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médico relata que é formado pelos mesmos níveis de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS): primário, secundário e terciário. “A área primária é bastante desenvolvida. Há uma demarcação de território bem estabelecida”, fala. Uma equipe multidisciplinar de Saúde da Família atende em média 400 habitantes, segundo informa Silva. No Brasil, o Programa Estratégia de Saúde da Família (ESF) recomenda uma média de 3 mil pessoas para cada equipe. Outra diferença para o SUS está nas visitas domiciliares, que em Cuba são realizadas pelo próprio médico e não pelos Agentes Comunitários de Saúde. “O médico tem a obrigação de fazer determinado número de visitas em domicílio por dia. Ele vai lá com a enfermeira decidir condutas, aplicar programas e trazer o paciente para o posto de saúde”, explica, dizendo que tal medida no Brasil se tornaria impraticável devido à relação de número de médicos para cada habitante. Apesar da população do país caribenho ter acesso a exames de Alta Complexidade, como rastreamento de DNA, por exemplo, a quantidade de procedimentos disponíveis é limitada. “No Brasil temos uma universalização dos meios diagnósticos. Como em Cuba há uma carência, se valoriza a clínica”, observa. Segundo o médico, esse fato já é bem internalizado pelo cubano que, ao procurar um profissional, não costuma pedir para fazer determinado exame e, sim, buscar o atendimento clínico. Essa valorização da clínica médica seria um reflexo da ausência do privado dentro da saúde cubana. “Lá, é proibido privatizar. Nenhuma empresa, que não seja estatal, pode montar um serviço de ultrassom”, exemplifica. “O Estado tem que estar presente em tudo. Em Cuba ninguém ganha dinheiro com Medicina. É por vocação.” Assim, Silva acredita que seja possível ver o lado mais humano da profissão, considerando o paciente como um todo, analisando o meio onde ele se encontra. Numa situação diferenciada no que se refere a Cuba, pelas condições econômicas, o Reino Unido criou o Sistema Nacional de Saúde, NHS (sigla para National Healthy System) em 1948 e, assim como o SUS, criado 40 anos mais tarde, o NHS nasceu após um pe-

Na Inglaterra há oito anos, o médico Ricardo Petraco acredita que o programa Mais Médicos deve ser atrelado a outras ações e a mais investimento para dar resultados

ríodo conturbado da história, no caso britânico, o Pós-Guerra, quando toda a administração pública necessitava de reformas. Além disso, a proposta de universalidade do SUS também se assemelha ao NHS, que trabalha com o ideal de que uma boa assistência à saúde deve estar disponível a todos, independemente da renda. O princípio se mantém até hoje, 65 anos após sua criação, com exceção da cobrança para prescrição de alguns medicamentos e serviços ótico e dental. O sistema se mantém livre para o uso de qualquer pessoa que more no Reino Unido. Hoje, o NHS atende uma população de mais de 63 milhões de pessoas e emprega cerca de 1,7 milhão. O financiamento vem da arrecadação de impostos e é concedido pelo Departamento de Saúde do Parlamento. O gasto estimado para 2012/2013 foi de R$ 403 bilhões ou 108,9 bilhões de li-

O médico tem a obrigação de fazer determinado número de visitas em domicílio por dia. Ele vai lá com a enfermeira decidir condutas, aplicar programas e trazer o paciente para o posto de saúde. Weslei Xavier da Silva

bras esterlinas (£). Para ter acesso aos serviços oferecidos pelo NHS, cada cidadão tem de estar vinculado a um médico da família, o General Practitioner (GP). Esse profissional é parte de uma equipe formada também por enfermeiras, auxiliares de saúde, gestores, recepcionistas e outros trabalhadores. O GP funciona como a porta de entrada no Sistema e deve ser o primeiro profissional que o cidadão britânico deve procurar para se vincular ao NHS. O usuário pode escolher o médico que será sua referência dentro do sistema, desde que seja dentro da área de cobertura de sua residência, podendo trocar quando não estiver satisfeito com o atendimento ou quando mudar de endereço. Os casos que não podem ser solucionados apenas com a visita ao GP são encaminhados a um hospital para exames, tratamento ou consulta com um especialista. Outros serviços de atenção primária, como acompanhamento de pacientes com doenças crônicas e a avaliação de pacientes de baixo risco, por exemplo, são realizados nos postos de saúde por profissionais como enfermeiras e técnicos de saúde. O sistema britânico tem muitas semelhanças com o SUS nos seus princípios, mas podemos encontrar uma diferença fundamental na formação dos profissionais que irão atuar dentro do NHS. No Reino Unido, a formação médica tem forte componente acadê-


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