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Mulheres superam desafios e alcançam sucesso como microempreendedoras em RP

Empreendedorismo por necessidade motivou três moradoras a montarem pequenos negócios

Independência financeira e aumento da renda familiar são os elos entre Fernanda dos Santos, 25, Isabel Santana, 51, e Isabella Mengelle, 28.

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As três microempreendedoras de Ribeirão Preto nunca trocaram uma palavra entre si, mas tiveram suas vidas transformadas ao se tornarem microempreendedoras individuais (MEI). Hoje buscam profissionalização para expandir as vendas e incentivar outras mulheres no empreendedorismo, mesmo entre dificuldades.

O chamado empreendedorismo por necessidade surge como forma de sobrevivência, na maioria das vezes sem planejamento, recursos ou reserva financeira. Entretanto, quando se torna viável, o próprio negócio possibilita estabilidade financeira, complemento de renda e um recomeço na vida profissional.

Levantamento do Sebrae-SP aponta que o Brasil possui atualmente 30 milhões de empreendedoras. Entre os principais ramos de atuação estão comércio de produtos (33%), alimentação (20%) e indústria

(12%). A necessidade e a oportunidade são os dois motivos que movem 55% delas a montar uma microempresa.

“Elas iniciam suas atividades comerciais pela necessidade de gerar renda, enfrentando ainda o desafio de conciliar os negócios com as exigências da maternidade”, afirma o analista do Sebrae de Ribeirão Preto, Eduardo Gomide.

É o caso de Fernanda dos Santos, 25, que montou um negócio de donuts gourmets. “Eu tinha saído do meu emprego e precisava de dinheiro para pagar a mensalidade da faculdade. Passou pela minha cabeça começar a vender algum tipo de doce”, afirma.

Santos vendia os donuts para os colegas de faculdade e também pelas ruas de Ribeirão. “Fui a primeira no ramo aqui na cidade. No começo foi bem difícil, porque o produto era novidade e os clientes não sabiam o que era donuts. Eu tinha sempre que explicar usando algumas referências [como filmes]. Só aí eu conseguia vender o produto”, afirma.

Com a perda do poder de compra diante do aumento da inflação, a cozinheira Isabel

Santana, 51, se viu na obrigação de ajudar nas despesas de casa. Ela precisava encontrar uma saída para gerar renda complementar. Depois que o marido e a filha começaram a ser acompanhados por uma nutricionista, Santana teve a ideia que faltava e montou uma marmitaria de comida saudável e de baixa caloria. “Eu quis que outras pessoas que não têm tempo de cozinhar também tivessem bons resultados”, afirma.

Isabella Mengelle, 28, virou empreendedora diante de uma oportunidade. Mãe de um bebê de um ano e três meses, ela revisava trabalhos de amigos de sala entre as obrigações da maternidade e da faculdade de Direito para fazer uma renda extra. “Eu comecei em 2016. Na época eu estava naquela fase de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Eu tinha alguns amigos que estavam encontrando dificuldades em redação acadêmica. Então, eu comecei a ajudá-los com revisão de texto e formatação”, afirma.

Mengelle seguiu com o negócio até 2019, quando começou a ser procurada por agências de publicidade, para trabalhar como redatora freelancer. Desde então sentiu necessidade de abrir um cnpj como MEI.

Em 2021, ela formalizou a atividade. “No ano passado, eu já tinha um fluxo de clientes bem legal, que me procuravam. Aí surgiu a necessidade de abrir o MEI, porque a maioria das oportunidades eram mais corporativas, então abri a empresa e virou um negócio”, relata.

Passando Perrengue

Por ser iniciante nos mundo dos negócios, o maior desafio que Isabel Santana encontrou foi na administração da empresa. “A dificuldade em gerir a empresa está em manter a qualidade das preparações, pesar todos os alimentos e poder dar a certeza de que meu cliente terá resultados com esta alimentação”, explica.

Como forma de se manter no mercado e buscar crescimento profissional como microempreendedora, ela buscou se especializar. “De primeira, já fui procurar cursos para me qualificar e tive ajuda de profissionais da área da saúde e gastronomia. Assim eu pude me aprofundar e conhecer mais sobre o congelamento e preparo dos alimentos”, diz.

Para Fernanda dos Santos, a dificuldade esteve presente também na falta de informação ao abrir a empresa. “Para quem não tem experiência nenhuma sobre empreendedorismo e nem no ramo de confeitaria, isso dificulta muito. Mas sempre busquei estudar, fazer alguns cursos gratuitos pela internet e receitas novas.”

Com a formalização do negócio, novos desafios surgiram no caminho de Santos. “Atualmente a maior dificuldade está sendo em saber gerir pessoas, em repassar um pouco do meu conhecimento para os funcionários. Além disso, tem a parte mais burocrática da administração da loja”, diz.

As dificuldades em lidar com um negócio do zero também dificultam as atividades de Isabela Mengelle, enquanto empreendedora. “Para quem trabalha com criação, fazer com que as pessoas respeitem o valor do seu trabalho e aceitem o quanto você cobra é um desafio muito grande”, afirma.

Outro desafio vivenciado pela redatora no cotidiano da profissão é lidar com o fluxo de serviço. “Eu preciso ter um fluxo mínimo de trabalho por mês, mas ao mesmo tempo eu não posso pegar muita demanda, porque a qualidade vai cair e aí eu prejudico o meu negócio”, relata Mengelle.

Donas De Neg Cio

Para essas três mulheres, o empreendedorismo também significou empoderamento feminino e conquista da confiança pessoal e profissional. Para Mengelle, a abertura da empresa é uma resposta para si mesma. “Eu comecei a trabalhar sem pretensão e as coisas foram crescendo. Isso mostrou que eu tenho a capacidade para fazer as coisas andarem. E eu tenho um filho e saber que tenho condições de cuidar dele, que nunca vai faltar nada para ele por conta desse trabalho, é gratificante.”

A redatora afirma ainda que ser microempreendedora traz clareza para o futuro. “É o meu negócio que me ajuda a manter a casa onde eu moro, que me proporciona momentos de lazer para o meu filho e para mim. Agora, por eu estar me formando em jornalismo neste ano, isso me mostra um caminho muito claro para onde eu posso ir e do que eu posso continuar fazendo”, afirma. Para ela, ainda há preconceito quando o assunto é a ascenção feminina no mundo corporativo. “As pessoas tentam atribuir o sucesso ao homem. Mas quem faz o meu negócio crescer sou eu mesma.”

Santana diz que a venda das marmitas congeladas deu a ela novo significado para a própria vida. “A maior realização para mim foi a independência financeira e não me sentir inútil. Agora, com esse trabalho, eu posso ajudar nas despesas da família”, diz. Foi da cozinha da própria casa que Santos conseguiu inaugurar uma loja no comércio da cidade para a venda dos donuts gourmet. “Meu negócio, que começou tão pequeno, tomou uma proporção inimaginável. Participei de eventos, de entrevistas em rádio, tive um foodtruck e agora um espaço físico. Sou grata a toda trajetória percorrida para chegar até aqui”, afirma.

Isabela Mengelle - microempreendedora individual

COMO SE TORNAR MEI Abrir um Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) como MEI traz vantagens ao trabalhador. Entre elas estão o acesso à linhas de crédito com baixas taxas de juros e a possibilidade de aposentadoria, com a contribuição com a previdência social.

O MEI pode contratar até um empregado, que receba o piso salarial da categoria ou um salário-mínimo. Mas não é permitida sociedade ou administração de outra empresa. O limite de faturamento anual é até R$ 81 mil.

A formalização do negócio pode ser feita pelo portal do governo federal (www.gov.br) ou no Poupatempo.

O Sebrae oferece cursos de capacitação de graça. Em Ribeirão Preto, a entidade fica na rua Inácio Luiz Pinto, 280, no Alto da Boa Vista.

O telefone é o (16) 36027720. No site (www.sebrae. com.br) também há uma aba especial sobre empreendedorismo feminino.

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