AMI Notícias Nº 79

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© Luís Barros

MARIA TERESA HORTA

Maria Teresa Horta foi recentemente distinguida pelo Ministério da Cultura com a “Medalha de Mérito Cultural”, pelo seu contributo incomparável para a cultura portuguesa. Não gosta de prémios, gosta de escrever, sempre à mão e de caderno no colo. A poesia é a sua linguagem e o erotismo o seu tom de voz. Censurada, nas sombras de uma época marcada pelo fascismo, Maria Teresa Horta é um ícone da luta pelos direitos das mulheres em Portugal. Com uma sabedoria nuclear, do âmago das suas experiências, a poetisa falou. Em que período da sua juventude começa a sua relação com a escrita? A minha escrita começou muito cedo, não na minha juventude, mas na minha infância. Costumo dizer que nasci no escritório do meu pai. Claro que nasci na cama dos meus pais, na altura não existiam maternidades, as pessoas nasciam em casa, mas aquilo que eu me lembro, desde muito cedo, é dos livros do escritório do meu pai, para onde eu passava os meus dias a olhar maravilhada. Tive uma avó espantosa, mãe do meu pai, que me lia aquilo que eu queria. Sentavámo-nos as duas nesse escritório, eu olhava para a estante e 06 |

escolhia um livro para que a minha avó me lesse. Nunca me disse “este livro não é para a tua idade”, nunca. Perguntava-me, sim, se eu estava a perceber. É aí que começa a minha escrita, é aí que eu começo a escrever, num caderno em capa de oleado do meu pai. Ele era médico. Três folhas antes de acabar os seus cadernos ele deitava-os lá numa caixinha, eu ia buscá-los e dizia: “estou a escrever um romance”. Claro que nunca ia para lá de três, quatro linhas, mas isso foi a primeira coisa relacionada com a escrita que me lembro de ter feito muito pequena. Normalmente, aprendia-se a ler e a escrever aos sete anos, altura em que se


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