UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
ARISSA KAORI HONDA
Análise da implantação de pontos de encontro comunitários para o uso de idosos em Recanto das Emas - Distrito Federal

ARISSA KAORI HONDA
Análise da implantação de pontos de encontro comunitários para o uso de idosos em Recanto das Emas - Distrito Federal
ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO DE PONTOS DE ENCONTRO COMUNITÁRIOS PARA USO DE IDOSOS EM RECANTO DAS EMAS - DISTRITO FEDERAL
Ensaio Teórico em Arquitetura e Urbanismo
Banca Avaliadora: Profª. Drª Grabriela de Souza Tenório
Orientadora: Mônica Fiuza Gondim
Este Ensaio analisa a inserção de equipamentos para o lazer e prática de exercícios físicos da população idosa, cujos locais de implantação nas áreas públicas são chamados de Pontos de Encontro Comunitário (PEC). O objeto de estudo foi a regional Recanto das Emas, localizada em Brasília - Distrito Federal. A análise investiga questões como acessibilidade, conforto térmico e segurança, com o objetivo de avaliar se as condições locais de implantação dos aparelhos de ginástica favorecem a utilização por usuários com idade igual ou superior a 60 anos
Palavras-chave: Recanto das Emas, Ponto de Encontro Comunitário, Academia ao ar Livre.
Em 2018 a quantidade de pessoas acima de 65 anos, no mundo, superou o número de indivíduos abaixo de 5 anos pela primeira vez na história. E as projeções indicam que, por volta de 2050, a humanidade terá o dobro de idosos do que de crianças 1 Diante dessas projeções mundiais faz-se necessária uma avaliação de como as cidades estão se preparando para esse cenário, de forte crescimento da população idosa.
Essas projeções podem ser percebidas no Distrito Federal, onde a população com idade igual ou superior a 60 anos apresenta um a taxa de crescimento superior às demais faixas etárias, conforme se observa no gráfico da Figura 1.
A adoção de hábitos mais saudáveis, o avanço da área de saúde e da tecnologia, a adequação da moradia nas cidades, com maiores condições de salubridade, a implementação do saneamento básico, entre outros fatores, colaboraram para este cenário. De fato, a qualidade de vida melhorou nesses últimos anos, e por conseguinte, refletiu no aumento da expectativa de vida da população. Esta constatação fica ainda mais clara ao se observar que os países com maior participação de população idosa são aqueles que apresentam maiores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), como Japão e Suécia 2
1 UNITED NATIONS. World Population Prospects 2019.
2 UNITED NATIONS. Population growth and indicators of fertility and mortality. Disponível em: http://data.un.org/_Docs/SYB/PDFs/SYB62_246_201907_Population%20growth%20and%20indicators%20o f%20fertility%20and%20mortality.pdf
Em decorrência dessa situação, países que possuem uma significativa população idosa tiveram que adequar seus equipamentos urbanos para atender às necessidades específicas desses habitantes. Uma das medidas adotadas foi a inserção, em espaços públicos, de mobiliários urbanos para a prática de exercícios físicos próprios para essa faixa etária. Além dos benefícios para a saúde com a melhoria da flexibilidade, do equilíbrio e da coordenação motora, esses pontos de encontros são importantes para propiciar a interação social entre esses indivíduos.
Uma população que envelhece de forma saudável gera menos despesas para o sistema de saúde, e por conseguinte para o Estado. A China e a Espanha foram os países pioneiros na implementação de parques voltados para idosos
Uma das recomendações para a implementação de parques para uso de idosos é a dissociação desses espaços daqueles destinados à população infantil, com a colocação de aparelhos específicos para os idosos que não exigissem muita força física e que promovessem a flexibilidade e algum tipo de exercício aeróbico 3 . Além disso, destaca Mascaró (2008, p.31), “É conveniente que estejam associados às áreas verdes infantis, porém separados dos juvenis, embora podem estar no seu prolongamento visual.”
No Brasil, e especialmente em Brasília 4 , a presença desses mobiliários em espaços públicos, como praças e parques, é recente, há pouco mais de 10 anos. O Ponto de Encontro Comunitário, ou PEC, também chamado de “Academia ao Ar livre” ou “Academia da Terceira Idade”, é composto de um conjunto dez aparelhos (Figura 2) e podem vir acompanhados de pergolado, bancos ou cobertura. Entretanto, a simples inserção desses aparelhos em espaços públicos não significa que serão utilizados ou bem aproveitados, pois questões como acessibilidade, conforto ambiental e segurança não podem ser desprezadas. De forma que esses aparelhos, muitas vezes, podem não ser implantadas de forma adequada às necessidades dos usuários.
3 SENIOR PLANET. Playground for Seniors Coming Your Way. Disponível em: https://seniorplanet.org/playgrounds-for-seniors/
Este estudo trata da análise da qualidade de implementação dos PEC na regional de Recanto das Emas, Distrito Federal.
Para a escolha do local, objeto desse estudo, foi realizada análise em dados das 33 regiões administrativas de Brasília- DF quanto à participação da população idosa em relação ao número total de habitantes, a distribuição de renda e o percentual de PECs (Figura 3).
Embora o Lago Sul apresente cerca de 20% dos moradores com idade superior a 60 anos, sendo a regional do Distrito Federal com o maior percentual de população idosa, o Recanto das Emas foi selecionado para ser objeto deste ensaio por ser uma das regionais com população de menor poder aquisitivo, segundo dados da Pesquisa Distrital por Amostragem de Domicílios (PDAD) de 2011 5 (Figura 4) O Recanto das Emas possui uma população de 4.969 pessoas acima dos 60 anos, representando 4% de sua população, situação semelhante às RA’s de São Sebastião, Paranoá, Varjão, Itapoã e SCIA.
A escolha por Recanto das Emas também se justifica, considerando que o Lago Sul não apresenta quantidade expressiva de PECs, um indicativo de que o Estado está direcionando seus recursos para regiões que mais necessitam desse mobiliário urbano, pois trata-se de uma população que não tem como pagar por um espaço particular nem por um acompanhamento profissional para a prática de exercícios físicos.
O Recanto das Emas possui 28 PECs instalados, sendo a quinta no ranking do Distrito Federal (Figura 3). Na análise realizada ainda observou-se a insuficiência de PECs instalados na Regional de Sobradinho (somente 2 unidades), apesar do significativo número de habitantes idosos, em contraste com Samambaia, com grande número desses aparelhos (45 unidades)
5 Atualmente esse cenário se repete, a partir da análise do último PDAD de 2018, as Regiões Administrativas Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, SCIA e Varjão, continuam com a mesma situação de baixa renda.
Para permitir uma melhor interpretação e compreensão dos dados apresentados na tabela da Figura 3, foram elaborados gráficos O gráfico da Figura 4 demonstra em azul a porcentagem das regionais que possuem maior renda (acima de 20 salários-mínimos) em ordem decrescente
6 Tabela elaborada com dados do Censo 2010, adaptada para contemplar a atual situação geográfica do Distrito Federal. Distribuição de PECs nas 33 RA’s do DF obtida da plataforma de shapefiles da SEDUH, no Geoportal, com adaptações.
No gráfico exibido na Figura 5, observa-se a comparação entre porcentagem da população idosa com a porcentagem de PECs por regional.
É uma região administrativa que se caracteriza por uma implantação longitudinal que se desenvolve ao longo de uma única avenida central, Avenida Recanto das Emas, onde se concentram comércio e serviços. A regional foi criada em 28 de julho de 1993 pela Lei nº 510/93 e regulamentada pelo Decreto nº 15.046/93, a regional está localizada a 25,8 Km da regional do Plano Piloto 7 . Apresenta 148 quadrantes 8 , desses, 55 possuem majoritariamente uso residencial, conforme a Lei de Uso e Ocupação de Solo, com formatos predominantemente quadrangulares limitados por vias coletoras tendo cada uma um espaço de praça com um equipamento institucional As moradias, em sua maioria, são casas de um a dois pavimentos Essa regional conta com um total de 28,67 Km de ciclovias que acompanham boa parte das vias principais. E por fim, a regional abriga o Parque Ecológico e Vivencial do Recanto das Emas, área destinada para a preservação ambiental associada a um espaço de lazer.
Conforme o levantamento de 2015 do Geoportal, site de shapefiles 9 da SEDUH (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano), o Recanto das Emas é uma das regionais com maior número de PECs em Brasília, junto com Ceilândia, Gama, Samambaia e Taguatinga, conforme a tabela da Figura 3. Entretanto, por se tratar de um dado antigo, foi realizado novo levantamento nesta pesquisa, verificando-se que atualmente existem nessa regional 42 PECs, ou seja, 14 a mais do que em 2015, conforme localização ilustrada na Figura 6
O levantamento incluiu a verificação da tipologia viária onde o PEC está inserido, a presença de equipamento urbano nas proximidades, como escolas e UPA, a quantidade de mobiliários que o PEC compartilha na mesma praça, e se existe infraestrutura cicloviária.
7 Segundo a Administração Regional do Recanto das Emas, fonte disponível em: http://www.recanto.df.gov.br/category/sobre-a-ra/conheca-a-ra/
8 Para Brasília o quadrante corresponderia as quadras no sistema de endereçamento.
9 Shapefile são arquivos georreferenciados apresentados em vetores, podendo ter o formato de um ponto, uma linha ou um polígono. Também podem ser adicionados informações por meio de atributos a esses shapefiles.
10 Mapa de uso de ocupação do solo é referente à Lei Complementar nº 948, de 16 de janeiro de 2019
O gráfico abaixo (Figura 7) demonstra que a maioria dos PECs (57,14%) não tinha equipamento urbano nas proximidades. E daqueles que tinham algum equipamento urbano, em sua maioria eram escolas públicas.
O gráfico a seguir (Figura 8) demostra que 92,86% das praças dos PECs compartilhavam espaços com quadras poliesportiva, campos de futebol, parques infantis etc. Apenas 7,17% dos PECs não eram acompanhados de espaços para outras atividades.
Os demais gráficos tratam de questões de mobilidade urbana O gráfico da Figura 9 demonstra que 80,85% dos PECs se encontram em vias locais que ladeiam as praças localizadas dentro dos quadrantes residenciais.
E por último, o gráfico da Figura 10, mostra que apenas 11,9% dos PECs são acessados por algumas ciclovias
Na avaliação da distribuição espacial dos PECs na regional optou-se primeiramente por realizar o cálculo da distância do PEC até o limite do quadrante. Para isso foram traçados 4 eixos paralelos às vias limítrofes dos quadrantes conforme demonstrado no mapa da Figura 11 Para obtenção dos valores dos traçados foi utilizado o software QGIS Trata-se de uma medida aproximada, mas necessária para estudar a implantação desses mobiliários urbanos e se estão a uma distância confortável para os idosos.
Com o traçado dos eixos, estabeleceu-se 500 metros de distância satisfatória para a caminhada de idosos. Esse valor de referência encontra-se no artigo de Negron, Paula & Séguin, Anne-Marie & Apparicio, Philippe, 2014, que trata do potencial de acessibilidade a pé para os idosos nos subúrbios de Montreal.
Tendo como referência o valor citado, a maior parte dos PECs analisados se enquadraram dentro desse critério Os quadrantes com distâncias maiores de 500 metros possuem mais de um PEC. Além disso, é possível observar que não são todos os quadrantes que possuem um PEC, a Regional conta com 148 quadrantes sendo que 40 possuem pelo menos um PEC, que equivale a 27% dos quadrantes. É fato que não é necessário que todas os quadrantes tenham um PEC, considerando a possibilidade de se acessar o mais próximo dentro de uma distância menor que 500 metros. Entretanto, em alguns casos, o equipamento de ginástica pode se tornar inacessível pela distância. O resultado das análises realizadas sobre os PECs encontra-se tabulado na figura 12.
Após a confirmação da existência de 42 PECs, foram escolhidos 18 PECs, 42% do total, para serem analisados de forma mais criteriosa A escolha baseou-se na combinação de características de implantação dos PECS.
A principal característica foi a tipologia viária em torno dos PECs. A análise deveria conter pelo menos uma amostra de cada tipologia viária (via local, via coletora e via principal), pois entende-se que a tipologia viária influência na quantidade de pessoas que frequentam o local. Dessa forma, é possível averiguar se a quantidade de pessoas influencia na qualidade de implantação do PEC. Todos os PECs localizados em vias coletoras e principais, por estarem em menor quantidade, foram escolhidos para a análise.
Para os demais PECs, localizados em vias locais, que contam com um número total de 34, foi necessário limitar a amostra dessa categoria. Assim, partindo da análise já feita anteriormente, foram incluídos no estudo pelo menos um PEC, localizado em via local, de cada combinação possível das características dos seguintes critérios:
- Mobiliários urbanos que compõem a praça:
• Ausência de mobiliário (apenas a PEC)
• Um tipo de mobiliário
• 2 tipos de mobiliário
• 3 tipos de mobiliário
- Equipamentos urbanos que estão nas proximidades da praça:
• Ausência de equipamento público
• Presença de equipamento público: escola ou UPA (demais equipamentos não foram localizados)
Para melhor exemplificar tais escolhas, montou-se uma tabela com o quantitativo e o perfil utilizado para a escolha de pelo menos um representante das características escolhidas.
6 Localizados na via principal.
2 Localizados na via coletora.
1 Localizados em via local sem outros tipos de mobiliários urbanos nas proximidades. Sem equipamento público nas proximidades.
3 Localizados em via local com outro tipo de mobiliário urbano nas proximidades. Sem equipamento público nas proximidades.
2 Localizados em via local com outro tipo de mobiliário urbano nas proximidades mais 1 equipamento público nas proximidades.
1 Localizado em via local com 2 outros tipos de mobiliários urbanos nas proximidades. Sem equipamento público nas proximidades.
1 Localizado em via local com 2 outros tipos de mobiliários urbanos nas proximidades mais 1 equipamento público nas proximidades.
1 Localizados em via local com 3 outros tipos de mobiliários urbanos nas proximidades. Sem equipamento público nas proximidades.
1 Localizado em via local com 3 outros tipos de mobiliários urbanos nas proximidades mais 1 equipamento público nas proximidades.
Total de PEC: 18
Após a escolha dos PECs, o levantamento permitiu verificar a relação entre a presença de mais de um PEC em um mesmo ambiente e o nível de preocupação com a infraestrutura, acesso e segurança.
Para a investigação da análise dos Pontos de Encontro Comunitário foram escolhidas as seguintes variáveis:
1. Acessibilidade/ mobilidade
a) Existência de passeios, rampas de acessibilidade e condições da pavimentação que cerca o equipamento;
b) Existência de: paraciclos.
2. Conforto Térmico
a) Existência de sombreamento (vegetação ou coberturas colocadas pela própria administração).
3. Urbanidade e Segurança
a) Configuração do entorno da área de estudo quanto aos tipos de atividades das edificações e fachadas (vivas ou muradas), ou a presença de espaços vazios;
b) Existência de iluminação pública no local
4. Sociabilidade
a) Existência de bancos nos PEC, importante como um espaço de descanso quanto de sociabilização entre os frequentadores.
A partir desses critérios foram estabelecidos valores de 0 a 2 para aferir a qualidade dos PECs analisados, conforme cada variável estudada.
Acessibilidade/ mobilidade
Esta análise foi realizada para aferir a existência de rampas, passeios pavimentados, sinalização e presença de paraciclos.
O levantamento feito pelo Street View conferiu apenas a existência de rampas, pois não foi possível verificar se estavam conforme a NBR 9050/2004.
Dos 18 pontos analisados, apenas dois não tinham rampa. Um desses pontos é o PEC 7 do Parque Ecológico. Nele o acesso é dificultado pela presença conflituosa entre ciclovia, calçada e entrada de carros em frente ao campo de futebol localizado ao lado do PEC, podendo gerar acidentes para as pessoas idosas O segundo ponto sem rampa é o PEC 32, que possui apenas o meio fio retirado, além disso o acesso até o equipamento se encontra em estado degradado.
Quanto à adequação da sinalização para travessia de pedestres, necessária em vias com velocidade mais alta, como principais e coletoras, dois casos foram constatados. O primeiro corresponde ao PEC 1, no qual uma parada de ônibus impede o percurso do pedestre em linha reta O segundo caso é o PEC 40, onde o percurso do pedestre em direção à faixa de travessia é dificultado pela ausência de calçada e de rampa.
Todos os PECs analisados apresentam passeio pavimentado de acesso, apesar de apenas metade deles possuírem calçada em volta de toda a praça. Em dois pontos foram identificadas algumas características negativas que se destacaram dos demais: a posição incoerente em que o PEC 27 foi implantado, localizado a 32 metros do limite da praça (dimensão da praça 100m x 150m), distante da parte residencial, podendo gerar um sentimento de insegurança para o usuário. O segundo caso é o do PEC 35, onde se encontra uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), ambos atendidos somente por ciclovia compartilhada com pedestres, pois no local não existe calçada, tornando o acesso inseguro e com risco de acidentes principalmente para idosos.
Na avaliação da existência de paraciclos, esperava-se encontrá- los na proximidade das ciclovias. Entretanto, entre os cinco PECs localizados próximos à infraestrutura de bicicletas, o paraciclo foi encontrado apenas no PEC 26, situado numa avenida onde há um comércio mais intenso
Nesta categoria foi avaliada a existência de massa arbórea, pois segundo Mascaró (2015, ed.4, p. 44), “A cidade deve ser sombreada durante o período quente, limitando-se a dois terços da área dos caminhos de pedestres, praças e estacionamentos” De fato, numa cidade ensolarada, espaços sombreados são importantes não apenas para atividades físicas como também para a socialização.
Dos 18 PEC analisados, sete não tinham nenhum tipo de elemento que proporcionasse sombra. O estudo no Parque Ecológico do Jequitibá apontou que os idosos tinham uma maior preferência para a prática de exercícios no período da manhã e ao final da tarde (Thais, 2020), que são períodos com temperaturas mais agradáveis
Como pode ser observado na Figura 14, a carta solar de Brasília sofre poucas variações com as mudanças de estação De acordo com a plataforma ProjetEEE, o sombream ento é uma das estratégias mais adequadas para o período de 12h às 18h em qualquer estação do ano.
Das análises feitas, dois pontos tinham como vegetação exclusiva as palmeiras de baixa estatura e cujas folhagens mais esparsas não garantem um sombreado adequado Estes PECs eram o PEC 1 e o PEC 40
Dos 8 PECs que tinham sombreamento por massa arbórea, 37,5% possuíam árvores dispostas no lado oeste da praça, produzindo sombreamento no período da tarde, o mais crítico do dia. Um ponto que vale ser ressaltado é que em alguns casos as árvores apresentavam-se alinhadas com altura baixa, em frente ao PEC, produzindo uma barreir a dificultando a visibilidade dos equipamentos e comprometendo a segurança do local.
E por fim, os PECs 26 e 35, localizados em área comercial central de grande movimentação de pessoas, possuíam cobertura em estrutura metálica. Nes ses pontos foi possível verificar que o público não utilizava o PEC para a prática de exercícios físicos, mas os utilizavam como assentos servindo como uma área de encontro.
Em termos de urbanidade, a maioria dos PECs estavam cercados por lotes residenciais, ou estavam próximos a equipamentos urbanos. Com relação à permeabilidade visual, foram considerados os seguintes critérios:
a) Para as edificações que possuíam cercamento feito com material, como grades sem cobertura ou com metade do muro feita com material totalmente opaco e sem abertura visual, foi considerada uma fachada permeável;
b) As edificações que possuíam cercamento com material permeável como grades na metade da fachada e a outra com material opaco sem aberturas visuais, foram consideradas fachadas semipermeáveis;
c) Aquelas que não tinham nenhum tipo de permeabilidade visual foram consideradas fachadas cegas
Para exemplificar melhor o critério, a Figura 15 demostra um exemplo do que seriam tais fachadas. A imagem corresponde a uma das laterais da praça do PEC 32.
Os muros são utilizados como recurso de segurança e privacidade, entretanto a falta dos olhos para a rua acaba tornando-a mais insegura, desmotivando a convivência dos moradores no espaço público e impactando de forma negativa no sentimento de pertencimento ao bairro. Por esse motivo, principalmente as praças ficam vazias grande parte do tempo, tornando-se espaços para descarte indevido de lixo e possíveis pontos de venda de drogas
Dos 18 pontos escolhidos para essa análise, 12 não tinham fachadas ativas e muitas das casas ao redor se enquadravam no critério de fachadas semipermeáveis ou cegas A maior parte das casas se fechava para a praça, que em sua grande maioria apresentava
um certo grau de deterioração do espaço. Em apenas dois PEC, 2 e 15, localizados em área residencial, com escola pública no mesmo quadrante, apresentavam alguma permeabilidade visual nos muros e uma massa arbórea mais densa que as demais próximas ao limite da praça 11 .
O critério seguinte foi o de iluminação que, de acordo com Mascaró (2008, p. 183), “a iluminação pública está diretamente ligada à segurança no trânsito e à prevenção da criminalidade”. Todos os 18 pontos analisados tinham iluminação pública nas vias, no entanto, as praças dos PEC 7, 29, 37 e 40, apresentavam iluminação insuficiente Observou-se que as quadras poliesportivas, em sua maioria, detinham os postes de luz voltados para sua localização, o que é compreensivo, pois é comum a prática de exercícios físicos por jovens no período da noite
11 Pelas imagens não foi possível determinar o motivo exato pelo qual aquelas casas tinham uma maior permeabilidade visual do que as demais e até mesmo das que também possuíam alguma instituição no mesmo quadrante.
Considerando que a sociabilidade, especialmente para idosos, requer ambientes e elementos para a permanência confortável, esta pesquisa elencou a presença de bancos e pergolados como indicadores dessa facilidade. Sobre os assentos para os idosos tem se os critérios:
Adultos e idosos querem mais conforto e são bem mais cuidadosos ao escolher onde se sentar. Um mobiliário urbano confortável, de preferência com encosto e braços, assim como elaborado em materiais confortáveis faz a diferença para que esses grupos optem por sentar-se num dado espaço urbano e ali permanecer por um tempo. Para que a ideia de espaço urbano para todos tenha algum significado, é importante oferecer boas acomodações para que idosos se sentem. Os jovens sempre dão um jeito. (GEHL, 2019, p.143)
Dos 18 pontos, 9 tinham bancos associados ao espaço do PEC, 44% dos pontos tinham um pergolado. Desses 4 pergolados, apenas 1 apresentava cobertura vegetal atrelada ao mobiliário, o PEC 24. O pergolado geralmente é utilizado como suporte de trepadeiras, que acabam proporcionando sombreamento
O PEC 41 não apresenta bancos, apesar de estar rodeado por aparelho de ginástica, campo de futebol, parque infantil, quadra de areia, quadra poliesportiva e skate park. Nesse ponto há uma quantidade de massa arbórea significativa que proporciona um espaço agradável para permanência, que infelizmente conta com apenas um banco
Os PEC 27 e 29 além de não possuírem bancos, não oferecem sombreamento À primeira vista, a praça parece ser pouco convidativa, uma vez que se tem a sensação visual de um espaço árido e ríspido.
A ausência de bancos tem contribuído para o uso indevido dos aparelhos como locais de assento.
Ainda com relação à questão de permanência dos usuários nos PECs, foi observado que nenhum dos bancos apresentavam algum tipo de encosto ou braço, que fosse adequado ao conforto dos idosos. Não foram encontrados, também, outros mobiliários, como mesas, que possibilitassem a utilização do espaço para conversas ou jogos. A inexistência de mobiliários que priorizem o conforto e a permanência do usuário atua, também, como elemento dissuasor. Isso reflete questões socioculturais sobre o acesso ao espaço que, direta ou indiretamente, segrega e condena a utilização por moradores de ruas e outros segmentos da sociedade
Assim como aponta Gehl (2019, p.143) “paradas mais longas significam cidades mais vivas. A duração e extensão das permanências são cruciais para a vida urbana”. Coibir a permanência das pessoas nos espaços urbanos acaba por contribuir para deixar os espaços vazios e posteriormente deteriorados.
Conforme mencionado anteriormente, para avaliação dos PECs atribuiu-se a cada uma das oito variáveis de análise uma pontuação entre 0 (zero) e 2, em que 0 significa ausência de indicador; 1, indicador insatisfatório e 2, indicador satisfatório. Como resultado observou-se que a maior soma de pontuação foi de 14 pontos, a média foi de 11 pontos e a menor contagem foi de 6 pontos.
Para a melhor compreensão da pontuação, tem-se as variáveis relacionadas à acessibilidade: Rampa (pontuação 0 para estrutura ausente, 1 para estrutura inadequada); Qualidade do passeio (pontuação 1 para estrutura deteriorada e 2 para estrutura em boas condições); Calçada, trata da existência de calçadas em torno das praças (pontuação 0 estrutura ausente; 1 estrutura deteriorada e 2 para estrutura em boas condições). No quesito de sociabilidade: banco (pontuação 0 para estrutura ausente, 1 para mobiliário presente, mas distante do PEC e 2 para presença do mobiliário associado ao PEC).
Os critérios que tiveram mais zeros (atributo: ausente) foram: o sombreamento, a existência de calçadas em torno das praças e a presença de bancos associados aos PECs. Sendo que dois dos atributos citados estão relacionados a permanência do indivíduo no espaço público. De modo geral a maioria dos critérios obtiveram uma avaliação satisfatória, podendo ser inferido que pelo menos um dos critérios foram atendidos.
Com base nesses valores, considerou-se que um PEC apresenta condições satisfatórias quando apresenta 12 ou mais pontos e inadequadas quando atinge menos de 8 pontos. De acordo com a tabela da Figura 16, 72% dos PECs analisados poderiam ser considerados satisfatórios.
A fim de resumir e melhorar a compreensão os dados obtidos elaboraram-se os gráficos conforme Figura 17.
E para melhor situar os PECs analisados, a Figura 18 apresenta o mapa com a classificação final dos mesmos.
A população idosa apresenta uma tendência de crescimento demográfico importante no Brasil. Diante desse fato, faz se necessário avaliar a acessibilidade desse segmento à cidade. Assim, o presente trabalho analisou a qualidade da implantação dos PECs da região administrativa do Recanto das Emas, tendo como foco seu uso pela população idosa. Foram utilizados como base de avaliação os seguintes critérios: acessibilidade, conforto térmico, urbanidade, segurança e sociabilidade.
A acessibilidade foi avaliada pela existência de rampas, passeios e calçadas em torno das praças. As análises mostraram que a maioria dos PECs apresentava os dois componentes, rampa e passeio, em condições, no mínimo, razoáveis. Para evitar a ocorrência de acidentes, deve haver um cuidado com a escolha do tipo de pavimento. Considerando que a população idosa apresenta um certo grau de limitação na locomoção, é importante que essas rotas sejam seguras e bem sinalizadas
A avaliação do conforto térmico demonstrou ser esse o ponto com mais atributos indicativos de qualidade ausentes. A regional apresenta em sua maior parte, edificações térreas, o que faz com que o sombreamento dos PECs seja obtido principalmente por meio de massas arbóreas ou coberturas metálicas. Diante disso, o tipo de vegetação escolhida deve evitar espécies que apresentem folhagem esparsa, como palmeiras, ou que sejam baixas e com copas densas, o que poderia gerar um "muro cego". Além disso, para sombreamento adequado, a massa arbórea deve ser, preferencialmente, colocada na orientação oeste.
Já com relação aos critérios de urbanidade e segurança, foi avaliado que, de modo geral, os elementos estavam presentes de alguma forma, seja pela iluminação de outros mobiliários próximos ou pela iluminação já presente na via. A análise dos muros indicou que a maioria apresentava alguma permeabilidade visual, mas não o suficiente para serem classificados como fachadas ativas.
Por fim, foi avaliado o critério da sociabilidade, que não apresentou resultados positivos. Destaca-se a ausência de bancos ou conforto inadequado quando presentes. Isso torna a permanência prolongada inviável para a população idosa.
Diante das análises, foi possível determinar que as condições atuais dos PECs do Recanto das Emas, em sua maioria, são aceitáveis para a utilização dos equipamentos de ginástica pela população idosa. Conclui-se que a implementação dos PEC é muito bem vinda como política de promoção à saúde, entretanto, sua construção deve considerar o estudo da percepção do espaço e da funcionalidade.
Um planejamento das cidades mais participativo é importante para que se criem espaços comunitários mais proveitosos, e assim não ocorra o abandono e degradação precoce das praças.
A política de implementação dos Pontos de Encontro Comunitário é relevante para a prática de exercícios físicos regulares. Mas vale ressaltar que a prática não precisa estar atrelada apenas à existência de tais mobiliários, um espaço adequado para caminhadas ou para a pr ática de ciclismo também contribuem para a promoção da saúde.
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