O caminho delas: o urbanismo pensado por e para mulheres em Santa Maria DF (parte 1)| FAU UnB

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o caminho delas: o caminho delas: O urbanismo pensado por e para mulheres em Santa Maria/DF

Diplomação 2

1/2021

FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Orientadora

Patrícia da Silva Gomes

Banca

Carolina Pescatori Candido da Silva

Ana Carolina Carvalho Farias

Aluna

Arissa Kaori Honda

15/0166290

Apresentação Apresentação

O presente documento apresenta o Trabalho de Conclusão de Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU UnB), intitulado “O caminho delas: o urbanismo pensado por e para mulheres em Santa Maria/ DF”.

A proposta elaborar uma planejamento a partir da perspectiva de gênero, visto as limitações ao acesso a cidade, tanto pela questão do assédio e/ou violência quanto pelo medo que nós carregamos ao sair de casa. O que se propõe não é uma cidade livre de homens, mas que as partes mais vulneráveis à vivência na cidade possam ter o mesmo direito.

Por meio do processo participativo, principalmente pelo contato com as líderes comunitárias, pode se chegar a diretrizes e propostas que beneficiaram a cidade como um todo, visto que as demandas eram para a comunidade, não apenas para mulheres, dado o posicionamento que ocupam na estrutura familiar, muitas vezes, destinadas aos cuidados do lar e dos demais membros da família.

Ao projetar sob a perspectiva da mulher, coloca-a como agente transformador do meio, promovendo o direito à cidade para todos.

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Sumário Sumário

Introdução 5

Objetivos 8

Justificativa 9

Referencial Teórico 11

1.Mulher e cidade, uma visão geral 12

A pandemia de Covid-19 e a questão da mulher 17

2.Mulher na periferia da cidade modernista de Brasília 18

Estudos de casos 23

Método de trabalho 29

Diagnóstico da área de estudo 30

Propostas e diretrizes 65

Síntese da mesa de conversa 66

Propostas escala macro 69

Praças 77

Considerações finais 128

Referências bibliográficas 129

Introdução Introdução

Ao fazer uma rápida pesquisa a respeito da violência contra mulher no Distrito Federal, percebe-se que a mulher não está segura nem dentro da própria residência nem fora dela. Como é possível garantir o mínimo de segurança à mulher, se dentro da própria casa ela já sofre com os abusos? Vivemos com medo em todos os lugares, ficamos refém do medo. Pensando nas raízes dos problemas de desigualdade que enfrentamos, acredito que quando a mulher se sentir segura para ir e vir, teremos uma sociedade equitativa e, assim, os erros do passado poderão ser corrigidos.

Mas, enquanto isso não é possível, o presente trabalho propõe, a partir destas questões levantadas, formas para que a cidade seja mais segura para as mulheres, principalmente no quesito da mobilidade urbana. Utilizando as ferramentas que o planejamento e desenho urbanos fornecem para tornar a cidade mais acessível à mulher. Como objeto de estudo empírico propõese intervenções urbanas com foco em gênero em uma área de Região Administrativa (RA) Santa Maria/DF. Justifica-se pela sua condição periférica, na qual as experiências cotidianas das mulheres são marcadas por um sobreposição de opressões.

Com efeito, as mulheres em condição periférica estão submetidas à uma sobreposição de opressões, na medida em que que além das rotinas múltiplas, típicas do cotidiano de qualquer mulher, se sobrepõe às vulnerabilidades espaciais - falta de autonomia financeira

(muitas mulheres precisam abandonar o trabalho para cuidar dos filhos), sujeição a trabalhos de baixa remuneração, mais horas gastas no transporte coletivo, sobretudo para acessar os locais mais qualificados de trabalho e educação que ainda estão nas áreas centrais, maior tempo gasto com as atividades domésticas (não podem se dar ao luxo de pagar por esses serviços), falta de tempo ou recursos para buscar atividades de lazer. Assim, em algumas situações dadas pela orientação sexual (lésbicas/bissexuais), raça (negras) e classe social (pobres), pode-se falar de uma sobreposição de opressões.

É sabido que as regiões mais

periféricas do Distrito Federal possuem uma população que depende mais dos serviços de transporte público, seja pelo custo ou seja pela rapidez (pensando nos corredores exclusivos) dos mesmos. Segundo dados do Plano de Desenvolvimento do Transporte Público sobre Trilhos do Distrito Federal (PDTT/DF)(2018), quanto menor a renda domiciliar maior, a porcentagem de pessoas que utilizam o transporte público coletivo, somando-se a isso, tem-se o fato de a renda per capita de Santa Maria - estimada em R$ 990,85 (CODEPLAN, 2018) - ser uma das menores do conjunto metropolitano, conforme dados do site Brasília

Metropolitana1 (tabela 1), tomados como base o ano de 2018, quando o valor de referência do salário mínimo era de R$ 954.

Tendo o contexto socioeconômico da cidade e a questão da mulher da periferia, faz se necessário pensar em medidas que deem oportunidades a essas mulheres, para que elas possam conquistar a cidade da mesma forma que o homem o faz. Além disso, a cidade faz fronteira com outros dois municípios de Goiás - Novo Gama e

1 O site do governo utiliza os dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) 2018 e a partir disto criaram-se as estatísticas. No decorrer da diplomação ainda pretende-se destrinchar os dados referentes a Santa Maria.

Figura 01_Imagem
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vetorizada e de satélite da área a ser trabalhada. Fonte: elaboração própria.

Valparaíso - o primeiro com condições socioeconômicas piores que RA e o segundo com uma condição semelhante. Essa interação pode ser percebida pela Figura 01. Assim, se espera que as contribuições dadas neste trabalho de alguma forma também possam alcançar as necessidades desta população, que, por vezes, é abandonada pelo próprio Estado de Goiás quanto pelo Distrito Federal.

Minha vivência como mulher, é uma pequena fatia das percepções das mulheres do Distrito Federal e Entorno, visto que esta Metrópole abriga uma diversidade de crenças, raças/cores, idades, rendas, cada uma com a sua individualidade. Mas, ao sair de casa acredito que algumas perguntas passam pelas nossas cabeças, pelo menos na minha - Por onde eu vou? Por aquele caminho que eu sei que vai estar movimentado ou aquele que parece um beco, mas tem sombra? Qual roupa eu posso vestir? Qual bolsa é mais segura? Talvez, a minha noção de segurança seja igual ao da maioria das pessoas, entretanto, seria uma inverdade dizer que eu tenho menos preocupações ao andar na rua do que um homem.

Ademais acredito que, por anos, nossas cidades foram desenhadas e planejadas por homens. Brasília é um exemplo desse planejamento a cidade foi concebida de forma hostil ao pedestre, em especial as mulheres a cidade é cortada por vias rápidas, nas quais caso você, pedestre e ciclista, queira atravessar a via, terá que ser por um “túnel” (Figura 02). Atribuindo esta lógica à mulher, aquela que não tiver veículo particular, terá de conviver com essas armadilhas, seja por passagens subterrâneas ou por passarelas aéreas, porque na cidade moderna carro não

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Tabela
Unidade Territorial Estado Habitantes Homens (%) Mulheres (%) Renda per Capita (R$) Renda Domiciliar per Capita (R$) Conectados à Internet (%) Automóveis por habitante Domicílios Habitantes por Domicílio Esgoto (%) Água (%) Energia Elétrica (%) SCIA DF 35.520 51 49 485,97 573,34 80,2 8,3 10.081 3,52 63 86 71 Riacho Fundo II DF 85.658 49 51 756,94 803,09 98,6 4,47 26.319 3,25 96 100 100 Fercal DF 8.583 51 49 739,145 816,29 86,7 5,38 2.304 3,73 19 68 100 Paranoá DF 65.533 48 52 732,55 829,58 91,1 6,74 19.083 3,43 100 99 100 Varjão DF 8.802 49 51 712,89 840,58 78,4 7,22 2.725 3,23 100 100 100 Recanto das Emas DF 130.043 48 52 774,08 859,54 98,1 4,56 36.880 3,53 96 100 100 Itapoã DF 62.208 50 50 816,61 931,9 91,2 5,21 18.085 3,44 96 100 100 Santa Maria DF 128.882 48 52 871,64 990,85 92 5,01 36.600 3,52 98 98 100 Samambaia DF 232.893 48 52 857,73 997,09 98,4 4,54 68.804 3,38 100 100 100 Ceilândia DF 432.927 48 52 1.006,37 1.125,06 89,3 4,93 125.353 3,45 91 100 99 Brazlândia DF 53.534 48 52 1.026,97 1.129,13 90,9 4,79 15.684 3,41 100 99 100 Planaltina DF 177.492 48 52 977,47 1.139,38 93,4 4,71 51.785 3,43 89 100 100 Riacho Fundo DF 41.410 47 53 1.151,60 1.321,23 99,6 3,47 13.373 3,1 93 100 100 São Sebastião DF 115.256 49 51 1.132,72 1.374,54 93,8 5,22 33.184 3,47 99 100 100 Candangolândia DF 16.489 48 52 1.405,73 1.434,56 98,8 3,66 4.613 3,57 97 100 100 Gama DF 132.466 48 52 1.346,27 1.604,06 90,3 3,86 39.223 3,38 94 97 99 Padre Bernardo GO 26.112 49 51 577,84 1.746,59 73,08 5,82 8.569 3,05 8 91 99 Cocalzinho de Goiás GO 15.001 49 51 587,74 1.751,45 74,77 5,77 4.949 3,03 1 92 100 Santo Antônio do Descoberto GO 64.567 50 50 591,8 1.842,85 57,14 6,17 19.919 3,24 15 87 99 Novo Gama GO 108.883 50 50 607,3 1.871,31 61,23 6,58 33.345 3,27 15 95 97 Luziânia GO 199.462 50 50 626,04 1.941,43 61,09 6,03 62.318 3,2 18 74 98 Alexânia GO 22.118 51 49 710,51 2.020,44 55,11 5,5 7.290 3,03 2 88 98 Águas Lindas de Goiás GO 206.758 50 50 616,9 2.034,73 74,65 6,54 61.853 3,34 38 90 100 Planaltina de Goiás GO 84.698 49 51 643,1 2.068,82 75,56 6,02 26.227 3,23 23 94 98 Sobradinho DF 60.077 47 53 1.876,64 2.128,37 94,2 3,25 18.328 3,28 84 95 100 Taguatinga DF 205.670 46 54 1.849,77 2.211,60 95,9 3,12 63.802 3,22 100 100 100 Cidade Ocidental GO 63.994 49 51 674,2 2.315,11 58,9 6,27 18.790 3,41 13 94 96 Sobradinho II DF 85.574 48 52 1.957,16 2.353,59 96,6 2,9 24.438 3,5 50 88 100 Núcleo Bandeirante DF 23.619 46 54 2.075,90 2.376,50 97,7 3,13 7.552 3,13 95 99 100 Formosa GO 106.462 48 52 768,09 2.413,03 69,56 5,45 32.884 3,24 31 97 99 Cristalina GO 45.652 51 49 748,54 2.441,67 55,09 5,22 13.501 3,38 6 80 96 Valparaíso de Goiás GO 164.663 50 50 829,34 2.508,92 86,81 4,97 53.816 3,06 30 94 99 Vicente Pires DF 66.491 49 51 2.696,31 2.978,59 98 2,33 19.254 3,45 69 99 100 Guará DF 134.002 46 54 3.215,26 3.688,63 95,8 2,69 41.318 3,24 99 100 100 Cruzeiro DF 31.079 46 54 3.127,81 3.749,44 96,4 2,34 10.950 2,84 100 100 100 SIA DF 1.549 62 38 2.973,56 3.800,18 99,6 2,28 557 2,78 100 100 100 Águas Claras DF 161.184 48 52 3.892,36 4.418,06 99,1 2,47 53.939 2,99 96 100 100 Jardim Botânico DF 26.449 49 51 5.171,91 5.846,12 98,2 2,21 7.361 3,59 51 81 100 Park Way DF 20.511 48 52 5.577,04 5.945,64 96,7 1,8 5.445 3,77 60 99 100 Lago Norte DF 33.103 48 52 5.736,99 6.439,70 99,4 1,65 10.701 3,09 86 93 99 Plano Piloto DF 221.326 46 54 5.863,94 6.749,79 99,3 2,05 85.104 2,6 99 100 100 Sudoeste/Octogonal DF 53.770 47 53 6.650,89 7.131,45 99 1,59 22.116 2,43 100 100 100 Lago Sul DF 29.754 48 52 7.654,91 8.322,81 99,7 1,54 8.477 3,51 94 98 100
01 _ dados socioeconômicos referente ao Distrito Federal e Entorno (ordem crescente por renda domiciliar per capita_CODEPLAN/2018)

pode parar.

Para que erros como este não voltem a ocorrer é preciso haver pluralidade na governança, seja de gênero, raça/cor ou orientação sexual, uma vez que diversos olhares sobre a cidade trazem as particularidades e dificuldades de cada grupo social, assim, seja capaz de tornar o acesso à cidade mais democrático. A participação feminina nas tomadas de decisões do Estado ainda é ínfima, apenas em 2019 é criada a secretaria da mulher no Distrito Federal. E, segundo o ranking do Word Economic Forum, no documento Global Gender Gap Report (2020), o índice de empoderamento político do Brasil está na 104º posição entre 152 países, tendo apenas 15% das mulheres no Parlamento e 9,1% de

mulheres ministras.

Entende-se que não é apenas papel da arquitetura e do urbanismo tornar as cidades mais seguras para as mulheres, é necessária uma mudança na estrutura da sociedade. Pois, medidas que segregam as mulheres acabam por “normalizar” o comportamento inadequado dos homens. Mas, nós não podemos esperar que eles mudem, nós precisamos ter direito à cidade hoje. Assim, entendo que é pela mobilidade urbana, por um planejamento e desenho urbanos que levem em consideração as especificidades de gênero, por medidas que democratizem o acesso à cidade, teremos oportunidades mais justas. Sabendo do papel da cidade nas lutas sociais, projetando os anseios

da sua comunidade, as mulheres têm desempenhado um papel importante, na medida em que elas lutam pelos direitos das minorias, pelo acesso à habitação, pelo acesso à equipamentos urbanos para a comunidade. As demandas da mulher são para a pequena escala - daí a sua pertinência como agente de luta micropolítica.

Desta forma, o trabalho parte do seguinte questionamento: i) como fazer espaços urbanos mais qualitativos a partir e para a percepção da mulher?

Advoga-se que as mulheres são corpos sensíveis no espaço, não apenas porque são mais vulneráveis à utilização deste, de tal modo que um espaço qualitativo para a mulher acaba sendo qualitativo para outros estratos, e também porque portam demandas - por habitação, por equipamentos coletivos, por transporte coletivo, por melhoria dos bairros - que não são apenas para elas, mas para todos. Para desempenhar os múltiplos papéis que lhe são conferidos - manter a casa, levar filhos na escola, acompanhar pais e familiares em tratamentos de saúde, estudar, trabalhar, etc. - acabam por depender mais da mobilidade intraurbana e inter-urbana do que os homens.

Dentro deste recorte temático, a proposta de trabalho é, em uma frente, buscar diretrizes de uso do solo que possibilite, um espaço melhor adaptado às exigências das mulheres e, em outra frente, buscar o desenho dos espaços livres, com foco na mobilidade adaptada às especificidades de gênero e na qualificação de Santa Maria, na região que é compreendida pelas quadras 100, 200 a 207, 301 a 307, pertencentes aos bairros, que se caracterizam como uma das partes mais vulneráveis da

cidade. Conforme a área delimitada pela imagem de satélite da Figura 01.

Pretende-se que os espaços sejam desenhados por e para as mulheres, foi realizada uma mesa de conversa virtual na qual se identificou os principais pontos a serem trabalhados em Santa Maria, um dos pontos abordados foi a falta de equipamentos no bairro do Porto Rico, a falta de creches públicas, o gargalo dos passageiros que desembarcam do BRT e precisam ser distribuidos pela cidade, um comércio que atendam suas necessidades e o desenvolvimento do pólo JK, para a formação de empregos na região.

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Figura 02_Travessia parcial da passagem. Fonte: Uirá Lourenço. Disponível em: <https://brasiliaparapessoas.wordpress. com/2021/02/12/passagens-do-medo/>

Objetivos Objetivos

Objetivo geral:

Desenvolver uma proposta com diretrizes de planejamento e desenho urbanos com foco na mobilidade e na qualificação de alguns espaços livres, que possibilitem uma Santa Maria mais equitativa, para e a partir da perspectiva da mulher.

Objetivos específicos:

- Preparar um mapeamento temático da área de estudo, destacando suas interfaces com a questão de gênero.

- Buscar, por meio da dinâmica de mesas de conversas adaptadas ao meio virtual, a compreensão dos principais problemas vivenciados pelo cotidiano das mulheres, bem com das ações mais prioritárias para adaptar os espaços de Santa Maria às especificidades de gênero.

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Justificativa Justificativa

As problemáticas que envolvem a mulher persistiram ao longo do tempo, dentre elas a exclusão da vida pública, como resultado, cidades que não foram pensadas para a inclusão da vivência do ser feminino, no que preconiza suas necessidades e anseios. Pelos tantos papéis que foram atribuídos à mulher, a responsabilidade de cuidar, fez com que a mulher desenvolvesse um olhar sensível para o todo, entretanto a forma em que se estruturou a sociedade, a representatividade feminina foi sendo menosprezada e apagada da história. Assim, o que se busca ao colocar em evidência a perspectiva de gênero no planejamento das cidades, são as próprias mulheres, a importância delas como agente transformador da cidade.

Em a dominação masculina, de Bourdieu (2012), o autor traz uma narrativa da construção social desta dominação, a forma patriarcal com que se estruturou a sociedade para manter a mulher e suas atribuições reclusas ao ambiente doméstico, tendo como argumento a divisão dos gêneros e a divisão social do trabalho. Alienou-se e treinou-se as mulheres para aceitarem a submissão, com a forma de se vestir, de agir, de ser. Tal forma de dominação tinha seus instrumentos: a violência (tanto física quanto simbólica) e as estruturas sociais (instituições, famílias, Igreja, Escola, Estado).

A mulher, como já foi dito anteriormente, não pode esperar uma mudança de comportamento da sociedade para ter acesso à cidade. As lutas femininas não acabaram, direitos

fundamentais para nos considerar cidadãs já foram conquistados, mas ainda não temos direito sobre nossos corpos e nossas sexualidades, ainda é discrepante a distribuição de cargos, ainda se têm casos de feminicídio, de violência doméstica e de assédios.

Segundo dados1 da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) no ano de 2020, teve uma média de aproximadamente 1.290

1 Os dados foram coletados na plataforma: Observatório da Mulher. Segundo a plataforma, “É um portal que reúne os principais dados referentes às mulheres do Distrito Federal. Criado pelo Decreto n.º 40 476 de 02 de março de 2020, está sob a coordenação da Secretaria de Estado da Mulher.”

casos de violência doméstica por mês, em um ano foram 11.629 casos, mas

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Figura 02_Gráficos com as informações de importunação sexual no DF. Fonte: Observatório da Mulher

sabe-se que muitas vítimas acabam não denunciando o agressor(a), pelo medo, pela falta de preparo da própria polícia em receber a vítima, entre outros fatores. Outro dado apresentado trata sobre os casos de assédio sexual, no qual verifica-se que a maior parte destes ocorrem dentro das residências, e o segundo local mais frequente é no transporte público, conforme Figura 02.

Enquanto essa situação perdurar, tratar da questão da mulher é fundamental, a questão da violência contra as mulheres é um tema que deve ser amplamente discutido na sociedade, para que assim possa se criar o sentimento de empatia pela causa, nada justifica as violências sofridas pelas mulheres. Sabendo da gravidade do assunto, a ONU lançou em 2008 o

Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher (Figura 03).

De fato, não tem como se sentir segura ao olhar os dados, e a solução passa pelas diversas camadas da sociedade, desde a adoção de políticas que protejam as mulheres, a começar da educação, até as ações, dentro da arquitetura e urbanismo, de qualificação dos espaços. Busca-se assim estudar maneiras de tornar o acesso às cidades universal, enquanto esperamos por mudanças de comportamentos e conceitos a respeito da mulher.

Além da violência que a mulher sofre todos os dias, elas precisam lutar pelo direito à cidade, no sentido de acesso aos objetos físicos da cidade (Lefebvre, 2001), essa luta se agrava quando a mulher é da periferia - negra

e pobre -, visto que os empregos que lhe restam, geralmente, são aqueles voltados ao ambiente doméstico e mal remunerados. O acesso à educação é dificultado, têm mulheres que não trabalham para cuidar dos filhos visto a falta de estrutura (creches, escolas integrais...) para permitir que elas tenham independência financeira e/ou possam ajudar a melhorar a condição da moradia. Tendo esse cenário de desigualdade, somado a dinâmica capitalista que não dá oportunidade a essas mulheres, seja pela especulação imobiliária, pelo latifúndio e pelo custo de uma moradia nos centros urbanos, apenas intensificam as desigualdades sociais. A mulher tem-se mostrado como um agente ativo nas lutas por moradia, uma vez que ela é colocada como o centro do lar e do cuidado da família, ela luta firmemente não só por ela, mas pela sua família e pela sua comunidade.

Sabendo das especificidades e lutas dessas mulheres, a escolha por Santa Maria se deu pelo fato de estar em uma região que faz fronteira com Goiás, onde se encontram algumas das comunidades em situação de maior vulnerabilidade social do conjunto

metropolitano. Também está lidando com uma Regional que está distante do centro, o Plano Piloto. Então entendese que é uma população que não teve oportunidade, nem condições financeiras de se manter mais próximas do centro. Pela formação da cidade percebe-se que houve uma tentativa de controlar o desenvolvimento da cidade pelos principais eixos viários (Av. Alagados e Av. Santa Maria), entretanto ao começar expandir além desses eixos, criaram-se bairros desconexos da parte já consolidada, separados por vazios, rodovias e avenidas. Entende-se que espaços ermos são problemáticos para a vivência da mulher à cidade, principalmente o que diz a respeito da mobilidade urbana. Assim, faz necessário pensar em formas de tornar oacesso à cidade universal, tanto por saber do papel central que a mulher ocupa na estrutura familiar quanto da sua comunidade.

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Orange the Word Não à violência contra a mulher Orange the Word Não à violência contra a mulher 25 de Novembro -
Internacional
contra a mulher de Internacional
Figura 03_Orange the World 2015 - Brazil - Black Women’s March against Racism and Violence. Fonte: UNDP/Tiago Zenero. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/unwomen/23134241776/in/album-72157716809719536/>
Dia
para a Eliminação da Violência
Figura 04_“The human rights of women and the girl-child are inalienable, integral and indivisible part of the universal human rights.“ — Vienna Declaration and Programme of Action, 1993. Fonte: Dana Rvana. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/ unwomeneuropecentralasia/32064549747/ in/faves-unwomen/>

Referencial Teórico Referencial Teórico

O referencial teórico é dividido em dois capítulos, contextualiza a questão da mulher e a cidade:

1. Mulher e cidade, uma visão geral

• A pandemia de Covid-19 e a questão da mulher

1. Mulher na periferia da cidade modernista de Brasília

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1. Mulher e cidade, uma visão geral

Hoje, não é concebível no imaginário da mulher pensar em tempos que não se podia estudar, votar, sair na rua sozinha, trabalhar entre outros direitos. É claro que está aquém do que queremos, mas pensar que esses direitos nunca foram cerceados aos homens brancos de “bem”, faz questionar o porquê dessa desigualdade. Na história do feminismo ocidental, o movimento pode ser dividido em três ondas. A primeira onda, notadamente nos séculos XVIII e XIX, foram as lutas pelos direitos básicos, direito ao voto, à educação, ao trabalho e à vida pública. Já a segunda onda, notadamente no século XX, foram as lutas relacionadas ao direito reprodutivo, à sexualidade, à violência, ao mercado de trabalho, etc. Já a terceira onda surge, a partir da década de 1990 com lutas relacionadas às questões raciais, de classe e de gênero. Assim, as lutas não se limitariam apenas aos desejos das mulheres brancas, visto que os problemas terão intensidades e modos diferentes para as mulheres, dadas as

linha dO teMPO feMinista

suas condições socioeconômicas.

A luta das mulheres pelos seus direitos no Brasil, segundo Chiavassa (2012), “após 1850, as primeiras organizações de mulheres que lutavam pelo direito à instrução e ao voto”, segundo a autora o pioneirismo coube a Nísia Floresta (1809-1885), que era uma defensora da educação das mulheres, independe de serem senhoras ou escravas. Bertha Lutz (1894-1976), também foi outro nome importante, ao colocar sua indignação acerca da maneira que as mulheres eram tratadas na Revista da Semana , em 1918, propôs a criação de uma associação de mulheres para unificar os esforços delas (CHIAVASSA, 2012). Apenas em 1932, Getúlio Vargas alterou o Código Eleitoral garantindo o direito de voto às mulheres, estratégia política por detrás.

Com os direitos políticos conquistados, os movimentos feministas voltam para os direitos sociais, em um país marcado pela desigualdade

social. Segundo Cardoso (2017), o Movimento Custo de Vida (MCV) e as Comunidades Eclesiais de Base (CEB) foram os movimentos precursores, juntos dos movimentos sindicais e das greves operárias. No seguinte trecho a autora explica o que foi o movimento da Carestia (Figura 05):

Na década de 70, a organização social das mulheres já tinha como mote a luta pelo direito à cidade, isto na perspectiva da regularização dos loteamentos clandestinos, na obtenção de bens e serviços como a instalação de redes de esgoto, água, luz, creches, o direito a educação e a saúde e contra a remoção forçada dos favelados. As CEBs1 foram gérmen dos movimentos nacionais de luta pela moradia. Ao mesmo tempo, o MCV2 foi o primeiro a ocupar as ruas no meio da década de 70, em plena ditadura. Originado no Clube das Mães da Zona Sul de São Paulo, denunciou o alto custo de vida e as péssimas condições de vida das famílias trabalhadoras da periferia. Realizou grandes assembleias e comícios mobilizando milhares de pessoas, incorporando reivindicações

1 CEBs: Comunidades Eclesiais de Base.

2 MCV: Movimento Custo de Vida.

“Pré-feMinisMO”

como o congelamento dos preços dos alimentos de primeira necessidade, aumento do salário acima do custo de vida e abono salarial para todas as categorias de trabalhadores. (CARDOSO, 2017, p. 17-18)

O movimento ganhou força no país, durante a Ditadura Militar, em especial no ano de 1975, quando o Ano Internacional da Mulher foi estabelecido pelas Nações Unidas, reacendendo as discussões em torno da mulher. “As comemorações do

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Murasaki shibuki (978-1031) Atribuem a ela, o primeiro romance literário escrito por uma mulher. Somase ao fato de viver em um país que a escrita era permitida apenas aos homens. Cristina Pizán (1363-1430) Conhecida por seus textos em defesa da mulher, defendia o potencial e a educação feminina, durante a idade média. OlyMPe de GOuGes (1748-1793) Nome importante na defesa do direito à vida política e pública das mulheres. Mary WOllstOneCraft (1759-1797) Nome importante na defesa do direito à educação das mulheres. thérOiGne de MériCOurt (1762-1817) Defendia a igualdade de direitos à cidadania. Claire laCOMbe (1765-?) Uma das fundadoras da Sociedade das Cidadãs Republicanas Revolucionárias Figura 05_ Movimento da Carestia. Fonte: https://radiopeaobrasil. com.br/mulheres-protagonismo-no-movimento-custo-de-vida/

Ano abriram caminho para os primeiros agrupamentos coletivos, vinculados em sua grande parte aos partidos e organizações de esquerda” (SARTI, 1988, p. 41)

As lutas feministas no Brasil vão além da igualdade de salários, pois ainda é preciso lutar pela manutenção dos direitos trabalhistas das mulheres mais pobres. Como as empregadas domésticas que até a promulgação da Lei Complementar nº 150, em 2015, não tinham nenhum instrumento jurídico que as protegesse da exploração, foi um avanço, mas ainda ocorrem casos de exploração, tendo o agravante da arquitetura que corrobora para essa exploração, uma vez que se insiste na colocação da dependência de empregada, no pior local da habitação, remetendo a estrutura da casa-grande e senzala. Como pode ser percebido pelo trecho:

A questão mais delicada sobre os ‘quartinhos’ diz respeito ao fato de serem quase sempre um ambiente menos prezado dentro das residências, seja: por sua localização, pelo espaço que ocupam, pela falta de conforto termoacústico, pela falta de privacidade, dentre outros motivos. Por isso é tão comum relacionar as dependências às

antigas senzalas, que eram ambientes de péssima qualidade. (VIANA; TREVISAN, 2017, p. 20)

que não, pois não temos oportunidades iguais, o mercado de trabalho não nos recebe do mesmo jeito que o homem, ainda temos limitações no pleno exercício de ir e vir.

luCretia MOtt (1793-1880)

Abolicionista, defendia o sufrágio feminino.

Figura 06 _ Cena do filme “Aqui não entra luz”: “Muitas mulheres negras estiveram ou estão na profissão de doméstica”. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-br/quartinho-deempregada-%C3%A9-a-senzala-moderna/a-55665011>

E mesmo com a abolição da escravidão, as desigualdades sociais ainda persistem, como resultado tem-se a pobreza e a discriminação de gênero e raça, também é notório que a mudança vai além das simples criações de leis. E é a partir dos questionamentos dessas incongruências do funcionamento da sociedade que se dão as lutas sociais. Partindo dessa lógica, o que a nossa Constituição diz, segundo seu Art. 5º, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (BRASIL, 1988), será que, de fato, tem-se essa igualdade conforme dita a Constituição? Efetivamente, como mulher acredito

“Pré-feMinisMO”

Não é de hoje que se usam questões fisiológicas ou suposições para justificar a submissão da mulher ao homem, durante o Período da Belle Époque, de 1890 a 1920, a burguesia local queria inserir novos hábitos, se aproximar do que era tido como “civilizado”, no caso, a referência cultural francesa explicitada pela cidade de Paris, assim, se aproximar dos costumes contemporâneos. Então, passaram a utilizar da ciência para justificar tal submissão, na qual a mulher era vista como posse do homem, como pode ser notado em:

As imposições da nova ordem tinham o respaldo da ciência, o paradigma do momento. A medicina social assegurava como características femininas, por razões biológicas: a fragilidade, o recato, o predomínio das faculdades afetivas sobre as intelectuais, a subordinação da sexualidade à vocação maternal. [...] As características atribuídas às mulheres eram suficientes para justificar que se exigisse delas uma atitude de submissão, um comportamento que não maculasse sua honra. (SOIHET, 2004, p. 1098 -1099)

É possível perceber que esse conceito ainda está presente na sociedade, uma vez que debates acerca da transexualidade, gênero-fluido, são corriqueiros e preconceituosos, pois não conseguem desassociar o sexo do gênero3. Tem-se a caracterização de gênero e sexo conforme artigo da medicina, ”Gênero é um conceito das Ciências Sociais, surgido nos anos 70, relativo à construção social do sexo” (OLINTO, 1998, p. 162) e “o termo sexo designa somente a caracterização genética e anátomo-fisiológica dos seres humanos” (OLINTO, 1998, p. 162). No trecho a seguir tem-se o questionamento do que se tem como senso comum, o sexo não abrange a diversidade do ser humano:

E quando falo em mulher, estou considerando toda as nuances e premissas que envolvem a construção social que acaba por ampliar nosso olhar para além da biologia, pois já temos bases para absorver que sexo é limitante (uma vez que polariza as 3 A comunidade LGBTQI+ no Brasil, de modo geral, ainda sofre com o preconceito, segundo os relatórios disponibilizados pela ONG Grupo Gay da Bahia, 2017 foi o ano com maior número de mortes violentas registradas, com 445 mortes. Já os anos de 2018 e 2019, também tiveram muitas mortes, entretanto, foi verificado uma queda no número de mortes, o fato não foi atribuído a mudança de ideologia, pois o que pode ser observado foi um conservadorismo maior. Mesmo com essas quedas, o Brasil ainda é o país com mais crimes contra as minorias sexuais. Disponível em: https:// grupogaydabahia.com.br/relatorios-anuais-de-morte-de-lgbti/

obra brasileira em prol dos direitos das mulheres.

elizabeth Cady stantOn (1815-1902)

Trouxe outras questões, além do direito ao voto, como direitos de propriedades, divórcio, entre outros.

susan b anthOny (1820-1906)

Lutou ao lado de Elizabeth Cady. Juntas criaram a primeira organização política de mulheres dos EUA.

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sOjOurner truth (1797-1883) Defendia o abolicionismo e os direitos das mulheres. “Ain’tIaWoman?” flOra tristan (1803-1844) Relacionou os direitos das mulheres com o progresso da classe trabalhadora. harriet taylOr (1807-1858) Filosofa, lutava pelo sufrágio feminino. nísia flOresta (1810-1885) Primeira mulher no Brasil a publicar textos em jornais, além de ter escrito a primeira PriMeira Onda feMinista

considerações na composição binária homem/ mulher tendo como verdade absoluta a ocorrência da função genital) e gênero amplia nosso campo de visão (pois, estuda a fundo a construção social para desconstruí-la alargando as possibilidades e não aprisionamento ao corpo/função genital) (BERTH, 2016. p.73)

O patriarcado e o machismo estrutural que, por anos, nunca foram questionados, fizeram com que a violência sofrida por mulheres, no âmbito da sua própria moradia, fosse silenciada. E ainda é possível encontrar agressores que foram absolvidos de seus crimes contra suas companheiras, por alegar “legítima defesa da honra”. Segundo Bandeira (2014), a lógica familiar, na medida em que se pretende manter esta estrutura, coloca nas mulheres a necessidade de: reatar a relação, rejeitar o pedido de separação, abdicar da independência financeira, aceitar a violência como expressão de ciúmes, entre outros.

O fato de a mulher ser desvalorizada no mercado de trabalho pode ser reforçado pelo ranking de igualdade de gênero de 2020, publicado pela organização Word Economic Forum

(WEF)4, dos 153 países a colocação do Brasil é de 92°. Ao considerar apenas os países latino-americanos e o Caribe, o Brasil está entre os últimos no ranking , junto do Paraguai, Belize e Guatemala. Outro dado que vale ser ressaltado é a taxa de participação na força de trabalho, para os homens 80,2% encontram-se nessa representatividade enquanto para as mulheres o percentual é de 60,6%. Dos cargos mais elevados, os homens também ficam com a maioria (60,14%).

elaborado pela ONU Mulheres, figuras 06 e 07, a representatividade das mulheres dobrou em 23 anos. E mesmo assim ainda não está perto de um equilíbrio, com participação feminina de 24,9%.

as questões de assédio e violência sexual. Pois, faltam representatividades no planejamento das cidades e a estrutura política permanece enrijecida como no passado, “é a estrutura do espaço, opondo o lugar de assembléia ou de mercado, reservados aos homens, e a casa, reservada às mulheres” (Bourdieu, 2012)

Figura 06 e 07 _ Infográfico a respeito da evolução representativa feminina na política. Disponível em: <https:// www.unwomen.org/en/digital-library/multimedia/2020/2/ infographic-visualizing-the-data-womens-representation>

Na política não será diferente, segundo o Fórum Econômico Mundial, a porcentagem de mulheres no Parlamento é ínfima, cerca de 15%, enquanto a posição de mulheres na condição de ministras é de apenas 9,1% (WEF, 2020). Como pode ser observado no infográfico

A cidade, hoje, é hostil a presença feminina, por mais que existam homens sensíveis a causa feminista, nunca terão a mesma perspectiva que a mulher. Pois, enquanto para as mulheres pensar em atravessar um túnel a pé para chegar ao outro lado da rua traz insegurança, para os homens o pior dos medos é ser assaltado no meio do caminho, conforme figura 06. Vivemos em uma sociedade que diminui a dor das mulheres, minimiza

Se não há representação feminina nas decisões do governo, como as demandas das mulheres serão ouvidas? E se estão presentes não são ouvidas ou respeitadas, como o caso recente da Deputada Isa Penna5, que sofreu assédio durante sessão do plenário. Esse foi um caso que repercutiu até pelas evidências que se teve do ato, mas quantas mulheres passam por essa situação todo dia e acabam se calando por medo. Segundo os dados estatísticos da cartilha de Assédio Sexual no Trabalho do Serpro (2018), 42% das mulheres sofreram assédio sexual no trabalho ao passo que apenas 15% relataram o assédio.

Outro ponto acerca do trabalho e a mulher, segundo pesquisa da Laudes

5 Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2020/12/18/ caso-isa-penna-e-o-machismo-estrutural-na-alesp-um-espacoextremamente-violento

alexandra kOllOntai (1872-1952)

Líder revolucionária russa, uma das mais notórias. Idealizou o Dia Internacional da Mulher junto de Clara Zetkin

Lutou pelo direito ao voto feminino, também, foi responsável por mais direitos femininos no trabalho

laudelina de CaMPOs MelO (1904-1991)

Lutou pelos direitos das mulheres e das trabalhadoras domésticas, criou o primeiro Sindicato das Domésticas.

s MOne de beauvOir (1908-1986)

Criou as bases do feminismo de hoje.

“Não se nasce mulher, torna-se”

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ida bell Wells-barnett (1862-1931) Feminista sufragista, uma das fundadoras da National Association fortheAdvancementofColoredPeople (NAACP) bertha lutz (1894-1976) Clara zetkin (1857-1933) Uma das idealizadoras do Dia Internacional da Mulher. seGunda Onda feMinista PriMeira Onda feMinista Figura 08 _ Passagem subterrânea na Asa Norte. Fonte: Uirá Lourenço. Disponível em: <https://brasiliaparapessoas. wordpress.com/2021/02/12/passagens-do-medo/>

Foudantion (2020)6, o trabalho para maioria das mulheres estava ligado ao sustento e independência financeira. Nos quesitos do trabalho como realização e crescimento pessoal os homens assinalaram mais do que as mulheres. Acredito que esteja relacionado ao fato de que para o homem, o trabalho já faz parte da sua vida, como uma conquista natural.

Com efeito, é no uso da esfera pública que a mulher encontra maiores dificuldades. Viver a cidade nas suas questões de mobilidade, lazer, educação, utilização dos espaços públicos, são os momentos que as mulheres estão mais vulneráveis. Segundo Calió (2014), há diferença entre uma mulher que se senta na praça sozinha de uma mulher na praça com seus filhos, na medida em que a mulher sozinha estaria pedindo para ser incomodada por um homem e a mãe estaria cumprido seu papel social logo não deve ser incomodada.

A cidade, ao longo da história, serviu como palco para as diversas lutas sociais, desde a reforma agrária, a conquista de direitos trabalhistas, por meio de greves, protestos, revoluções. Ao perceber que 6 Percepções sobre a violência e o assédio contra mulheres no trabalho, Laudes Foudation

um ambiente, que serviu como palco para lutas tão plurais, seja tão hostil às mulheres, assim é possível verificar que é justo e igualitário para os homens brancos, aqueles detentores do poder para mudar a cidade. Segundo o trecho:

As cidades têm uma significativa relação com o uso e a ocupação que o mundo masculino faz delas. Foram idealizadas e erguidas dentro dessa perspectiva, em que a presença da mulher era ignorada e, portanto, desconsiderada no tocante às escolhas sobre que forma e função os espaços públicos teriam e como seriam acessados. (CASIMIRO, 2017. p 9)

Os primeiros movimentos feministas, como já foi tratado, tinham uma relação próxima com as classes mais baixas, tanto pelo caráter político como pela causa em comum que tinham essas mulheres (Terceira Onda Feminista no Brasil). Segundo Sarti (1988), as principais demandas eram por melhorias na infraestrutura de seus bairros, particularmente a colocação de saneamento básico, equipamentos de lazer e saúde. A autora também dá uma explicação do porquê as causas eram em prol da comunidade e não apenas para benefício próprio:

Essa forma de participação das

mulheres em movimentos de bairro tem como referência o mundo da reprodução – incluindo a família e suas condições de vida – que caracteriza a forma básica de identificação social tradicionalmente atribuída à mulher. (SARTI, 1988. p. 41)

No início do século XX, a urbanização acelerada do país provocou a vinda das populações de baixa renda para os grandes centros, que atraíram a indústria fordista nascente, e, consigo, o mercado de trabalho. Mas, ao migrar para as grandes cidades, essas pessoas, mesmo conseguindo trabalho, não conseguiram um acesso digno à habitação e aos demais itens que complementam o sentido de viver na cidade, conforme exemplo da figura 09, naquilo que significou a urbanização de baixos salários no Brasil (Maricato, 1996). Segundo Soihet (2004), a burguesia queria expulsar os populares dos centros, pois não correspondiam com o progresso e os bons costumes, os quais tanto almejavam. Assim, partindo das ações higienistas, as quais aliava o discurso da medicina aos interesses econômicos para derrubar os cortiços (considerados focos das epidemias da época) e expulsar os pobres do centro. Nesse cenário, de reforma urbana do Rio de Janeiro, tem-se:

As mulheres sofreram o maior ônus, já que exerciam seus afazeres na própria moradia, agora mais cara e com cômodos reduzidos. Aí exerciam os desvalorizados trabalhos domésticos, fundamentais na reposição diária da força de trabalho de seus companheiros e filhos; como ainda produziam para o mercado, exercendo tarefas como lavadeiras, engomadeiras, doceiras, bordadeiras, floristas, cartomantes e os possíveis biscates que surgissem. Nessas moradias desenvolviam redes de solidariedade que garantiam a sobrevivência de seus familiares. (SOIHET, 2004, p. 383)

Após a reforma urbana (figura 10), os ditos “bons costumes” foram intensificados na medida em que o progresso estava em voga, a burguesia

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betty friedan (1921-2006) Fomentou a segunda onda feminista com sua obra The FeminineMystique”. heleieth saffiOti (1934-2010) Socióloga, estudiosa da violência contra a mulher thereza santOs (1938-2012) Estudiosa das questões raciais e gênero, destaca-se o tema da cultura e a mulher negra. judith butler (1956) Responsável pela teoria de gênero enquanto performatividade, desfazendo o binarismo. Lançando as bases da teoria queer kiMberlé WilliaMs CrenshaW (1959) Responsável pelo desenvolvimento da teoria interseccional, a sobreposição de opressões que as mulheres sofrem. seGunda Onda feMinista terCeira Onda feMinista Figura 09 _ Cortiço na área central do Rio de Janeiro, primeira década do século XX. Dsiponível em: <https://www. researchgate.net/figure/Cortico-na-area-central-do-Rio-deJaneiro-primeira-decada-do-seculo-XX-Cada-uma-das_ fig6_236334409>

estabelecia restrições às mulheres, para que estas não ficassem mal vistas pela sociedade. “A rua simbolizava o espaço do desvio das tentações”

(SOIHET, 2004, p. 384), assim crescia a opressão a presença feminina na rua, medida impossível de ser cumprida pelas mulheres pobres, visto que elas precisavam trabalhar. Havia um esforço das autoridades em afrancesar a cidade, assim os instrumentos de violência física e moral eram utilizados para manter a “civilidade”.

moradia é notável, tem-se:

A importância da atuação dessas mulheres na militância dos movimentos de ocupações se materializa não só como exemplo de empoderamento para outras mulheres, mas nas próprias características físicas destes espaços, à medida que crianças, gestantes, mães sem a presença dos cônjuges e idosos recebem uma atenção especial de proteção diante da fragilidade de suas condições. (GATTI, 2017, p. 86)

Sabendo da importância que a moradia tem para a mulher, visto a vulnerabilidade e o seu papel social, devem haver politicas e medidas mais robustas para que elas tenham garantia desses direitos. O Estado deve ter um maior controle no uso e ocupação dos lotes da cidade, visto que um espaço sem o uso social, está ali apenas em beneficio da especulação imobiliária.

a dependência econômica feminina, a menor participação feminina na força de trabalho, além do maior número de horas que dedicam às tarefas domésticas em relação aos homens. Como resultado o saldo de financiamento imobiliário feminino representa, aproximadamente, 60% do masculino, podendo ser observado na figura 09.

É nesse contexto de desigualdade ao acesso a terra que se insere Brasília, desde a sua gênese, assunto que será aprofundado no próximo capítulo.

<http://kitdahistoria.blogspot.com/2015/04/ experiencia-urbana-no-brasil-seculo-xx.html>

Ao fazer uma reflexão com o passado, percebe como essa estrutura da cidade ainda se mantém, no qual se tem a população de alta renda ocupando as áreas centrais, melhor localizadas (apesar de alguns segmentos de média e alta renda se refugiarem em condomínios fechados em locais com amenidades ambientais nas periferias urbanas), enquanto sobram para a população de baixa renda a ocupação das áreas mais precárias, na periferia. O modo como se deu a divisão de terras no Brasil fez com que se tornasse uma disputa desleal por habitação, na medida em que morar em um local bem localizado, próximo do centros urbanos, dos empregos, dos serviços básicos, tem um custo elevado. Nesse contexto, frente ao déficit habitacional, a liderança das mulheres na luta pelo direito à

Intensifica-se o problema ao analisar o acesso ao crédito, segundo estudo feito pelo Banco Central (2018), a respeito das diferenças no acesso e uso dos serviços financeiros entre homens e mulheres. As assimetrias são correlacionadas a diferença salarial (as mulheres recebem por volta de 75% do salário masculino),

Linha do tempo Feminista : Figura 12 - Murasaki Shibuki (978-1031), Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:MurasakiShikibu-composing-Genji-Monogatari.png Figura 13 - Crisatina Pizán (1363 – 1430), Fonte: https://commons.wikimedia. org/w/index.php?curid=824174/ Figura 14 - Mary Wollstonecraft (1759-1797), Fonte: https://darkside.blog.br/ escritora-filosofa-feminista-mary-wollstonecraft/ Figura 15 - Théroigne de Méricourt (1762-1817), Fonte: https:// commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=6071340 Figura 16 - Claire Lacombe (1765-?), Fonte: https://www. ecured.cu/index.php?curid=641433/ Figura 17 - Olympe de Gouges (1748-1793) Fonte: https://commons.wikimedia. org/w/index.php?curid=74326258 / Figura 18 - Lucretia Mott (1793-1880), Por F. Gutekunst, Philadelphia, Pa. Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=83218910 Figura 19 - Elizabeth Cady Stanton (1815-1902) Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=10372994 Figura 20 - Susan B. Anthony (1820-1906), Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=43999771 Figura 21 - Harriet Taylor (1807-1858), Fonte: https:// commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=63887127 Figura 22 - Sojourner Truth (1797-1883), Fonte: https:// commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=86793423 Figura 23 - Flora Tristan(1803-1844), Fonte: https://commons. wikimedia.org/w/index.php?curid=3674057 Figura 24 - Clara Zetkin(1857-1933), Fonte: https://www.theguardian.com/ books/2019/aug/20/was-simone-de-beauvoir-as-feminist-as-we-thought

Figura 25 - Alexandra Kollontai (18721952), Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=763136 Figura 26 Ida Bell Wells-Barnett (1862-1931), Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=28135837 Figura 27 - Bertha Lutz (1894-1976), Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=6094200 Figura 28 - Laudelina de Campos Melo (1904-1991), Fonte: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?curid=6395315 Figura 29 - Simone de Beauvoir (1908-1986), Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=39952804

Figura 30 - Betty Friedan(1921-2006), Fonte: https:// commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1265917 Figura 31 - Nísia Floresta (1810-1885), Fonte: https://commons. wikimedia.org/w/index.php?curid=90965170 Figura 32 - Heleieth Saffioti (1934 -2010), Fonte: https://www.geledes.org. br/o-conceito-de-genero-por-heleieth-saffioti-dos-limites-da-categoria-genero Figura 33 - Thereza Santos (19382012), Fonte: https://www.geledes.org.br/thereza-santos-entre-armas-e-kizombas/ Figura 34 - Judith Butler (1956), Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=31967265 Figura 35 - Kimberlé Williams Crenshaw (1959), Fonte: https://southseattleemerald.com/2017/09/07/our-best-fails-black-girls-an-interview-with-kimberle-williamscrenshaw/

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Figura 10 _ Centro do Rio de Janeiro em plena reforma urbana. Disponível em: Figura 11 _ Gráfico 8 - Total das modalidades de maior saldo. Fonte: Departamento de Promoção da Cidadania Financeira (Depef), do Banco Central.

A pandemia de Covid-19 e a questão da mulher

de 2020, é visível que as mulheres foram as mais afetadas pelo desemprego, provavelmente pelo fato de essas ficarem incumbidas das tarefas domésticas e cuidados dos filhos. Também é possível perceber que, dado o mesmo intervalo de tempo, os homens já haviam superado a quantidade de pessoas que estavam trabalhando em maio/2020 quando a pesquisa havia começado.

o aumento do trabalho informal foi mais expressivo, o que pode ser explicado pelo fato de o auxílio emergencial ter sido reduzido, e assim, muitas famílias tiveram de procurar alguma forma de complementar a renda. No caso das mulheres, quando chefes de família elas recebiam o dobro do benefício, política importante para um grupo já é considerado vulnerável sem estar na pandemia.

enfrentam, segundo publicação da ONU Mulheres (2020), no mundo, 243 milhões de mulheres e meninas com idade entre 15 a 49 anos, sofreram algum tipo de violência (sexual e/ou física) por um parceiro nos últimos 12 meses.

Esse item objetiva a refletir sobre a situação da mulher frente à atual pandemia de Covid-19. Já que houve uma desaceleração da economia pelo fechamento do comércio, por conseguinte, o aumento do desemprego. Para as famílias que conseguiram manter o seu emprego como se deu a divisão de tarefas?

A pesquisa da Laudes Foudation , citada anteriormente, trouxe alguns levantamentos acerca da pandemia, de forma geral, as mulheres foram maioria que tiveram redução de jornada de trabalho e /ou salário, com a ressalva de que as percentagens entre homens e mulheres não destoaram muito, com uma variação de 5% a 2%, visto que a sociedade, de modo geral, foi afetada com a pandemia. Entretanto, nas questões domésticas as mulheres foram as que sentiram o aumento da carga de trabalho doméstico, 75% delas alegaram que tiveram esse aumento enquanto para os homens essa porcentagem

foi de 45% (Laudes Foudation, 2020). A pesquisa demostra como as mulheres foram as que mais sofreram com as múltiplas jornadas de trabalho, só reforçando o estereótipo que se perpetua pela sociedade.

Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios COVID-19 (PNAD COVID-19), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que fornece dados referentes aos impactos da pandemia na vida do brasileiro, o recorte feito para o interesse deste estudo é referente a força de trabalho. Segundo o próprio site do IBGE (2020), a amostra fixa1 totalizou cerca de 193 mil domicílios por mês. O gráfico 1 trata do número de pessoas trabalhando durante o período da pandemia do ano

1 Amostra fixa: os mesmos domicílios foram entrevistados durante os 7 meses de pesquisa. Fonte: <https://www.ibge.gov. br/estatisticas/investigacoes-experimentais/ estatisticas-experimentais/27946-divulgacaosemanal-pnadcovid1?t=o-que-e&utm_ source=covid19&utm_medium=hotsite&utm_ campaign=covid_19>

O gráfico 2 trata das pessoas que estavam trabalhando na situação de informalidade, podendo-se observar um comportamento parecido ao primeiro gráfico. É possível verificar que, no caso dos homens,

Por último, o gráfico 3 reforça o que já havia sido evidenciado, as mulheres foram mais demitidas ou tiveram que parar de trabalhar.

A questão do trabalho não é o único problema que as mulheres

Outro ponto abordado é que devido as medidas de isolamento social, as mulheres acabam ficando isoladas com seus parceiros violentos, sem pessoas ou meios que possam ajudá-las. Agrava-se quando se leva em consideração que menos de 40% das mulheres denunciam ou procuram algum tipo de ajuda.

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Figura 36 _ Mulheres e meninas devem estar no centro da recuperação da COVID-19, diz secretáriogeral da ONU. Disponível em: <https://www.onumulheres.org.br/noticias/mulheres-e-meninasdevem-estar-no-centro-da-recuperacao-da-covid-19-diz-secretario-geral-da-onu/> Figura 37 _ Gráficos sobre a questão dos empregos durante a pandemia de COVID-19. Dados: IBGE. Fonte: Elaboração própria.

2. Mulher na periferia da cidade modernista de Brasília

Brasília, capital do Brasil, cidade planejada; mas, pode-se questionar, planejada para quem? Para os funcionários públicos e altos escalões do governo, para as camadas mais ricas, provavelmente. Na verdade, desde o princípio da construção da cidade, os segmentos de mais baixa renda foram afastados para as áreas mais longes do Plano Piloto.

O plano de Lucio Costa para a nova capital brasileira previa a expansão da cidade por meio da criação de cidadessatélites. Todavia, antes que o chamado Plano Piloto tivesse sido ocupado, essa categoria de cidade surgiu como consequência do fluxo migratório gerado pela construção de Brasília. (PEIXOTO, E.; OLIVEIRA, A. M. V.; WALDVOGEL, A. S, 2020, p. 4)

Este cenário sempre ocorreu na metropolização das grandes cidades, uma vez que a área central se torna muito atrativa e a especulação da terra, impossibilita a ocupação regular. Assim, as famílias, para poderem ter alguma moradia, acabam por ocupar tais terras, que, de certa forma, são as menos cobiçadas pelo mercado, principalmente pela localização.

Para se entender as características desta utopia moderna, primeiramente, deve-se retornar a gênese de Brasília, a cidade criada com os ideais modernistas, pregava-se uma cidade mais justa e igualitária, onde as diferentes classes sociais poderiam viver em harmonia dentro das “superquadras”. Segundo Holston (1989), o projeto da criação de Brasília não levou em conta o histórico do país - marcado por

grandes desigualdades sociais - aliouse o otimismo de JK de modernizar rapidamente o país com a utopia do desenvolvimentismo nacional.

O ambicioso Plano de Metas (19561961), que consistia em “50 anos de progresso em 5 anos”. Segundo Silva (2012), o plano tinha como objetivo o desenvolvimento de cinco grandes áreas: energia, transportes, indústria de base, alimentação e educação (os três primeiros receberam 93% dos recursos). Além disso, ainda havia a transferência da Capital - como meta-síntese do Plano. O período foi marcado por uma diversificação do parque industrial brasileiro - rumo à indústria de bens de consumo duráveis e intermediários - de tal modo que a indústria automobilística é maciçamente assumida.

A partir disso, Brasília surge como Capital do país, trazendo consigo toda a estrutura burocrática, junto com as regalias, e com os demais setores da economia. Sua gênese é marcada por uma segregação social grande, totalmente diferente da utopia que Lucio Costa pudesse imaginar. Assim, aqueles com menor poder aquisitivo, foram se estabelecendo nas cidadessatélites, já que o Plano Piloto não os comportava, para além disso também não eram bem-vindos na cidade, a não ser para trabalhar.

Ao estudar um pouco mais da história da formação das RAs, percebe-se como a cidade não estava preparada para receber a quantidade de imigrantes que chegavam em busca de oportunidades,

resultando no aumento do número de ocupações. A cidade de Ceilândia, a Regional mais populosa do DF, teve seu nome originado da “Campanha de Erradicação das Invasões - CEI” que ocorreu na década de 1970 pelos motivos já citados. O questionamento que fica, é do porquê as cidades serem colocadas tão longe do Plano Piloto, com distâncias médias de 30 Km? Alguns motivos que corroboraram esse distanciamento das cidades-satélites foram os dispositivos de proteção ambiental e paisagística do conjunto tombado do Plano Piloto, mas não impediu que os ricos tomassem da orla do Lago Paranoá.

A questão social não foi o único

problema da criação de Brasília. A setorização dos usos é uma característica do planejamento racional, assim, Brasília é tomada por uma série de setores (hospitalar, de clubes, de habitações, de autarquias, entre outros), a ociosidade desses espaços, dependendo do horário e do dia da semana, causam insegurança a qualquer um, especialmente às mulheres. Essa lógica também é notada nas cidadessatélites, na medida em que os usos e os serviços estão em sua maioria no centro - o Plano Piloto - fazendo com que ocorram essas migrações diárias, majoritariamente longas e com trânsito intenso de veículos nos horários de pico. Segundo Hoslton (1989), os primeiros

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Figura 38 _ Mapa de densidade populacional. Dados: PDAD 2018. Fonte: Elaboração própria

moradores das descreviam a cidade como fria, a setorização das áreas reduzia as funcionalidades dos espaços públicos, já que eram apenas utilizados como um meio para o transporte.

Os eixos tão marcantes no desenho do Plano Piloto, que deram os nomes das principais vias - Eixo Monumental e Eixo Rodoviário de Brasília (Eixão)trouxeram a ideia de modernidade, o carro como símbolo de um status social e progresso. Esse ideal da época impactou nos desenhos das cidades brasileiras, como um todo, na medida em que o Estado investia massivamente no transporte rodoviário como incentivo às indústrias automobilísticas que se instalaram no país. O dado mais recente da frota de veículos do Distrito Federal é de 1.886.372 veículos, segundo tabela 02, nos últimos anos a frota cresceu em torno de 3% a 4% ao ano, o que deve ser levado em conta que o ano de 2020, foi um ano atípico e a frota teve um crescimento de 2%. Fator que refletiu no índice de mortos, menos pessoas circulando menos acidentes de trânsito. O último dado populacional do DF é de 2018, com um total de 2.881.900 habitantes, dessa forma, a proporção é de um veículo a cada 1,6 habitantes.

Para espacializar a situação da mulher no Distrito Federal, elaborouse os mapas com a base de dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) de 2018 da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN), associada a base georreferenciada dos limites das RAs, elaborada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SEDUH).

Pelo mapa de densidade populacional (Figura 38) é possível observar que há um maior adensamento na linha do metrô, mas o carro e o ônibus continuam sendo os principais modais, característica que predomina desde a gênese de Brasília. Ao analisar os mapas dos principais modais utilizados para o deslocamento até o trabalho (figura 39 e 40), percebe-se que para as mulheres o deslocamento por ônibus, elas são maioria, já para os deslocamentos por automóvel, os homens eram maioria. Entende-se que o ônibus é mais utilizado pelas mulheres, desta maneira, deve-se ter um olhar mais cuidadoso em relação à esses deslocamentos, no que se refere ao assédio e/ou violência dentro dos veículos, entender que elas são demandadas por diferentes atividades, passar longos períodos esperando o coletivo chegar somado ao tempo de deslocamento devido as grandes distâncias, ao final do dia sobrará pouco tempo para elas mesmas. E, parte deste deslocamento, muitas vezes, será realizado à pé, então pensar em uma infraestrutura adequada - iluminação, calçada, sinalização - é fundamental para que permitir que a mulher faça seus próprios caminhos.

O Distrito Federal é um dos Estados em que mais se respeita a faixa de pedestre, entretanto é comum os casos

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Figura 39 _ Mapa de deslocamento por carro. Dados: PDAD 2018. Fonte: Elaboração própria Figura 40 _ Mapa de deslocamento por ônibus. Dados: PDAD 2018. Fonte: Elaboração própria Figura 41 _ Gráfico com a evolução da frota de veículos do Distrito Federal em 10 anos.Dados: Departamento de Trânsito do Distrito Federal _ DETRAN/DF. Fonte: Elaboração própria.

de pessoas atravessando fora do local sinalizado (Figuras 39 e 40), isto se deve ao fato da cidade ser desenhada para o carro, as travessias consideram a visão do motorista e não a do pedestre.

automóvel na Regional. Para a mulher é importante que a sinalização esteja acompanhada de iluminação e próximas das paradas de ônibus.

Tabela 03 _ Quantitativo de faixas de pedestre no Distrito Federal

Ao considerar a tabela 02, percebe-se que há uma discrepância na distribuição da sinalização horizontal, em que o Plano Piloto detêm o maior quantitativo, fato que pode ser atribuído a sua centralidade, enquanto a Fercal conta com apenas uma faixa de pedestre. A sinalização é utilizada em locais que são pólos geradores de viagens, escolas, volume significativo de pedestres, logo a presença ou ausência da faixa de pedestres, indicam que há uma grande quantidade de pessoas que se deslocam a pé na cidade, ou que a cidade oferece uma boa oferta de equipamentos, ou até mesmo indicar que há uma preferencia pelo uso do

Fonte dados: DETRAN/DF e CODEPLAN/2018

Como já foi mencionado no capítulo anterior, as mulheres possuem uma renda menor que as dos homens e por conseguinte os homens serão maioria utilizando o modal. Este cenário se repete no Distrito Federal, conforme pode ser observado pelos mapas de renda

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Região Administrativa Qtd. faixas de pedestre Habitantes SIA 138 1.549 Plano Piloto 1.793 221.326 Núcleo Bandeirante 114 23.619 Gama 506 132.466 Candangolândia 62 16.489 Paranoá 244 65.533 Riacho Fundo 149 41.410 Sobradinho 206 60.077 Taguatinga 674 205.670 Cruzeiro 86 31.079 Ceilândia 1.114 432.927 Sudoeste/Octogonal 137 53.770 SCIA 89 35.520 Varjão 21 8.802 Planaltina 390 177.492 Santa Maria 277 128.882 São Sebastião 224 115.256 Riacho Fundo II 157 85.658 Sobradinho II 156 85.574 Lago Sul 54 29.754 Brazlândia 96 53.534 Águas Claras 255 161.184 Guará 208 134.002 Samambaia 274 232.893 Itapoã 64 62.208 Recanto das Emas 83 130.043 Lago Norte 21 33.103 Vicente Pires 27 66.491 Park Way 4 20.511 Fercal 1 8.583 Jardim Botânico 3 26.449
Figura 42 _ Mapa com a proporção de trabalhadores entre mulheres e homens no Distrito Federal Dados: PDAD 2018. Fonte: Elaboração própria Figura 43 _ Mapa com a renda média entre mulheres e homens no Distrito Federal Dados: PDAD 2018. Fonte: Elaboração própria Figura 41 _ Travessias de alto risco na W3 Norte e no Eixinho. Fonte: Uirá Lourenço. Disponível em: <https:// brasiliaparapessoas.wordpress.com/2021/03/21/pistasvazias-e-rumos-para-a-mobilidade/> Figura 40 _ Travessia parcial da passagem. Uirá Lourenço. Disponível em: https://brasiliaparapessoas.wordpress.com/2021/02/12/ passagens-do-medo/

média e porcentagem de mulheres e homens que trabalham (Figuras 42 e 43). Observa-se que nas regiões de maior poder aquisitivo são aquelas que apresentam maior discrepância entre a renda média de mulheres e homens, mesmo com uma percentagem equilibrada de trabalhadores por sexo. Outra análise espacial que se faz, refere-se a correlação da proximidade com o Plano Piloto e o aumento da renda, indicando que essas áreas terão grande valor de mercado, mantendo a população de baixa renda no lugares mais afastados, fato que impacta na vida da mulher, na medida em que se observa a renda média inferior delas, colocando-as mais longe dos centros ou acabarem sendo dependentes do companheiro ou da própria família.

As desigualdades sociais também são refletidas pela porcentagem da população que não sabem ler nem escrever (Figura 44), percebe-se uma maior incidência de analfabetismo nas regiões mais afastadas do Plano Piloto, dentre as Regionais destaca-se Ceilândia, Planaltina e Fercal. Apesar do analfabetismo estar presente em uma porcentagem pequena da população, nota-se que majoritariamente as mulheres são maioria.

Ao passar para a esfera privada, o mapa que demostra a média de horas gastas com os afazeres domésticos (Figura 45), nota-se que independente da renda as mulheres gastam mais horas com os afazeres domésticos. A média de horas é menor nas Regionais com maior poder aquisitivo, como o Lago Sul, o Park Way e o Jardim Botânico, indicativo de que essas casas provavelmente possuem algum empregado doméstico.

No que se refere ao desenho

urbano, o modernismo de Brasília possui algumas características que o tornam mais injusto e inseguro para as mulheres. Dentre elas, a quantidade de espaços vazios, no Plano Piloto como forma de enaltecer os edifícios (Figura 46), já nas demais RAs percebe-se a falta de planejamento do uso do solo, no qual nota-se a grande quantidade de lotes destinados para os equipamentos públicos sem usos ou com um arranjo estranho de mobiliários urbanos, com a intenção de preencher o vazio com alguma coisa.

A setorização dos espaços, como já foi citado anteriormente, deixa a cidade insegura pelo ócio de determinadas áreas. Regiões como Setor de Industrias e Abastecimento (SIA), Cidade do Automóvel, Setor de Industrias Gráficas (SIG), entre outras, quando não há o comércio funcionando, parecem ser locais abandonados (Figura 47).

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Figura 44 _ Mapa com a porcentagem da população que não sabe ler nem escrever no Distrito Federal Dados: PDAD 2018. Fonte: Elaboração própria Figura 45 _ Mapa com a média de horas gastas com os afazeres domésticos no Distrito Federal Dados: PDAD 2018. Fonte: Elaboração própria Figura 46 _ Manifestantes ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Grupo se posiciona a favor da democracia e contra o governo Jair Bolsonaro. Fonte: Jorge William / Agência O Globo Figura 47 _ Setor Comercial Sul — Foto: Toninho Tavares/ Agência Brasília

O sistema viário, também, tem o seu espaço separado, permitindo que vias de trânsito rápido pudessem passar rasgando pelo centro da cidade. O Distrito Federal é recortado por rodovias e vias retas, favorecendo a alta velocidade dos veículos, aumentando as chances de causar acidentes fatais. Além disso, as regras regidas do tombamento urbanístico da cidade, dificultam a inserção de elementos que protejam pedestres e ciclistas, colocando-os em risco principalmente as mulheres, pois a travessia subterrânea do Eixão não é cabível, da mesma forma para as passarelas aéreas. Duas travessias que são problemáticas, na medida em que não se tem visibilidade (você não é visto e nem consegue ver), não tem como fugir, a mulher com medo fará a travessia pelo caminho mais perigoso (pela via, correndo o risco de ser atropelada).

Ainda no assunto mesmo, sobre mobilidade, as cidades-satélites foram previstas de forma abstrata no Plano de Lucio Costa, acreditava-se que na medida em que as cidades crescessem, elas se tornariam independentes do Plano Piloto. Entretanto, a mais de 60 anos da construção de Brasília, ainda há uma dependência das R.A.s com o Plano Piloto, de tal maneira, que vê-se poucas políticas sustentáveis para a mobilidade. As cidades são pouco conurbadas, apenas algumas cidades como CeilândiaTaguatinga são conurbadas, mas com ressalvas porque da mesma forma, que o Plano Piloto é atravessado por vias de velocidade alta, o mesmo ocorre com as fronteiras das Regionais caracterizadas por rodovias ou avenidas. Entende-se que Brasília é definida por essas grandes distâncias, e por vias trânsito rápido, que acabam segregando a população, se tem um sistema de transporte público pouco eficiente e muito oneroso

para a população e para o Estado, responsável por subsidiar as passagens. Para as mulheres, a situação piora, principalmente quando ela precisa se deslocar nos horários de picos, em que o transporte público está abarrotado e é sabido que são nesses momentos que ocorrem as importunações sexuais (Figura 48). Além do assédio, o tempo de viagem é longo, se pensar na mulher que tem várias jornadas de trabalho, gastar em torno de 1 hora a 2 horas do seu dia apenas no deslocamento, é cansativo e sobra pouco tempo para ela mesma.

melhorem por poderem integrar com o STPC/DF, por se tratar de uma experiência, não há como garantir que o sistema melhore por apenas essa questão.

Por esse e tantos outros problemas que atingem os moradores de Brasília, se faz necessário pensar em um planejamento a partir da perspectiva de gênero, segundo o coletivo Col·lectiu

Punt 61:

O planejamento urbano baseado em gênero se concentra na vida diária das pessoas. A vida cotidiana é composta por diferentes esferas: produtiva, reprodutiva, pessoal e comunitária. O urbanismo com uma perspectiva de gênero dá igual valor a todas as esferas no planejamento e na concepção dos espaços, ao contrário do urbanismo tradicional que priorizou a esfera produtiva do trabalho, respondendo a um modelo de sociedade capitalista e patriarcal.(Col·lectiu Punt 6, 2016, p. 3)

Ao entender as particularidades do Distrito Federal e entorno como um todo, propõe-se um projeto sob à perspectiva da mulher em Santa Maria.

Para os moradores do Entorno, além do longo tempo de viagens, aqueles que necessitarem fazer o transbordo para o Sistema de Transporte Público Coletivo (STPC) do Distrito Federal não terá o benefício da integração visto que o transporte público no Entorno é administrado pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), por se tratar de uma viagens interestaduais. Segundo SILVA e AMARAL (2020), uma estudante moradora do Novo Gama, precisa fazer o transbordo para o BRT de Santa Maria para poder utilizar o benefício do passe-livre estudantil (Figura 49). Recentemente, a ANTT passou a responsabilidade de gerir, regular e fiscalizar para o governo do DF, pode ser que a situação destas pessoas

1 BARCELONA. Col·lectiu Punt 6. INFORME ESTUDI PARTICIPAT, Col·locació de bancs al Districte de l’Eixample. 2016. (Texto traduzido do Catalão para o Português)

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Figura 48 _ Brasília: filas para entrar nos ônibus do BRT. Fonte: Uirá Lourenço Figura 49 _ O caminho de Ana Luiza. Fonte: Junio Silva. Disponível em: < https://brasiliaparapessoas.wordpress. com/2020/02/12/os-usuarios-do-passe-livre-no-entorno/>

Estudos de casos Estudos de casos

Os seguintes projetos serviram como repertório, tanto pela forma como o projeto foi abordado com a população, quanto pelo modo em que foi implantado:

• O caso da cidade de Vienna _ Gender Mainstreaming

• Colocação de bancos no Distrito l’Eixample

• Reabilitação Urbana de Alto de Bomba

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O caso da cidade de Vienna _ GenderMainstreaming (Transversalização de gênero)

Fonte: Manual for Gender Mainstreaming in Urban Planning and Urban Development

O caso de Vienna é um dos casos mais emblemáticos do planejamento urbano pela perspectiva de gênero, desta forma, destaca-se a questão da mobilidade ativa, na perspectiva do pedestre.

A cidade de Viena já aborda a questão do planejamento com perspectiva de gênero há mais de duas décadas. O Gabinete da Mulher da Cidade de Viena foi criado em 1992 com um enfoque temático nos aspectos de planejamento. Como resultado de muitos processos e projetos piloto bem-sucedidos, a integração de gênero

Entre 2005 e 2010, todos os departamentos de planejamento da cidade de Viena conduziram projetospiloto de integração de gênero, a experiência foi relatada por meio do manual.

Plano Diretor de Transportes para os caminhos dos pedestres em Mariahif

Mapeamento da situação do trânsito pedonal no 6º município Mariahilf com base nos critérios de qualidade do Plano Diretor de Transportes. Começando com uma visão geral detalhada do status quo, potenciais abrangentes para melhorias em benefício dos pedestres foram destacados para todo o distrito. Além disso, frequências de pedestres, destinos diários importantes e conhecimento local foram usados para criar uma hierarquia de rotas de pedestres que permitiu estabelecer uma prioridade de medidas propostas.

As seguintes qualidades e deficiências da rede de vias de pedestres foram analisadas de forma abrangente para Mariahilf:

- Estreitamento das calçadas para 2,0 m

- Estreitamento sazonal das calçadas (por exemplo, devido a cafés na rua)

- Estreitamento dos espaços livres para menos de 1,5 m em alguns pontos

- Passagens de pedestres

- Regulamentos de vagas de estacionamento, incluindo informações adicionais sobre estacionamento na calçada e estacionamento temporário

- Entradas / saídas de edifícios para veículos

- Auxiliares de travessia de ruas

Para facilitar a avaliação da qualidade, os seguintes dados adicionais também foram utilizados:

- Semáforos: consulta com semáforos, programas de semáforos

- Acidentes envolvendo pedestres

- Destinos e instalações do dia a dia

- Dados de frequência de pedestres

No contexto do projeto “Gender Mainstreaming Model Districts” , mapas analíticos baseados em GIS foram desenvolvidos para todos os distritos municipais de Vienna . Esses mapas incluem qualidades e deficiências das respectivas redes de pedestres. Como a largura das calçadas, pólos atrativos de viagem, locais que trazem risco aos pedestres, entre outros.

Estes mapas distritais são uma ferramenta útil para a tomada de decisões para o planejamento de redes de pedestres em nível distrital e apoiam o estabelecimento de prioridades para medidas futuras.

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Figura 50 _ Exemplo de diagrama funcional para Kagraner Platz, uma praça no 22º distrito municipal, para uso interno da Prefeitura de Viena. Figura 51 _ Exemplo de diagrama funcional para Meidlinger Hauptstrasse, uma rua comercial do 12º município, como complemento para um concurso. Figura 52 _ Resultado do estudo realizado em Mariahilf.

Colocação de bancos no Distrito l’Eixample_

Col·locaciódebancsalDistrictedel’Eixample: informeestudiparticipat

Coletivo: Col.lectiu Punt 6

Ano: 2016

Local: Barcelona, Espanha

A escolha desse projeto se deu pela interação com a população e pelas análises topoceptivas in loco. Segungo relatório do Col·lectiu Punt 6:

A participação foi proposta a partir de um planejamento que está comprometido com a transformação dos espaços públicos levando em consideração o cotidiano dos idosos, e isso significa valorizar todas as atividades que as pessoas realizam para atender às diferentes esferas que compõem o seu cotidiano: valorizando e aprendendo com seus conhecimentos; reconhecendo as contribuições dos idosos para a manutenção da vida, visto que muitos cuidam de netos; dar continuidade à sua atividade associativa e política vinculada à sua comunidade; e dar qualidades aos espaços e tempos em que os idosos realizam atividades de lazer e cuidados pessoais.

Atividades realizadas:

Fase 1: Trabalho transversal: preparação prévia, coordenação, comunicação e acompanhamento.

Fase 2: Apresentação e Preparação do Workshop

Participativo de Processos e Expectativas.

Fase 3: Passeio pelo bairro e Workshop para definição de Propostas e Critérios.

Fase 4: Validação técnica das propostas e devolução aos participantes.

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Figura 53 _ Mapa com os bairros escolhidos para o desenvolvimento do processo participativo. Fonte: Col·lectiu Punt Figura 54 _ Exemplo de cartaz com as informações das atividades. Fonte: Col·lectiu Punt 6 Figura 55 _ Exemplo de cartaz com as informações das atividades. Fonte: Col·lectiu Punt 6

Dentre esses processos destaca-se:

WORKSHOP DE COLETA DE EXPECTATIVAS: O objetivo desta sessão foi recolher qualitativamente, os aspectos que pudessem descrever a procura de colocação de bancos, de forma a enriquecer o diagnóstico e promover o trabalho de argumentação.

TOUR PELO BAIRRO: Essa metodologia nos ajudou a orientar no momento de fazer um mapeamento preliminar das demandas e a falar sobre as características adequadas para a configuração dos locais de permanência nos diversos locais.

A convocatória feita com diversos canais (institucional, pessoal e de rua) e meios de comunicação (cartaz, flyer , telefonemas, presencial) tem sido suficientemente ampla no quotidiano dos idosos mas não temos conseguido mobilizar pessoas suficientes. No entanto, podemos dizer que os participantes têm sido representativos de vários grupos.

Em linhas gerais, este tipo de trabalho participativo com o público propõe um trabalho pedagógico voltado para a abordagem de uma participação ativa e transformadora. As pessoas possuem um conhecimento empírico muito importante para descrever suas necessidades e fornecer diretrizes e critérios capazes de enriquecer e encontrar soluções para problemas urbanos específicos. Essa participação exige muito envolvimento em termos de tempo e dedicação por parte das pessoas e exige um retorno que valide suas contribuições em relação às expectativas geradas.

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Figura 56 _ Passeios feitos no bairro Sagrada Família . Fonte: Col·lectiu Punt 6 Figura 57 _ Passeios feitos no bairro Sagrada Família . Fonte: Col·lectiu Punt 6 Figura 58 _ Estudo participativo no bairro Sagrada Familia. Fonte: Col·lectiu Punt 6

Reabilitação Urbana de Alto

de Bomba

Escritório: OUTROS BAIRROS

Arquitetos Responsáveis: Nuno Flores, Ângelo

Lopes

Área: 2.000 km²

Ano: 2020

Local: Mindelo, Cabo Verde

A escolha deste referencial se deu pela iniciativa em promover a participação da população no desenvolvimento do projeto e pela requalificação das áreas de lazer. Segundo Nuno Flores:

“OUTROS BAIRROS, uma iniciativa integrada no PRRA – Programa de Reabilitação, Requalificação e Acessibilidades e realizada na cidade do Mindelo, Cabo Verde, teve como objetivo elaborar um teste metodológico para a reabilitação de um assentamento precário.

A inexistência de cartografia, levantamentos municipais atualizados ou fotografias aéreas atualizadas, exigiu um trabalho prévio de verificação e atualização de todas as construções, ruas e espaços públicos existentes que, por sua vez, serviu de base para a aplicação de um inquérito, casa a casa, que recolheu todos os dados.

O Plano de Intervenção centrou-se numa estratégia que intervém no território a dois níveis: o estruturante, que trata acessibilidades e infraestrutura na globalidade do assentamento, e o pontual, que cria áreas de reabilitação urbana especificas que garantem a ligação do projeto estruturante com a cidade formal; articula a malha urbana do assentamento com a cidade formal e potencia a micro sociabilidade do assentamento, uma vez que atua nos locais de encontro identificados na fase de caracterização.”

de OUTROS BAIRROS

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Figura 60 _ Fonte: Queila Fernandes Figura 62 _ A inexistência de cartografia, levantamentos municipais atualizados ou fotografias aéreas atualizadas, exigiu um trabalho prévio de verificação e atualização de todas as construções, ruas e espaços públicos existentes. Fonte: Desenho Figura 61 _ A orografia motivou uma intervenção centrada nas bacias e sub bacias hidrográficas identificadas, visto que, por um lado, os níveis de pluviosidade da ilha de São Vicente, apesar de uma sazonalidade grande, são, por vezes, altos e, por outro, a ocupação espontânea é maior nas ribeiras.. Fonte: Desenho de OUTROS BAIRROS Figura 59 _ O projeto estruturante centra-se, sobretudo, na resolução do meio urbano. Fonte: Desenho de OUTROS BAIRROS

“Resgataram-se dois lugres de encontro onde a micro sociabilidade é potenciada: a praça dos jogos, habitualmente usada para os mais velhos se encontrarem na bisca e uril, e o campo de basquete, onde diariamente os mais jovens crescem, aprendendo com os dribles do jogo.

Assim como as vozes do Alto de Bomba, lentamente, se infiltram nesta ação coletiva, também os ofícios disponíveis – pedreiro, serralheiro e carpinteiro - se incluem no desenho, produção e execução de pavimentos, mobiliário urbano, guardas, entre outros.”

Fontes:

Nuno Flores. “OUTROS BAIRROS: iniciativa reabilita um assentamento precário em Cabo Verde” 22 Ago 2019. ArchDaily Brasil. Acessado 11 Mai 2021. <https://www.archdaily. com.br/br/923403/outros-bairros-iniciativa-reabilita-umassentamento-precario-em-cabo-verde>

“Reabilitação Urbana de Alto de Bomba / OUTROS BAIRROS” 15 Ago 2020. ArchDaily Brasil. Acessado 10 Mai 2021. <https://www. archdaily.com.br/br/945781/reabilitacao-urbana-de-alto-debomba-outros-bairros>

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Figura 65 _ Fonte: ETFilmes Figura 63 _ Fonte: Ângelo Lopes Figura 64 _ Fonte: Ângelo Lopes Figura 66 _ Praça de Jogos. Fonte: OUTROS BAIRROS

Método de trabalho Método de trabalho

- Revisão de literatura, acerca dos temas da mulher e cidade, mobilidade urbana, desenho urbano adaptado às necessidades de gênero. A revisão realizada por meio de pesquisa em artigos científicos, livros, revistas, dissertações, teses, vídeos, podcasts e sites .

- Estudos de Caso, a fim de formar um referencial de projeto que auxiliará, sob diversos temas e escalas, as definições projetuais.

- Diagnóstico da área de estudo composto por:

- Mapeamento dos condicionantes urbanísticos, sociais e ambientais da RA Santa Maria; tais análises temáticas serão sistematizadas no software de geoprocessamento QGIS.

- Preparação e aplicação de questionário junto às mulheres da RA Santa Maria, aos percursos e às principais dificuldades que a mulher sente ao longo do dia.

- Mesa de Conversa: entender a visão da cidade daquelas que vivenciam a cidade na pele. Realização de uma mesa de conversa com as mulheres do bairro Porto Rico e da cidade de Santa Maria, de tal modo a compreender as ações e intervenções prioritárias para a adaptação da cidade à perspectiva da mulher. - uma como primeira aproximação com as líderes comunitárias e as mulheres locais para compreender as principais dificuldades enfrentadas cotidianamente no local.

- Elaboração do partido, conceito e desenvolvimento das das propostas.

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O caminho delas: o urbanismo pensado por e para mulheres em Santa Maria DF (parte 1)| FAU UnB by Arissa K. Honda - Issuu