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Justificativa Justificativa
As problemáticas que envolvem a mulher persistiram ao longo do tempo, dentre elas a exclusão da vida pública, como resultado, cidades que não foram pensadas para a inclusão da vivência do ser feminino, no que preconiza suas necessidades e anseios. Pelos tantos papéis que foram atribuídos à mulher, a responsabilidade de cuidar, fez com que a mulher desenvolvesse um olhar sensível para o todo, entretanto a forma em que se estruturou a sociedade, a representatividade feminina foi sendo menosprezada e apagada da história. Assim, o que se busca ao colocar em evidência a perspectiva de gênero no planejamento das cidades, são as próprias mulheres, a importância delas como agente transformador da cidade.
Em a dominação masculina, de Bourdieu (2012), o autor traz uma narrativa da construção social desta dominação, a forma patriarcal com que se estruturou a sociedade para manter a mulher e suas atribuições reclusas ao ambiente doméstico, tendo como argumento a divisão dos gêneros e a divisão social do trabalho. Alienou-se e treinou-se as mulheres para aceitarem a submissão, com a forma de se vestir, de agir, de ser. Tal forma de dominação tinha seus instrumentos: a violência (tanto física quanto simbólica) e as estruturas sociais (instituições, famílias, Igreja, Escola, Estado).
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A mulher, como já foi dito anteriormente, não pode esperar uma mudança de comportamento da sociedade para ter acesso à cidade. As lutas femininas não acabaram, direitos fundamentais para nos considerar cidadãs já foram conquistados, mas ainda não temos direito sobre nossos corpos e nossas sexualidades, ainda é discrepante a distribuição de cargos, ainda se têm casos de feminicídio, de violência doméstica e de assédios.
Segundo dados1 da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) no ano de 2020, teve uma média de aproximadamente 1.290
1 Os dados foram coletados na plataforma: Observatório da Mulher. Segundo a plataforma, “É um portal que reúne os principais dados referentes às mulheres do Distrito Federal. Criado pelo Decreto n.º 40 476 de 02 de março de 2020, está sob a coordenação da Secretaria de Estado da Mulher.” casos de violência doméstica por mês, em um ano foram 11.629 casos, mas sabe-se que muitas vítimas acabam não denunciando o agressor(a), pelo medo, pela falta de preparo da própria polícia em receber a vítima, entre outros fatores. Outro dado apresentado trata sobre os casos de assédio sexual, no qual verifica-se que a maior parte destes ocorrem dentro das residências, e o segundo local mais frequente é no transporte público, conforme Figura 02.
Enquanto essa situação perdurar, tratar da questão da mulher é fundamental, a questão da violência contra as mulheres é um tema que deve ser amplamente discutido na sociedade, para que assim possa se criar o sentimento de empatia pela causa, nada justifica as violências sofridas pelas mulheres. Sabendo da gravidade do assunto, a ONU lançou em 2008 o
Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher (Figura 03).

De fato, não tem como se sentir segura ao olhar os dados, e a solução passa pelas diversas camadas da sociedade, desde a adoção de políticas que protejam as mulheres, a começar da educação, até as ações, dentro da arquitetura e urbanismo, de qualificação dos espaços. Busca-se assim estudar maneiras de tornar o acesso às cidades universal, enquanto esperamos por mudanças de comportamentos e conceitos a respeito da mulher.
Além da violência que a mulher sofre todos os dias, elas precisam lutar pelo direito à cidade, no sentido de acesso aos objetos físicos da cidade (Lefebvre, 2001), essa luta se agrava quando a mulher é da periferia - negra e pobre -, visto que os empregos que lhe restam, geralmente, são aqueles voltados ao ambiente doméstico e mal remunerados. O acesso à educação é dificultado, têm mulheres que não trabalham para cuidar dos filhos visto a falta de estrutura (creches, escolas integrais...) para permitir que elas tenham independência financeira e/ou possam ajudar a melhorar a condição da moradia. Tendo esse cenário de desigualdade, somado a dinâmica capitalista que não dá oportunidade a essas mulheres, seja pela especulação imobiliária, pelo latifúndio e pelo custo de uma moradia nos centros urbanos, apenas intensificam as desigualdades sociais. A mulher tem-se mostrado como um agente ativo nas lutas por moradia, uma vez que ela é colocada como o centro do lar e do cuidado da família, ela luta firmemente não só por ela, mas pela sua família e pela sua comunidade.

Sabendo das especificidades e lutas dessas mulheres, a escolha por Santa Maria se deu pelo fato de estar em uma região que faz fronteira com Goiás, onde se encontram algumas das comunidades em situação de maior vulnerabilidade social do conjunto metropolitano. Também está lidando com uma Regional que está distante do centro, o Plano Piloto. Então entendese que é uma população que não teve oportunidade, nem condições financeiras de se manter mais próximas do centro. Pela formação da cidade percebe-se que houve uma tentativa de controlar o desenvolvimento da cidade pelos principais eixos viários (Av. Alagados e Av. Santa Maria), entretanto ao começar expandir além desses eixos, criaram-se bairros desconexos da parte já consolidada, separados por vazios, rodovias e avenidas. Entende-se que espaços ermos são problemáticos para a vivência da mulher à cidade, principalmente o que diz a respeito da mobilidade urbana. Assim, faz necessário pensar em formas de tornar oacesso à cidade universal, tanto por saber do papel central que a mulher ocupa na estrutura familiar quanto da sua comunidade.