
16 minute read
Raul Cesar Gottlieb
e deus Viu que não era bom
raul cesar Gottlieb
Advertisement
ATorá (os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica) provoca fortes emoções há milênios, sem sinal de arrefecimento. Do deslumbramento dos que a consideram a inquestionável e irretocável palavra de Deus à perplexidade dos que se perguntam como um texto que inclui uma coleção de lendas infantilizadas pode ser tão fundamental para a humanidade.
Dos cinco livros, é o começo do primeiro – Bereshit/Gênesis – que provoca o maior espanto, visto residir lá a maior coleção de histórias inverossímeis. O que fazem as lendas de Eva e a serpente, do dilúvio e da Torre de Babel, num livro que supostamente contém a verdade suprema ditada por Deus, perguntam-se os perplexos.
A meu ver esta perplexidade se diluiria se houvesse a compreensão de que a linguagem da Torá não é nem científica nem histórica. Que ela usa uma linguagem poética e altamente metafórica para descrever os seus três objetos centrais: o ser humano, a organização social e os israelitas1. Que as lendas dos primeiros capítulos de Bereshit servem ao propósito de descrever o ser humano e as organizações sociais, numa sequência sabiamente encadeada: primeiro se descreve o todo para depois focar num pequeno e singular estrato da humanidade.
E, finalmente, que há uma mensagem subjacente ao seu conjunto e ordenação, que é maior do que a mensagem de cada uma das lendas isoladamente.
A leitura da Torá, a partir da excelente tradução do professor Robert Alter2 e a participação nos grupos de estudo da ARI, transformaram a minha perplexiO que faria Deus se percebesse que uma determinada etapa não tinha sido boa? Destruiria tudo e recomeçaria? Tentaria ajustar o que estava errado? Desistiria da tarefa? Não conhecemos a resposta, pois não há avaliação negativa durante a criação do mundo.
dade inicial em encantamento e foi a partir daí que vislumbrei a ligação dos 11 primeiros capítulos de Bereshit com a saga dos israelitas, que começa no capítulo 12. Este artigo pretende expor esta visão.
E Deus viu que era bom
Ao final de cada passo da criação a Torá repete a fórmula “E Deus viu que era bom”, sendo que ao final da última etapa a intensidade cresce:
E Deus observou tudo o que Ele tinha feito e eis que estava muito bom.
Estas frases parecem indicar que Deus, como todos os que criam sistemas complexos, também se ocupa em avaliar cada etapa da obra antes de passar para a próxima e, além disso, faz uma última avaliação final para se certificar de que o conjunto está harmônico e funcional.
O que faria Deus se percebesse que uma determinada etapa não tinha sido boa? Destruiria tudo e recomeçaria? Tentaria ajustar o que estava errado? Desistiria da tarefa? Não conhecemos a resposta, pois não há avaliação negativa durante a criação do mundo.
Contudo, a continuada avaliação divina a cada passo da criação me dá a impressão que temos ao menos uma mensagem inquestionável: Deus não tem certezas. Como qualquer engenheiro ou artista, Ele coloca a Sua criação à prova para avaliar a qualidade da obra antes de dar o próximo passo.
No processo do estabelecimento do cenário (a natureza) onde ocorrerá o drama (no sentido teatral do termo) descrito na Torá as avaliações positivas se sucedem. Porém, quando os humanos começam a interagir entre si as coisas não se mostram tão boas assim. O ser humano isolado na natureza foi brindado com um “muito bom” por Deus, mas quando está em grupo seu resultado é sofrível. Quatro tentativas de organização social são tentadas e só a última prospera. Vejamos.
A primeira tentativa: O despotismo esclarecido do Gan Eden
O Gan (jardim) Eden tinha uma organização social muito simples. Havia um grande provedor que só queria o bem dos súditos. Os súditos viviam sob sua prote-
Curiosamente o texto de ção benevolente num ambiente tão inBereshit chama a árvore proibida de “árvore da crivelmente aprazível que o local é idea lizado até hoje como o paradigma máxi mo do bem-estar. vida”. Talvez porque Deus, o grande provedor, fez apenas antes de conhecer o uma exigência: bem e o mal a pessoa E o Eterno fez florescer do solo todas respira, mas não há as árvores adoráveis de se ver e boas para comer, e a árvore da vida estava no meio vida autônoma nela. Ou do jardim, a árvore do conhecimento, do talvez o nome seja uma bem e do mal. ironia, visto que a árvore E o Eterno ordenou ao humano dida vida é aquela que zendo: De todas as frutas do jardim você trará a morte se você certamente poderá comer. Mas da árvore do conhecimento, do bem e do mal, comer dela! você não deverá comer, porque no dia em que você comer dela, você estará fadado a morrer. O esquema político estabelecido no Éden se parece muito com a estrutura do “despotismo esclarecido” que floresceu em alguns países da Europa pré-iluminista, onde o governante tratava muito bem o seu povo, não exigindo nada além do direito de ser o governante. Infelizmente o sistema não funcionou! Nem no Jardim do Éden e nem na Europa pré-moderna. O ser humano não conseguiu resistir à sua própria natureza e, desdenhando o conforto de uma vida sem percalços, desenvolveu a consciência, o desejo e o espírito crítico, incompatibilizando-se com a obediência cega a um grande provedor. A história é conhecida: a serpente (um animal que fala, tal qual os personagens de La Fontaine) desperta a curiosidade em Eva e ela, por pura vontade de enfrentar algo novo, come a fruta proibida, gosta e serve a fruta a Adão. Imediatamente ambos perdem a inocência infantil que Deus havia tentado preservar neles, certamente para protegê-los. No momento em que Eva e Adão ganham a consciência, Deus vê que o modelo do Gan Eden não é bom para os humanos. Que seres com curiosidade e consciência nem serão felizes nem se sentirão plenos sob a tutela de um governante absolutista, mesmo se este governante for inesgotavelmente bom. Deus, então, adota um procedimento muito usado quando se percebe uma não conformidade no projeto:
“E Deus observou tudo o que Ele tinha feito e eis que estava muito bom”.
modifica os planos originais. Ele deixa a natureza intocada, mas retira os humanos do Eden e fecha este mitológico espaço para sempre.
E o Eterno expulsou o humano e colocou a leste do Jardim do Éden o querubim e a chama da espada giratória para proteger o caminho para a árvore da vida.
Deus não mata os humanos como havia ameaçado. Tal qual as mães que ameaçam a desobediência de seus filhos com as mais terríveis consequências, aquela ameaça era vazia. Era fruto do amor desmesurado do Criador por sua criatura, mas que ambos intuíam que jamais seria cumprida.
Curiosamente o texto de Bereshit chama a árvore proibida de “árvore da vida”. Talvez porque antes de conhecer o bem e o mal a pessoa respira, mas não há vida autônoma nela. Ou talvez o nome seja uma ironia, visto que a árvore da vida é aquela que trará a morte se você comer dela! Ou será que isto evidencia que a ameaça divina era tão vazia quanto as ameaças das mães muito exaltadas?
Qualquer que seja o caso, o fato é que a primeira tentativa de organização social falhou. Nem mesmo um governante inteiramente benevolente e bem intencionado satisfaz a natureza questionadora, criativa, impulsiva e sensual dos humanos. Uma boa mensagem para os que se julgam mais inspirados (ou “evoluídos” ou “esclarecidos”) que a sociedade em que vivem e que tentam, então, impor a ela os seus caminhos. Pena que nem todos a escutaram.
A segunda tentativa: A anarquia pré-diluviana
Passam-se os anos e a humanidade vai se povoando ao mesmo tempo em que sua organização social descamba para a desordem geral, onde a lei do mais forte impera de forma absoluta. Instaura-se a anarquia: uma sociedade sem governo e sem freios.
E aconteceu quando a humanidade começou a se multiplicar pela terra e filhas nasceram para os homens, que os filhos dos deuses viram que as filhas deles eram bonitas e eles tomaram como esposas para si quem bem escolhessem...
Os Nefilim estavam então na terra e também mais tarde quando os filhos dos deuses vieram para dentro3 das filhas dos homens que lhes geraram filhos. Eles são os heróis de antigamente, homens de renome.
Estas frases contêm pelo menos dois enigmas perturbadores. Primeiramente: o que fazem filhos de deuses num texto monoteísta? Muitas traduções interpretam a frase como “filhos dos nobres” e evitam o embaraço. Mas, na realidade, “bnei há eloim” quer dizer literalmente filhos dos deuses.
Em seguida, quem são estes Nefilim que conviviam com os filhos dos deuses? A semântica em hebraico sugere algo como “os caídos”, “os que caíram”. Porém, mais à frente, em Bamidbar/Números, os Nefilim são descritos como sendo gigantes.
Um gigante não é necessariamente uma pessoa de grande estatura física. Pode ser “apenas” uma pessoa de destaque (por exemplo, Ben Gurion e Beethoven foram gigantes). Assim, parece-me que tanto os filhos dos deuses como os Nefilim indicam pessoas poderosas, sendo que os primeiros se julgam tão superiores a ponto de advogar descendência divina.
Já o cenário sexual do trecho dá a entender que se alguém pode estuprar sem limites, este alguém pode tudo. Portanto, os dois versos acima descrevem uma sociedade em luta constante, onde os mais fortes subjugam os mais fracos. Ironicamente os poderosos execráveis são qualificados como “heróis de antigamente, homens de renome”, sugerindo que nas sociedades sem lei os maiores opressores são vistos como os paradigmas da qualidade.
Deus vê isto tudo e não gosta de nada.
E o Eterno vê que o mal nas criaturas humanas era grande na terra e que cada desígnio de seu coração era perpetuamente mau.
Comprova-se aí que os filhos dos deuses e os Nefilim são referências a humanos. E também que a falta de freios sociais corrompe a todos, fortes e fracos. Estes últimos também, pois a única esperança que lhes resta é tornarem-se fortes para passar a subjugar. A falta de leis apodrece toda a sociedade. A Torá continua Neste momento Deus mais uma vez relatando uma série de situações onde as percebe que não está bom e adota outra atitude usual dos criadores de sistemas: salvar o que é possível, destruir o resto e atitudes dos homens começar de novo. não agradam a Deus. E arrependeu-se o Eterno de ter criaMas, basicamente, elas do os humanos na terra, arrependeu-se em acontecem quando seu coração. E disse o Eterno: exterminarei da face da terra a raça humana que há desobediência ao Eu criei, de homens a gado, aos seres rasfundamento do respeito tejantes, às aves do céu, porque Eu me arà individualidade, rependi de tê-los criado. que induz ao Como segue a história todos sabem: estabelecimento de Deus acha a melhor família no meio daquele cenário desolador: a família de Noé. acordos de convivência. Deus lhes ordena construir a arca, habitá-la com um casal de animais de cada espécie. Em seguida advém o dilúvio com a destruição total da humanidade: filhos de deuses e Nefilim, mulheres formosas e suas famílias, estupradores e estupradas, tudo. Se ao final da criação da natureza Deus tinha visto que estava tudo muito bom, desta vez Deus certamente viu que estava tudo muito mau. Assim se fecha o segundo ciclo de organização social descrito na Torá. O pêndulo oscilou do ordenamento rígido de um governante benevolente à falta completa de leis e de governo sem encontrar o equilíbrio. A humanidade parte em busca de um novo modelo.
A terceira tentativa: A tirania da maioria
E toda a terra era um idioma, um conjunto de palavras... E eles disseram uns para os outros: venha, vamos cozer tijolos e queimá-los fortemente. E os tijolos serviram de pedra e betume de argamassa. Venha, vamos construir para nós uma cidade e uma torre com o seu topo nos céus, para que façamos um nome, pois senão seremos dispersos na terra. Assim começa o relato sobre a Torre de Babel, cuja sequência também é muito conhecida. Deus não gosta do que vê e resolve semear a discórdia entre este grupo homogêneo, separando-os por toda a terra – exatamente o oposto do que pretendiam. Mas a Torá não explica do que Deus não gostou. Limita-se a registrar uma fala críptica Dele:

“E arrependeuse o Eterno de ter criado os humanos na terra”.
Se como um povo e com uma linguagem para todos foi isto que eles começaram a fazer, nada mais do que planejarem vai detê-los.
Nós somos levados a acreditar que união é sempre boa. Que ela apaga as discórdias e permite ao grupo conseguir mais para todos. Mas Deus discorda – ele vê a união e não acha bom. Por que será?
Certamente a expressão “Toda a terra” explica isto. O que temos aqui é a aderência de toda a humanidade a um projeto único, sem levar em conta as diferentes individualidades. Concorde você ou não com o projeto da torre, a vontade majoritária do grupo lhe obriga a fazê-la.
Deus sabe que esta união exacerbada é antinatural e que ela só pode estar sendo imposta através do silêncio aos grupos minoritários. Em palavras modernas: o problema de Babel é o desrespeito às minorias.
A meu ver, o que Bereshit nos diz aqui é que as minorias devem ter o direito de seguir os seus caminhos singulares. A tirania da maioria também não agrada a Deus e Ele mais uma vez vê que não está bom e muda o seu projeto, abrindo espaço para uma nova e definitiva tentativa de organização social.
O que deu certo: A sociedade do pacto
Uma vez estabelecida a aversão ao despotismo, à anarquia e à ditadura da maioria, o pêndulo se move na direção de um pacto social onde se valorizam as minorias. E é neste processo que nasce a “nossa” minoria: os descendentes da família de Abrão/Abraão, Isaac e Jacó/Israel.
E o Eterno disse a Abrão: vá da tua terra, do teu lugar de nascimento e da casa do teu pai ao lugar que eu te mostrarei.
A meu ver, Deus indica: se você não se sente bem com as crenças e os costumes de onde está não tenha medo de deixar este lugar para trás, mesmo sendo ele a casa da tua família. Não tenha medo de ser uma minoria. Vá!
Bereshit não dá nenhuma razão para o desagrado de Abrão, muito pelo contrário: Abrão segue o pai quando ele sai de Ur e o pai já é falecido quando Abrão escuta a palavra de Deus. É o midrash4, com a história da quebra dos ídolos, que tem sensibilidade de perceber que Abrão não se sentia bem onde estava. Afinal, deduz o formulador daquele midrash, Deus – o paradigma da bondade – não dividiria uma família sem ter bons motivos para tal.
Abrão/Abraão tem medo – todas as minorias têm – e Deus lhe aparece repetidas vezes para assegurá-lo de que tudo vai ficar bem. Vejam a primeira vez:
E Eu abençoarei aos que te abençoarem, e àqueles que te rejeitarem, Eu amaldiçoarei. E todos os clãs da terra serão abençoados através de você.
Deus está fortalecendo a resolução de Abrão e ao mesmo tempo está estabelecendo uma verdade: as sociedades que respeitam as suas minorias são abençoadas (têm chances de prosperar), mas as que as maltratam são amaldiçoadas (se destroem).
Isto era tão verdadeiro na Idade do Bronze em que viveram nossos patriarcas como é verdadeiro hoje. O respeito à individualidade sinaliza o grau de sanidade da sociedade e determina a sua longevidade.
Seguindo na leitura da vida do patriarca vemos emergir outra característica fundamental no seu comportamento que deriva do respeito aos terceiros: Abrão/Abraão faz acordos, ele negocia.
Faz acordo com seu primo Lot para separar os rebanhos. Faz acordo com Deus para salvar o que fosse possível de Sodoma e Gomorra. Faz acordo com os Hititas para comprar um túmulo para Sara.
Este padrão é seguido por seus descendentes, até o pináculo do Monte Sinai, onde até mesmo a legislação divina se sujeitou a um pacto antes de ser estabelecida. É singular isto. Deuses não negociam – eles impõem a sua vontade e ponto final. Mas o Deus da Torá faz acordos.
A Torá continua relatando uma série de situações onde as atitudes dos homens não agradam a Deus. Mas, basicamente, elas acontecem quando há desobediência ao fundamento do respeito à individualidade, que induz ao estabelecimento de acordos de convivência.
Muitos séculos mais tarde a Mishná traduziu este fundamento com a brilhante frase:
Portanto [em Bereshit], o homem foi criado sozinho para ensinar que quem destrói uma única alma é como se tivesse destruído todo um mundo; e que quem salva uma única alma é como se tivesse salvo todo um mundo.
Observações finais
Certamente a minha leitura não é a única interpretação possível do texto bíblico. O máximo que se pode dizer é que ela é uma dentre muitas.
Ela é alinhada com a valorização da individualidade do ser humano, que é um dos pilares centrais do judaísmo. A valorização do indivíduo acarreta no respeito às minorias e na maravilhosa constatação de que o mundo é composto por um mosaico de minorias. E isto casa perfeitamente com Bereshit, onde nossos patriarcas fundadores formam uma pequena minoria em processo de desenvolvimento de uma visão singular de mundo.
Minha leitura também parte do princípio que Deus, em sua comunicação com os homens, utiliza todo o arsenal da literatura, incluindo as fábulas, as metáforas, as parábolas e a poesia. Penso que, ao entregar a Torá, Deus pretendeu ser entendido pelos homens, então a escolha da linguagem humana, com todas as suas nuances, faz o maior sentido.
A cantora israelense Naomi Shemer ao comentar sobre incoerências entre o relato bíblico e algumas escavações arqueológicas disse:
Eu não sou especialista em arqueologia, mas o que importa se aconteceu ou não? Suponha que a Bíblia nunca tenha existido, que tudo foi apenas uma fábula. Eu penso que esta fábula está mais viva hoje do que todas as pedras!
Esta observação me parece muito sábia. A ciência é uma necessidade fundamental para os humanos, mas a poesia e a fábula também o são e não há nenhuma razão para crermos que Deus só se manifesta através de verdades cientificamente comprováveis.
Uma pequena nota final: limitei o texto ao essencial para a condução do raciocínio entre as quatro formas de organização social que percebo nas lendas de Bereshit. O texto é muitíssimo mais rico do que os poucos trechos que usei, assim como são muitíssimo variadas as suas leituras.
Raul Cesar Gottlieb é engenheiro, diretor de Devarim, ativista da ARI, da WUPJ e participante dos grupos de estudos de Torá da ARI.
Notas
1. Considero “Israelitas” tanto os descendentes de Jacó/Israel como as famílias dos patriarcas. 2. The Five Books of Moses: a Translation with Commentaries, de Robert Alter, publicado em 2004 por W. W. Norton & Company. As citações de Bereshit foram traduzidas a partir deste livro. 3. Robert Alter registra três formas de descrição do ato sexual em Bereshit: “vir para dentro” (ou “penetrar”), “conhecer” e “ir para a cama com”. A primeira, que é a usada neste trecho, é inegavelmente a mais crua. 4. O midrash é o método de interpretação que recorre a histórias complementares, criadas pelos intérpretes, para explicar as passagens do texto da Torá.

