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O Que é Deus? Minha posição
O Que Minha é Deus ? posi ção
Rabino Rifat Sonsino
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1. A palavra “Deus”
Apalavra “Deus” é carregada de emoções e evoca várias respostas, algumas positivas, outras negativas. A razão para tal é simples, pois “Deus” significa aquilo que é o mais significativo na vida, a realidade máxima. A partir de como a pessoa entende o que é “Deus” ela desenvolve sua filosofia de vida e também um estilo de vida coerente com esse entendimento.
2. Mais de uma resposta
Ao longo dos anos, a necessidade de explicar os mistérios da vida levou muitos pensadores a desenvolver diferentes visões do divino. Por exemplo, para muitos, hoje Deus é um Deus pessoal, que criou o universo, mas também alguém que te conhece e responde aos teus pedidos, positiva ou negativamente, além de ser aquele que governa o universo através da justiça divina. Isso é chamado de “teísmo”. Para outros, os místicos, Deus é o Mestre Infinito e Incognoscível do Universo, que pode ser alcançado através da meditação, oração, contemplação ou jejum. Já para os naturalistas religiosos, Deus é a energia do universo. E, ainda, para muitos humanistas, Deus é um símbolo do poder dos seres humanos.
3. Deus no Judaísmo
Ao longo da história, os judeus desenvolveram vários conceitos de Deus. Fontes clássicas judaicas retratam posições desde o politeísmo (a saber, a cren
ça na existência de muitos deuses) até a monolatria (ou seja, a crença de que, embora existam muitos seres divinos, nosso Deus tem um relacionamento especial conosco) e, finalmente, monoteísmo (a crença de que não há outros deuses, mas apenas uma divindade universal para todos). Além disso, mantendo um forte ponto de vista monoteísta, os filósofos judeus, desde os tempos antigos até o período moderno, conceberam Deus de várias maneiras, refletindo muitas vezes o pensamento de seus próprios tempos. Assim, por exemplo, Maimônides (século XII ec) era um humanista aristotélico, Luria (século XVI ec) era um místico e Fromm (século XX ec) um humanista.
4. A minha posição
Eu cresci como judeu ortodoxo na Turquia, mas em 1966 me tornei um Rabino Reformista nos EUA. Teologicamente falando, me considero hoje um naturalista religioso e fui influenciado por rabinos como Roland B. Gittelsohn e Mordecai M. Kaplan. A seguir um resumo da minha posição em relação a Deus.
O que é Deus? Para mim, Deus representa a energia do universo. Baseado em minhas observações da natureza, com seu processo contínuo de mudança, crescimento e decadência de quase tudo, eu assumo que existe um poder que mantém o universo seguindo seu curso. É a essa energia interna que eu dou o nome de Deus. Nosso mundo não foi criado da maneira em que a Bíblia o descreve, a partir do nada. A resposta para esse quebra-cabeça deve vir do mundo da ciência moderna (talvez da teoria do Big Bang).
Qual é o meu relacionamento com Deus? Deus não é uma pessoa. Deus não me conhece, cuida de mim ou responde às minhas orações. Deus também está além do gênero, não é nem masculino nem feminino. Deus simplesmente é a energia que anima o universo. É nosso dever entender como esse mundo opera para dar sentido à nossa existência. Tudo o que quero receber são as ferramentas para a sustentação de uma vida significativa, a sabedoria para aceitar minhas limitações e as habilidades para superá-las dentro das possibilidades da natureza. Anseio por integridade e satisfação.
Eu acredito em milagres? O universo é um lugar maravilhoso. Cada momento é incrível e digno de nota. Eu não acredito em milagres definidos como uma intervenção de Deus no funcionamento normal da natureza. Quando algo incrível ocorre é porque ainda não apren
demos como o mundo realmente funcioO propósito da oração é padrões estabelecidos. Nem sempre sabena ou como as leis da natureza tornaram essa mudança possível. Eu “acredito” em Deus? A fé é frequentemente entendida como uma crenexpressar gratidão pela nossa existência e formular louvores pela magnificência mos por que o universo está funcionando dessa maneira e precisamos estudar a natureza com mais acuidade para encontrar as razões do que vemos como injustiça firme em algo para o qual não há prode estar vivo. Não espero ça. Ao longo dos anos, fizemos um granva. Para mim, no entanto, “acreditar” em nenhuma resposta divina de progresso em nossa tentativa de entenDeus significa afirmar convincentemente a existência de Deus após um exame cuidadoso de todos os dados disponíveis. às minhas orações, mas sinto a necessidade de der Deus, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Quão livres nós somos? Pensadores do
Qual é o propósito da oração? Exisformular orações de passado debateram a questão do determitem três tipos de oração: a de petição, a de louvor e gratidão. Elas nismo versus livre arbítrio por um longo louvor e a de agradecimento. Para mim, o propósito da oração é expressar gratidão me fazem sentir melhor. tempo. Eu mantenho que estamos limitados por nossas limitações de tempo e lupela nossa existência e formular louvores gar, assim como nossos corpos. Nós, no pela magnificência de estar vivo. As orações peticionárias entanto, temos algum livre arbítrio dentro de nossos limipodem, na melhor das hipóteses, ser expressões de nossos tes, e devemos valorizar essa liberdade. desejos. Não espero nenhuma resposta divina às minhas Como eu leio a Torá? De acordo com a tradição, as orações, mas sinto a necessidade de formular orações de três partes do Tanach (Torá, Profetas e Escritos) são sagralouvor e gratidão. Elas fazem eu me sentir melhor. das. De fato, nos é dito que na Bíblia Hebraica os primei
Como eu explico o mal? Acredito que exista tal coisa ros Cinco Livros “de” Moisés foram ditados a Moisés por como o mal causado pelos seres humanos ou pela natureDeus durante a revelação no Monte Sinai (ou, Horeb). Eu za: às vezes, pessoas santas sofrem enquanto que ímpios vejo a Bíblia como um grande compêndio de ensinamenprosperam (por exemplo, o Holocausto nazista) e vulcões tos e lendas judaicas que refletem o tempo de sua composemeiam destruição. No entanto, isso não acontece porsição. Algumas partes estão obsoletas hoje (como as seções que Deus não está disposto a responder aos nossos pedique lidam com sacrifícios), mas outras ainda me motivam dos, mas sim porque Deus é neutro e opera de acordo com para a ação moral. Como os primeiros rabinos fizeram em


seu tempo, nós também precisamos reinComo os primeiros rabinos tuo, permitindo o livre debate de todas terpretar a mensagem da Torá para torná- -la relevante para nossos tempos, porque a Bíblia e a literatura rabínica representam nossa herança fundacional. É o que nos fizeram em seu tempo, nós também precisamos reinterpretar a mensagem as questões existenciais do nosso tempo. O naturalismo religioso, que é a minha posição, não é para todos. Algumas pessoas anseiam por uma estreita ligação fez ser quem somos hoje. da Torá para torná-la com um Deus que se preocupa com elas e
Eu acredito em vida após a morte? relevante para nossos que cuida delas em tempos de necessidaA ideia da ressurreição do corpo surgiu nas últimas partes da Bíblia hebraica (por exemplo, Ezequiel e Daniel) e foi fortetempos, porque a Bíblia e a literatura rabínica de. Para mim, no entanto, não há provas convincentes da existência de tal divindade. Estou confortável com minha abordamente endossada pelos rabinos. A Torá representam nossa herança gem racional que leva a vida como ela é, também se refere a um lugar idílico chafundacional. É o que nos considerando o universo um lugar fascimado Gan Eden (paraíso) que existia no início dos tempos e que também ressurfez ser quem somos hoje. nante, ainda que misterioso, cujos segredos descobrimos todos os dias. Para mim, girá no futuro. Pessoalmente, não acrediessa é a essência de ser religioso. to no paraíso ou no inferno. Nem acredito na dicotomia entre alma e matéria. Eu mantenho que somos um todo unificado. Depois que eu morrer, serei enterrado na terra ou cremado, e meus ossos eventualmente se desintegrarão. Espero que meu nome, minha reputação e meus escritos sobrevivam por um tempo, e continuarei a viver através das memórias de meus filhos, netos, amigos, estudantes e leitores. Eu não espero nada além disso. Todos os dias, sou grato por estar vivo e sem dor no momento, mas aceito o que vier no meu caminho. Espero que seja significativo e tolerável. A religião ainda importa? Sim, ela importa, pois nos abre a perspectiva sobre o que é uma vida significativa. No entanto, ela precisa se basear na racionalidade e no pensamento moderno. Não deve promover o fundamentalismo O rabino Rifat Sonsino é Rabbi Emeritus do Temple Beth Shalom, Needham, MA, EUA, e professor doutor no departamento de Psico logia e Filosofia na Framingham State University. Além disso, mantém um blog chamado “Sonsino’s Blog”, que tem mais de 400 mil visitantes em todo o mundo e é um autor prolífico tendo publica do os seguintes livros: And God Spoke: Ten Commandments and Contemporary Ethics (2013); Modern Judaism (2013); Vivir Como Judio (2012); Did Moses Really Have Horns? And Other Myths about Jews and Judaism (2009); The Many Faces of God: A Rea der of Modern Theologies (2004, como editor); Finding God: Selected Responses (2002); Six Jewish Spiritual Paths: A Rationalist Looks at Spirituality (2000); What Happens After I Die? Jewish Vie ws of Life After Death (1994); Finding God: Ten Jewish Responses (1993) e Motive Clauses in Hebrew Law (1980). e o obscurantismo, mas encorajar a paz e o respeito múTraduzido do inglês por Raul Cesar Gottlieb.

