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Nathan Klabin e Yehuda Magid

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Gabriel Mordoch

Gabriel Mordoch

os caminHos de israel e o papel da diáspora

Convencionalmente, a disputa entre Israel e os palestinos é vista como um “jogo de soma zero”. Em essência, esse “jogo” significa que um dos jogadores só pode ganhar às custas das perdas do outro. Ao se avaliar os benefícios para a sociedade israelense de algumas das suas empreitadas mais polêmicas, vemos que ambos os jogadores só têm perdido.

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7 Cada vez mais a população de Israel tem se perguntado: Será que estou disposto a pagar pelos custos exorbitantes dos assentamentos? Será que estou disposto a pagar para que nossas tropas protejam três famílias em Nablus, cujos filhos provavelmente nem mesmo servirão no exército?

nathan Klabin e Yehuda magid

Um grupo de sete jovens foi destinado a proteger três pequenas famílias judias que compunham a totalidade da população de um assentamento israelense em Nablus. Durante uma dessas noites duras do inverno israelense, em uma das rondas, o sargento deixa escapar sua insatisfação com o nobre dever a ele dado. Ele comenta com um de seus comandados que havia mais soldados defendendo o assentamento do que pessoas vivendo nele.

A história não é exatamente engraçada, mas é verdadeira. Ela nos faz pensar no custo para a sociedade israelense em defender assentamentos como aquele. Poderíamos dizer, também, no custo pessoal para aqueles soldados, mas em Israel os custos pessoais para a manutenção da sociedade já não são mais tão valorizados. Talvez seja por causa da dúvida generalizada sobre as prioridades para as quais são direcionados os benefícios gerados pelos custos pessoais.

Na recente crise que abateu Israel, ao decidir incluir lugares da Cisjordânia na lista de lugares do Patrimônio Cultural Nacional, o foco das lentes internacionais novamente mirou na política de assentamento israelense. Mais uma vez, Israel foi alvo de críticas, a maioria delas injustas e com bases antissemitas.

No entanto, alguns grupos dentro de Israel e na Diáspora têm sido capazes de ajudar Israel a emergir cada vez mais forte dessas crises. Como isso tem acontecido?

Convencionalmente, a disputa entre Israel e os palestinos é vista como um “jogo de soma zero”. Em essência, esse “jogo” significa que um dos jogadores só pode ganhar às custas das perdas do outro. Porém, se reavaliarmos a situação,

Os custos econômicos para os palestinos da Cisjordânia já se tornaram uma realidade aceita na sociedade israelense. O que é mais difícil, no entanto, é reconhecer os custos econômicos que certos assentamentos causam para Israel.

veremos que o “jogo” já não é mais esse. Ao se avaliar os benefícios para a sociedade israelense de algumas das suas empreitadas mais polêmicas, vemos que ambos os jogadores só têm perdido.

Primeiro, os que já estavam perdendo com a lógica antiga e que continuam perdendo. Para os palestinos é inquietante a presença de tropas israelenses. Ela alimenta nos seus imaginários a possibilidade de serem expulsos de suas casas e de terem sua mobilidade limitada.

E agora, os israelenses, que a princípio ganhavam com o “jogo” antigo, mas que, uma avaliação inteligente indica que, na verdade, também estão perdendo. Os custos econômicos para a manutenção constante de proteção e as vidas perdidas desnecessariamente são apenas as perdas iniciais. Mas esses são apenas os custos que nós impomos a nós mesmos. Devemos pensar também nos custos que as lentes internacionais causam e, com elas, as chances dadas para que a imagem de Israel seja distorcida por ideias antissemitas e que constituem uma ameaça tanto para os judeus em Israel como para os que estão na Diáspora.

Os antissemitas sempre encontrarão uma forma de expressar seu ódio infundado. Basta ver, por exemplo, a enxurrada antissemita que surgiu para criticar o fantástico hospital que Israel construiu no Haiti após o trágico terremoto que destruiu esse país. Não devemos deixar de fazer nada por causa de medo dos antissemitas, uma vez que eles nunca abandonarão seu ódio irracional. Porém, seria um benefício para nós mesmos se não déssemos a eles o substrato necessário para expressarem esse ódio de mais uma forma.

Os custos econômicos para os palestinos da Cisjordânia já se tornaram uma realidade aceita na sociedade israelense. O que é mais difícil, no entanto, é reconhecer os custos econômicos que certos assentamentos causam para Israel. Enquanto os gastos do Ministério da Educação sofreram um corte de 4.8 bilhões de shekels entre 2001 e 2009 e a taxa de desemprego se encontra ao redor de 8% da população economicamente ativa, o primeiro-ministro Netanyahu decidiu redesenhar o “Mapa de Prioridades Nacionais” para incluir assentamentos na Cisjordânia.

Essa decisão demandou que 4,5 bilhões de shekels adicionais fossem destinados para a estruturação desses assentamentos. Ou seja, os custos destinados para assentamentos seriam muito bem-vindos em melhoramentos na educação. Cumpre avaliar o que é mais importante para o nosso futuro: morar em Hebron ou o desenvolvimento da nossa juventude?

Nós todos, tanto na Diáspora quanto em Israel, já nos acostumamos a lidar com a variedade enorme de problemas necessários para preservar nossa herança cultural e existência. Problemas que vão desde a segurança até o meio ambiente, passando por educação, assimilação, desemprego e direitos humanos.

Entretanto, estar acostumados não significa não fazer nada para resolvê-los! Faz parte da essência judaica trabalhar para melhorar a realidade. Não apenas abrandar os problemas do mundo, mas principalmente tentar resolvê-los com soluções autossustentáveis a longo prazo. Não podemos jamais nos render à ideia de que “não há nada que eu possa fazer”. Entretanto, infelizmente a maioria de nós ainda não quer considerar seriamente as soluções, apesar de já sabermos quais elas são.

Israel dedica aproximadamente 9% do seu gasto público para a população dos assentamentos, que, por sua vez, constitui menos de 4% da população total. Além disso, dos 15% do orçamento nacional destinado para segurança, 15% são destinados para proteção de assentamentos na Cisjordânia. Isso sem contar com os gastos desproporcionais que os diversos ministérios precisam destinar para os assentamentos. Por causa desses gastos econômicos excessivos e por causa da exposição internacional que garante aos antissemitas de plantão a oportunidade de atacar os judeus do mundo inteiro, devemos fazer uma reavaliação das nossas prioridades e de quais são as formas autossustentáveis de apoiar Israel.

Cada vez mais a população de Israel tem se perguntado “será que estou disposto a pagar pelos custos desses assentamentos? Será que estou disposto a mandar meus

Israel dedica filhos para escolas públicas inadequadas aproximadamente 9% do seu gasto público enquanto o dinheiro necessário para melhorá-las está sendo enviado para a construção de escolas nos assentamentos? Será para a população dos que estou disposto a pagar os custos exorassentamentos, que, por bitantes para que nossas tropas tenham sua vez, constitui menos que proteger três famílias em Nablus, de 4% da população cujos filhos provavelmente nem mesmo servirão no exército?” Por mais simples total. Além disso, dos que essas perguntas sejam, elas têm sido 15% do orçamento ignoradas por muitos de nós. nacional destinado No entanto, o vínculo emocional que para segurança, muitos sentem por um pedaço de terra 15% são destinados cria uma imagem mais complicada do que uma análise econômica pode indipara proteção de car. Para alguns, esse vínculo emocional assentamentos na tem base no nacionalismo, para outros

Cisjordânia. Cada vez tem base religiosa e para outros, algum mais a população de Israel tem se lugar intermediário entre o nacionalismo e a religião. Porém, não importa por qual razão, o fato é que retirar assentamentos perguntado: será que judaicos na Cisjordânia cria um conflito estou disposto a pagar em muitos de nós. Mas, mesmo assim, pelos custos desses para que Israel possa crescer economicaassentamentos? mente e como uma democracia, devemos evoluir com algumas das nossas emoções para que elas deixem de ser impulsos que nos fragilizam e se tornem ideias sólidas e racionais que nos fortalecem. Nossas decisões precisam se basear em interesses a longo prazo que garantam tanto nossa existência física como nossa herança cultural. Não podemos nos tornar reféns de impulsos emocionais e muito menos de atitudes religiosas particulares. Muitos de nós argumentam que continuar a presença militar na Cisjordânia é essencial para a segurança de Israel. Para concordar com isso não é preciso muito. Basta conhecer minimamente Israel. A necessidade de capturar terroristas que se escondem em cidades e vilas palestinas é inquestionável. Porém, o que é questionável, e muito, é como assentamentos israelenses contribuem com esta necessidade. Enquanto o fim da presença militar na Cisjordânia não corresponde a uma possível solução autossustentável, uma reavaliação dos assentamentos na Cisjordânia permitiria melhor distribuição de recursos dentro do Estado de Israel.

A recente decisão de Netanyahu de incluir o Túmulo dos Patriarcas e de Rachel, localizados em Hebron e Bethlem, na lista de Patrimônio Nacional de Israel ilustra o esforço do governo israelense em fortalecer sua presença na Cisjordânia. A decisão tomada pelo primeiroministro é complexa e mais complexos ainda seus resultados. Porém, ela é facilmente justificada se alguém quiser observar esse “jogo” como um de soma zero. Uma perspectiva prejudicial e reacionária. Precisamos entender que fazer a concessão de pedaços de terra como Hebron não é o mesmo que permitir um novo Holocausto. Não bastaria garantir no futuro acordo de paz o direito de visita de todos os judeus aos sítios históricos localizados dentro do Estado dos palestinos?

Reavaliar a necessidade de assentamentos não é apenas mais uma opção da esquerda em Israel. É um ponto essencial e que pode mudar a equação do conflito drasticamen-

Precisamos entender te, fazendo-o sair de um jogo onde todos que fazer a concessão de pedaços de terra estão perdendo para um jogo onde todos saem ganhando. O papel da Diáspora não deve ser mecomo Hebron não é o nor do que o dos judeus em Israel. Ao mesmo que permitir longo desses 62 anos de existência do Esum novo Holocausto. tado de Israel, a Diáspora tem sido essenNão bastaria garantir cial para a renovação das forças israelenses. Não se trata apenas de doações e inno futuro acordo de vestimentos materiais. Trata-se de algo paz o direito de visita muito maior. Trata-se do poder das ideias de todos os judeus novas, que criam soluções não apenas aos sítios históricos para Israel, mas também para o mundo localizados dentro do e, com isso, revelam sua essência de líder entre as nações.Estado dos palestinos? No Brasil, especificamente, o caminho para contribuirmos para a mudança da equação desse jogo não é fácil. O principal problema no Brasil, quando colocado em comparação com outras comunidades judaicas, é a assimilação. Não gostamos de assumir isso, principalmente nossas instituições, pois isso significa assumir que não estamos sendo capazes de fazer

Para os palestinos é inquietante a presença de tropas israelenses. Ela alimenta nos seus imaginários a possibilidade de serem expulsos de suas casas e de terem sua mobilidade limitada. Na foto, vilarejo palestino próximo à cidade de Bethlehem, na Cisjordânia.

Os custos destinados para assentamentos seriam muito bem-vindos em melhoramentos na educação. Cumpre avaliar o que é mais importante para o nosso futuro: morar em Hebron ou o desenvolvimento da nossa juventude?

nosso trabalho como deveríamos. No entanto, a solução está em duas medidas aparentemente simples: melhorar a educação judaica para criar líderes melhores e reformar nossas formas de organização para que as ideias dos novos líderes possam florescer. Com bases fortes, nossa comunidade será mais eficiente, a assimilação diminuirá substancialmente e seremos capazes de melhor representar os vínculos entre Israel e Brasil, ajudando a diminuir o antissemitismo no mundo.

Como podemos ver, ainda há um longo caminho a ser percorrido, tanto na nossa comunidade no Brasil quanto em Israel. No Brasil, novas instituições estão batalhando para diminuir a assimilação e canalizar novas ideias que de outra forma seriam perdidas. Esse é o caso, por exemplo, do Hillel. Em Israel, a recente decisão de paralisar a construção de assentamentos por dez meses, apesar de insuficiente, aponta para a direção correta. Entretanto, demos um passo para frente e dois para trás quando foram adicionados os Túmulos dos Patriarcas e de Rachel para a lista de Patrimônios Nacionais de Israel.

Já chegou a hora de nós todos agirmos, não apenas para o benefício de Israel, mas também dos palestinos, e pararmos com a expansão de assentamentos na Cisjordânia definitivamente. Não se trata de simplesmente abandonar todos os territórios conquistados depois de 1948. Jerusalém, por exemplo, deve continuar sendo nossa capital, única e eterna. Porém, devemos nos perguntar qual é o benefício de termos todos os territórios de Jerusalém Oriental. O benefício econômico que Israel terá é apenas a ponta do iceberg. Os benefícios para todos, judeus e não judeus, são incalculáveis e talvez só mensuráveis por unidades de “leite e mel”.

Nathan Klabin é graduado em Relações Internacionais pela PUCRio e atualmente cursa o Mestrado em Governança e Diplomacia na IDC, Herzlyia. Yehuda Magid é formado em Ciências Políticas pela Universidade de Indiana, serviu no exército israelense no Batalhão de Forças Especiais da Brigada Nahal e atualmente cursa o Mestrado em Governança e Diplomacia na IDC, Herzlyia.

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