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Longe de casa

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Geração Z

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Desafios de escolher uma universidade em outra cidade preocupa jovens, mas também abrem oportunidades para novos caminhos

PUCPR conta atuelmente com mais de 900 alunos de outros estados.

Anna Julia Lopes

Escolher qual profissão seguir e qual universidade cursar não é tarefa fácil. Principalmente quando essa escolha vem acompanhada de outra decisão importante: estar na universidade que sempre desejou, mas ter que mudar para uma cidade maior ou muito distante, ficar longe dos familiares e amigos para seguir na jornada que poderá determinar o rumo profissional de uma vida. Muitos jovens passam por isso no começo de sua vida universitária. Saem da zona de conforto para estudar em uma cidade desconhecida, tendo que conviver com novos hábitos e fazer novos amigos.

Adaptar-se a uma nova cidade pode ser um desafio, mas para Gabriel Tschoke, 23 anos, que veio de Criciúma (SC) a Curitiba para estudar Engenharia Mecânica na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o tempo foi um fator importante para se habituar com essa nova fase de sua vida. “Curitiba foi bem difícil no começo, eu não queria voltar para a minha cidade, mas eu ia todo fim de semana para lá, porque meus amigos eram de lá, todo mundo era de lá. Depois do primeiro ou segundo ano que eu parei de voltar para a minha cidade e comecei a sair mais com o pessoal de Curitiba”, conta.

O futuro engenheiro gostou tanto da mudança que recentemente embarcou rumo à uma nova fase: foi complementar seus estudos por meio de um intercâmbio na Nova Zelândia. Para quem está pensando em viajar, Gabriel dá dicas para uma melhor adaptação. “Recomendo mudar de cidade com certeza porque mudança é sempre bom, ir de cabeça aberta para novas amizades. Focar muito no estudo, no motivo pelo qual você se mudou. Você vai ter uma ótima experiência, além de aprender a se virar sozinho”, finaliza.

Para Mariana Werpel, 20 anos, a história foi parecida. A estudante saiu de Juiz de Fora (MG) para cursar Técnico em Prótese Dentária na Universidade Positivo (UP) mas, diferentemente de Gabriel, ela tinha tios que já moravam na capital paranaense. Mas quem pensa que isso tornou a mudança menos difícil, se engana. “Eu não conhecia ninguém em Curitiba além dos meus tios, foi muito difícil ficar longe dos meus pais e meus amigos. O frio também foi outro fator que dificultou minha adaptação. No começo eu ia visitar meus pais todos os fins de semana e tinha vontade de voltar, mas agora fiz amizades e comecei a namorar aqui, então vou só de vez em quando”, explica.

Algumas universidades de Curitiba oferecem serviços que ajudam estudantes de fora a se

“No começo eu ia visitar meus pais todos os fins de semana e tinha vontade de

voltar.” Mariana Werpel, estudante

adaptar ao novo ambiente, como é o caso da PUCPR, que recebe esses alunos por meio do Serviço de Apoio Psicopedagógico (Seap). “Nós somos uma equipe composta por quatro psicólogas e uma pedagoga. Quando recebemos um aluno, nós fazemos uma entrevista prévia para saber o que está acontecendo. Procuramos fazer com que esse aluno desenvolva algumas estratégias para começar a se sentir mais à vontade, interagir com a sua turma, desenvolver questões de autoestima, mostrar para ele que ele não precisa ser igual, não precisa competir. Você não necessita virar do avesso para ser aceito, isso é muito importante” expõe a Psicóloga Coordenadora do Serviço de Apoio Psicopedagógico da PUCPR, Maria Elizabeth Nickel Haro.

Para matar a saudade dos amigos, Gabriel Tschoke utiliza da tecnologia para diminuir a distância.

Segundo a coordenadora, o impacto psicológico causado no aluno vai depender de sua estrutura. “Alguns alunos vêm mais preparados para enfrentar essa saída de casa, o início da independência e autonomia deles e conseguem se adaptar mais fácil. Outros vêm muito despreparados ainda, muito imaturos, sem noção do que eles vão enfrentar. Às vezes até um pouco iludidos com uma ideia fantasiosa sobre o que é viver fora de casa, muitos não conseguem se adaptar com facilidade, sofrem muito, alguns chegam a entrar em depressão ou até desistem do sonho de curso, de vida que eles tinham e retornam para as suas casas” relata.

Foi o que aconteceu com a estudante de engenharia ambiental Hanna Carolina Cordeiro. Ela veio de Itajaí (SC) para Curitiba para estudar Engenharia Civil e não conseguiu se ajustar à cidade. Além do clima muito diferente de Santa Catarina, a saudade dos pais e amigos, somada com a insatisfação com o curso, fez com que Hanna voltasse para casa após o fim do primeiro semestre. “Não consegui me acostumar muito com o frio e foi muito difícil ficar longe de todo mundo em Itajaí, além de eu não ter gostado muito do curso. Foi muito difícil o semestre que fiquei longe. Eu poderia ter pedido transferência para outro curso na PUC, mas preferi voltar para casa e tentar em uma universidade de lá”, comenta.

Além de serviços de apoio psicopedagógicos, algumas universidades contam com diretorias específicas para o relacionamento com alunos que vêm de outras cidades. A coordenadora da Diretoria de Relacionamento da PUCPR, Silvana Hastreiter, ressalta a importância de receber alunos de outras localidades e oferecer uma ótima estrutura para recebê-los. “Nós, cada vez mais, procuramos abrir as portas para estudantes de fora de Curitiba que procuram nossos cursos. Além de receber bem os alunos brasileiros, a PUC tem como objetivo se tornar uma world class university (universidade de classe mundial), recebendo alunos do mundo inteiro” afirma.

Atualmente, a sede da capital paranaense da universidade conta com cerca de 23 mil alunos de graduação, sendo 921 deles de 22 estados fora do Paraná. Em razão da proximidade, São Paulo e Santa Catarina são os estados que mais têm estudantes na universidade paranaense. “Neste segundo semestre, contamos com 384 alunos de São Paulo e 276 alunos de Santa Catarina. Mato Grosso do Sul e Mato Grosso também possuem uma representatividade grande no percentual de alunos em nossa universidade”, declara.

Para alguns, uma mudança é um processo complicado e até um pouco assustador. Para outros, é uma aventura, um meio de conhecer novas culturas e buscar novos conhecimentos. Para atender todos os perfis de estudantes, as universidades buscam criar suportes para tornar essa experiência acadêmica a melhor possível.

Para Mariana, o maior problema para se adaptar longe de casa foi a saudade da família.

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