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Em Poucas Palavras
Talmud: causa ou efeito?
Há poucos meses quase todos os sites judaicos estamparam orgulhosamente a notícia que a Coréia do Sul havia adotado o Talmud como livro de leitura obrigatória para os alunos da rede escolar. A origem desta onda foi uma entrevista concedida ao site israelense Ynet pelo embaixador coreano em Israel. “Ficamos curiosos pelo alto nível de sucesso acadêmico dos judeus e por seu altíssimo percentual de Prêmios Nobel... Concluímos que um dos motivos disto é que os judeus estudam o Talmud”, explicou o embaixador.
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Talvez os coreanos tenham que repensar o assunto. É inegável que o Talmud é fonte de grande sabedoria, especialmente por expor os vários ângulos de um assunto e por incluir opiniões divergentes, mesmo quando defendidas por grupos minoritários, sem desvalorizá-las.
No entanto, pouquíssimos (se é que algum) dos cientistas judeus admirados pelos coreanos e pelo restante da humanidade estudou o Talmud. O mais próximo que chegaram foi ler casualmente alguns trechos esparsos dele.
Atribuir ao Talmud o sucesso dos judeus na ciência é algo francamente duvidoso, pois a geração de conhecimento não se faz por mera herança cultural ou familiar, mas sim através de muito esforço pessoal. E este esforço só frutifica em ambientes onde impera a liberdade intelectual, onde é possível questionar sem ser estigmatizado, onde os erros são entendidos não como falhas e sim como parte do processo de aprendizado.
O que a admirável obra chamada Talmud demonstra é que o questionamento, o debate, a valorização dos diversos pontos de vista são marcos eternos da vida judaica. São muito anteriores à explosão científica dos séculos 19 e 20.
A inquietação intelectual e o não conformismo são traços característicos dos judeus desde quando Abraão contestou a então visão dominante dos deuses interventores e Moshé desafiou a opressora estrutura escravocrata da sociedade antiga. Quando os judeus puderam exercer sua inquietação e seu inconformismo livremente, produziram resultados maravilhosos para a humanidade, tal como a visão ética monoteísta, a estrutura política que cultiva a liberdade, o Talmud e os prêmios Nobel da atualidade.
Ou seja, o Talmud é parte do efeito e não a causa do amor judaico pela investigação e pela especulação intelectual. Os coreanos, em sua salutar busca por uma sociedade orgulhosamente produtiva, já se esforçam para criar este ambiente. O Talmud, lido em seu contexto histórico, é uma fonte de inspiração, não um livro texto.
Que medo eles têm de nós?
Na quinta-feira, 14 de abril de 2011, vândalos até o momento não identificados quebraram as janelas da sinagoga Reformista de Raanana em Israel e picharam sua parede externa com frases ameaçadoras. Foi o terceiro incidente desta natureza contra a sinagoga nos últimos meses.
No dia seguinte, ao deixar a sinagoga após o kabalat shabat, membros da congregação Massorti (Conservadora) de Natania, não longe de Raanana, foram agredidos com pedras jogadas por pessoas também não identificadas.
Estes incidentes não são novos, muitos casos semelhantes foram registrados nos últimos anos. Sem a menor dúvida, existem cidadãos israelenses extremamente incomodados com o crescimento das vertentes religiosas não ortodoxas, o que demonstra por um lado que a intolerância religiosa é um problema a ser resolvido cada vez com mais urgência e, por outro lado, que os movimentos religiosos Reformista e Massorti têm ganhado cada vez mais adesão de judeus do Estado de Israel.
É o caso de perguntar: Que medo eles têm de nós? Que ameaça representa uma forma diferente de pensar que respeita todas as demais? Quem se sente incomodado por uma visão de Quando o muro separa uma ponte une Se a vingança encara o remorso pune Você vem me agarra, alguém vem me solta Você vai na marra, ela um dia volta E se a força é tua ela um dia é nossa Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando Que medo você tem de nós, ...
O melhor lugar do mundo é aqui
OInstituto Weizmann de Ciências, localizado em Rehovot, Israel, foi reconhecido mais uma vez pela revista The Scientist como o “melhor lugar do mundo para trabalhos acadêmicos” fora dos Estados Unidos. O Weizmann é considerado há muitos anos uma das cinco melhores instituições do mundo e já foi classificado em primeiro lugar várias vezes.
A revista ouve a opinião de milhares de pesquisadores no mundo todo, inmundo racional e inclusiva? De onde deriva a insegurança que gera este medo? Cabe lembrar a composição “Pesadelo”, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, criada em 1972, em pleno período de chumbo da ditadura brasileira:
clusive do Weizmann, que é uma das maiores instituições do mundo em pesquisa multidisciplinar, com cinco faculdades – Matemática e Computação, Física, Química, Bioquímica e Biologia.
Intactivistas – preconceito à vista?
Se consultarmos no Google a expressão “mutilação genital”, todas as primeiras referências relacionam-se à retirada ou impeditivo de uso do órgão genital feminino, sendo que 100% das mesmas são veementes em sua condenação. Ainda prática corrente em muitos países, especialmente na África, acredita-se que existam mais de 100 milhões de mulheres que sofreram este tipo de intervenção, cujo objetivo declarado é, na maioria das vezes, inibir a libido feminina, tida como pecaminosa ou indutora da subversão de valores de suas comunidades. Mulheres que sofreram esta intervenção têm denunciado o que sofreram quando conseguem fugir à repressão de suas sociedades. O mundo ocidental, de maneira geral, encara este como um ato de barbárie.
A circuncisão masculina, porém, prática religiosa judaica e muçulmana, tem sido aceita no mundo ocidental sem maiores traumas, tendo sido inclusive adotada nos Estados Unidos durante muitos anos como prática de saúde pública para o público em geral. Não é fácil encontrar, mesmo com toda a liberdade existente, algum homem circuncidado que se rebele contra este fato.
Bem, parece que a aceitação corrente deste rito ou costume pode estar com os dias contados. Em novembro próximo os cidadãos da cidade de São Francisco, Califórnia, serão convocados para um referendo sobre o tema, em que poderão colocar a circuncisão de menores de 18 anos como prática ilegal, gerando para os adultos responsáveis multas ou até mesmo detenção. A discussão, proposta por grupos que entendem ser a circuncisão um ato tão bárbaro quanto a mutilação feminina, tem levado as comunidades judaica e muçulmana (ótima ocasião para estreitar laços) a avaliar estratégias para a defesa comum de seus interesses, ou seja, a ratificação da legalidade da circuncisão. Os proponentes deste referendo, afiliados a grupos chamados de “intactivistas”, apesar de se declararem a favor da preservação integral do corpo para crianças, têm como seu principal foco o combate à circuncisão, não sendo fácil encontrar referências que condenem igualmente, por exemplo, a realização de furos nas orelhas de meninas (mesmo bebês) para colocação de brincos.
Seus argumentos são majoritariamente antirreligiosos, argumentando que nenhuma religião deveria subsidiar o direito legal a um ato que, a seus olhos, é uma violência. Particularmente, alguns de seus líderes mais ativos têm estabelecido um discurso extremamente agressivo contra os judeus, chegando mesmo a divulgar histórias em quadrinhos em que um super-herói intactivista combate os “mohel-monsters” (mohel é o responsável por executar a circuncisão ritual), estes paramentados sempre como judeus ortodoxos.
Poderia-se identificar nestes grupos uma estranha busca por um fundamentalismo laico, mas parece mesmo que em seu âmago reside, bem camuflado, é verdade, nosso bem conhecido antissemitismo...

Revelando um dos mistérios da Torá

Há um par de anos jornais reproduziram notícia israelense em que dois jornais locais, editados por comunidades ultraortodoxas, haviam retocado a foto oficial do ministério, retirando duas mulheres que o compunham. Um criou sombras onde elas estavam o outro simplesmente as substituiu por dois homens.
Mais recentemente, a famosa foto em que aparecem Barack Obama e sua equipe acompanhando em Washington a operação em que o terrorista Bin Laden foi morto no Afeganistão também foi editada, desta vez por um jornal norte-americano, igualmente editado e direcionado à comunidade ultraortodoxa, retirando-se da foto as imagens da Secretária de Estado, Hillary Clinton, e da Diretora de Contraterrorismo, Audrey Tomason.
Em ambos os casos, os jornais foram acusados de discriminar as mulheres, retirando-as de contextos que indicam seu sucesso em ambientes antes dominados apenas por homens. Por sua vez, os editores justificaram-se indicando a necessidade de preservar seu público leitor das imagens femininas, que burlariam suas rígidas normas de recato e decência.
Devarim, sempre preocupada em aprofundar as questões controversas que afligem o mundo judaico, identificou uma explicação alternativa para o zelo daqueles jornais, dado que apenas as imagens femininas foram apagadas.
Levada às últimas consequências, a proibição de criar ídolos levou à proibição de se fazer imagens de Deus. Porém, como a Torá menciona que o homem foi feito à Sua imagem e semelhança, ao longo de nossa história proibiram-se também as imagens humanas, algo seguido até hoje por algumas comunidades ultraortodoxas. Ao retirar apenas as imagens femininas dos jornais, estas comunidades dão a entender que chegaram a uma conclusão sobre o que muitos especulam há tempos: Deus é mulher!
Simon Hartshorne / iStockphoto.com
O Relatório Palmer
Oprimeiro-ministro da Nova Zelândia, Geoffrey Palmer, foi incumbido no ano passado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, de estudar o incidente da abordagem pelo exército de Israel ao navio turco Mavi Marmara, que tentava furar o bloqueio naval imposto por Israel à Faixa de Gaza. Na abordagem, soldados israelenses mataram civis turcos, o que causou enorme comoção naquele país e um estremecimento nas relações diplomáticas entre Israel e Turquia.
Palmer criou uma comissão composta por um representante da Colômbia, um representante da Turquia e um representante de Israel. O estudo da comissão será concretizado por um relatório a ser apresentado em breve. No entanto, seu conteúdo já vazou na imprensa e traz conclusões interessantes.
A primeira delas é que o bloqueio de Israel à Faixa de Gaza é legal, plenamente amparado pela legislação internacional em vigor. E que Israel tem o direito legal de abordar embarcações que estejam pretendendo furar o bloqueio mesmo fora de suas águas territoriais. Outra conclusão critica Israel pelo uso de “força excessiva” ao abortar a tentativa do Mavi Marmara. E uma terceira conclusão critica a Turquia por não ter impedido a tentativa de rompimento do bloqueio e por manter laços políticos e operacionais com a IHH, a organização islâmica que organizou a operação.
Fontes não oficiais relatam que o relatório ainda não foi liberado, pois estão em curso esforços diplomáticos para reduzir as críticas à Turquia, permitindo assim o restabelecimento de suas boas relações com Israel.
Se estas informações forem verdadeiras, Israel terá logrado uma enorme vitória diplomática. E o que aconteceu com a flotilha deste ano, que foi proibida de navegar a partir da Turquia e da Grécia, sugere fortemente a veracidade das informações.
Fica “apenas” o travo amargo na boca produzido por mais uma acusação de “uso excessivo da força”. Vários relatórios da ONU já apontaram a legalidade das ações de Israel para se defender. No entanto, condenam supostos excessos, no que parece ser uma tendência de sempre condenar Israel por alguma coisa. É o efeito do “outro ladismo” que assola o pensamento do mundo de hoje, pelo qual todos os envolvidos num conflito têm alguma parcela de razão e de culpa.
Mesmo ficando claro no Relatório Palmer quem é o agressor (a flotilha) e quem é o agredido (o Estado de Israel), e que o agressor agiu de forma deliberada e consciente, deseja-se que o agredido se defenda com flores. Temos uma enorme curiosidade de saber como reagiriam a um assalto estes que advogam esta insensata linha de ação. Não existem registros de reações não violentas a agressores violentos por parte dos demais países da ONU. Mas é exatamente isto que se exige constantemente de Israel. Por quê?
