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Ribeirão Preto fica no topo do ranking de cidades do interior com pior qualidade do ar na estiagem

Erik Schutz Bieniek

Dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) revelam que Ribeirão Preto ficou no topo da lista de cidades do interior com maior índice de concentração de poluentes durante a estiagem em 2022.

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Em contrapartida, houve queda expressiva no número de focos de incêndio no período, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O boletim mensal publicado pela companhia no mês de agosto deste ano, mês que marcou o período de estiagem pela baixa umidade do ar e pouco chuva, mostra que Ribeirão Preto teve a mesma concentração de poluentes do que Cubatão, na baixada santista, conhecida por ser polo industrial químico, petroquímico, agrícola e siderúrgico.

As duas cidades ficaram em segundo lugar na lista, perdendo o posto para Santa Gertrudes, região de Rio Claro, que tem 67% de sua base econômica pautada na indústria de pisos e azulejos, materiais plásticos e fabricação de embalagens.

Em 2021 não foi diferente. No mês de agosto, a cidade ficou em 2º lugar no ranking, também atrás de Santa Gertrudes. Mas naquele ano ficou à frente de Cubatão.

Na mesma medida, o número de incêndios caiu 60% de um ano para o outro, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especais). Enquanto em agosto de 2021 os satélites do instituto registraram 147 focos, no mesmo mês deste ano foram 58 registros.

Para especialistas em saúde e meio ambiente, uma das explicações para tal fenômeno está na poluição gerada pela grande circulação de carros e motos no perímetro urbano.

De acordo com o último levantamento feito em 2021 pelo IBGE, Ribeirão Preto atingiu marca 306.842 veículos emplacados. Isso significa que um em cada dois habitantes tem um carro na cidade.

De acordo com o professor de políticas ambientais da USP (Universidade de São Paulo), Marcelo Pereira, a poluição gerada por veículos é crônica, de longa permanência, enquanto a poluição gerada por queimadas de matas e canaviais é sazonal. Segundo ele, o pouco incentivo para o uso do transporte público na cidade explica o tamanho da frota de trnasportes individuais.

“Isso ocorre pela falta de investimento nos ônibus, tarifa cara, lotação, pontos sem cobertura. A população é obrigada a procurar outros meios de locomoção”, afirma Pereira.

O valor da tarifa de ônibus em Ribeirão Preto, que teve população estimada de 720 mil pessoas em 2021 de acordo com o IBGE, é de R$ 5. Em

São José dos Campos, cidade do mesmo porte de Ribeirão, que 737 mil habitantes, o valor do bilhete é de R$ 4,50.

O consórcio Pró-Urbano, empresa que explora o serviço de transporte público na cidade por contrato, diz que a passagem chegou a esse valor diante queda no número de passageiros agravada pela pandemia da Covid-19. Além disso, os constantes reajustes no valor dos combustíveis, manutenção da frota e na folha de pagamento dos trabalhadores são outros fatores que aumentaram os custos operacionais.

A prefeitura de Ribeirão tenta passar na Câmara Municipal um projeto de lei de repasse de R$ 70 milhões para o Pró-Urbano. O primeiro projeto de lei (PL) foi recusado pelos vereadores. Uma segunda proposta nem chegou a passar pelo plenário, por conta de uma liminar da justiça que suspendeu a votação por irregularidades regimentais. No mês de novembro, o Executivo protocolou no legislativo um terceiro PL. A expectativa é que entre na pauta ainda em 2022, antes do recesso.

A prefeitura justifica o aporte por um desequilíbrio financeiro de R$ 278 milhões das empresas, acumulado nos últimos dez anos.

Como forma de melhorar a circulação dos ônibus nas avenidas e aumentar o número de passageiros, a prefeitura faz obras para a criação de corredores de ônibus. O projeto de mobilidade deve dar mais fluidez ao trânsito, evitar atrasos e melhorar o embarque e desembarque nas novas plataformas.

Queimadas

Apesar da queda no número de queimadas este ano, o professor Marcelo Pereira diz que os incêndios também prejudicam a qualidade do ar. Por isso, segundo ele, é necessário que o poder público invista em medidas de prevenção. “Formação de aceiros [barreiras naturais], organização de brigadistas e uso de tecnologia são exemplos. Os aviões também podem ser usados no combate ao fogo, mas existem limitações de recursos.”

O Ministério Público, por meio do GAEMA (Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente), adota desde 2020 medidas de prevenção a queimadas em conjunto com Polícia Ambiental, Defesa Civil, concessionárias de rodovias e usinas.

No mês de agosto deste ano, o MP lançou uma campanha de conscientização sobre os riscos de incêndios, que veiculou nos meios de comunicação. O alerta foi para que a população pare de queimar lixo em terrenos baldios, jogar bitucas de cigarro nas ruas e embeiras de rodovias e acender velas em matas. Segundo a promotoria, este comportamento é o principal gerador de queimadas.

Qualidade Do Ar

A medição mensal de qualidade do ar da Cetesb é feita por 42 estações automatizadas, sendo 27 delas instaladas em cidades do interior e do litoral.

Os aparelhos medem partículas inaláveis na atmosfera finas e grossas, chamadas respectivamente de MP2 e MP10, além de outras substâncias como monóxido de carbono (CO). Quanto maior o nível de concentração dessas partículas pior é a qualidade.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), define cinco parâmetros de impacto na saúde humana: boa (N1), moderada (N2), ruim (N3), muito ruim (N4) e péssima (N5).

De acordo com tabela da Cetesb, o nível classificado como bom de qualidade do ar não traz prejuízos à saúde. Já o moderado já pode trazer riscos em exposição de curto prazo. Essa condição da atmosfera pode provocar quadros de tosse seca e cansaço em crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias.

Já quando a classificação é ruim, a população em geral pode ter tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta. A muito ruim, além de ter todos os sintomas anteriores agravados, pode provocar falta de ar e respiração ofegante. Por fim, a péssima pode aumentar o risco de morte prematura em grupos sensíveis.

Cuidados Com A Sa De

O médico pneumologista Luis Renato Alves explica que as partículas de poluição contém diversas substâncias químicas que podem desencader a piora de doenças respiratórias e doenças mais graves, como o câncer. “Esse material, em contato com nosso sistema respiratório, pode gerar irritação nas vias aéreas, fechamento dos brônquios e impedir as trocas gasosas, levando a pessoa a ter doenças pulmonares. A gravidade do problema depende do grau e do tempo de exposição ao ambiente poluído”, diz Alves.

De acordo com o médico, algumas medidas podem ser tomadas par diminuir os efeitos da poluição no organismo. “Em primeiro lugar é tentar evitar exposição em locais em que há grande quantidade de poluentes, perto de queimadas e fumaças dos carros. Além disso, é fundamental lavar o nariz com soro fisiológico várias vezes ao dia, principalmente no caso de de crianças”, afirma.

Alvez diz ainda que a hidratação nos dias mais quentes e secos é requisito básico. “O uso de máscaras também é indicado em ambientes poluídos” afirmou.

Outro ponto é a umidificação do ambiente onde a pessoa passa a maior parte do dia ou da noite. “Uma das funções do nosso sistema respiratório é umedecer o ar que entra na via aérea. Logo, quanto mais seco o ar e mais desidratada a nossa mucosa, pior serão os sintomas.”

O uso de umidificadores durante os meses de estiagem também é recomendado. “Também é fundamental evitar a prática de exercícios físicos especialmente nos horários mais quentes do dia quando a umidade é ainda menor. (A reportagem foi escrita com apoio e supervisão do prof. Guilherme Campos).

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