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Rabino Uri Lam
DOMIM SEMELHANTES
O Projeto Domim se propõe, basicamente, a criar laços, a conectar comunidades em Israel a comunidades no resto do mundo interessadas em construir, renovar e fortalecer suas relações e incentivar constantemente o aprofundamento destas relações.
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Rabino Uri Lam
Lançado em 2015 pelo Movimento Judaico Reformista em Israel em cooperação com o Governo de Israel, por meio do seu Ministério das Diásporas, o Projeto Domim (Semelhantes) foi delineado para fortalecer os laços entre as comunidades reformistas, liberais e progressistas em Israel e no mundo, criando uma rede de “comunidades parceiras”. Ao mesmo tempo, o Projeto Domim busca fortalecer a conexão de judeus liberais, reformistas e progressistas ao redor do mundo com o Estado de Israel e aproximá-los de israelenses que compartilhem de sua visão de mundo, práticas e costumes.
Qual a natureza da parceria com o Governo de Israel?
Em 2015, o Movimento Reformista de Israel assinou um contrato de cooperação com o Governo de Israel – o Ministério das Diásporas – para fortalecer os laços entre comunidades progressistas, reformistas e liberais em Israel e no exterior, bem como fortalecer os laços entre judaísmo liberal em todo o mundo e o Estado de Israel.
Atualmente, o projeto inclui 37 congregações reformistas de Israel e 120 comunidades reformistas e liberais fora de Israel, de modo que cada comunidade israelense esteja em contato com três a quatro diferentes comunidades ao redor do mundo. Embora se tenha a percepção de que a maior relação seja entre Israel e Estados Unidos, segundo os idealizadores do Domim pelo menos um terço das comunidades da Diáspora que fazem parte do projeto estão fora da América do Norte.
A parceria inicial baseia-se em vários parâmetros, como o conhecimento prévio entre os líderes das comunidades e/ou seus membros, questões de inte-
resse comum para as comunidades e outras conexões existentes em vários âmbitos, como por exemplo o idioma.
Com o Projeto Domim, cada uma de nossas comunidades pode se transformar em mais um elo na cadeia de gerações que unem judeus no mundo inteiro, servindo de ponte, no presente, entre o passado e o futuro do povo judeu, onde quer que estejamos. Conheci o projeto no início de 2016, em uma palestra do rabino Nir Barkin na sinagoga do Hebrew Union College, em Jerusalém. Nir era então o primeiro diretor do recém-criado Departamento Israel-Diáspora do Movimento Reformista de Israel e liderava o Projeto Domim.
Eu já conhecia o rabino Barkin da Congregação Yozmá, em Modiín, e dos anos em que estudei no Programa Israelense de Formação Rabínica do HUC, e sempre o admirei pela capacidade de empreendedorismo e amor ao povo de Israel. Nir liderou o Domim por dois anos, sendo sucedido por Smadar Bilik, também ela extremamente talentosa e dedicada. Smadar era educadora e coordenadora de estudos judaicos da Escola Yozmá, de Modiín, além de ter sido chazanit (cantora litúrgica) em diversas comunidades reformistas de Israel.
Rapidamente me entusiasmei pela ideia e, desde então, busco conectar minha comunidade, a Congregação Israelita Mineira, com congregações e rabinos parceiros em Israel, entre eles a rabina Ariela Graetz, da Comunidade Emet veShalom, em Naharia. A Emet veShalom tem muitos membros de origem latino-americana, principalmente argentinos. Em parceria com o rabino Or Zohar, rabino reformista na cidade de Kiriát Tivon e em Hararit, no Galil, fiz a ponte para que ele participasse do Fórum Mundial da Paz em Amã, na Jordânia, em setembro de 2017. Em 2016 tive a honra de representar a comunidade judaica nesse Fórum em Florianópolis, com o apoio da WUPJ-Amlat, da AIC (Associação Israelita Catarinense) e da Conib (Confederação Israelita do Brasil). Em virtude dos contatos do Projeto Domim, o rabino Or Zohar foi o primeiro rabino israelense a participar do Fórum Mundial da Paz. Estes são somente alguns exemplos do que é possível realizar ao aproximarmos comunidades judaicas reformistas de Israel com comunidades na Diáspora. O projeto inclui Fortalecendo os laços 37 congregações reformistas de Israel O Projeto Domim se propõe, basicamente, a criar laços, a conectar comunie 120 comunidades dades em Israel a comunidades no resto reformistas e liberais do mundo interessadas em construir, refora de Israel, de modo novar e fortalecer suas relações e incenque cada comunidade tivar constantemente o aprofundamento destas relações. Como isso pode ser feito?israelense esteja Os organizadores do Domim estão em contato com três convictos de que os encontros pessoais a quatro diferentes são essenciais para o sucesso do projecomunidades ao to. Para isso, dentro do possível, são firedor do mundo. nanciadas viagens de rabinos e rabinas israelenses às suas congregações parceiras fora de Israel. Quando consultei sobre a possibilidade destas viagens chegarem ao Brasil, a resposta é que o orçamento atual infelizmente não permite que isso ocorra por enquanto – mas há esta expectativa para o futuro, o que também depende, a meu ver, do grau de comprometimento e de envolvimento de nossas comunidades com o projeto. Por outro lado, levando-se em conta a tecnologia a nosso favor, há uma enorme possibilidade de atividades on-line e de reuniões virtuais, em diferentes idiomas. Para isso, faz parte da estratégia construir-se uma base de dados de pessoas – não necessariamente rabinos e rabinas – que falam diferentes idiomas nas congregações israelenses. Estes serão a ponte para a realização dessas atividades com as comunidades fora de Israel. Além disso, estão sendo organizadas conferências internacionais nas quais os líderes e membros das comunidades de Israel se encontrem com seus parceiros, em Israel ou em outra parte do mundo. Também avança o desenvolvimento de material educativo utilizado para estudos conjuntos, de modo a conectar as comunidades reformistas em Israel das comunidades reformistas ao redor do mundo. Portanto, o Projeto Domim se vê como o endereço para todos os assuntos relacionados às relações entre Israel e a Diáspora no Movimento Reformista de Israel, além de promover vários projetos em cooperação com outras organizações como a WUPJ (União Mundial pelo Judaísmo Progressista), URJ (União pelo Judaísmo Reformista), CCAR (Conferência Central dos Rabinos Americanos), ARZA (Associação Sionista Reformista da Améri-
AlexRaths/istockphoto.com
ca), ARZENU (Federação Internacional Sionista Religiosa Reformista e Progressista), WZO (Organização Sionista Mundial), etc.
O Dia da Diáspora e de Israel – 7 de Cheshvan
Como espécie de carro-chefe do Projeto Domim, este dia se propõe a ser um marco festivo no calendário judaico, para celebrar as relações entre judeus que vivem em Israel e judeus que vivem na Diáspora. Um dia no qual possamos compartilhar milhares de anos de diversidade judaica, em Israel e ao redor do mundo.
A data escolhida foi 7 de Cheshvan – normalmente por volta de outubro, 15 dias depois de Sucot. Por que este dia foi escolhido? Havia uma discussão a respeito:
“No terceiro dia do mês de Mar-Cheshvan devem ser recitadas as orações pelas chuvas. [Mas] de acordo com Raban Gamliel, as orações começam no sétimo dia do mês, ou seja, 15 dias depois do Festival de Sucot, a fim de permitir que os últimos israelitas possam ter cruzado o Rio Eufrates [na volta para casa].” (Mishná, Taanit 1:3)
A data escolhida demonstra o respeito compartilhado entre judeus que viviam em Israel e na Diáspora: enquanto o propósito dos judeus da diáspora era ir a Israel rezar pelas chuvas, mesmo sem viver lá, o propósito dos judeus de Israel, ao atrasar o feriado em alguns dias, era permitir que os peregrinos pudessem voltar para casa em segurança, sem serem pegos pelas chuvas. A ideia de cooperação e de boa vontade de ambos os lados foi central na escolha de 7 de Cheshvan como o Dia da Diáspora e de Israel. Assim como na época da Mishná havia respeito mútuo entre as comunidades localizadas na Terra de Israel e na Diáspora, do mesmo modo, ao criar o Dia da Diáspora e de Israel em 7 de Cheshvan, o Movimento Reformista de Israel sinaliza a importância das comunidades judaicas não apenas em Israel, mas no mundo inteiro, para a construção da vida judaica e a continuidade do povo judeu em condições de igualdade. Tal posição contrasta tanto com a visão reformista anterior à Segunda Guerra Mundial, que não necessariamente assumia uma postura sionista por entender que era possível viver como judeu em todo lugar onde houvesse comunidade judaica, não necessariamente no Estado de Israel – quanto com algumas visões sionistas até hoje, segundo as quais a única chance de sobrevivência do povo judeu está no fato de todo o povo judeu viver no Estado de Israel. O Dia da Diáspora e de Israel, como centro
do Projeto Domim, enfatiza tanto o caráter sionista quanto o caráter universal do Movimento Reformista, que reconhece a importância do intercâmbio cultural e religioso entre os dois eixos – Israel e Diáspora.
O Calendário Domim
Engana-se, porém, quem imagina que o Projeto Domim se resume a um dia por ano. Ao contrário: o conceito é que, a partir desta nova conexão, construa-se todo um calendário de atividades intercomunitárias. Para citar apenas um exemplo, eis algumas ideias para o período entre Rosh Hashaná e Yom Kipur:
Calendário Comunitário de Rosh Hashaná: envie fotos de sua comunidade celebrando as diversas festividades do ano anterior para um calendário que será construído em parceria com a sua comunidade-irmã em Israel, que também enviará fotos tiradas em eventos semelhantes.
Cartões de Rosh Hashaná: envie para suas comunidades-irmãs cartões de Shaná Tová preparados por membros ou filhos de membros da sua congregação.
Prepare um Livreto Memorial de Yom Kipur: pode ser preparado com fotografias e histórias de membros das comunidades parceiras que faleceram ao longo do ano. Cada comunidade mencionará os nomes dos membros falecidos da outra comunidade durante suas orações de Yizkor. Outras ideias podem ser compartilhadas pelas comunidades para feriados ao longo de todo o ano.
O que é necessário para ser parte do Projeto Domim? Como deve ser a conexão entre as Comunidades Semelhantes?
A gama de possibilidades é muito ampla. Mas vamos citar outros exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas em conjunto: • Visitas mútuas de delegações e líderes comunitários e rabinos/rabinas. • Participação de morim e morot, de rabinos e rabinas nos cursos de ambas as comunidades, por meio de videoconferência. • Organização de um Beit Midrash conjunto, unido por um mesmo material compartilhado e aulas por videoconferência. • Os rabinos das duas comunidades podem liderar um serviço de Kabalat Shabat ao mesmo tempo, em contato via internet. • Desenvolver um projeto musical que exponha a comunidade judaica fora de Israel à música litúrgica israelense – e vice-versa. • As comunidades acenderem juntas as velas de um dos dias de Chanucá através de videoconferência.

Não há padrões uniformes para que as parcerias sejam criadas. Cada parceria intercomunitária construirá uma agenda para fortalecer e aprofundar os laços de acordo com áreas comuns de interesse, públicos-alvo, etc. Para esse fim, serão compartilhados recursos já existentes ou, de acordo com a necessidade, serão desenvolvidos recursos adicionais.
No entanto, embora a organização do Projeto Domim não procure criar o mesmo conteúdo que as comunidades parceiras, existe a preocupação de garantir que os relacionamentos sejam contínuos e que ocorram regularmente: pelo menos uma vez por mês entre a liderança das comunidades e pelo menos uma vez a cada dois meses entre os membros das comunidades. A participação no Projeto Domim é voluntária e gratuita.
Uri Lam é rabino, paulista, recebeu sua ordenação no Programa Israelense de Formação Rabínica do Hebrew Union College, em Jerusalém. É rabino da Congregação Israelita Mineira, em Belo Horizonte.
Agradecimento a Smadar Bilik, atual coordenadora do Projeto Domim, por disponibilizar todas as informações necessárias.
Fonte: https://www.Domim-reform.org.il
