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Arnaldo Niskier

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Gad Freudenthal

Gad Freudenthal

AUSCHWITZ NÃO MORREU

Sobreviventes, de idade avançada, visitaram Auschwitz com declarações dramáticas, como a de Roman Kent: “Não queremos que o nosso passado seja o futuro de nossos filhos.” Foi um pretexto para evocar o recrudescimento do preconceito contra a população judaica do mundo, como se viu em Paris, com as ações de grupos terroristas islâmicos.

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Arnaldo Niskier

Anegativa da existência do Holocausto é uma abominação e uma ameaça potencial para o mundo inteiro. Grupos racistas de neonazistas e grupos antissemitas tentam negar que o Holocausto tivesse alguma vez existido, ou afirmam que a escala foi muito menor. Existem algumas causas para esse “revisionismo”, especialmente políticas e antissemitas. Alguns desejam limpar o nazismo de sua injúria maior; outros acreditam que o Estado de Israel foi estabelecido para compensar os judeus pelo Holocausto, e ao negar aquela barbárie estão procurando destituir Israel de seu direito de existir. Este é o motivo pelo qual os que negam o Holocausto têm muito mais suporte nos países árabes.

Infelizmente o Holocausto existiu, e não são poucos os testemunhos documentais e pessoais que o atestam. O povo judeu decidiu impedir que seja esquecido, para que, com sua lembrança, fique assegurado que o mundo não permitirá jamais que torne a acontecer com os judeus ou com qualquer outro povo ou grupo na Terra.

Foram muitas as perseguições vividas pelo povo de Moisés, mas nenhuma teve o impacto do que ocorreu no Holocausto.

“Holocausto” é uma palavra de origem grega que significa “sacrifício pelo fogo”. O termo tem origens remotas rituais religiosos da Antiguidade, em que plantas e animais (e até mesmo seres humanos) eram oferecidos às divindades, sendo completamente queimados. A partir do século XIX a palavra holocaus-

to passou a designar grandes catástrofes e massacres, até que, após a Segunda Guerra Mundial, o termo Holocausto (com inicial maiúscula) foi utilizado especificamente para se referir ao extermínio de seis milhões de judeus pelo então regime nazista.

Os nazistas, que chegaram ao poder na Alemanha em janeiro de 1933, acreditavam que os alemães eram “racialmente superiores” e que os judeus eram “inferiores”, sendo uma ameaça à autointitulada comunidade racial alemã.

Sempre é bom recordar o que o campo de concentração de Auschwitz, no sul da Polônia, representou para a humanidade. Libertado do jugo nazista por tropas soviéticas, há 70 anos, foi conservado no formato original para que jamais se esquecesse o que representou em termos de barbárie. Mais de 1 milhão de judeus foram assassinados em suas instalações. Quando as tropas aliadas entraram na Polônia, em 1945, ainda existiam 7 mil judeus no campo de concentração. Os nazistas, sentindo aproximar-se a derrota, deslocaram cerca de 60 mil prisioneiros para outros campos, tentando disfarçar o horror das suas práticas, cinicamente protegidas pelo portão em que se lia a frase “Arbeit macht frei”, ou seja, “o trabalho liberta”. Era uma espécie de selo de extermínio em massa.

Líderes mundiais estiveram na cerimônia recentemente realizada no campo de Auschwitz-Birkenau, onde depositaram flores no chamado “muro da morte”, ao lado das terríveis câmaras de gás, onde milhares de pessoas foram assassinadas.

Sobreviventes, de idade avançada, estiveram no local, com declarações dramáticas, como a de Roman Kent: “Não queremos que o nosso passado seja o futuro de nossos filhos.” Foi um pretexto para evocar o recrudescimento do preconceito contra a população judaica do mundo, como se viu em Paris, com as ações de grupos terroristas islâmicos. Custa a crer que, em nações de formação democrática, ainda na Europa de belas tradições culturais, seja arriscado andar de quipá nas ruas, por medo de atentados. O sentimento antissemita é na verdade repugnante.

A II Guerra Mundial custou a vida de 6 milhões de judeus e outros 14 milhões de religiões diversas. Foi um crime sem precedentes. O presidente Barack Obama pediu que um genocídio como esse não aconteça nunca mais.

Já o presidente Vladimir Putin classificou o holocausto como “uma imoral tentativa de reescrever a história.”

No “Dia Internacional do Holocausto”, o sobrevivente holandês Bernard Kats disse ter sido possível a sua salvação graças à ajuda de uma igreja calvinista. Revelou o seu grande esforço para esquecer tudo. Aliás, foi essa uma atitude comum dos que sobreviveram ao Holocausto. Mas prevaleceu a ideia, como estamos fazendo hoje aqui, de que se deve lembrar o ocorrido, a fim de que não mais se repita.

Há depoimentos, no Rio de Janeiro, que devem ser enfatizados sempre, como o do sobrevivente Alexandre Laks: “Nada deste mundo pode ser comparado ao Holocausto.” Ou da sobrevivente Nanette Konig, que esteve no campo de concentração de Bergen-Belsen: “Os jovens judeus estão sabendo muito pouco sobre o passado – e isso não é bom.” Ela foi colega de turma da jovem Anne Frank, que viveu muitos meses escondida dentro de casa, em Amsterdã, só podendo ver uma nesga de céu, enquanto escreveu um famoso diário, até que foi descoberta pelos nazistas. Visitei a sua casa, na Holanda, à beira de um canal, imaginando o que ela e sua família sofreram. Também pensei na grande escritora que teria sido, se não tivesse morrido nas mãos assassinas dos nazistas.

Auschwitz, nos arredores da cidade polonesa de Oswiecim, foi tomada pelos aliados no dia 27 de janeiro de 1945. Execuções em câmaras de gás e fuzilamentos diários eram a sua rotina, daí os relatos emocionantes dos poucos sobreviventes. Todos foram unânimes em condenar a tentativa de esquecimento e revelaram a angústia vivida quando chegavam nos trens da morte ao campo, sendo separados pela aparência: os mais fortes para o trabalho, os doentes e mais fracos para o extermínio. Isso jamais poderá ser esquecido.

Lembro cada frase do Quando nossos jovens, como aconteceu livro Noite, escrito por Elie Wiesel. É o retrato com minhas netas, realizam a “Marcha da vida”, percorrendo os caminhos dessa tragédia humana, voltam do museu de Ausnítido das recordações chwitz com informações, fotos e testemudo sofrimento humano, nhos que se fincam para sempre em suas do desrespeito a memórias. velhos e crianças, da São aspectos ligados aos direitos humanos, sobretudo à vida, que não podebestialidade a que pode mos e nem devemos desprezar. Os inimichegar um grupo de gos não foram destruídos, como compropessoas, falando em va a lamentável existência, na Europa e na nome da suposta pureza América, dos execráveis terroristas islâmida raça. E não se diga cos e skinheads, subproduto desumano de uma sociedade sem rumo. Ainda se quesque o nazismo foi tiona a verdadeira estatura do homem e sepultado com a suas complexas relações com o conceito derrota de Hitler. de liberdade. O judaísmo condena veementemente o sacrifício humano, a qualquer pretexto, desde as posturas bíblicas do Gênesis. Como tentar reduzir, pois, o significado do frio assassinato de 6 milhões de judeus, vítimas inocentes de um delírio racista e tolerado por boa parte da humanidade? Hoje, a resposta a qualquer desvio deverá sempre ser imediata e à altura. Os direitos humanos já estavam escritos desde o dia 26 de agosto de 1789, não nas estrelas, mas na França, após a queda da Bastilha. Era a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, que tinha a seguinte introdução: “Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento, ou o desprezo dessas regras são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis, sagrados e imprescritíveis dos homens e dos cidadãos, e seus deveres.”

Elie Wiesel

A Marcha da Vida

Desconhecer o que aconteceu em Auschwitz, Birkenau, Maidanek, Treblinka, Krazmik, com testemunhas que ainda vivem, para confirmar o horror da bestialidade nazista, é um exercício que parece algo inacreditável.

Temos, como referência, o nome do escritor romeno Elie Wiesel. Arrancado das suas raízes para viver o inferno de Auschwitz, esteve no Rio de Janeiro, em 1998, a convite do Centro de Cultura Judaica, para fazer exatamente o que tem sido a sua vida: prestar depoimento sobre a terrível experiência. Com um registro que é dramático: “O inimigo do amor não é o ódio, mas a indiferença.”

Lembro cada frase do livro Noite, escrito por Elie Wiesel. É o retrato nítido das recordações do sofrimento humano, do desrespeito a velhos e crianças, da bestialidade a que pode chegar um grupo de pessoas, falando em nome da suposta pureza da raça. E não se diga que o nazismo foi sepultado com a derrota de Hitler. Há manifestações do seu ressurgimento, como na violência praticada em escolas do mundo inteiro. É impossível ficar indiferente diante desses fatos chocantes.

Como afirmou Israel Klabin, na solenidade do Hotel Sofitel, no Rio de Janeiro, “de toda a geração que conviveu com o holocausto, ninguém foi tão fortemente abençoado, não apenas pelo encontro com a sua própria crença na missão judaica, como na fé e na confiança com que D’us, Ele próprio, confiou-lhe a missão de testemunho”.

Foi-lhe reservado o destino da palavra e da lembrança. Bem que ele tentou esquecer, depois da liberação do campo de trabalhos forçados de Buchenwald, que tive o desprazer de visitar. Mas, estimulado pelo escritor francês François Mauriac, concordou que não poderia subtrair aqueles fatos do conhecimento da humanidade, sobretudo para que não se repetissem. Ele tinha a obrigação de testemunhar. É o que tem feito, com as suas conferências e os seus livros. Quando se aperta a sua mão, com o jeito humilde que é a sua característica, pede que o visitemos em Boston, onde leciona: “Lá vamos poder conversar com mais tempo.”

Sobre o livro Noite, publicado há 25 anos, Robert Mc Afee Brown escreveu:

Quando Elie Wiesel foi libertado de Buchenwald, em 1945, depois de estar em Birkenau, Auschwitz e Buna, ele se impôs um voto de dez anos de silêncio antes de tentar descrever o que havia acontecido com ele e mais de seis milhões de outros judeus. Quando ele finalmente quebrou esse silêncio, teve dificuldades de encontrar um editor. De tão deprimente era o assunto.

Na Introdução de Noite, o escritor francês François Mauriac revelou a sua emoção ao encontrar o jornalista Elie Wiesel:

Naquela manhã, o jovem judeu que veio me entrevistar para um jornal de Tel Aviv imediatamente ganhou minha simpatia e nossa conversa tomou um rumo pessoal rapidamente. Ela me fez recordar lembranças da Ocupação. Não são sempre os eventos nos quais estivemos diretamente envolvidos que mais nos afetam. Eu confidenciei ao jovem visitante que nada que eu tinha visto durante aqueles anos sombrios havia deixado marca tão profunda em mim como aqueles trens carregados de crianças judias na estação de Auschwitz. E eu não as tinha visto! Minha mulher as descreveu para mim, sua voz ainda cheia de horror. Àquela época, nada sabíamos sobre os métodos nazistas de exterminação. E quem poderia imaginá-los! Embora o modo como aquelas ovelhas tenham sido separadas de suas mães ultrapassasse qualquer coisa que pensávamos ser possível até então. Acho que, naquele dia, toquei pela primeira vez no mistério da iniquidade, cuja revelação marcava o término de uma era e o início de outra.

Mauriac recordou:

Ele tinha visto sua mãe, uma adorada irmã menor, e toda sua família, exceto seu pai, desaparecer dentro de um forno cheio de criaturas vivas. Quanto a seu pai, a criança foi forçada a ser uma espectadora, dia após dia, de seu martírio, de sua agonia e de sua morte. E que morte!

A minha família

Quase toda a minha família foi vítima do Holocausto. No caso da minha mãe, que nasceu na pequena cidade de Osiek, a 100 km de Varsóvia, foram todos dizimados, menos ela, que veio para o Brasil, e uma sobrinha, que conseguiu fugir para Israel. Em relação ao meu pai, lembro com tristeza o único dia que o vi, desesperado, cair num choro convulso. Era o ano de 1944 e ele recebeu a notícia de que um dos seus irmãos havia sido morto pelos nazistas. Era justamente o caçula de nove irmãos.

Garoto ainda, fui conhecer no Estado de Israel a minha tia Rosza, irmã mais velha do meu pai. Estranhei uma espécie de tatuagem no seu braço e perguntei a origem daquilo. Ela, então, me contou a sua memória dolorida do Holocausto. Muito jovem, foi aprisionada na Polônia pelos nazistas e levada para o campo de extermínio de Auschwitz. Foi marcada com a letra e o número que jamais a deixaram, em todos os sentidos: A – 19386.

Salvou-se por milagre, escondendo-se numa montanha de cadáveres e lá permanecendo durante três dias, fingindo-se de morta. Aproveitou-se de um descuido da vigilância e fugiu para uma floresta próxima, ganhando depois a sonhada liberdade e a acolhida de um caridoso casal católico. Não é o único caso da família, que foi quase dizimada nas cidades de Ostrowiec e Osiec. A exceção foi para os que desconfiaram da onda nazista e escapuliram para o Brasil, os Estados Unidos e o Canadá, onde puderam dar curso às suas existências, sem os riscos de tantas atrocidades.

O Museu de Washington

A impressão que se tem, ao sair do Museu do Holocausto, construído em Washington (EUA), é simplesmente de horror. É um impressionante documentário em multivisão das atrocidades nazistas. Ali você pode entrar no trem da morte, sentir o mesmo abafamento de milhares e milhares de judeus transportados como gado para os campos de concentração, até chegar às câmaras de gás e for-

O passado não é nos crematórios. Milhares de sapatos dos irrelevante. Com sofrimento e dor prisioneiros estão amontoados, ao lado de fios de cabelo e sofisticados objetos de tortura, tudo isso em nome da necessidaconstruímos o nosso de de se construir uma raça pura (ariafuturo, hoje uma nação na) com o quê Hitler se apresentava ao de 14 milhões de mundo. Custa a crer que tudo isso tenha pessoas espalhadas nascido sem que a humanidade sentisse vergonha do genocídio – e não protespelo mundo. Temos tasse de forma arrasadora. Em 1933 haos nossos heróis. A via 9 milhões de judeus na Europa, entre sua memória deve ser os quais figuras de renome como Albert sempre reverenciada. Einstein, Claude Levi-Strauss, Freud, Ka-

Para que fiquem no fka e Stefan Zweig. Ao final da II Guerra Mundial, em 1945, somente 3 milhões espírito das novas deles sobreviveram ao Holocausto. gerações. Na entrada do campo de concentração de Buchenwald a inscrição cínica foi reproduzida no Museu de Washington: “Arbeit Macht Frei” (o trabalho fará você livre). Ali morreram, de trabalhos forçados, 50 mil pessoas. Frio, fome e sede acompanharam o martírio das vítimas. Como jornalista, conheci o campo de trabalhos forçados de Buchenwald, na então Alemanha Oriental. Dados impressionantes: ali morreram de fome, milhares de judeus, quase todos nascidos na própria Alemanha. Depois, na Alemanha Ocidental, visitei o campo de concentração de Dachau. Foram conservadas as suas características de extermínio, sendo possível ver os chuveiros da morte e os terríveis fornos crematórios. Custa a crer que a humanidade, nos tempos modernos, tenha vivido tamanho período de horror e perseguição. Os nazistas, na II Guerra Mundial, assassinaram 20 milhões de seres humanos, seis milhões dos quais pelo simples fato de serem judeus. É preciso lembrar isso tudo, quando a ONU criou o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Esquecer? Jamais! No dia 15 de novembro de 1938, o Ministro da Educação da Alemanha expulsou todas as crianças judias das escolas, para evitar “mistura”. Os judeus foram obrigados a estudar em escolas próprias. Um desses meninos era Daniel, sobrevivente de um campo de concentração, que escreveu o seu “Diário” e guardou fotos da família assassinada (referia-se com muita saudade à figura da mãe e da irmã Erika). Vendo a reprodução da casa de Daniel, antes

da chegada do nazismo e acompanhando No Museu das Crianças, as transformações vividas pela implantação do clima de perseguição e morte, não há quem não se comova, chegando às láno Yad Vashem de Jerusalém, há um grimas. Por que tudo isso? E para que? milhão e meio de

Conheci também o campo de con- pontos luminosos. Na centração de Dachau, na antiga Alema- escuridão, o visitante nha Ocidental. Uma infernal máquina da morte, com tudo o que de mais tétrico vive o impacto da cena pôde ser concebido pelo gênero humano impressionante. Parece para liquidar a vida de milhões de pessoas. um imenso planetário. Escrevo gênero humano com escrúpulo, Cada uma daquelas pois melhor seria que essa gente fosse qua- pequenas luzes ou lificada como animais insensíveis, obedecendo às ordens de um grupo de celerados estrelas tem um nome, desprovidos de características humanas. que é pronunciado com

No Estado de Israel também existe o voz grave. Beit Hatfusot. Bem menor que o Museu do Holocausto de Washington, mas igualmente expressivo. Não há quem saia de lá, depois de uma visita, sem uma forte dose de emoção. Essas lembranças têm muito pouco de masoquismo. O que se deseja fixar é a lembrança de uma trágica experiência, quase fatal ao Povo Eleito, e que jamais poderá se repetir. É o que está na consciência de cada um de nós, herdeiros que somos de uma dolorosa memória.

Memória viva

O passado não é irrelevante. Com sofrimento e dor construímos o nosso futuro, hoje uma nação de 14 milhões de pessoas espalhadas pelo mundo. Temos os nossos heróis. A sua memória deve ser sempre reverenciada. Para que fiquem no espírito das novas gerações. Penso ter sido esse o principal objetivo do Museu das Crianças, no Yad Vashem de Jerusalém. São um milhão e meio de pontos luminosos. Na escuridão, o visitante vive o impacto da cena impressionante. Parece um imenso planetário. Cada uma daquelas pequenas luzes ou estrelas tem um nome, que é pronunciado com voz grave. Um milhão e meio de crianças mortas no Holocausto, pela bestialidade nazista. O Estado de Israel recorda os seus nomes, para que não haja esquecimento. Ali se vive uma comovente forma de respeito à memória do povo eleito. Arnaldo Niskier é membro da Academia Brasileira de Letras, jornalista, professor e escritor.

EdStock / iStockphoto.com Revista da Associação Religiosa Israelita-ARI | devarim | 65

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