordenador do curso de história do Centro Universitário Barão de Mauá, Rafael Cardoso, afirma que o prédio faz parte da identidade cultural da cidade.

“A arquitetura comunicava uma tal da Belle Époque, período de influências em aspectos financeiros e ecléticos, mas que inspirava modelos europeus. O prédio é um dos poucos remanescentes dos grandes palácios, palacetes e de outras construções que comunicaram o sentido com esse tempo e as mudanças do próprio discurso urbanístico usado ao longo do tempo no centro da cidade.”

Cardoso afirma ainda que o Palácio Rio Branco também representa a influência política dos grandes cafeicultores, que colocam a cidade em destaque nacional.

“Durante muito tempo [o prédio] representou o poder ribeirão-pretano, mas também do Brasil. A cidade foi um centro político muito importante para o estado de São Paulo.”

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