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Mike Grabiner
a missão da World union for progressive Judaism na amériCa latina e no Brasil
mike grabiner
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AWorld Union for Progressive Judaism (WUPJ, União Mundial pelo Judaísmo Progressista) foi fundada em 1926 em Londres, quando Lily Montagu e Claude Montefiore, membros da Sinagoga Liberal de Londres, convidaram líderes judeus, representando comunidades liberais da França, Alemanha, Grã-Bretanha, Índia, Tchecoslováquia1, Romênia, Suécia e dos Estados Unidos a participar de uma conferência em Londres objetivando a formação de uma união internacional de judeus progressistas.
O termo “progressista” foi escolhido como uma maneira de incluir todas as formas do judaísmo modernizado. Vieram cem delegados que aprovaram unanimemente a proposta. A WUPJ foi fundada e Montefiore eleito como seu primeiro líder voluntário, tendo Leo Baeck como seu sucessor entre 1939 e 1953.
Quando Baeck assumiu, os países afiliados já incluíam a Austrália, a Hungria, os Países Baixos, o Mandato Britânico da Palestina e a África do Sul. Inicialmente os esforços da WUPJ foram direcionados para os países da Europa Central. Em meados do século XX, década de 1950, os braços da WUPJ já tinham alcançado a Argentina, o Brasil, o Uruguai e o Caribe.
No final da década de 1980 a queda do comunismo levou ao crescimento de nossas atividades na antiga URSS e outras nações da Europa Oriental, sem perdermos o foco nas Américas do Sul e Central. A WUPJ também jamais deixou de ser uma constante defensora do judaísmo em Israel na era posterior à Segunda Guerra Mundial. Hoje a WUPJ, organização guarda-chuva internacional que abrange os movimentos Reformista, Progressista, Liberal e Reconstrucionista, representa o maior grupo de judeus religiosos do mundo. Um milhão e oitocentas mil pessoas são filiadas globalmente em 45 países e 1.200 congregações.
O maior grupo de judeus religiosos do mundo
Hoje a WUPJ, organização guarda-chuva internacional que abrange os movimentos Reformista, Progressista, Liberal e Reconstrucionista, representa o maior grupo de judeus religiosos do mundo. Um milhão e oitocentas mil pessoas são filiadas globalmente aos movimentos que constituem a WUPJ em 45 países e 1.200 congregações.
A missão da WUPJ é fortalecer os valores e a vida judaica em Israel e em comunidades judaicas em todo o mundo, apoiando e promovendo um enfoque progressista da tradição judaica. O escritório central da WUPJ fica em Jerusalém, a partir de onde trabalhamos para cumprir nossa missão, com a colaboração de nossos constituintes e afiliados pelo mundo afora, construindo e apoiando comunidades, conectando vidas, desenvolvendo lideranças, educando os jovens e defendendo a justiça.
Atuação da WUPJ no Brasil
No Brasil, a WUPJ trabalha em conjunto com a liderança regional local no Conselho Latino-Americano em muitas das áreas descritas acima e ajuda várias comunidades menores que não têm nem rabino nem outra liderança profissional. Convidamos representantes destas congregações para estudar em seminários de liderança oferecidos em suas próprias cidades ou em programas de treinamento de liderança para participantes do mundo todo, como o famoso Seminário de Liderança Beutel, que acontece no Centro Internacional de Educação Saltz em Jerusalém. Nos últimos anos também convidamos membros destas comunidades a participar do Lashir B’Nefesh2, evento anual de música/chazanut, cuja 5ª edição aconteceu em março deste ano na Congregação Israelita Paulista (CIP), em São Paulo. Trouxemos o Rabino Clifford Kulwin, de Nova Jersey, para colaborar com as comunidades de Fortaleza e de Brasília, que não têm rabino, por ocasião de Pessach, onde ele liderou sedarim e encontrou-se com líderes comunitários, após o que visitou também Rio de Janeiro e São Paulo, quando predicou e liderou estudos. Congregantes desta região participaram de seminários para jovens em 2010 e professores estão inscritos no seminário para educadores que acontecerá em julho em Israel. Neste momento a WUPJ, associada à liderança regional local, está empenhada em identificar e treinar novos rabinos para o futuro. Há muito poucos rabinos progressistas no Brasil, e, para que o nosso movimento possa crescer, precisamos ter mais rabinos. A WUPJ é parceira do Hebrew Union College nos Estados Unidos e em Israel, do Leo Baeck College em Londres e do Abraham Geiger College em Berlim, no que tange ao treinamento e à colocação de rabinos em todo o mundo; é muito promissor vermos que há um pequeno grupo de futuro rabinos latino-americanos começando a trilhar o seu caminho pelo sistema.
A WUPJ apoia o enfoque das regiões latino-americanas ao cooperar plenamente com seu movimento paralelo não ortodoxo (Massorti – Conservador) para criar uma base liberal forte.
Isto com frequência enfrenta dificuldades, mas estamos comprometidos com este tipo de associação e verda-
deiro pluralismo. Descobrimos que o judeu brasileiro não ortodoxo realmente se interessa pelo judaísmo liberal, portanto precisamos trabalhar juntos para oferecer uma alternativa religiosa ao Chabad.
Identidade judaica e inclusiva
Vejo muitas das atividades que acabo de descrever não só como essenciais para o crescimento do judaísmo liberal no Brasil, mas também como parte da minha própria caminhada judaica. Fui educado em uma sinagoga ortodoxa central na Inglaterra, mas optei pela Reforma: eu queria manter uma identidade judaica forte mas também queria viver no mundo moderno e estar ativamente envolvido na vida e no pensamento atuais.
Vi o judaísmo reformista como um casamento entre o judaísmo autêntico e os valores liberais, igualitários e inclusivos que sempre valorizei tanto. Dois rabinos reformistas extraordinários me levaram a um envolvimento cada vez maior com o movimento reformista. Passei a assumir responsabilidades cada vez maiores no movimento reformista na Grã-Bretanha e finalmente na World Union, basicamente por não querer que judeus fundamentalistas ultraortodoxos falassem ao mundo em meu nome ou em nome do povo judeu. Tenho que acrescentar ter sido muito influenciado pelo sucesso fenomenal do enfoque multicomunal dado pelo Limmud3 tanto na Grã-Bretanha como no resto do mundo.
Estou convicto de que nós, os movimentos progressistas, precisamos trabalhar com todos os que compartilham a nossa agenda pluralista para combater a crescente influência do fundamentalismo ortodoxo. Atualmente sou presidente do Conselho Diretor da JCOSS (Jewish Community Secondary School), a primeira escola secundária judaica pluralista da Inglaterra, porque acredito na importância da agenda pluralista não só para o futuro do judaísmo progressista como também para o futuro do povo judeu.
Um relatório recente apresentado pelo Instituto de Planejamento de Políticas Judaicas demonstrou sem sombra de dúvidas que o mundo judeu vem se modificando muito depressa; com a exceção gritante de Israel, na maioria das comunidades judaicas no mundo inteiro o núme-
A WUPJ apoia o enfoque ro de falecimentos é maior do que o de das regiões latino-americanas ao cooperar nascimentos. Por toda a diáspora só faz crescer o número de judeus que escolhe se casar fora da comunidade e é cada vez plenamente com seu maior a porcentagem de nossas crianças movimento paralelo não que não é educada judaicamente. Tudo ortodoxo, Massorti – isto nos trouxe a um processo constante Conservador –, para criar de envelhecimento e diminuição da população. A identidade judaica está se toruma base liberal forte. nando mais variada. As relações entre Israel e a diáspora são fortes, mas estão sob pressão. As gerações mais jovens estão menos interessadas em seus irmãos judeus, já que provavelmente estão expostas a opiniões negativas sobre Israel e têm pouca ou nenhuma experiência pessoal sobre Israel que possa lhes servir como fonte de orgulho. Hoje em dia mais de 90% dos judeus vivem em 20% dos países mais desenvolvidos. Apesar disso, as doações dos judeus estão pequenas, e a parcela de sua filantropia que vai para causas judaicas está diminuindo, e esta situação tende a ficar ainda mais crítica na medida em que a geração mais velha e comprometida passe o bastão para a geração seguinte. Considerando-se esta análise, a Agência Judaica de Israel, de cujo Conselho Diretor eu agora faço parte representando a WUPJ, traçou três estratégias-chave: conectar os judeus através de experiências contínuas de Israel e “gente”; inspirar através de modelos de desenvolvimento de lideranças, educação e desempenho, e habilitar através do ativismo social em Israel. É interessante observar que estas estratégias são muito semelhantes ao trabalho que nós da WUPJ já fazemos há algum tempo. Reforçar a identidade judaica e a conexão dos judeus pelo mundo entre si e com Israel é a essência do que somos. Claramente está tudo muito certo com a nossa missão e nossas prioridades. Nosso desafio é continuar trabalhando cada vez mais vigorosamente em nossos quatro programas estratégicos-chave: – Apoiar e estabelecer comunidades progressistas no mundo ajudando-as a conectarem-se entre si e com Israel; – Aumentar nosso apoio aos Programas Internacionais para Jovens e Jovens Adultos, em especial em Israel; – Expandir o papel do Centro Saltz de Educação em Jerusalém como o braço educativo da WUPJ para lideranças laicas internacionais, educadores e treinamento para jovens adultos;
– Expandir o nosso papel na defesa da justiça com a recente chegada do nosso novo presidente, Rabino Stephen Fuchs, e com ênfase cada vez maior na transmissão da nossa mensagem.
Voltar os holofotes para o Brasil
Creio firmemente que, graças à nossa visão inclusiva, além de ter um papel muito importante a desempenhar junto aos nossos constituintes e afiliados, ajudando a acelerar mundialmente o crescimento do judaísmo progressista, a WUPJ também tem outro papel crucial a representar, que é o de assegurar o futuro mais forte possível para o povo judeu.
Os próximos anos trarão ao Brasil eventos esportivos internacionais da maior importância: a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Os holofotes do mundo estarão voltados para o Brasil, e o País estará justamente orgulhoso de toda esta merecida atenção. Isto nos leva a pensar que também nós da WUPJ deveríamos voltar os holofotes para o nosso próprio trabalho no Brasil, continuando a proporcionar-lhe a atenção e o carinho que lhe é devido.
O Brasil, com aproximadamente cem mil judeus, tem a segunda maior população judia da região, e é um parceiro de grande importância dentro da WUPJ, o que já era óbvio em 2008, quando o Rio orgulhosamente foi anfitrião por ocasião da Conferência Regional Latino-Americana
Vi o judaísmo reformista da WUPJ, maravilhosa celebração de hiscomo um casamento entre o judaísmo tórias de sucesso regionais e de prosperidade de nossas comunidades locais. Esta foi também a região que mandou a maior autêntico e os valores delegação à nossa última conferência bialiberais, igualitários e nual em San Francisco, EUA, um tributo inclusivos que sempre à crescente influência da região dentro de valorizei tanto. nossa família global. Valorizamos sobremaneira os esforços dos ativistas que estão liderando a WUPJ na América Latina, da mesma forma com que reconhecemos o valor da revista Devarim, que está fazendo um excelente trabalho de divulgação do pensamento judaico moderno no Brasil. É uma honra e um enorme privilégio para nós termos a oportunidade de trabalhar com líderes laicos tão extraordinários na WUPJ com o objetivo de assegurar a continuidade e o crescimento dinâmico da vida judaica na região.
Notas
1. Tchecoslováquia: país que existiu na Europa Central entre 1918 e 1992, no território ocupado hoje pelos países República Tcheca e Eslováquia. 2. Lashir B’Nefesh – “Cantando com a alma”: encontro periódico, iniciado em 2008, com o objetivo de troca de experiências e aprimoramento de chazanim e shlichei tsibur das kehilot brasileiras. 3. Limmud, palavra hebraica para aprendizado, é um programa educativo originalmente desenvolvido na Grã-Bretanha em 1980 e hoje exportado para outros locais e que reúne um impressionante número de pessoas e temáticas. Mike Grabiner é Chairman da World Union for Progressive Judaism (WUPJ). Traduzido do inglês por Teresa Roth.


Em 1991, após a queda da antiga URSS, dezoito jovens da Congregação Há-Tikvah”, em Kiev, reintroduziram o movimento reformista na Ucrânia.
