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Fábio Koifman

a traGÉdia do casal eGressi no rio de Janeiro em 1940

fábio koifman

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Ao longo dos anos 1930 a política imigratória brasileira, até então relativamente pouco restritiva, foi sendo modificada de modo a estabelecer impedimentos da entrada no País a certos grupos de estrangeiros. No fim da mesma década e início da seguinte, o Estado esteve especialmente ocupado em aprimorar as regras de concessão e permanência de estrangeiros no Brasil mantendo-se especialmente atento em fazê-las cumprir. Essas mudanças estiveram relacionadas ao contexto internacional, como também atendiam a demandas de certos grupos de nossa sociedade que se manifestavam preocupados em especial com “a formação étnica da população”.

A situação europeia fazia com que um grupo cada vez mais numeroso de judeus buscasse desesperadamente fugir daquele continente. As possibilidades de imigração ou mesmo refúgio temporário eram bastante restritas. A “Noite dos Cristais” e o início da II Guerra Mundial tornaram a situação ainda mais dramática e a fuga ainda mais urgente.

Tratei de forma detalhada desse tema em alguns artigos e especialmente em dois livros. O presente artigo não permite maior detalhamento em razão de espaço. Mas possibilita o relato de um episódio relacionado a um fato trágico ocorrido em 1940 e hoje completamente esquecido, a tragédia do casal Egressi.

No dia 22 de fevereiro de 1940 chegaram a bordo do transatlântico italiano “Oceania” no porto do Rio de Janeiro três cidadãos austríacos: o casal HeinriO tom acusatório geral publicado na imprensa até então não permitiu que a ação da polícia pudesse ser questionada, seja como envolvida no desembarque de refugiados, seja na morte, após provável tortura ou “queima de arquivo” do casal Egressi.

ch e Wilma Grünfeld e o filho Hans. Portavam certidões católicas de batismo, mas todos os jornais da então Capital Federal referiram-se a eles como judeus.

Os Grünfeld possuíam vistos para a Bolívia, obtido na Europa por meio de propina. Mas aqui desembarcaram para algumas horas em terra antes do vapor seguir viagem. Não retornaram mais ao navio. As malas foram desembarcadas em nome de outra passageira. O esquema para permanecer no Brasil foi providenciado pelo marido de uma parenta que Wilma possuía na cidade, o húngaro Desidério Egressi, com quem o casal Grünfeld trocava cartas desde o início de 1939. Desidério Egressi tentara, mas não lograra sucesso na obtenção de um visto temporário ou permanente para os Grünfeld. Orientou então os parentes a desembarcar durante a escala e posteriormente regularizar sua permanência, contando para isso com a possibilidade de corromper as autoridades responsáveis.

Desidério contava 62 anos e já estava estabelecido há alguns anos no Brasil. Primeiro foi representante de instrumentos de ótica de uma fábrica suíça. Mais tarde, montou seu próprio negócio no mesmo ramo, descrito na Noite Ilustrada de 2 de abril de 1940 como “modesto”, uma pequena sala alugada no número 107 da Rua Sete de Setembro, no Centro do Rio, onde funcionavam diversos escritórios comerciais. Sua esposa, Melanie Egressi, de solteira Freiberger, também de nacionalidade húngara, tinha 54 anos. O casal teve duas filhas. Leonora, já falecida, e Edda, que vivia naquele momento no México. Em julho de 1939, Melanie já tentara junto às autoridades brasileiras trazer da Hungria o próprio irmão, Bela Freiberger, a cunhada, Juliska, e a sobrinha, Klara, mas teve a solicitação indeferida.

Os Egressi haviam ido ao porto receber os parentes. A família Grünfeld foi então levada para um apartamento alugado em Copacabana, na Rua Domingos Ferreira nº 187, próximos aos tios, que viviam na mesma rua, no nº 25.

Exatamente um mês depois da chegada, a família Grünfeld resolveu tentar regularizar a sua permanência. O que ocorreu ainda é obscuro. Mas a tentativa fez com que a Polícia Marítima os prendesse e os interrogasse apurando a respeito de detalhes da entrada e permanência irregular deles no Brasil.

No dia 21 de março de 1940, apontados como responsáveis pelo desembarque ilegal dos Grünfeld, o casal Egressi foi preso. Foram levados à Rua Marechal Ancora, onde funcionava a Polícia Marítima e não à Delegacia de Estrangeiros ou à Rua da Relação, onde funcionava a polícia civil do Distrito Federal. O estranho e irregular procedimento da Polícia Marítima, que não tinha competência para efetuar a prisão de antigos residentes regularizados, não foi questionado na imprensa e tampouco no Inquérito Administrativo que foi aberto depois para apurar o caso.

Em um prédio sem carceragem ou acomodações próprias para detenção, os Egressi permaneceram detidos por pelo menos cinco dias, sendo nesse período submetidos a sucessivos interrogatórios, mas nada confessaram. De acordo com o relato da polícia, reproduzido no Diário de Notícias de 27 de março, “diante das provas eles se viram desmascarados, mas persistiram na negativa, afirmando sua inocência”, e ainda, “apesar de serem ouvidos constantemente nem um nem outro confessou as suas ilícitas atividades. A polícia, no entanto, acreditava que ambos fizessem parte de uma quadrilha internacional de traficantes de clandestinos, e, por isso, procurava, por todos os modos, obter a sua confissão”.

O casal Egressi permaneceu enclausurado e sendo interrogado em uma das salas do edifício da Polícia Marítima até a manhã do dia 26 de março. Segundo o relatório, às 6 horas da manhã foram encontrados mortos. Ambos enforcados. “Desidério estava morto, estendido ao longo da porta que dá para uma pequena arca onde estão o banheiro e a dependência sanitária, e Melanie suspensa do cinto de couro do marido que ela atara ao alto na bandeira da porta. Desidério usara do mesmo processo utilizando-se da torneira de uma bica”. O marido apresentava na cabeça um extenso e profundo ferimento. Algumas edições dos jornais publicados nos dias que se seguiram exibiram fotografias do casal, de suas filhas, assim como dos corpos enforcados.

A explicação para a morte do casal construída pela polícia e reproduzida na imprensa da época foi a de que ao se

Convém registrar que ao verem perdidos ante as provas, marido e longo da investigação não só europeus cujos mulher combinaram morrer juntos e prepararam os laços em que deviam enforcar-se. Parece, porém, que o homem à últisobrenomes sugerem ma hora se arrependeu já com o pescoço origem judaica foram no laço e a mulher, enfurecida, lhe atirou identificados como qualquer objeto sobre a cabeça que o atinsido beneficiados giu ferindo-o. E assim acabaram eles com a vida para não se verem nas malhas de do esquema de um processo em que a Justiça se pronuncorrupção relacionado ciaria, dando-lhes sentença condenatória. à legalização de Outra versão surgida no Diário de Noestrangeiros no País, tícias explicou que “sentindo-se culpado, mas também outros o casal, sobre cujos ombros pesavam graves acusações, resolveu, temendo, talvez, estrangeiros inclusive ter que denunciar os seus cúmplices, firde origem portuguesa, mar um pacto de morte”. Buscando esclacuja dificuldade em recer que “o suicídio veio provar que amobter visto e situação regular no País naquele bos faziam parte de um bando perigoso e que, por isso mesmo, temiam denunciar os seus companheiros”. Ao mesmo tempo momento era nenhuma. em que mencionavam a existência de provas, a polícia por meio da imprensa deixou claro que, além do envolvimento com o desembarque dos parentes relatado por eles mesmos, nada mais estavam encontrando. As provas da liderança ou participação dos Egressi no “bando perigoso” ou “quadrilha” jamais foram encontradas pelas autoridades. O jornal A Noite apurou que a mulher, “num gesto de profundo desespero com a covardia do marido, havia tomado o balde que se encontrava próximo e com ele desfechado uma terrível pancada na cabeça de Desidério que, atordoado, deixou vergar as pernas sendo, nessa ocasião, enforcado”. Em seguida, Melanie teria se enforcado também. Conforme registrou a imprensa: “De fato, o cadáver de Desidério apresenta uma forte contusão no crânio e o balde que foi enviado para o Gabinete de Pesquisas tinha vestígios de sangue nas bordas”. Outro jornal deu a entender que o ferimento na cabeça do morto teria se dado em decorrência da queda pelo fato de “nas vascas da morte, porém, desprendeu-se e caiu ao solo, morto”. Uma nota importante, evidenciando preocupação por parte dos policiais responsáveis pelas apurações iniciais, foi a declaração um tanto precipitada da presunção – que se verificaria inverídica – publicada no Diário da Noite: “Ne-

nhum Funcionário Envolvido. Segundo está apurado, não existe nenhum funcionário da Polícia Marítima envolvido no escandaloso caso. O casal Egressi agia sozinho nesta capital. Os seus cúmplices, ao que parece, desenvolveram atividades fora do Rio”.

Morto o casal, a polícia, por meio dos jornais, tratou de “esclarecer” ao público de quem supostamente se tratava o casal Egressi, conforme, entre outros, registrou o Diário Carioca:

“Residia em Copacabana e levava vida faustosa (...) eram tidos como ricaços. Residindo em apartamento de luxo em elegante palacete à Rua Domingues Ferreira nº 25, em Copacabana, o casal de vida misteriosa possuía também luxuosa ‘limousine’. Constantemente eram vistos em passeio pelos lugares pitorescos da metrópole, dando a impressão, não só pelos seus hábitos como pela requintada indumentária, tratar-se de figuras da mais alta esfera social”.

Imputou-se ao casal riqueza cuja origem seria a chefia de uma rede criminosa internacional que, de acordo com a manchete publicada em um dos jornais, “importava judeus para a América do Sul”, pois, “apesar da rigorosa vigilância das nossas autoridades sobre a entrada de estrangeiros em nosso porto, alguns deles conseguem às vezes burlá-la”.

A tese da agressão que teria sido cometida por Melanie ao marido “acovardado” e do duplo suicídio foi reforçada pela imprensa – ou pelos censores do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) – nos dias subsequentes. A análise do balde encontrado com sangue e que teria produzido ferimentos na cabeça do morto levou a afirmações de que não resta mais dúvidas de que Desidério, aprazado o suicídio, fraquejou. Melanie foi quem amarrou os panos que foram encontrados envolvendo o pescoço do marido, mas ao que parece o homem não tinha coragem para deixar cair o corpo a fim de que tudo se consumasse. Vendo-o naquela situação a mulher teria, então, num gesto de profundo desespero com a covardia do marido, tomado o balde que se encontrava próximo e com ele desfechado uma terrível pancada na cabeça de Desidério (...)

Nos dias que se seguiram o assunto seguiu ocupando as páginas da imprensa carioca. As diligências dirigidas para as residências dos suspeitos de envolvimento com os Egres-

si e informações do inquérito vazadas pela polícia forneciam material novo para as reportagens cujo conteúdo o DIP selecionava ou não impedia a divulgação. O casal seguiu sendo associado ao que seria uma rede clandestina internacional de tráfico de imigrantes judeus para o Brasil. O tom acusatório geral publicado na imprensa até então não permitiu que a ação da polícia pudesse ser questionada, seja como envolvida no desembarque de refugiados, seja na morte, após provável tortura ou “queima de arquivo” do casal Egressi.

Ao longo das semanas seguintes, várias pessoas foram presas acusadas de serem participantes da “quadrilha de traficantes de clandestinos”. Boa parte delas em São Paulo. Os jornais também publicaram o que seria uma tabela de preços pelos serviços de permanência e regularização junto às autoridades brasileiras. O que evidenciava a participação de funcionários públicos e aí temos, possivelmente, a explicação da prisão no prédio da Polícia Marítima (e não na Polícia Central) do casal Egressi e, talvez, da violência de seu interrogatório senão a própria razão de seu óbito. Um trecho da longa matéria é clara quanto à participação de funcionários públicos, uma vez que a investigação “apurou a cumplicidade de grande número de funcionários de várias repartições do serviço de registro de estrangeiros, onde eram praticadas graves irregularidades. Há ainda muita gente de outras repartições oficiais implicadas no caso. Rigoroso inquérito policial-administrativo foi aberto a respeito”.

No dia 23 de abril de 1940 a imprensa voltou a noticiar um novo episódio de violência – uma vez mais explicado como suicídio – praticado na Polícia Central da capital na tarde do dia anterior. O A Batalha assim relatou: “Preso, tentou suicidar-se. Uma ocorrência na Polícia Central. Foi internado no Hospital de Pronto Socorro, depois de socorrido pela assistência, o alemão Leopoldo Jonas, de 37 anos, casado, comerciário em São Paulo, que se encontra preso na Polícia Central. Jonas jogou-se da varanda da 2ª delegacia auxiliar ao passeio sofrendo fratura da bacia e contusões pelo corpo”. Os demais jornais divulgaram a mesma versão de suicídio. Vendedor de doces em São Paulo,

Não sabemos se a morte permaneceu vivo em estado “gravíssimo”. do casal se deu de modo não intencional, Jonas havia sido preso em São Paulo e teria tentado se matar por estar “envolvido no caso dos imigrantes clandestinos”, senem razão da violência do ele um “dos implicados nas atividades do interrogatório e, da quadrilha de traficantes”. Jonas sobreposteriormente, os viveu depois de meses internado em um envolvidos decidiram hospital e faleceu em 1975 em São Paulo. Poucos dias depois, a imprensa nopor produzir a versão ticiava a expulsão dos Grünfeld. A saga do suicídio ou o casal da família Grünfeld, também repleta de foi propositalmente sofrimento, será tratada em outro artigo assassinado com o oportunamente. fim de afastar riscos O inquérito policial relacionado ao caso Egressi foi concluído e o Chefe de de punição para as Polícia do Distrito Federal (Filinto Strüautoridades envolvidas, bing Müller) remeteu ao Departamena chamada “queima to Administrativo do Serviço Público de arquivo”. (Daps) três volumes relativos à sindicân cia “em torno de irregularidades verifica das na entrada e permanência de estrangeiros no território nacional”. O delegado que conduziu o inquérito chegou à conclusão de que “pesam acusações graves aos funcionários públicos federais, do Estado de São Paulo e da Prefeitura do Distrito Federal”. Atendendo à gravidade das acusações, o governo decidiu pela “imediata instauração de rigoroso processo administrativo, para a apuração dos fatos indicados e da responsabilidade dos que neles estão envolvidos”. No fim de 1940 a Comissão de Inquérito preparou o seu longo relatório. Dezenove funcionários públicos de diferentes subordinações (diferentes ministérios e autarquias federais, como também estaduais) foram citados para “apresentar defesa”, ou seja, foram formalmente indiciados. A Comissão considerou que diversos agentes e inspetores da polícia marítima eram responsáveis diretos pelo desembarque clandestino dos Grünfeld, propondo punições como suspensões e até demissões do serviço público. Concluíram que um certo Manfredo Krüger seria chefe de uma organização que conseguia por meio da ação de intermediários e do suborno das autoridades brasileiras ou pela obtenção de documentos que permitissem a regularização conforme as exigências. Krüger, que residia em São Paulo, tornou-se um especialista em regularizar a permanência de estrangeiros de modo ilegal, mas também legal.

No início de 1941 o ditador Vargas determinou a aprovação do relatório, o que significou a aplicação das punições e demissões que incluíram delegados de polícia.

Convém registrar que ao longo da investigação não só europeus cujos sobrenomes sugerem origem judaica foram identificados como sido beneficiados do esquema de corrupção relacionado à legalização de estrangeiros no País, mas também outros estrangeiros inclusive de origem portuguesa, cuja dificuldade em obter visto e situação regular no País naquele momento era nenhuma.

A Comissão de Inquérito, centrada no envolvimento de funcionários públicos “em torno de irregularidades verificadas na entrada e permanência de estrangeiros no território nacional” claramente chegou à conclusão que, de São Paulo, Manfredo Krüger e um bom número de funcionários públicos – incluindo delegados e agentes – estabeleceram um sistema especialmente de regularização de permanência de estrangeiros, na maioria das vezes, eventualmente atuando também no auxílio ao desembarque.

Os poucos estrangeiros citados – a totalidade deles clientes de Krüger – era composta de europeus que procuraram ajuda a fim de legalizar a permanência no Brasil. Tanto as atividades ilícitas identificadas pelas investigações policiais – que se mostraram bastante zelosos ou corporativistas não acusando colegas policiais – como o apurado pela Comissão de Inquérito expôs tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, maiores cidades do País, um número significativo de funcionários em postos estratégicos e de importância que praticavam extorsão ou se deixavam corromper, vendendo facilidades a gente interessada em residir no Brasil.

Os autos indicam que o envolvimento do casal Egressi limitou-se, até onde se pôde apurar, tão somente ao interesse deles em auxiliar parentes de Melanie – refugiados do nazismo – a entrar e permanecer no Brasil. Não eram chefes de nenhuma rede de tráfico humano, não viviam da exploração desse tipo de negócio. O contato que tiveram com o grupo de São Paulo relacionava-se, ao que tudo indica, tão somente ao auxílio na vinda da família Grünfeld para viver próximo a eles. Muito diferente da versão apresentada pela imprensa, ao casal não foi imputado crime grave e o processo que enfrentariam por seus atos não envolviam delitos realmente significativos que produziriam punições rigorosas por parte do Estado, além de responderem criminalmente por seus atos.

Considerando a quantidade de funcionários públicos punidos e, especialmente, demitidos ao fim do Inquérito e a relevância de seus postos, o casal Egressi representava não exatamente a cabeça ou a liderança de uma rede de entrada de clandestinos, mas na qualidade de clientes dos serviços desse grupo e de funcionários públicos corruptos, o muito comprometedor potencial fio da meada que poderia expor todos os envolvidos na prática ilegal. Não por acaso, a prisão e o rigoroso “interrogatório” – um eufemismo para a palavra tortura – do casal ocorreu no prédio da Polícia Marítima. Não sabemos se a morte do casal se deu de modo não intencional, em razão da violência do interrogatório e, posteriormente, os envolvidos decidiram por produzir a versão do suicídio ou o casal foi propositalmente assassinado com o fim de afastar riscos de punição para as autoridades envolvidas, a chamada “queima de arquivo”. Evidenciou-se improvável a hipótese de suicídio.

O que a Comissão de Inquérito reforçou em termos de evidência, considerando especialmente todos os aspectos pouco factíveis, em especial a cabeça muito ferida de Desidério explicada como produto da violência da própria esposa, foi que seria bastante improvável um casal tomar uma decisão tão drástica como dar fim à própria vida tão somente pelo fato de ter se envolvido no desembarque irregular de parentes seus.

Quanto ao outro apontado como provável “suicida”, Leopoldo Jonas, sequer foi citado pela Comissão. O que indica que muito provavelmente não estava envolvido em qualquer prática delituosa e tampouco havia entrado de maneira ilegal no País – como acusou a imprensa, instruída pela polícia –, pois os estrangeiros nessa situação foram nominalmente citados nos autos. A conhecida brutalidade da polícia do Distrito Federal buscando obter informações e uma confissão possivelmente fizeram com que Jonas, em desespero, tentasse fuga pela janela. Ou, então, os investigadores empreenderam algum tipo de tortura que acabou por produzir sua queda. Não seria a primeira vez que um suspeito cairia da janela do prédio da Rua da Relação.

Fábio Koifman é professor de História da UFRJ. O presente texto é uma versão reduzida do artigo “Polícia Marítima, Refugiados e ‘Suicidas’: A política imigratória nos tempos de Vargas”, publicado em coautoria com Karla G. Carloni no livro organizado pela Profª Helena Lewin, Judaísmo e Cultura: Fronteiras em Movimento. Rio de Janeiro: Editora Imprimatur, 2013, v. 1, p. 632650.

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