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As cores de Campo Largo

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É de casa

É de casa

Maior clássico futebolístico do município, o duelo entre Fanático e Internacional completa 70 anos

Aliny Gohenski, Guilherme Becker, Karyna Prado e Luana Kaseker

Histórias, gols, rivalidade entre torcidas, vitórias heroicas, derrotas amargas e títulos inesquecíveis. Esses são alguns ingredientes que abrilhantam os clássicos de futebol. No Paraná, quando se fala em rivalidade é impossível não lembrar do duelo entre Atlético Paranaense e Coritiba. Entretanto, longe dos holofotes e a aproximadamente 30 quilômetros da capital do estado, um clássico amador com 70 anos de história tem os mesmos elementos que os grandes dérbis mundiais precisam ter.

Fanático e Internacional são duas equipes de tradição de Campo Largo e completaram, em 2015, 70 anos de um dos maiores clássicos do Paraná. Os clubes da região central da cidade disputam campeonatos oficiais desde 1945, quando a Liga Campo-larguense de Futebol foi fundada. Durante estas sete décadas de muita rivalidade o que não faltam são histórias e lembranças do clássico Interfan.

“No primeiro clássico oficial entre Fanático e Internacional, em 1945, o campo era cercado de madeira, com tábuas em pé e foi onde começou a rivalidade. O jogo foi o primeiro clássico federado e, na ocasião, a partida não terminou. Houve incidentes para o início da rivalidade, desavenças dentro de campo e, a partir daí, começaram a definir quem seria torcedor de quem”, conta Alceu Mocelin Ferreira, atual presidente da Liga Campo-larguense.

De um lado, o Fanático fundado no dia 29 de dezembro de 1944 e que tem em seu escudo as cores vermelho, azul e branco. O Leão da Baixada, como é conhecido pelos seus torcedores, tem 20 campeonatos Campo-larguenses e sete Taças Paraná, principal campeonato amador do estado. A torcida apaixonada torce, acompanha o dia a dia do time e faz exigências como em uma equipe profissional, como explica o presidente do clube, Braz Bianco.

“A maioria que torce para time

Guilherme Becker

Fundado em 1945, o Internacional tem 28 títulos da Liga de Campo Largo.

Guilherme Becker Fundado em 1944, o Fanático tem 20 campeonatos campo-larguenses.

da capital, torce para equipe daqui do mesmo jeito. É nítido o sentimento a cada partida. Então não podemos criticar a torcida de vir protestar, chutar porta e fazer exigências. É paixão”, revela Bianco.

Assim como nos grandes clubes, os times amadores também contam com torcedores apaixonados que seguem as cores onde quer que estejam. Nelso (sem “n”) Nascimento, de 72 anos, acompanha o Fanático desde 1975 quando chegou à cidade de Campo Largo. Ele conta que a paixão começou após assistir a uma partida entre Fanático e Ferraria. Porém, para ele, nenhum jogo se compara à emoção de um clássico Interfan.

“Todos os clássicos contra o Internacional são marcantes. Os jogos são sempre equilibrados, com altos e baixos. Uma hora a gente ganha, uma hora eles ganham. Mas nossa rivalidade é sempre dentro de campo, fora dele nós somos todos amigos”, lembrou o fanático torcedor. Como em clássicos de proporções nacionais, os confrontos entre Fanático e Internacional movimentam o munícipio de Campo Largo. A rotina muda, as emoções ficam à flor da pele e a ansiedade toma conta daqueles que, principalmente, dedicam algum tempo a torcer pelos dois principais clubes da cidade.

“O clássico mexe com Campo Largo. É uma semana em que você dorme uma hora e não consegue dormir mais. Começa a pensar, a lembrar, amanhece o dia acordado. Então, é uma preocupação tremenda nessa semana, não é fácil”, afirma Nascimento, que já passou várias noites em claro na ansiedade de uma partida.

Apesar de toda magia que envolve um clássico regional, o presidente Braz Bianco revela que sua maior decepção no futebol até hoje, não foi após um clássico e sim por uma atitude do clube rival. Ele conta que quando o Fanático perdeu a final da Taça Paraná de 2014, para o Bandeirantes, por 2 a 0, os torcedores rivais foram recepcioná-los na entrada de Campo Largo.

“A turma do Internacional foi recepcionar a gente lá no viaduto, com camisa e bandeira. Nós chegamos debaixo de chuva, todos chorando e o rival ainda abriu os portões do estádio, acendeu os refletores e queimou dez minutos de foguete. Eu estou contando e querendo chorar de tristeza, mas isso está engasgado e vai ter volta. Eu não sou um cara vingativo, mas a torcida estava toda esperando a gente, ia ser uma festa linda. O Internacional poderia estar torcendo pela gente, porque é a cidade, não, mas, eles queriam que nós perdêssemos”, relembra, com mágoa, Braz Bianco.

A poucos quarteirões do estádio Angelo Antonio Cavalli, está a sede do Internacional. Clube fundado em 30 de maio de 1945, o Alvinegro de Campo Largo também arrasta uma multidão de seguidores apaixonados. Na história, o time preto e branco tem mais títulos regionais que seu

Guilherme Becker

Nelso Nascimento viveu sete títulos da Taça Paraná.

rival, totalizando 28 taças, porém, venceu apenas seis vezes a Taça Paraná, uma a menos do que o Tricolor.

Com um grande equilíbrio na galeria de troféus, os torcedores do Internacional também têm motivos de sobra para se orgulhar de vestir o “manto” preto e branco. Após três títulos seguidos da Taça Paraná e igualar o adversário no número de conquistas, o ano de 2015 iniciou de maneira amarga após o Fanático faturar mais uma edição e novamente se posicionar a frente do Inter.

A diferença mínima de taças entre os clubes reflete nos duelos dentro de campo. O torcedor Juarez Butture de Oliveira, de 57 anos, afirma que o clássico tem uma energia diferente, as equipes podem estar em situações distintas, mas, mesmo assim, fazem jogos equilibrados e sem favoritos.

“Sempre entendi clássico como sendo o jogo da incógnita, porque você nunca sabe quem vai ganhar, independentemente da condição de um e outro. Parece que as forças emergem do nada. Aquele que está no chão se supera e derruba o outro. Todos os clássicos apresentam um perrengue, porque a paixão fala a flor da pele”, contou Butture.

O torcedor que assumiu em 2007 o cargo de diretor de esportes da equipe já viveu histórias memoráveis com as cores do Inter. Desde alegrias, levantando troféu, até dias de tristeza, após derrotas doloridas. Porém, apesar das dificuldades de comandar uma equipe do futebol amador, Juarez explica como são os sentimentos às vésperas de um duelo com o maior rival.

“Antes de um clássico a ansiedade toma conta, mas temos que nos manter serenos. Precisamos passar para os atletas a tranquilidade. Você vai a uma guerra, mas não para matar ninguém. Tem que fazer com que ele brigue pelo título, mas sem deixar a ansiedade dominar. Mas é claro que também ficamos nervosos”, destacou o dirigente.

Apesar dos recursos limitados dos quais o futebol amador dispõe, o que sustenta o clássico Interfan há 70 anos é a paixão de seus torcedores. Fanaticanos e Internacionalistas dividem Campo Largo, mas se doam igualmente em prol da tradição de um dos maiores clássicos do futebol paranaense. Juarez Butture destacou importância de Tico Gionédis para a história do Inter.

Guilherme Becker

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