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Em Poucas Palavras
A surpresa que n ão surpreend e
OThe New York Times de 5 de junho publicou em sua primeira página o horripilante relato da jornalista Janine di Giovanni sobre o bombardeio e a destruição pelo exército sírio, no dia 15 de maio, do Hospital de Crianças e Maternidade Tarmala, da cidade de Idlib no norte da Síria. Segundo o jornal, este foi o décimo nono ataque a instalações de saúde (hospitais, clínicas) desde a última semana de abril, ou seja, em aproximadamente duas semanas.
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Por que estaria o exército sírio atacando estas instalações, se pergunta o artigo. E ele oferece três respostas alternativas. A primeira é a oficial: o governo afirma que os hospitais estariam sendo usados como esconderijo para combatentes contrários ao regime. O jornal qualifica esta alegação como infundada e a rejeita.
A jornalista oferece, então, dois outros motivos. Por um lado, diz ela, destruir a infraestrutura de saúde aumenta as vítimas entre a população, que não consegue mais obter tratamento, o que se alinha com o objetivo do governo de reduzir ao máximo a população que apoia a derrubada do regime. Por outro lado, ela sustenta que matar médicos e demais operadores de saúde reduz a quantidade de pessoas que podem prestar testemunho sobre as atrocidades da guerra. Pois, inegavelmente, as equipes médicas são observadoras diretas dos métodos usados pelos lados em guerra.
Qualquer que seja o motivo (ou os motivos), o ataque deliberado a médicos, feridos e doentes é imoral. Assim que esta notícia deve realmente ir para a primeira página de todos os jornais do mundo.
Mas não se pode dizer que ela seja surpreendente. Quando o mundo silenciou frente a instalação do bunker da liderança palestina debaixo de um hospital em Gaza e quando carros pintados como ambulâncias foram usados para transporte de armamentos e combatentes (prática usada pelos palestinos já em 1948), as portas se abriram para este tipo de atrocidade.
A única surpresa é a extrema dificuldade da imprensa em ligar os pontinhos do desenho que retrata a cultura que se opõe à existência de Israel. Mas, na verdade, nem isto mais é surpresa. ü
Tumsasedgars/istockphoto.com
Pimen ta no ol ho do

s o utro s (2)
AANP – Autoridade Nacional Palestina – não conseguiu até hoje, e não dá mostras que vá conseguir num futuro previsível, criar um nível econômico razoável para a sua população. A enorme centralização de um poder quase ditatorial, a minguada liberdade econômica, a repugnância em tomar partido da prosperidade de seu vizinho mais rico, Israel, com acordos de cooperação, contribuem fortemente para que a Palestina seja uma entidade que não se sustenta e que depende essencialmente de ajuda exterior para sobreviver.
Neste cenário, qualquer sobressalto dos doadores externos afeta tremendamente a vida dos palestinos, cuja grande maioria vive de empregos estatais. Assim que atrasos e cortes de salários são parte do cotidiano da maior parte dos palestinos.
Mas não de todos.
Foi revelado há algumas semanas que há dois anos o governo atribuiu secretamente um aumento considerável (alguns casos chegaram a 67%) de salário aos políticos e principais dirigentes da máquina estatal. Tudo isto retroativo a 2014, o que garantiu uma bela bolada a cada agraciado.
Isto causou grande consternação na “rua palestina”, que justamente no momento desta revelação estava so
Pimen ta no ol ho do s o utro s (1)
Opalestino Jibril Rajoub é o idealizador do movimento BDS, que propõe o boicote econômico e cultural a Israel. Mas, conforme noticiou, em maio deste ano, o Palestinian Midia Watch, quando ele precisa de tratamento de saúde vai se tratar no hospital Ichilov em Tel Aviv.
Ou seja, o BDS é bom para recomendar que artistas, times de futebol e professores universitários não visitem Israel ou colaborem com instituições israelenses. Mas, parece pensar Rajoub, quando se trata da minha saúde, aí o assunto é sério demais para estas picuinhas. Neste caso, somos todos irmãos! ü
frendo com atrasos e cortes de salários. O comentarista político Ehab Jareri disse: “Os membros do governo se comportam como se o governo fosse sua propriedade privada e eles podem retirar o quanto quiserem sem ter que prestar contas a ninguém”. Já Majdi Abu Zeid, pesquisador de um grupo anticorrupção observou: “Penso que isto seja apenas a ponta do iceberg na corrupção da ANP, visto que não temos acesso a informações mais importantes”.
Os palestinos realmente têm uma vida muito difícil. Mas Israel não é o maior problema deles. ü
O l egado d e Nikki Hayl e
Segundo Danny Danon, o embaixador israelense na ONU, os dois anos de Nikki Haley, sua colega embaixadora na ONU, mas pelos Estados Unidos, marcaram o nascimento de uma nova época.
A atuação de Haley pautou por desafiar proposições que muitos consideravam indiscutíveis e lançá-las por terra. Ela começou seu termo sob a sombra da terrível aprovação pelo Conselho de Segurança da resolução 2.334 que condenou toda e qualquer atividade de Israel nos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias. Isto inclui a cidade velha de Jerusalém, onde, segundo a resolução, os israelenses não poderiam mexer. Esta é uma posição que nenhum governo israelense aceita e mesmo assim a resolução foi aprovada sob o incentivo da previamente anunciada abstenção dos Estados Unidos sob Barack Obama.
Esta resolução não foi apenas absurda, ela sinalizou aos líderes palestinos que não precisariam se incomodar em negociar com os israelenses, pois a ONU e até mesmo os Estados Unidos validariam todas suas pretensões.
Sabedora que não conseguiria fazer o Conselho de Segurança reverter a resolução 2.334, Haley (e a administração Trump) se dedicou a retificar a mensagem.
Os Estados Unidos não aprovaram a indicação do palestino Salam Fayyad como enviado especial da ONU para a Líbia. Deixando claro que sua oposição não se devia à figura do respeitado Fayyad, mas pelo fato que ele estaria representando o inexistente “Estado da Palestina” e os EUA não aceitavam conceder este status, mesmo que simbólico, à Palestina.
Depois de uma longa e frustrada negociação, os Estados Unidos se retiraram do Conselho de Direitos Humanos da ONU, por ter sido negada

sua exigência de eliminar governos totalitários do organismo. Haley respondeu aos argumentos que os EUA fariam melhor se trabalhasse para reformar o conselho estando dentro dele com a afirmação de que a presença de países democráticos em conselhos povoados por ditaduras dão legitimidade a estas últimas. Uma afirmação difícil de ser contestada dentro do reino da racionalidade.
O apoio dos EUA à UNRWA (agência da ONU que se propõe a apoiar os refugiados palestinos, não por sua absorção em outros países, mas pelo perpétuo assistencialismo) foi consideravelmente reduzido. Sendo que, mesmo com a redução, os EUA ainda são o maior doador da UNRWA. O efeito desta redução foi fazer outros países aumentarem a sua contribuição e não o fechamento de escolas e hospitais, como muitos desavisadamente previram.
A decisão de Haley foi impelida pela recusa da UNRWA de tomar ação contra o uso de suas escolas e hospitais pela máquina palestina de ataques militares a Israel. Além disso, era realmente ridículo os EUA terem doado 400 milhões de dólares para a UNRWA em 2017, contra apenas 1 milhão do Qatar e 1,5 milhão da Turquia, países que apoiam os palestinos mais com a garganta do que com ações concretas.
A embaixada dos Estados Unidos em Israel foi transferida para Jerusalém, num movimento absolutamente natural, visto que cabe a cada país definir onde fica sua capital. Se o Brasil pôde mudar a capital do Rio de Janeiro para Brasília sem perguntar para a ONU, por que Israel não pode definir em qual cidade vai instalar seu governo? As previsões de que a mudança geraria violência em todo o Oriente Médio (e, segundo os mais catastróficos, no mundo) se mostraram ridiculamente equivocadas.
Mais recentemente, os Estados Unidos também reconheceram o Golan como território israelense. E ninguém perdeu um minuto de sono por conta disso, pois, conforme Nikky Haley se esforçou por provar, o que é óbvio tem que ser escancarado.
Esperamos que ela retorne ao cenário político mundial. Certamente isto não vai resolver os problemas do mundo (até porque nada vai), mas vamos recuperar um tanto de sanidade e isto é muito oportuno! ü
A an títese d e Nikki Hal e
Aprimeira conferência de cúpula entre a União Europeia e a Liga dos Estados Árabes aconteceu no último mês de fevereiro, na bonita cidade de Sharm El-Sheik, no Egito.
Em um tweet, Donald Tusk, o presidente do Conselho Europeu, declarou: “Temos diferenças entre nós. Mas enfrentamos os mesmos desafios e temos interesses em comum. Precisamos cooperar entre nós e não deixar isto para potências globais distantes da região”. (There are differences between us. But we face common challenges and have shared interests. We need to cooperate and not leave it to global powers far from our region.)
O que Donald Tusk chama de “diferenças entre nós”?
Será a promoção de direitos iguais para mulheres, crianças, minorias e pessoas deslocadas? A política da União Europeia expressa isto claramente. Mas nos países árabes o direto das mulheres se limita a obedecer cegamente o que o homem ao qual pertence (marido ou pai – no caso de ser solteira – ou familiar homem próximo no caso de ser órfã e solteira) ordena. Em vários países, elas também têm o duvidoso direito de não se expor em público e de não fazer parte de nenhum processo decisório.
Será a oposição à pena de morte, igualmente abraçada pela União Europeia e que é aplicada em todos os países árabes, inclusive em alguns contra o “crime” da homoafetividade?
A lista das diferenças é tão grande que ela não pode ser honestamente qualificada como meros pontos de vista. As diferenças refletem uma diferença cultural profunda. De um lado
Dua s l ista s
Alguns países que punem a homoafetividade com pena de morte Afeganistão Arábia Saudita Nigéria Paquistão Somália Qatar temos uma sociedade baseada na liberdade e nos direitos individuais do ser humano e do outro, uma sociedade tribal e hierarquizada.
Será que dar legitimidade a regimes antidemocráticos e, por isto mesmo, opressivos ajuda a promover os valores da liberdade no mundo? Ou será que o caminho da Nikki Haley é melhor? Como diz Bob Dilan: “The answer is blowing in the wind”. Só não
vê quem não quer. ü Alguns países membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU
Afeganistão (mandato 2018-20)
Arábia Saudita (mandato 2017-19)
Nigéria (mandato 2019-21)
Paquistão (mandato 2018-20)
Somália (mandato 2019-21)
Qatar (mandato 2018-20)

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A quem perten ce o Golan
Em 25 de março os Estados Unidos reconheceram que as colinas do Golan são parte do território de Israel. Este reconhecimento foi uma mera formalidade, visto que não afeta a vida da população de Israel ou da Síria e muito menos dos habitantes da região, que hoje percebem com clareza quão problemática seria sua vida sob soberania Síria.
Mas nem todos ficaram felizes com este anúncio, pois esse território foi conquistado por Israel durante a agressão que sofreu em 1967 e mantido na outra agressão acontecida em 1973. Em ambas as ocasiões, e também na invasão de 1948, o objetivo da Síria não estava centrado no Golan e sim no Estado de Israel em si. Os sírios nunca fizeram segredo disso. Não mantêm relações diplomáticas com Israel, país que nem ao menos reconhecem.
Dizem os críticos que Israel, e nenhum outro país, não tem o direito de ultrapassar as suas fronteiras nacionais. Mas, no caso dos limites entre Israel e Síria, quais fronteiras são essas?

Diz o começo do artigo V do acordo de armistício Israelo-Sírio de 20 de julho de 1949: “É enfatizado que os arranjos a seguir para a Linha de Demarcação do Armistício entre as forças armadas israelenses e sírias e para a Zona Desmilitarizada não devem ser interpretados como tendo alguma relação com os acordos territoriais finais que afetam as duas Partes deste Acordo”.
Disposições similares existem nos acordos de cessar fogo das guerras de 1967 e 1973. Ou seja, nenhuma daquelas 3 linhas jamais foi considerada uma fronteira nacional pela Síria. Então, do que mesmo está se falando? Fronteiras nacionais são demarcadas por três formas: acordo entre dois estados vizinhos; um novo estado as herda de uma potência colonial prévia; novas fronteiras resultam da divisão de um estado.
Nenhum dos três casos se aplica ao Golan. Resta, então, aguardar por um acordo entre Israel e Síria para resolver a questão. Enquanto isso, Israel tem sim a soberania de fato sobre aquele território. ü
Etiópia pa ra crian ça s
Aimigração dos judeus etíopes para Israel aconteceu em duas grandes levas. A primeira em 1984 e a segunda em 1991. Ao final delas a esmagadora maioria dos “Beta Israel” (como se autodenominam os judeus etíopes) se mudou para Israel, que hoje é lar para mais de 125.000 pessoas, que lentamente se integram em todas as áreas de atividade e em todas as regiões do país.
A jornada dos Beta Israel foi heroica. Tanto pelas dificuldades do caminho como pela necessidade de dar o imenso salto cultural da vida rural na Etiópia para um país solidamente integrado ao século XXI, berço de uma considerável parte da tecnologia de ponta que se desenvolve no mundo.
Até recentemente esta saga foi contada exclusivamente em livros para adultos e em testemunhos pessoais, igualmente dirigidos ao público adulto. Até que, dez anos atrás, Lesley Simpson, uma autora canadense de livros infantis, ouviu um destes testemunhos e se encantou por ele. A partir disso ela criou o livro infantil Yuvi’s Candy Tree com o relato real da jornada da família de Yuvi Tashome, uma das imigrantes.
O livro foi muito bem recebido, mas estranhamente demorou até 2018 para que fosse traduzido para o hebraico e introduzido em Israel. Contudo, uma vez ultrapassada essa barreira, as crianças israelenses passaram a ter contato com mais esta história de resiliência e redenção de nosso povo. Sem a menor dúvida que outros livros se seguirão, fazendo com que a saga dos Beta Israel seja conhecida e reconhecida como mais um dos modernos milagres provocados pelos judeus em nossos tempos. ü