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Plano B
Baseado na prédica de Iom Kipur 5779
Iom Kipur existe para celebrar a oportunidade de renascer; é a chance que tenho de errar e me “autorizar” a fazer diferente mudando o rumo da minha vida, e eventualmente fracassar na tentativa. E não tem problema. Vou ter seguramente uma segunda chance.
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Rabino Dario E. Bialer
Uma antiga anedota conta que dois homens estavam em uma estação de trem na Polônia, e pela forma como estavam vestidos, talvez pelo chapéu, deixava claro a ambos que o outro era judeu.
Sentados a poucos metros de distância, eles se entreolhavam em silêncio esperando para ver qual dos dois abriria o jogo e começaria a conversa. Afinal de contas, dois judeus que viajariam no mesmo trem certamente teriam muito do que conversar. Não tardaria para descobrirem conhecidos em comum e passariam a viagem tricotando.
Mas nenhum dos dois falava nada.
De repente, um deles toma coragem, se aproxima e diz ao outro: “Desculpe, poderia me dizer a hora?” Diante da pergunta, o outro responde mandando-o ao diabo (ou provavelmente dizendo em bom ídiche ‘kish mir in tuches’).
Surpreendido pela reação, o primeiro lhe pergunta:
“Escuta aqui ... por que você reagiu assim, se eu apenas te perguntei as horas?’
“Simples. Eu me dei conta há algum tempo de que você era judeu. Você me fez uma pergunta. Se eu te respondesse, iniciaríamos uma conversa. Descobriríamos que temos amigos em comum. Eu perguntaria a sua idade e você me responderia que tem em torno de 55 anos, o que me leva à dedução de que você tem um filho com idade de casar-se.
Você me perguntaria a respeito da minha família e eu lhe diria que tenho uma filha. Você me diria que está indo para a minha cidade a negócios e que não conhece ninguém ali. Eu o convidaria à minha casa para o shabat, afinal, como poderia deixá-lo passar um shabat sozinho!
E então você conheceria a minha filha e pensaria que, talvez, o seu filho e a minha filha poderiam formar um bom shidach. E ali, a ponto de terminar o jantar de shabat, você me proporia irmos ao shadchan para acertar o casamento entre o seu filho e a minha filha.
Então você me perguntou a hora, e eu Todas as mudanças tábuas de pedra, a lei e os mandamentos”. falei comigo mesmo: seria eu capaz de casar a minha filha com o filho de um homem que sequer tem dinheiro para comprar vitais geram uma crise, um desequilíbrio Mas, quando o povo começou a adorar o bezerro de ouro, Moshê tomou as tábuas que acabava de receber, as tábuas feitas e um relógio?” que desestrutura até escritas por Deus, o objeto mais sagrado
Planos, e mais planos. Tal qual jogaalcançar uma nova que jamais existiu na terra … e não hesidor de xadrez, que tem o tabuleiro na caordem, não desde tou em jogá-las no chão e quebrá-las! beça e antecipa cada jogada, assim nós passamos a vida, fazendo planos. Hoje estamos aqui, cientes que boa a resignação, mas desde a habilidade de O plano original de Deus era: Saída do Egito, entrega da Torá e chegada a Israel, tudo em um ou dois anos, no máxiparte do nosso plano A não saiu como esaprender e de crescer. mo. Um plano perfeito. Uma linha reta. perávamos. Mas toda a ideia de Iom KiE de sermos felizes, Estudar uma carreira, casar-se com pur é que podemos começar de novo e que há um poder reparador em darmos vivendo esse plano B! um judeu, ter filhos, ser bem-sucedido, família grande e final feliz… Mas a vida segundas oportunidades a nós mesmos e imaginar novos não é um mar de rosas para ninguém, as coisas não saem planos para nossa vida. conforme o planejado. E, então, temos que fazer como um
Como disse Bob Dylan: “He not busy being born is busy GPS: recalcular. dying” (aquele que não está se esforçando para nascer [a reE não é que isso seja tão fácil. O próprio Deus teve dinovar sua vida em todos os instantes], está morrendo [um ficuldades em fazer isso. Quando ele viu o povo dançanpouco a cada dia]). do em volta do bezerro, Ele pensou: Chega! Vou destruir
Iom Kipur existe para celebrar a oportunidade de reesse povo e farei de Moshê o patriarca de uma nova nação. nascer; é a chance que tenho de errar e me “autorizar” a faNada de Plano B com este pessoal. Acabou! zer diferente mudando o rumo da minha vida, e eventualMas nem por um instante Moshê considerou essa opmente fracassar na tentativa. E não tem problema. Vou ter ção. Ao contrário, ele pressionou a Deus, estabelecendo seguramente uma segunda chance. um ultimato: “Ou Você perdoa as transgressões do povo
Tem um midrash que se pergunta o que é um tsadik (o e lhes dá uma nova oportunidade, ou então apaga o meu justo, a pessoa exemplar) na tradição judaica. E o midrash nome do livro que Você escreveu – apaga meu nome da responde: O tsadik é aquele que cai e se levanta sete vezes. Torá!” (Êxodo 32:32) Mas o que faz dele um tsadik não é a fortaleza de se levanAssim, as segundas tábuas trazidas por Moshê simbotar sete vezes, senão se dar a possibilidade de cair sete velizam as segundas oportunidades na vida, que muitas vezes e não desistir. Não sucumbir aos medos. zes não vêm fácil; exigem muita persistência, muito esfor
Sabem quando alguém é capaz de fazer isso? Quando ço. Pois, se as primeiras tábuas eram obra de Deus, essas tem atrás de si uma comunidade que o segura. Uma fasegundas foram escritas por Moshê. O plano B demanda mília, que lhe dá apoio quando a vida desanda. A verdamais energia, sair da zona de conforto, mas também são de é que ninguém tem nada garantido, e que viver pode de nossa autoria, se estabelece uma intimidade, uma aproaté ser às vezes muito difícil, mas nem de longe é tão difípriação que o faz, muitas vezes, mais significativo do que cil quanto passar a vida fugindo da vida. O plano B, neso projeto original. se sentido, muitas vezes é mais autêntico, tem muito mais Mas é bom lembrar que umas e outras, as quebradas e a ver conosco do que o plano A. as restauradas, foram carregadas juntas durante os 40 anos
O próprio dia de Iom Kipur, o dia mais sagrado do capelo deserto, simbolizando que, mesmo vivendo agora o lendário hebraico, é um plano B. Nesse dia, 10 do mês de plano B, não significa que abandonamos a nossa história. Tishrei, Moshê desce do Monte Sinai com as segundas táQue o quebrado e o renovado são momentos de nossas vibuas da lei. O plano A de Deus era completamente difedas e constituem quem somos. rente. No livro do Êxodo, Ele chama a Moshê e diz: “Sobe Dessa forma, o ser humano se apresenta perante Deus agora ao Monte Sinai, e esteja ali, para que Eu te entregue as em Iom Kipur. Sabendo que as mudanças que almejamos
não serão resolvidas por Deus, mas talvez que, perante Ele, possamos elaborar o que gostaríamos que nossa vida fosse e, a partir dali, trabalhar um plano B.
Poder ter opções B, C, D é um privilégio. Por outro lado, nem sempre tudo está em nossas mãos. Muitas vezes a realidade se nos apresenta inapelável e inobjetável, e, quando isso acontece, compreendemos que não temos controle sobre tudo.
Sheryl Sandberg publicou recentemente o livro Option B (“Plano B”, na tradução do título ao português). Esse livro, que chegou a ser o número 1 em vendas nos EUA, e que com certeza sua autora teria preferido nunca ter precisado escrevê-lo, conta a história de como Sheryl perdeu trágica e inesperadamente seu marido, Dave Goldberg. Estavam viajando pelo Caribe com um grupo de amigos, celebrando seus 50 anos. Enquanto a turma bebia na piscina, Dave foi treinar na academia e nunca mais regressou. Sheryl encontrou o marido no chão da academia, já sem vida. Ao retornar à casa precisou dar a notícia aos filhos de que o pai deles tinha morrido e, a partir daí, foi muitas vezes engolida pela névoa profunda do luto – descrito por ela como um vazio que enche seu coração, seus pulmões, reduz sua habilidade de pensar e mesmo de respirar. E quando sentiu que pior do que isso não podia ficar, lembrou de uma música da infância: “Ossê shalom bimromav...” e assim
a melodia que fala da paz e que também encerra a oração do Kadish foi como um mantra que a acompanhou durante todo o processo do luto.
A morte e todas as perdas traumáticas nos mudam de maneiras muito profundas e diversas. E a questão não é se algumas dessas coisas acontecerão conosco, pois elas irão. Enfrentaremos perdas – Deus queira que sejam menos dramáticas – e sofrimentos que acreditamos não estar preparados. A pergunta é: o que fazer depois que acontecerem? O que vocês podem fazer para superar a adversidade? Algumas semanas depois que Dave morreu, Sheryl conversava com um amigo sobre uma atividade de pais e filhos da escola, e planejavam uma forma de substituir o pai, mas Sheryl conta que começou a chorar dizendo “eu não quero um plano B, eu quero o Dave”. O amigo a abraçou e disse: “O plano A não está mais disponível. Então que vamos simplesmente ‘detonar’ com o plano B”. Assim surgiu o título do livro.
Dessa forma o ser humano é lançado à vida. Muitas vezes sem paraquedas e sem imaginar que existe chance de que o plano A dê errado. Logo com ela, uma superexecutiva, atleta, filhos lindos e saudáveis. O drama da Sheryl é o drama existencial que os Iamim Noraim apresentam com toda sua intensidade. Vida, morte; determinismo divino e livre arbítrio humano.
O plano B é a vida confrontada com os obstáculos. É a vida inserida no tempo que não pode ser antecipado, previsto ou mesmo evitado. Franz Rosenzweig fala de uma realidade efetiva. Não a fantasia do judeu na estação de trem, imaginando o que o outro diria, mas uma realidade efetiva que está diante de seus olhos, que lhe condiciona, mas que também impulsiona o seu plano B.
Todas as mudanças vitais geram uma crise, um desequilíbrio que desestrutura até alcançar uma nova ordem, não desde a resignação, mas desde a habilidade de aprender e de crescer. E de sermos felizes, vivendo esse plano B!
Imagine como seria a existência do ser humano sem nenhum outro plano, sem nenhuma outra opção! A ideia de uma existência que não permita planos B é devastadora. Seria terrível conviver com a sensação de que não existe nenhum outro caminho possível depois de entender que seu emprego não é tão bom como parecia; de embarcar numa carreira que você posteriormente descobre não ser a que gosta; de casar-se com uma pessoa que depois você percebe que não lhe preenche mais?
Você vai ficar numa prisão pelo resto da vida, ou neste ano terá a coragem de inscrever o seu nome no livro do plano B? Porque algumas coisas realmente não podemos escolher. Não escolhemos respirar. Respiramos. Não escolhemos envelhecer. Envelhecemos. Não escolhemos morrer ou nascer. Morremos, nascemos e vivemos. Em certos aspectos, somos predeterminados.
Mas Iom Kipur nos diz que grande parte da nossa vida é feita de escolhas sim! E que as decisões e o curso que toma nossa vida – a partir das ações que tomamos – são as letras com que escrevemos nossa história pessoal, expressamos os valores nos quais acreditamos e, no fim das contas, construímos nossa identidade. Ela será fruto do que fazemos com nossa liberdade, E responderemos por isso. Enquanto dura nossa vida, somos seres em construção. Ninguém é. Estamos sendo.
Como disse Viktor Frankl no livro Em busca de sentido: “Ser humano significa decidir o que fazer de você, e assumir a responsabilidade”. Estamos em permanente construção.
Penso que Israel é uma belíssima história de muitos planos B que se entrelaçam. Em primeiro lugar, o Sionismo, que possibilitou termos um Estado, foi o plano B dos judeus que queriam ser europeus. Eles queriam tanto se integrar à vida na Europa após a Emancipação que até enxergavam a Alemanha como atchalá de gueula, como o início da redenção, até que o Caso Dreyfuss deixou evidente que a emancipação não resolveria a questão do antissemitismo, e precisariam urgentemente de um plano B.
O plano A do Estado de Israel era viver em paz com os seus vizinhos, mas isso até agora não deu certo. Portanto, foi necessário adotar um plano B –criar o melhor exército possível. Não que nós, judeus, tivéssemos muita experiência no campo militar, mas não tivemos escolha. Esse exército deu muito certo! De lá saem jovens acostumados a tomar rapidamente decisões muito difíceis, futuros empreendedores com alto conhecimento de engenharia, tá

tica e estratégia. Isto faz deles executivos Imagine como seria um tempo, junto com sua família, emido mais alto nível, o que explica o incrível sucesso das startups israelenses no mundo; sucesso que se mede não só em númea existência do ser humano sem nenhum grou aos EUA. Lá formou-se como rabino conservador e teve três filhos. Um deles estudou em Harvard e posteriorros mas em qualidade de vida. outro plano, sem mente se tornou CEO da SodaStream,
Paraplégicos que têm a possibilidade nenhuma outra opção! A que sob sua liderança cresceu tanto que de voltar a ficar de pé, andar e subir escaideia de uma existência recentemente foi comprada pela Pepdas através do dispositivo de ReWalk; ou, ainda, as pessoas com deficiência visual, que podem ter uma vida autônoma com que não permita planos B é devastadora. si por 3,2 bilhões de dólares. A SodaStream funcionava num parque industrial em Jerusalém Oriental e dava emprego o auxílio de óculos que descrevem quala mais de 500 famílias palestinas, mas, quer objeto ou texto que tenham na sua frente. Israel despara evitar o boicote do BDS, foram forçados a trasladar saliniza água do mar e a torna potável, e há muitos anos a fábrica para perto de Beer Sheva e os empregados palescriou a tecnologia de gotejamento visando a irrigação exatinos tiveram que ser substituídos. ta que cada planta precisa. Todos esses são só alguns de O BDS é o plano B dos que não conseguiram destruir tantos exemplos de empresas israelenses que dão soluções Israel pela guerra, mas cada vez que uma companhia isconcretas para pessoas que não podem ver, não podem anraelense é boicotada, quem perde o emprego são as famídar, não têm energia elétrica, comida ou água suficiente, e lias palestinas, pois quem dá trabalho para elas é Israel, não isso tudo é feito num país minúsculo e de recursos natua corrupta Autoridade Palestina, a Jordânia, ou o Líbarais bem limitados. no. Então, cada vez que o BDS demoniza Israel, está con
Tem uma piada antiga que diz que se Moshê, depois denando a que a situação na região piore. Ou seja, nem dos 40 anos no deserto, tivesse virado à direita, em vez de todo plano B é bom. Ele só é válido se tiver um propósivirar à esquerda, teríamos ficado com o petróleo e os outo construtivo. tros teriam que lidar com a árida paisagem da Judéia e do Quanto mais complexas se tornam as questões do Negev! Mas seguramente Moisés sabia o que estava famundo, mais as pessoas anseiam por respostas simples. zendo. Talvez justamente por não termos petróleo – nem Os fanáticos, da extrema-direita e da extrema-esquerda, nada parecido – e ainda com nossa sobrevivência fortetodos eles oferecem fórmulas muito simples. Eles sempre mente ameaçada, tivemos que desafiar nossos limites. Ennos dizem quem são os caras do mal e que precisamos nos trar de cabeça, com esforço, com criatividade, investindo livrar deles para que se abram os portões do paraíso. em educação, para realmente “detonar” com um plano B. Em algum ponto precisamos escolher em que mundo Pois, se alguma coisa Israel nunca teve, é zona de conforqueremos viver. A liderança palestina deve aceitar que Isto. Até agora foi só zona de conflito. rael não vai sair de onde está, e que o fato de Israel ser um
Mas esse espírito de superação fez com que a promessa país de vanguarda é muito bom para eles também.Torço bíblica de Deus, de uma terra próspera e abençoada, papara que saibam caminhar para um plano B (talvez, neste reça pequena do lado do que Israel foi capaz de realizar! caso, seja mais correto dizer um plano C) que lhes possi
Dito isso tudo, é incrível que essas companhias, que esbilite construir um Estado próspero, pois atacar Israel não tão ajudando tanto a humanidade a ter melhor qualidade vai resolver nada para eles. de vida, especialmente aos mais desfavorecidos, sejamalvo Há dois povos que merecem viver em paz. Dois irmãos do BDS, o movimento que, de forma completamente irraque querem parar o derramamento de sangue. A União cional, fomenta o boicote a Israel e esses empreendimenEuropeia tem que entender que continuar culpando Istos, coisa que só pode se entender desde a lógica do ódio. rael por tudo significa continuar postergando a solução.
Veja o seguinte exemplo: E que os bilhões de euros que enviam à Palestina, são em
Ervin Birnbaum nasceu na Hungria e de milagre sosua grande maioria desviados pela corrupção e usados para breviveu à Shoá. Foi uns dos poucos que conseguiu emo terrorismo. barcar no barco Êxodus, e chegou à Palestina. Depois de É imperativo um plano B para o Oriente Médio. Mes

mo que ele talvez não seja perfeito; mas precisamos de uma narrativa que não seja mais entre vítimas e algozes, e, sim, de dois irmãos que querem viver em paz, e que eventualmente vão brigar dentro de casa, mas como irmãos, sem impulsos de destruição um do outro.
Já tivemos suficiente de Caim e Abel. De um matando e odiando o outro. É imprescindível uma terceira via. Lembremos o relato bíblico: Adão e Eva tiveram dois filhos... e Caim acabou matando Abel. Não sabemos exatamente por que o mata. Um midrash fala que foi por ciúmes. Outro midrash diz que estavam brigando por uma mulher, e um terceiro, que discutiam pelo amor da mãe.
O desfecho é que Caim o mata, e o que acontece depois? Caim é sentenciado com a maldição de ser errante por toda a terra. E depois? O que acontece com os pais quando voltam para casa e não têm mais filhos?! Como continua a vida deles? Alguém sabe? Um plano B para um drama desses com certeza não tinham.
Escutem o que diz a Torah: “VaiedáAdam od et Chava, ishtó”. Adão fez amor com sua mulher novamente, e tiveram outro filho que chamaram Seth. É interessante que a gente não é descendente nem da vítima, Abel, nem do perpetrador, Caim, mas de Seth. E o mais especial que tem essa história é Adão amar a Eva, od, de novo. Porque amar pela primeira vez é fácil. A sua libido faz isso. Suas endorfinas fazem isso. Mas amar, sofrer perdas e ser capaz de amar de novo, isso requer coragem e persistência 1 .
Adam e Chava conseguiram voltar a amar após a tragédia. Isso é absolutamente transformador. Serem capazes de superar o rancor, a desconfiança, as mágoas, a dor. Assim se dá a passagem entre o plano A e o plano B, com um tempo vital entre os dois, que é o tempo necessário para o amadurecimento, e fundamentalmente é o tempo da pergunta. A pergunta que nos convoca nos Iamim Noraim:
Se esse plano, esse que é a minha vida hoje, esse que estou prestes a assinar, é ainda o plano certo para mim? Ainda é o meu projeto? Ainda me identifica? Ainda me comove? Quando nascemos não nos foi dada uma vida. Nos foi dada a possibilidade de viver.
E quando em Iom Kipur nos desejamos chatimá tová, uma boa assinatura, primeiro devemos saber em que livro queremos ser inscritos nesse ano.
Se no livro do plano A ou no livro do plano B? E depois – ensinava o Rav Kuk, mestre do mussar – não esperar a que Deus assine! Deus até que pode assinar ao lado, mas a primeira assinatura tem que ser a nossa!
Quando eu assinar o livro da minha vida, Deus vai confiar na minha intuição e assinará junto. Mas quem assina a nossa vida no primeiro lugar somos nós, e é sobre isso que rendemos contas em Iom Kipur.
Não tanto pelos erros e coisas ruins que fizemos, mas fundamentalmente – o Talmud Ierushalmi nos ensina – se trata de pensar: o que era para ser parte da minha vida e não foi?, o que era para ser vivenciado e não dei esse passo adiante?
Rabí Chizkia ensina, no tratado de kidushin, que é o tratado do sagrado: “Que o ser humano deverá render contas quando partir desse mundo por tudo o que viu e não comeu”. Render contas pelas oportunidades que deixamos passar e pelos planos B que não tivemos a coragem de assumir.
Notas
1 Inspirado num ensinamento do Rabino Mario Rojzman, da sinagoga Beth Torah, Aventura, Miami.
Dario E. Bialer é rabino e serve na ARI-Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro.
