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Em Poucas Palavras

UMA VITÓRIA CONTRA O MACHISMO

Acidade israelense de Bet Shemesh conta aproximadamente 120 mil habitantes. Há uma pequena e crescente maioria de judeus ultraortodoxos (charedim). Estes tendem a votar em bloco, assim que o atual prefeito, Moshe Abutbul, é do partido Shas, ultraortodoxo sefaradi.

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Devido ao impulso dos charedim em esconder as mulheres nos espaços públicos, não é raro encontrar cartazes com estes dizeres espalhados pela cidade: “Pede-se a mulheres esperando por seus maridos que o façam apenas em lugares não visíveis” e “Mulheres não devem se postar na porta das sinagogas, elas não devem desviar a atenção dos homens que rezam e estudam”. Além disso, cartazes publicitários com figuras femininas são frequentemente vandalizados.

Algumas mulheres se conformam com esta situação. Mas, felizmente, não todas. Assim que, numa disputa decidida por meros 1,3% dos votos, a Dra. Aliza Bloch, uma educadora, sionista, ortodoxa moderna, venceu a eleição municipal do começo de novembro. Ao ser perguntada qual seria a sua primeira atitude como prefeita ela respondeu: “Vou limpar a cidade”.

Este não foi o único golpe que o machismo ultraortodoxo recebeu. Alguns dias depois, ainda na mesma semana, a Suprema Corte de Israel rejeitou um recurso do prefeito Abutbul, que questionava a decisão de retirada dos cartazes que exigem “modéstia” (um eufemismo para “invisibilidade”) das mulheres da cidade.

Outras duas vitórias femininas marcaram as eleições municipais de novembro: Einat Kalisch-Rotem, de Haifa, se tornou a primeira mulher elei

ta para a prefeitura de uma grande cidade e Tal Ohana foi eleita prefeita de Yeruham, uma pequena e conservadora cidade no Neguev.

Parece incrível que em pleno século 21 as mulheres ainda estejam lutando por um lugar no espaço público. A boa notícia é que estão vencendo. ü

A SINAGOGA QUE OS ISRAELENSES NÃO FREQUENTAM

Aúltima Devarim trouxe uma entrevista com o rabino Gilad Kariv, CEO do Movimento Reformista em Israel, na qual ele analisava os resultados de uma pesquisa, encomendada por seu movimento, a respeito da afiliação religiosa dos judeus israelenses. A pesquisa identificou que 11% da população judia do país se define como pertencente às correntes liberais judaicas (Reformista e Conservadora).

Um ano depois uma pesquisa independente, conduzida pelo “The Jewish People Policy Institute”, estabelecido pela Agência Judaica, chegou a um número ligeiramente maior. Segundo a pesquisa, aproximadamente 800 mil judeus se consideram liberais, o que dá um percentual de 12% a 13% da população judaica do país.

Os números da pesquisa do JPPI convergem com a pesquisa do Movimento Reformista e com os números da pesquisa da organização não governamental Hiddush. Então, pode-se afirmar com segurança que, em Israel, como no restante do mundo, o judaísmo liberal conta com mais adeptos do que a ultraortodoxia.

E há uma outra conclusão feita por Dan Feferman, o organizador da pesquisa do JPPI, que chama a atenção. Ele afirma que a máxima jocosa usada até agora, “A sinagoga que o israelense não frequenta é ortodoxa”, parece estar mudando e que hoje em dia faz mais sentido dizer: “A sinagoga que o israelense não frequenta é liberal”.

Feferman contextualiza dizendo que anos atrás o israelense laico via o judaísmo ortodoxo como a única forma legítima de judaísmo. Então, quando ele sentia a necessidade de algum serviço religioso (brit milá, bar mitzvá,

Capa do relatório da pesquisa realizada pelo “The Jewish People Policy Institute”, estabelecido pela Agência Judaica.

casamento, funeral e outros) ia procurar a “sua” sinagoga ortodoxa, que ele não frequentava, mas usava nesses casos.

Hoje em dia essa atitude mudou significativamente. Um percentual expressivo de israelenses entende que a ortodoxia não é a única forma legítima de judaísmo e, mais que isso, que a ortodoxia é uma forma de judaísmo que agride o seu estilo de vida. Então, ele tem procurado mais e mais a sinagoga liberal – Reformista ou Conservadora – para os serviços religiosos que necessita.

Em consequência, é legítimo imaginar que, por ser a sinagoga liberal mais aderente à visão de mundo dos israelenses laicos, esta procura por serviços liberais acabe alimentando um círculo virtuoso de maior frequência nas atividades regulares e uma maior afiliação. ü

A LEI NACIONAL DA PALESTINA

Do alto de sua sabedoria quase talmúdica, Nelson Rodrigues decretou a frase “toda unanimidade é burra”. Ao mesmo tempo, a imprensa, dia sim, dia também, qualifica as mais variadas decisões e posturas do mundo como “polêmicas”, significando com isto que não há unanimidade sobre o assunto. Conclui-se, com precisão matemática, que tudo o que acontece no mundo ou é “polêmico” ou é “burro”.

A aprovação em julho pela Knesset (parlamento de Israel) da Lei do Estado Nação provocou milhares e milhares de manchetes pelo mundo todo, mais ou menos no estilo da que apareceu no G1 em 19 de julho: “Parlamento aprova lei polêmica sobre o estado de Israel”. Podemos concluir, então, que a nova lei não é burra?

Parece que sim, dizem indiretamente os palestinos. Pois não é que eles colocaram no artigo quarto de sua Lei Básica, aprovada pelo Conselho Legislativo da Palestina em 2002, que “O Islã é a religião oficial da Palestina. Os princípios da Sharia Islâmica serão a principal fonte de legislação. O árabe é o idioma oficial”? Ou seja, a Lei Básica da Palestina vai ainda mais longe que a de Israel ao definir o caráter árabe e islâmico de seu Estado (que ainda não existe, mas cuja existência já se faz sentir). A lei israelense dá um status especial ao árabe e não define que a lei religiosa judaica é a fonte principal da legislação.

Contudo, nada disso impediu manifestações mais contundentes do que a anódina constatação de que o assunto é polêmico. Israel é retratado por quase todo o mundo árabe (e por muitos no mundo) como sendo um Estado racista e que pratica o apartheid, quando na verdade o Estado de Israel é apenas um (e o único) Estado judaico e, portanto, é natural que se defina como tal.

Por que os palestinos podem declarar que o Islã é sua religião oficial (não obstante a minoria árabe cristã) enquanto que Israel é denunciado por procurar definir e manter seu caráter e identidade judaicas?

Será a resposta a esta pergunta “polêmica” ou simplesmente “burra”? ü

QUE DIFERENÇA FAZ UM ANO!

Há um ano o judoca israelense Tal Flicker ganhou uma medalha de ouro no torneio Grand Slam de Abu Dhabi. Ao subir ao pódio foi hasteada a bandeira da Federação Internacional de Judô e o hino tocado também foi o desta federação. Israel e os Emirados Árabes Unidos não mantinham, então, relações diplomáticas.

Exatos 12 meses depois outro judoca israelense, Sagi Muki, ganhou uma medalha de ouro no mesmo torneio, no mesmo local. Desta vez foi hasteada a bandeira de Israel e o hino tocado, sob intensa emoção do judoca e as lágrimas da ministra israelense de Esportes e Cultura, foi o Hatikva.

Foi a primeira vez que a bandeira e o hino de Israel apareceram numa cerimônia oficial dos Emirados Árabes Unidos. Os dois países continuam a não manter relações diplomáticas.

Este par de acontecimentos traz à cabeça a canção “What a Diff’rence a Day Made”, composta em 1934 por Stanley Adams e imortalizada pela voz de Dinah Washington:

What a difference a day made

Twenty-four little hours

Brought the sun and the flowers

Where there used to be rain

A versão 2018 da canção pode ser parodiada assim:

What a difference a year made

Twelve little months

Brought the sun and the funs

Where there used to be Iran

A paródia é uma autêntica manifestação da realpolitik que governa as relações internacionais. ü

REGISTRANDO A MEMÓRIA

Jacques Fux é um escritor mineiro, com diversos livros publicados, entre ele Meshugá, que foi resenhado por Devarim há um ano. Ele também já colaborou com Devarim em 2011 com um delicioso texto sobre cinema. Após a publicação de seu último livro, Nobel, ele resolveu se lançar numa nova empreitada: a de escrever de forma profissional e talentosa, como ghostwriter, as histórias das vidas de nossas famílias. As sagas dos imigrantes e dos sobreviventes, as infâncias, os amores e as saudades. Enfim, tudo o que queremos deixar registrado para as próximas gerações.

Somos o povo do livro, então nada mais apropriado que termos um registro em forma de livro das nossas memórias. Quem tiver interesse em contatar o Jacques, pode fazê-lo pelo mail

jacfux@gmail.com. ü

Melnikoff/istockphoto.com

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