AMI Notícias nº 88

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AGORA TAMBÉM EM FORMATO DIGITAL N.º 88 Distribuição Gratuita 1.º trimestre de 2023 notícias Ação Humanitária 365 DIAS DE GUERRA NA UCRÂNIA SISMO TURQUIA-SÍRIA  ENTREVISTA COM GARCIA PEREIRA Especial “Trabalho e Precariedade” PROFESSORES EM MANIFESTAÇÃO JORNALISTAS: NOVO OLHAR SOBRE A PROFISSÃO

365 dias de guerra na Europa

Sismo Turquia-Síria

“Há crianças vulneráveis ao tráfico e situações de abuso”

Especial “Trabalho e Precariedade”

Entrevista António Garcia Pereira

Professores em manifestação contra “escola pública denegrida”

“O salário mínimo é pouco para um jornalista que trabalha 10-12 h/dia”

“O problema não são os profissionais, são as condições”

AMI convida – Catarina Neves, Jornalista

Breves – Nacional, Internacional, Mecenato

Agenda AMI

Voluntariado

Ficha Técnica

Este número da AMINotícias foi editado com o especial apoio da T RUST IN NEWS , detentora dos títulos Visão e Visão Júnior (encarte, COMPANHIA DAS CORES , LIDERGRAF e CTT - Correios de Portugal. Autorizada a reprodução de textos desde que citada a fonte.

Periodicidade Trimestral

Diretor Fernando Nobre Diretora Adjunta Luísa Nemésio Subdiretora Ana Luísa Ferreira

Editora Ana Martins Ventura Redação Ana Luísa Ferreira, Ana Martins Ventura

Colunistas Isabel Fernandes, Catarina Neves, Fernando Nobre

Branded Content Isabel Pinheiro, Sandra Leite Coordenador de Fotografia José Ferreira

Fotografia José Ferreira, Syria Relief & Development, Direitos Reservados

Grafismo Alexandre Fernandes Redes Sociais José Guimarães

Paginação Companhia das Cores - Ana Gil, Lúcia Antunes

Impressão LIDERGRAF

Editora, Redação e Administração AMI - Fundação de Assistência Médica Internacional, Rua José do Patrocínio 49, Marvila, 1959-003 Lisboa

• T. 218 362 100

• E-mail: aminoticias@ami.org.pt

Tiragem média 38.500 exemplares Distribuição Visão, Visão Júnior, AMI Registo ERC 127913 Depósito Legal DL378104/14

Estatuto Editorial

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José Ferreira
N.º 88 Distribuição Gratuita 1.º trimestre de 2023 notícias Ação Humanitária 365 DIAS DE GUERRA NA UCRÂNIA SISMO TURQUIA-SÍRIA  ENTREVISTA COM GARCIA PEREIRA Especial “Trabalho e Precariedade” PROFESSORES EM MANIFESTAÇÃO JORNALISTAS: NOVO OLHAR SOBRE A PROFISSÃO

FUTURO DO TRABALHO:

PERTURBADOR OU ATERRADOR?

Quando penso no futuro do trabalho não posso deixar de pensar quão precário e perturbador, ou mesmo aterrador, ele será para as próximas duas gerações. Não tenho a mínima dúvida que, com a aceleração brutal do tempo presente, daqui a dez anos, ou no máximo vinte, a sociedade humana tal como a conheci, desde que nasci em 1951, terá pura e simplesmente deixado de existir.

Se conjugarmos corretamente tudo o que já se perspetiva a breve trecho, a menos que nos interroguemos todos seriamente sobre se é esse o devir que efetivamente queremos e aceitamos para o futuro dos nossos filhos e netos, não ficará pedra sobre pedra da civilização que conhecemos e que se está a esvair rapidamente entre os nossos medos e desespero.

Sim, a precariedade e a efemeridade do trabalho serão uma triste realidade pois os seres humanos serão, em TODAS as profissões, rápida e facilmente substituídos por robôs, graças à Inteligência Artificial sem freio nem controlo ético e bioético.

Repito: TODAS as profissões! Da medicina à advocacia, da arquitetura à engenharia, das artes à gestão da Res Publica. Os seres “humanos” a breve prazo nunca poderão competir com a robotização em todas as componentes da sociedade que se prepara. Facilmente descartáveis, porque obsoletos, segundo a nova padronização da sociedade já em marcha. Nesse sentido, o trabalho “humano” não só será precário, mas pura e simplesmente desnecessário.

Os seres humanos debilitados pelos medos, pelas doenças, pela alimentação processada, pelas guerras dantescas que podem perfeitamente vir a acontecer, pelas alterações climáticas ou pelas catástrofes provocadas ou não, pela destruição da família… não poderão ter a força anímica suficiente e necessária para resistirem à força que se avizinha à velocidade do desenvolvimento sem freio, sem regras nem contrapeso da Inteligência Artificial.

Para mim, Ser Humano a caminho dos 72 anos, médico há 45 anos, humanista desde sempre e humanitário ativo há muitas décadas, já não tenho há uns anos a mínima dúvida: a precarização acelerada das vidas está em curso, já não silenciosa e sub-repticiamente como vinha acontecendo há mais de um século, mas sim às claras, com vontade espúria de impor o rendimento básico universal para a esmagadora maioria da população nas próximas duas décadas.

Teremos assim, muito em breve (duas ou três décadas), três classes sociais: a classe dos “Precários” com o salário mínimo nacional mais tarde apelidado de rendimento universal garantido, que serão os servos do futuro; a classe dos “Diretores” com salários medianos e a classe dos “Feitores” diretamente às ordens da classe dos “Donos de Tudo”, distribuídos por camadas cada vez mais invisíveis e inacessíveis que controlarão tudo com as devidas ferramentas: códigos digitais, exclusivamente, e a Inteligência Artificial…

Terrível ter de escrever o que aqui deixo lavrado no papel, mas não fazê-lo seria renegar o ser humano que ainda sou.

SUMÁRIO + EDITORIAL | 03
Fernando de La Vieter Nobre Presidente e Fundador da AMI © Gabriela Nemésio Nobre

Sem data para terminar, a AMI mantém ajuda humanitária na Ucrânia, Roménia, Hungria e em Portugal

365 DIAS DE GUERRA NA EUROPA

“UCRANIANOS VENCEM TODOS OS DIAS ESCURIDÃO, FRIO, FOME E MORTE”

Desde o início da guerra, a ONU estima que a Ucrânia tenha perdido 7,7 milhões de habitantes. A ajuda humanitária tem sido a salvaguarda da população deslocada e em 2023 a AMI vai manter o apoio à população ucraniana, da saúde à educação, dentro das fronteiras da Ucrânia, na Hungria, Roménia e em Portugal.

Elina Antalovska acerta o movimento da Clínica de Ambulatório N.º 7, em Uzhhorod, na Ucrânia, pelos cortes de energia. Nos gabinetes terminam-se consultas e encerram-se computadores a partir das 15h. Apenas cuidados indispensáveis aos doentes são assegurados. Tudo o resto é cortado. Até ao dia seguinte não há telefone, nem internet e luz. As vacinas são salvaguardadas por um gerador da Câmara Municipal de Uzhhorod.

“Os ucranianos vencem todos os dias escuridão, frio, fome e morte”, conta a diretora da Clínica N.º 7 que recebe doentes locais e de zonas de conflito, porque “alcançar cuidados de saúde vale o risco de uma travessia pelo país”, conta Elina.

Quando a guerra começou, Elina Antalovska planeou organizar o transporte de medicamentos entre a Hungria e a Ucrânia para ajudar a população afetada pela guerra que

procurasse a clínica. Foi então firmada uma parceria entre a Clínica de Ambulatório N.º 7, a farmácia Stella Patika sediada em Vásárosnámeny, na Hungria, e a AMI que, desde março de 2022, permitiu a prestação de cui dados de saúde a mais de 25 mil ucranianos.

Todos os meses, Elina viaja no seu próprio carro, para adquirir medicamentos que a AMI já financiou até hoje com perto de 20.000,00 euros.

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© AMI
Fotografias

A médica vai “continuar a lutar pela vida dos ucranianos e para defender a democracia na Ucrânia”.

A 460 quilómetros de Uzhhorod, em Khmelnitsky, entre março e janeiro, a AMI também garantiu cuidados médicos, com consultas de psicologia, além de apoio legal e orientação profissional a 1.500 pessoas. Uma parceria com a organização não governamental Zakhyst, que representou um investimento de quase 18.000,00 euros. Desde o início do conflito, a AMI também assegurou medicamentos, equipamento médico e alimentos para as cidades ucranianas de Bergszász e Munkács.

Para Fernando Nobre, “enquanto não houver negociações de paz novas e sérias, as regiões da Ucrânia ficarão sujeitas a conflito e a população continuará a procurar refúgio nas zonas onde se possa viver ou nos países limítrofes, onde a capacidade de resposta tenderá a esgotar-se”.

Um cenário que leva a AMI a manter a ajuda humanitária na Ucrânia, Roménia, Hungria e também em Portugal sem data de término, tendo já aplicado 186.144.69 euros em nove projetos.

PARA LÁ DA UCRÂNIA, O FUTURO EM ROMENO E PORTUGUÊS

Na região dos Cárpatos romenos, em Oradea, a AMI ajudou a garantir o acesso a habitação, cuidados de saúde e alimentação, para famílias ucranianas refugiadas. O maior desafio do presente é a aprendizagem do romeno. Uma barreira que a AMI está a derrubar em parceria com a International Children’s Safety Service, financiando aulas de romeno para 23 adultos e 20 crianças, com um investimento que ronda os 8.500,00 euros. Em Portugal, a integração pela aprendizagem da língua também é uma aposta da AMI. No Centro Porta

Amiga de Coimbra, as aulas de português representam um ponto forte na integração da comunidade ucraniana. Até ao momento, foram abertas cinco turmas que abrangeram 96 dos 293 refugiados que o centro ajuda a nível alimentar, habitacional, legal, educativo e no acesso a cuidados de saúde. No total, através dos centros Porta Amiga já ronda os 26.000,00 euros o valor aplicado em ajuda alimentar, habitacional, legal, educativa e no acesso a cuidados de saúde.

Para Alina Posokhova e Dmytro Kashkin, “aprender um português fluente é essencial” para ingressarem no mercado de trabalho e, no caso de Dmytro, para frequentar um mestrado na Universidade de Coimbra.

“Coimbra é uma das regiões onde a comunidade ucraniana mais se tem concentrado e, sobretudo, encontrado uma resposta organizada e imediata, para retomar as suas vidas”, afirma Paulo Pereira, diretor do Centro Porta Amiga de Coimbra.

Há um ano, Alina e Dmytro despertavam em Karhkiv para viver o dia do seu casamento. Naquela manhã, os planos caíram por terra quando chegou a notícia da guerra: a Rússia invadira a Ucrânia e em breve os militares chegariam a Karhkiv.

A professora primária e o advogado partiram numa viagem de dias que os trouxe até Portugal, onde se tornaram apenas espetadores de “uma Ucrânia que precisará de ajuda muito além do tempo da guerra”.

A Organização das Nações Unidas estima mesmo que, desde o início da guerra, a população da Ucrânia passou de 43,3 para 35,6 milhões e que 21 milhões de ucranianos, dentro e fora do país, precisam de ajuda humanitária.

Um ano de guerra, dez ações AMI

9 - 12 mar'22

1Medicamentos e kits de higiene para Bergszász, em parceria com a Câmara de Vásárosnamény, na Hungria e a Hungarian Baptist Aid.

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15 mar'22

Medicamentos entregues em Munkács, na Ucrânia, em parceria com a Cáritas da Hungria.

18 mar'22

Doação de refeições ao Centro de Acolhimento Temporário de Refugiados em Palanca, na Moldávia.

21 mar'22

Bens de higiene entregues no Centro EMPATIE, em Tudora, Moldávia.

22 mar'22

Início do envio de medicamentos para a Clínica N.º 7 de Uzhhorod, na Ucrânia.

24 - 25 mar'22

Medicamentos, equipamentos médicos e produtos de higiene para a Fundatia Regina Pacis e Charity Centre for Refugees, em Chisinau, na Moldávia. Medicamentos entregues no Centro Hospitalar de Stefan Voda, na Moldávia.

abril'22

Medicamentos para a Sociedade de São Vicente de Paulo, na Roménia, Hungarian Baptist Aid, na Hungria. Entrega de medicamentos à Cáritas Hungria.

mai'22

Projeto AMI e International Children’s Safety Service: aulas de romeno para a comunidade ucraniana refugiada em Bihor.

Centro Porta Amiga de Coimbra abre turmas para ensino de português à comunidade ucraniana.

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21 out'22

Visita à farmácia Stella Patika, na Hungria, para dar continuidade ao envio de medicamentos para a Ucrânia.

Visita aos centros de acolhimento de Beregsurány e Tiszabecs, na Hungria.

fev'23

Aulas de romeno para famílias ucranianas refugiadas em Oradea, na Roménia.

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SISMO

TURQUIA-SÍRIA

Depois de uma luta contra o tempo para retirar sobreviventes sob os escombros, a Syria Relief & Development está a trabalhar em parceria com a AMI para prestar cuidados de saúde às populações. A resposta governamental na Síria ficou aquém das necessidades devido à intensidade do sismo e à guerra.

Em resposta ao sismo de 6 de fevereiro último, líderes de 33 países ofereceram ajuda humanitária à Turquia, assim como ONG, associações e fundações ao redor do mundo. À Síria, só a 26 de fevereiro chegaram os dois primeiros aviões com ajuda humanitária retirada das próprias reservas da União Europeia. Apenas dezoito dias após a UE ativar o Mecanismo de Proteção Civil.

Fernando Nobre, presidente da AMI, reafirma a importância de se enviar ajuda humanitária para a Síria, recordando o lema fundador: “a AMI vai onde mais ninguém quer ou pode ir”. Para o médico, “a situação na Síria é mais grave devido às condições de fragilidade após 11 anos de guerra civil”. Tendo experiência de terreno, uma vez que a AMI mantém uma parceria com médicos turcos e sírios na ajuda transfronteiriça a refugiados de guerra, Fernando Nobre lança outro alerta: “além da escassez de água, alimentos e agasalhos, há crianças vulneráveis ao tráfico e situações de abuso”.

Factos determinantes para a AMI lançar uma campanha de angariação de fundos, que permitiu organizar uma parceria com a Syria Relief & Development e assegurar

O sismo de 6 de fevereiro causou mais de 55 mil mortes e afetou a vida de 24 milhões de pessoas

cuidados de saúde às vítimas do sismo na Turquia e Síria, através de 24 ambulâncias e uma clínica móvel de emergência que conta com um médico uma enfermeira, uma parteira e dois técnicos de apoio psicossocial.

O projeto “Emergency Mobile Clinics in Harem and Mills” garante consultas médicas gerais; serviços de saúde reprodutiva e pediátrica; cuidados de saúde mental não especializados e aconselhamento psicossocial. Os doentes são ainda referenciados para acesso a serviços especializados. Com estes recursos, a equipa médica do “Emergency Mobile Clinics in Harem and Mills” planeia realizar, em média, 1.200 consultas por mês, nas zonas de Haram e Mills, nos distritos de Azaz e Daret Azza, na Síria.

Para a Syria Relief & Development este apoio é essencial e muito urgente, uma vez que “a resposta de emergência na Síria ficou aquém das necessidades devido à intensidade do sismo”. No momento, a organização ainda está “concentrada em retirar os corpos sob os escombros e prestar cuidados aos sobreviventes também sob os destroços”, numa luta contra o tempo. Enquanto as carências da população são cada vez mais graves, num cenário de total destruição e inverno rigoroso.

“A maior parte das famílias da cidade de Jandaris estão desalojadas. As suas casas estão destruídas e elas não têm qualquer abrigo”, alerta a Syria Relief & Development des-

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© Syria Relief & Development
“HÁ CRIANÇAS VULNERÁVEIS AO TRÁFICO E SITUAÇÕES DE ABUSO”

CINCO CENÁRIOS DE SISMO EM 20 ANOS

crevendo um cenário com “um grande número de mulheres e crianças nas ruas sem nenhum dos seus haveres, apenas com a roupa do corpo. Segundo a organização o acesso a alimentos e medicamentos também continua cortado, porque “todas as lojas e farmácias estão fechadas”.

Nos últimos 20 anos, através do envio de equipas expatriadas e parcerias com organizações locais, a AMI interveio em cinco cenários pós-sismo. Em 2003, na cidade de Bam, no Irão e em 2005, na região de Caxemira, no Paquistão. Após o sismo que devastou o Haiti em 2010, a AMI manteve durante onze meses, entre outros, um projeto na capital Port-au-Prince, para assegurar cuidados primários através de clínicas móveis. A ajuda humanitária no Haiti foi reforçada em 2021, quando outro sismo afetou o sul do país. A atuação da emergência da AMI regressou à Ásia em 2015, quando uma equipa coordenada por Fernando Nobre esteve presente no Nepal, para prestar apoio às vítimas de um sismo que afetou mais de 4,6 milhões de pessoas e atingiu ainda a Índia, Bangladesh, Paquistão e China.

“A QUESTÃO NÃO É SE UM SISMO ACONTECER EM PORTUGAL, MAS, QUANDO VAI ACONTECER”

O sismo de magnitude 7,8 que a 6 de fevereiro devastou a região de Gazientepe, na Turquia e a fronteira Síria, com grande impacto em Aleppo, despertou o debate sobre o risco sísmico em Portugal. Para a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, “a questão não é se um sismo acontecer em Portugal, mas, quando vai acontecer e se estaremos preparados para uma devastação semelhante à de 1755”, tendo o país uma extensa área de risco desde a Grande Lisboa ao Algarve e nos Açores.

A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil desenvolve com frequência exercícios de simulacro, mas é na atuação das equipas em cenários de catástrofe pós-sismo, como os do Irão, Haiti, Nepal e agora Turquia e Síria, que Patrícia Gaspar coloca o maior peso, “não só pela solidariedade internacional que representa, mas, também, porque permite treinar os profissionais em cenários reais”.

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1 2 3 4 5 Bam, Irão, 2003 6,6 na escala de Richter, 30 mil mortes Caxemira, Paquistão, 2005 7,6 na escala de Richter, 86 mil mortes Port-au-Prince, Haiti, 2010 7,0 na escala de Richter, 100 mil a 200 mil mortes Nepal, Índia, Bangladesh, Paquistão e China, 2015
na escala de Richter, 8.259 mortes Turquia e Síria, 2023
na escala de Richter, 55
© AMI
7,8
7,8
mil mortes (à data do fecho desta edição)

ANTÓNIO GARCIA PEREIRA

“TEMOS FEITO MUITO POUCO

PARA ASSEGURAR O DIREITO AO TRABALHO EM PORTUGAL”

Por acreditar que ainda há espaço público para todas as opiniões e lutas laborais, desde janeiro António Garcia Pereira acompanha os professores nas suas manifestações. Além de uma paixão de vida, o Direito do Trabalho é para o histórico advogado a melhor defesa para a massa de trabalhadores precários que Portugal gerou.

Historicamente, o que representarão as recentes manifestações e greves dos professores?

Ter 150 mil professores em manifestação nas ruas representa uma nova fase na organização sindical e aquilo que outros trabalhadores também podem fazer. Quem luta pode ganhar e pode perder. Quando se desiste de lutar, perde-se sempre.

É o fim das greves fofinhas à sexta-feira à tarde, das vigílias à porta do Primeiro-Ministro e da entrega de petições. Coisas que governos e empresas agradecem, porque mantêm a face democrática, sem que tenham de mover uma palha.

No novo mundo do trabalho quem reivindica?

Contra pergunto: como é que se mobilizam trabalhadores a recibos verdes? E não podemos esquecer que temos 25% da nossa economia ‘ao negro’, em trabalho não declarado, pago por debaixo da mesa, sem descontos para a segurança social, sem obrigações de segurança e saúde no trabalho. Neste quarto, estão os trabalhadores da construção civil, restauração, hotelaria, da agricultura intensiva. A bacia do rio Mira é lugar de vergonha nacional. Toda a gente sabia há anos o que ali se passava com os imigrantes.

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© José Ferreira / AMI

Trabalhar é um direito assegurado em Portugal?

Temos feito muito pouco para assegurar o direito ao trabalho em Portugal e a precariedade está a ser alimentada por incentivos aos contratos a prazo. Há uns anos, as empresas contratavam a prazo e colocavam uma cláusula no contrato a indicar “para fazer face a atividade extraordinária”. De acordo com o Código de Trabalho essa cláusula passou a ser ilegal, porque não preenchia o princípio da fundamentação sendo necessário indicar os factos. Agora a indicação não é feita e simplesmente contrata-se a prazo. Um trabalhador efetivo ganha em média mil euros, um trabalhador com contrato a prazo e as mesmas funções ganha em média 750,00 euros e um trabalhador a recibos verdes ganha 600,00 euros.

Quem são os profissionais mais afetados?

Os jovens. Mais de 80% dos contratos celebrados pelos jovens são precários. E há empresas que assumem que é da sua prática terem contratos a prazo antes de avançarem para a efetividade. Portanto, fazem dos contratos períodos experimentais de 2 a 3 anos.

Que responsabilidade pode assumir a sociedade civil perante um trabalhador precário?

Tem responsabilidade de denúncia.

A Cáritas denuncia sistematicamente o abandono nas ruas de trabalhadores vindos do Nepal, Paquistão e Índia, contratados para campanhas sazonais na agricultura intensiva. Depois, é preciso estar alerta para outra nova massa de precários. Os médicos, enfermeiros, arquitetos, profissionais da comunicação e outros trabalhadores da área do saber, contratados a recibos verdes.

Muitos desses profissionais constituíram pequenas sociedades por quotas. A maioria dos médicos contratados por hospitais privados estão nesta situação laboral e apenas despertam para ela quando são demitidos. De repente, passaram 15 anos num hospital e não fizeram a sua própria consulta privada.

Defendi muitos médicos, enfermeiros e arquitetos no desemprego que, se não tivessem a ajuda da família, teriam de recorrer a apoio alimentar.

Quando é que o trabalho mudou de face em Portugal?

Há 50 anos, Lisboa tinha desde a Avenida de Berlim até Moscavide, ou da Venda Nova até à Amadora, fábricas alinhadas, cada uma com 500, algumas com mil trabalhadores. Essa forma de organização da produção facilitava a atividade sindical, porque com uma bicicleta e um megafone rapidamente se mobilizam milhares de trabalhadores nessas zonas.

Fábricas, de norte a sul, foram substituídas por uma miríade de pequenas e médias empresas prestadoras de serviços, onde a capacidade de mobilização dos trabalhadores diminuiu.

Vivemos um ‘apagão’ dos movimentos trabalhistas?

Os sindicatos tradicionais não conseguiram ver o que a diminuição dos chamados blue color worker [na tradução livre “do fato de macaco azul”] significaria. Assim como o significado da precarização dos enfermeiros, médicos, professores, arquitetos. Além de não terem precavido o que significariam os ‘inimpregáveis’, jovens que têm uma licenciatura, mestrado ou doutoramento e apenas conseguem um trabalho precário, em áreas diferentes das de formação.

Como chegámos a este cenário laboral?

Tudo aconteceu porque foi assumida uma estratégia de aumento da produtividade e aumento da competitividade, com o esmagamento dos custos unitários do trabalho. A lógica da Troika de reduzir direitos sociais, colocar as pessoas a trabalhar mais e receber menos para o emprego e economia aumentarem.

O relatório “Trabalho Digno em Portugal 2008-2018” desmente esses pressupostos da Troika.

A pobreza tornou-se condição da população ativa?

Cerca de um milhão de trabalhadores têm magros salários que não permitem sair da pobreza. E só temos números de 75% da economia, os outros 25% representam o trabalho não declarado. Somando 20% da população em situação de pobreza e outros 20% em risco de pobreza e que só não estão lá por força dos direitos sociais. Há qualquer coisa de profundamente errada nesta forma de organização social.

Segundo um estudo da OXFAM, desde 2020 que 1% da população mundial detém 63% da riqueza. No tempo dos saltos tecnológicos temos as melhores ferramentas e não conseguimos que o trabalho nos empodere? Deveríamos refletir profundamente quando, com todos os progressos tecnológicos, não conseguimos manter uma reivindicação como a jornada de oito horas de trabalho, pela qual morreram pessoas e a sua luta celebrizou o 1.º de Maio como Dia Internacional dos Trabalhadores. Temos jornadas de trabalho e ritmos de trabalho muito violentos.

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“Mais de 80% dos contratos celebrados pelos jovens são precários.”

PROFESSORES EM MANIFESTAÇÃO CONTRA “ESCOLA PÚBLICA DENEGRIDA”

Os professores consideram-se precários e em risco de empobrecimento devido aos anos que passam deslocados. Apesar de serem o braço forte das escolas, os auxiliares têm vencimentos próximos do salário mínimo nacional. Nos hospitais, enfermeiros lutam contra a falta de material e tabelas salariais baixas para um trabalho que garante todo o bem-estar dos doentes.

Em marcha de norte a sul, professores e auxiliares afirmam que “o trabalho em Portugal é precário e um direito pouco garantido”. Nas escolas reclama-se pelo 23.º direito da Declaração Universal dos Direitos Humanos: todo ser humano tem direito ao trabalho e dignidade no trabalho. Há muito tempo que a Avenida 24 de julho não acolhia tamanha multidão como os professores que, a 28 de

janeiro, marcharam de Alcântara até Belém, reivindicando ser recebidos pelo Presidente da República. Lado-a-lado reclamam um aumento de 120,00 euros; opõem-se à contratação de professores pelas direções das escolas ou instituições concelhias; exigem a recuperação total das carreiras congeladas entre 2005 e 2017 e o acesso ao 5.º e 7.º escalão da carreira por mérito.

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Os professores Ana Patrão e Miguel Cunha, alegam que a dignidade da carreira de professor está comprometida © José Ferreira / AMI

A professora Ana Patrão embarcou num dos autocarros que partiu de Cinfães rumo a Lisboa para se manifestar junto de 80 mil colegas de profissão contra “direitos desrespeitados e uma escola pública denegrida”. Contratada há oito anos, acompanha de perto professores que “optam por ficar longe das suas famílias para se conseguirem vincular, ficando cada vez mais empobrecidos e continuamente sujeitos à precariedade”.

Um professor contratado do primeiro escalão recebe pouco acima de mil e cem euros e trabalha mais do que 35h semanais para preparar aulas e relatórios. “Com este volume de trabalho e este salário um casal de professores deslocados e com filhos, não ganha o suficiente para pagar casa, alimentação, água, luz”, afirma Ana Patrão. Além da precariedade económica, “o direito a uma carreira digna é posto em causa pela avaliação de desempenho sujeita a quotas no acesso ao 5.º e 7.º escalão, ditadas pela percentagem máxima de professores, por escola, que podem ter classificação elevada”. Com anos de compasso de espera para subir na carreira, professores com dez anos de experiência têm salários idênticos ao dos recém-licenciados.

Depois de anos deslocado, o professor Miguel Cunha está agora fixo numa escola, mas, ainda espera pela oportunidade de aceder ao 5.º escalão. Miguel Cunha sente que “ainda não houve um momento de paz laboral na carreira, para simplesmente lecionar”. Tal como Ana Patrão, defende a redefinição do método de avaliação, para que os professores tenham “acesso a classificações justas e a uma carreira de mérito”.

O BRAÇO FORTE DAS ESCOLAS

Maria Martins dedicou mais de 30 anos de vida à carreira de auxiliar de ação educativa, “hoje apenas categorizada como assistente operacional”. No final da década de 1980, quando ingressou na função pública, “apesar dos salários serem baixos, existia orgulho em ser o braço forte das escolas”. Depois, a vida encareceu, a progressão na carreira e os aumentos foram sendo cortados, e “os auxiliares das escolas mergulharam na precariedade económica, com salários que nunca foram compatíveis com as exigências da carreira”.

Aposentada com 420,00 euros, Maria Martins faz parte dos 9% de beneficiários da AMI que, apesar de terem rendimentos só de trabalho, necessitam recorrer a apoios sociais. Da população que encontra na AMI acesso a alimentos, consultas médias ou material escolar, cerca de 8% recebe apenas entre 301,00 euros a 500,00 euros e 6% recebe entre 501,00 e 700,00 euros.

Durante a maior parte da carreira Maria Martins auferiu um salário com pouca diferença do mínimo nacional. Nos últimos anos “ganhava o mesmo que as colegas que tinham acabado de ingressar na carreira”.

Muito pouco, para profissionais que prestam apoio aos professores na sala de aula, assistem os alunos no recreio e garantem a limpeza de toda a escola. Maria Martins chegou a “limpar sete salas por dia e vigiar os alunos quando os professores se atrasavam na entrada da manhã ou na hora de almoço”. Nunca ganhou mais pelo trabalho extraordinário.

Quando vê os professores em manifestação e, ao seu lado, os auxiliares, “agora assistentes operacionais”, Maria Martins pensa que “se a solidariedade entre professores e auxiliares fosse mais forte, e não uma conveniência de greves, ambas profissões teriam ficado mais protegidas”.

“NUM HOSPITAL DO SNS, ÀS VEZES, NEM LUVAS HÁ PARA TRABALHAR”

Também Ricardo Alves gostava que médicos e enfermeiros estivessem mais alinhados. Ingressou na carreira de enfermeiro em 1998, no Serviço Nacional de Saúde, mas a falta de regulamentação para o exercício da profissão tem levado Ricardo Alves a pensar que “se um dia tiver de escolher entre o público e o privado, certamente ganha o sector privado”. Há ainda outros fatores como o facto de “num hospital do SNS, às vezes, nem luvas há para trabalhar e para um enfermeiro é doloroso ver um doente a precisar de melhores cuidados e não poder dar”.

Um enfermeiro pode auferir entre oito a dezoito euros por hora de trabalho no Serviço Nacional de Saúde e “à primeira vista parece razoável para quem ganha muito menos”. Ricardo Alves alerta para que não se caia no erro de pensar que os enfermeiros estão confortáveis. Afinal, “durante um turno de trabalho, um enfermeiro presta cuidados de saúde variados, desde a colheita de sangue à higiene pessoal dos doentes”.

Entretanto, as reuniões entre o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e sindicatos sucedem-se. Da educação à saúde, passando pelos transportes públicos e restauração e hotelaria, 16,2% de trabalhadores precários esperam por outro futuro.

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“Ainda não houve um momento de paz laboral na carreira, para simplesmente lecionar.”

“O SALÁRIO MÍNIMO É POUCO PARA UM JORNALISTA QUE TRABALHA 10 A 12 HORAS POR DIA”

Sofia da Palma Rodrigues, Luciana Maruta e Diogo Cardoso são divergente(s) do jornalismo português, com um projeto fundado em 2014 como alternativa à precariedade e baixos salários pagos nas redações dos grandes grupos de comunicação, focado no objetivo de fazer jornalismo de investigação e interesse público, livre de compromissos publicitários. O trio vencedor da 24.ª edição do Prémio AMI - Jornalismo Contra a Indiferença representa a alternativa, numa das classes profissionais mais afetadas pela precariedade e baixos salários, em Portugal. As produções feitas com a chancela do projeto Divergente podem levar anos até estarem concluídas, mas mergulham "a fundo" na vivência diária com os entrevistados, pesquisa, análise de dados, fundamentação histórica. Foi o percurso que fizeram ao longo de cinco anos com a reportagem “Por ti, Portugal, eu juro!”, vencedora do Prémio AMI - Jornalismo Contra a Indiferença, para retratar a vida dos guineenses que combateram nas Forças Armadas Portuguesas durante a guerra colonial e, no fim do conflito, foram abandonados à própria sorte.

Quando decidiram explorar as histórias dos comandos recrutados na Guiné-Bissau pelo exército português?

A ideia surgiu em 2015 quando a Sofia estava a fazer a tese de doutoramento. Foi necessário recorrer a centenas de horas de investigação, escrita, vídeos e fotografia, viagens e estruturar a informação recolhida entre 2016 e 2021 para fazer quatro capítulos de reportagem e um site.

A investigação foi intensa para perceber o que aconteceu com a vida dos homens recrutados pelas Forças Armadas Portuguesas em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, para combater por Portugal na guerra do Ultramar. No fim a recompensa tem sido enorme. “Por ti, Portugal, eu juro!” foi premiada sete vezes, entre concursos nacionais e estrangeiros. E a diversidade de conteúdos recolhidos em diferentes suportes, desde as anotações ao vídeo e fotografia, permite recontar a história de diferentes formas, para diferentes órgãos de comunicação. O Expresso adquiriu uma versão, a RTP comprou quatro episódios para uma série documental, o que vai obrigar a voltar aos arquivos de vídeo e montar novas peças com diferentes ângulos da história.

Algo impensável no ritmo diário de uma redação de um grande grupo de comunicação.

A reportagem “Por ti, Portugal, eu juro!” não seria recusada numa redação, mas o tempo seria um grande problema para um editor. O editor também diria para ser-

mos nós a encontrar ou angariar os recursos necessários, o que representaria o mesmo que recusar diretamente.

Que desafios o jornalismo enfrenta?

É fácil dizer que “o jornalismo é o pilar da democracia”. O Estado deve apoiar o jornalismo de qualidade, de factos e fontes credíveis.

Tem de haver instituições que atuem no financiamento e instituições que atuem de forma séria na defesa do que é jornalismo, na definição do que é e não é um órgão de comunicação social.

O jornalismo precisa de dinheiro que venha de investimento público e de mecenas. De pagar mais do que o salário mínimo aos jornalistas, ideias que não estão a ser aplicadas porque existe um comprometimento ideológico causado pela publicidade.

Até onde a publicidade compromete o jornalismo?

A publicidade é uma porta de entrada para a precarização dos jornalistas, por isso o Divergente não aceita publicidade paga e os prémios e bolsas representam parte do financiamento do projeto.

Não deixa de ser curioso que os trabalhos reconhecidos com prémios sejam aqueles que nunca seriam aceites numa redação, pelo tempo de investigação, tamanho e a falta de interesse empresarial, porque a prioridade de espaço é para a publicidade.

GRANDE ENTREVISTA | 13
© José Ferreira / AMI

Com esse cenário, que profissionais é possível ter no jornalismo?

A nossa contra-pergunta é: ainda há jornalistas a trabalhar apenas e só a tempo inteiro numa redação? Porque a serem pagos com o salário mínimo nacional, precisam de um part-time ou o contrário, trabalhar noutra área e fazer do jornalismo um part-time. Todos já passámos pela fase em que fomos estagiários durante anos, até sermos considerados jornalistas profissionais. Depois, passámos para o quadro de uma empresa e a diferença de salário para a época em que tínhamos uma bolsa de estágio do Instituto de Emprego e Formação Profissional era pouca. Então, começámos a questionar se o jornalismo vale a pena.

O jornalismo corre o risco de passar a ser uma profissão de elite, a que apenas se pode dedicar quem tem capacidade financeira, porque mantém outras fontes de rendimento.

A quanto é pago o jornalismo em Portugal?

Nunca fizemos contas ao "Por Ti, Portugal Eu Juro!", mas deve ter custado entre 100 mil a 120 mil euros, se con -

tabilizarmos todas as horas de trabalho desde 2015 até 2021.

O Expresso pagou-nos 1.200,00 euros pela versão do “Por ti, Portugal, eu Juro!” que incluiu fotografias, texto, vídeos. Foi o que puderam pagar e que dividir pela equipa do Divergente é pouco.

Na internet circula um ficheiro assinado por jornalistas com os respetivos salários. Nessa lista são notórios os baixos valores que se praticam no pagamento de salários e peças freelancer a jornalistas. Nas redações há muitos jornalistas pagos pouco acima do salário mínimo nacional, alguns até abaixo quando se trata de avenças.

O salário mínimo nacional, ou mesmo que sejam 800,00 a 900,00 euros limpos, é pouco para um jornalista que trabalha 10 a 12 horas por dia, não raras vezes 6 dias por semana, sob uma grande pressão devido ao ritmo das redações e a todos os temas sobre os quais tem de estar atualizado para não cometer erros.

No Divergente, apesar de todas as horas de trabalho, conseguimos pagar-nos a nós próprios acima dos 1.000,00 euros, com o que angariamos entre prémios, bolsas e financiamento comunitário.

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A reportagem de investigação “Por ti, Portugal, eu juro!” foi produzida pelo Divergente ao longo de cinco anos.
“O jornalismo corre o risco de passar a ser uma profissão de elite, a que apenas se pode dedicar quem tem capacidade financeira”

O futuro da profissão é uma questão de salário, regulamentação no acesso ou formação base?

Não considero que o problema esteja na formação de base dos jornalistas. As redações continuam a precisar de profissionais que venham de diferentes áreas de formação. Deve haver, sim, regulamentação na forma como o jornalismo é feito.

Órgãos como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social e o Sindicato dos Jornalistas devem ser mais ativos a fiscalizar o que é e não é jornalismo, as notícias mal construídas, a forma como são publicadas.

Sem limites no acesso à profissão e obrigatoriedade de tabelas salariais é possível ter qualidade?

Devíamos começar por uma revisão curricular, para que as novas gerações tenham uma formação mais rica e completa, com capacidade de abordar diferentes temas e áreas de produção das notícias. É por aí que a mudança devia começar a acontecer.

Porque os jornalistas não se mobilizam para defender os seus direitos?

O problema é a mobilização e essa acho que não aconteceria com grande impacto porque a profissão está em decadência.

Passa pela ideia que se tem do jornalismo. Se os professores não derem aulas, se os aviões não levantarem voo, toda a gente se preocupa, mas o jornalismo é visto como algo não essencial.

Historicamente, nunca fomos uma classe muito mobilizadora, mas, se acontecesse uma paragem, muita gente não gostaria de ficar sem o seu jornal. Não seria uma manifestação que afetaria só uma elite intelectual. Se uma manifestação de jornalistas acontecesse, afetaria o quotidiano do país, a história que se escreveria sobre esses dias.

No final, quem ganharia seria o “cidadão-jornalista”, com as suas publicações nas redes sociais, muito distantes do que é jornalismo.

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©
/ AMI
José Ferreira
Sofia Palma e Diogo Cardoso fundaram o projeto “Divergente” em 2014, dedicado ao jornalismo de investigação livre de compromissos publicitários.

RESTAURAÇÃO "O MAIOR PROBLEMA NÃO É FALTA DE MÃO-DE-OBRA, É A FALTA DE CONDIÇÕES"

Material escolar, apoio alimentar e ajuda financeira da AMI para despesas extraordinárias com medicamentos, água, gás ou luz, representam a rede de segurança de muitas famílias monoparentais. Um trabalho e um salário não chegam para pagar renda de casa e alimentação.

Quando Jefferson Locateli assumiu a guarda total das filhas imaginou que a sua vida mudaria, "não contava que o trabalho seria insuficiente para dar à família tudo o que precisa". Para sair da "rotina desregulada" dos restaurantes e pastelarias onde sempre trabalhou, e passar tempo de qualidade com as filhas, escolheu trabalhar na cozinha de uma cooperativa de solidariedade social. A sua carreira sempre passou pelo ritmo frenético de um balcão e casamentos e batizados nos horários livres. Nesta paixão que há quinze anos o acompanhou do Brasil até Portugal descobriu que "o maior problema da restauração não é a falta

de mão-de-obra, é a falta de condições para os seus profissionais".

Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, afirma que são necessárias “medidas que ajudem ao fortalecimento das empresas”, porque “a inflação nos produtos alimentares ascendeu a 20%”. O começo da mudança deve ser “a revisão da fiscalidade sobre o trabalho” a seguir a “facilitar a entrada de imigrantes, porque não há mão-de-obra suficiente no sector”. Por outro lado, a Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME), onde se enquadra a maior parte do sector

da restauração, afirma que o Governo “marginaliza estas empresas e empresários dos programas e apoios existentes, canalizando-os quase em exclusivo para as grandes empresas e corporações".

Em comunicado, a CPPME garante que vai "pugnar para que as micro, pequenas e médias empresas, que são 99,6% do tecido económico nacional e que empregam 77% do total de trabalhadores das empresas não financeiras, sejam consideradas e incluídas, com dotações específicas, no Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal 2030”.

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© DR
Com um salário de 880,00 euros e uma renda de 550,00 euros, Jefferson Locateli receia pelo futuro da família

Com o sector a enfrentar uma crise “e a proteger pouco os profissionais”, Jefferson não pretende voltar atrás na sua decisão. “Por nada trocaria as horas no parque ou jogos em casa, com as minhas filhas. É tempo que não se recupera”, afirma. A certeza não o livrou de “passar muitas noites em claro a pensar em como será o futuro se, por exemplo, a renda da casa aumentar ou surgir um problema de saúde”.

Encontrou apoio no Centro Porta Amiga de Cascais quando surgiram dificuldades em assegurar o material escolar das filhas, “mas a ginástica para manter as contas de água, luz e gás, sem faltar nada na alimentação, já era muito grande”. Começou a receber também apoio alimentar e quando surge dificuldade em pagar a conta de gás ou medicamentos. Entre a população beneficiária da AMI faz parte dos 16% que representam famílias monoparentais. Com um vencimento de 1.000,00 euros brutos, após descontos fica com 880,00 euros para pagar 550,00 euros de renda, que é um achado em Cascais. Se não tivesse o apoio da AMI, “tudo seria muito complicado”.

Responsável pela cozinha de uma cooperativa de solidariedade social, todos os dias usa o seu trabalho para “levar algum conforto à vida de quem mais precisa”.

Na restauração já teve “salários altos, em empresas que só declaravam metade”, trabalhou em “turnos alargados para deixar horas num banco que apenas pode usar no inverno, desencontrado do tempo da família”. Outras empresas “pagavam subsídios de Natal e férias, obrigatoriamente, em duodécimos, quando é

um direito do trabalhador receber por inteiro se assim quiser”.

Frequentemente, perguntam-lhe porque não procura um trabalho extraordinário, de fim-de-semana, se tem experiência com eventos. Jefferson não se importaria “se o dinheiro extra não fosse todo para pagar a ama ao fim-de-semana, o que em nada compensaria o tempo perdido” longe das filhas.

SOLUÇÕES?

“MAIS APOIO DO ESTADO”

Para Jefferson, está claro que “faltam apoios para os trabalhadores que representam famílias monoparentais”. Na escola, as filhas têm o Escalão C, o que o leva a ter que pagar alimentação e atividades, “porque os Serviços de Ação Social das escolas têm em conta o salário bruto”. Para este pai “o Estado deveria rever os escalões e taxas a pagar pelas famílias monoparentais”. A seguir, “colocar as vagas em creche pública como uma prioridade, para poupar os baixos orçamentos das famílias e impedir enormes deslocações dos pais, para deixarem os filhos num extremo de Lisboa e irem trabalhar para outro, sob pressão de horários alargados até depois das 19h”.

No que diz respeito à habitação considera “tudo irreal”, afinal “é quase impossível uma família monoparental arrendar casa”. O Governo aprovou novas medidas para regular o

mercado do arrendamento, “mas quando entrarão em vigor e quais serão os valores das casas devolutas ou vazias que todos cobiçam?”. O seu maior medo é o de o senhorio pedir a casa, se isso acontecer admite: “não sei para onde ir”.

Em 2022, os serviços sociais da AMI em Portugal apoiaram 9.991 pessoas, das quais 2.081 procuraram o apoio da AMI pela primeira vez devido ao aumento dos custos de vida (o equivalente a 21% do total da população beneficiária). O número de novos casos tinha, desde 2013, uma tendência de decréscimo, o que torna o cenário muito semelhante à crise de 2007.

Das pessoas apoiadas pelos equipamentos sociais da AMI 56% do total está em idade ativa, entre os 16 e 66 anos, 17% tem rendimentos provenientes de salário fixo e variável, que se revela precário e insuficiente, motivos pelos quais têm de recorrer a apoios sociais. Dados crescentes não apenas em população com escolaridade média já que o número de pessoas com habilitações ao nível do ensino superior a receber apoios da AMI aumentou 37% face a 2021. São beneficiárias da AMI 260 pessoas com licenciatura, 14 com mestrado e 3 com doutoramento.

Relativamente ao Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas e distribuição de géneros alimentares, 5.622pessoas foram apoiadas com estes serviços.

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“Como será o futuro se, por exemplo, a renda da casa aumentar ou surgir um problema de saúde?”

AMI convida...

Catarina Neves, jornalista

VIDA, LIBERDADE E SEGURANÇA PESSOAL

“The Russian invasion of Ukraine has triggered the most massive violations of human rights we are living”. A frase, de António Guterres, carrega o peso de ser dita por aquele que é o secretário-geral da ONU, mas também nos dá a dimensão da impotência geral perante a agressão. Na abertura da sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, Guterres disse que o mundo vive hoje a maior violação de direitos humanos e garantiu que a Carta das Nações Unidas está sob ataque. Mas, o que podem as organizações quando os países rasgam o artigo terceiro da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”?Onde está a “vida” nas pesadas lutas entre ucranianos e russos na região do Donbass?

O que quer dizer “segurança pessoal” quando no ano passado pelo menos 67 jornalistas foram mortos e mais de metade trabalhavam em 3 países: Ucrânia, México e Haiti?

A guerra na Ucrânia começou no dia 24 de Fevereiro. Até Março tinham morrido cinco jornalistas. Um deles foi morto nos arredores de Kiev, quando eu lá estive. Era colega do nosso tradutor, motorista e amigo.

O relatório sobre violações do direito internacional humanitário e de direitos humanos, crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos na Ucrânia, da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa inclui: testemunhos de violação do direito à liberdade de expressão e à segurança dos jornalistas na guerra na Ucrânia; alegações de que os media e as infraestruturas da Internet ucranianas foram intencionalmente visadas pelas forças russas para impedir o acesso à informação; propaganda de guerra e ódio nacional; disseminação de desinformação sobre o conflito nos media russos estatais; e uso de ferramentas de direito penal para silenciar os críticos da guerra. A propaganda está por todo o lado. Cabe ao jornalista ouvir, ler, conhecer e separar o trigo do joio. As narrativas mudam conforme o lado da barricada.

Em Setembro do ano passado, na Praça vermelha, depois de conhecido o resultado dos últimos referendos, Putin disse: “Apelamos ao regime de Kiev para um cessar-fogo e sentar-se à mesa das negociações. Estamos prontos a fazê-lo, mas a escolha dos habitantes das regiões de Donetsk, Louhansk, Zaporijia e Kherson, não está aberta a discussão. A escolha está feita. A Rússia não a irá trair. As autoridades de Kiev devem tratar este livre-arbítrio do povo com respeito. É o único caminho para a paz”. Este discurso serviu para o líder russo assegurar que Moscovo “não aspira” à restauração da antiga União Soviética.

A narrativa do Ocidente e dos Estados Unidos é contrária. Andamos nisto desde 2014, com mais consequências desde há um ano.

O jornalismo comprometido com a justa observação da realidade tenta relatar, mostrar todas as pontas, até as soltas. E o que escolhe quem ouve ou lê?

Muitos escolhem o que corrobora a crença que defendem. Rejeitam a mediação entre o acontecimento e o recetor, feita pelo jornalismo. E ao rejeitarem esvaziam o jornalismo, a melhor ferramenta conhecida até hoje para preservar a democracia, logo, os direitos humanos.

Quando o jornalista esquece o rigor, secundariza os factos, aceita ser a voz da propaganda em pele de cordeiro. Cuidado para que não acabemos julgados como lobos maus.

Para que isso não aconteça ajudaria muito que a União Europeia não tivesse censurado o canal russo RT e a agência de notícias Sputnik. Facto curioso é o de Putin ter feito o mesmo com a BBC e a DW (Deutsche Welle), que publica em 30 línguas.

Desde que o leitor saiba qual o posicionamento do órgão cabe a esse leitor decidir se quer ou não ler.

“This is a moment to stand on the right side of history. A moment to stand up for the human rights of everyone, everywhere”, sublinha António Guterres e o tanto que precisamos que o secretário-geral da ONU não seja a voz do nada.

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+ Ativ@s: Promover o Envelhecimento Ativo

Em fevereiro de 2023, arrancou um novo projeto no Espaço + Comunidade do Centro Porta Amiga das Olaias, em Lisboa, dirigido à população sénior que frequenta o espaço, com o objetivo de promover o relacionamento interpessoal, saúde de qualidade, autonomia e envelhecimento ativo, através da dinamização de 9 atividades de prevenção e proteção.

A iniciativa, que decorre até janeiro de 2024, é financiada em 75% pelo BPI Fundação “La Caixa” no âmbito do Prémio BPI Sénior 2022.

O projeto, que irá abranger 18 idosos com mais de 65 anos, conta também com várias entidades locais parceiras, como a Junta de Freguesia do Areeiro, a Gebalis, o Secretariado Diocesano de Lisboa da

Obra Nacional Pastoral dos Ciganos, a Associação de Moradores do Bairro Portugal Novo Olaias - Paz, Amizade E Cores (AMPAC) e a Associação VOX.

Vencedores da 12.ª edição do Linka-te aos Outros

A 12.ª edição do Linka-te aos Outros aprovou 5 projetos, financiando um total de 7.830 euros.

Os projetos vencedores foram apresentados pela Escola Secundária dos Casquilhos , no Barreiro, em Setúbal, pelo Agrupamento de Escolas de Vale de Milhaços , em Corroios, Setúbal, e pela Escola Básica Luís de Sttau Monteiro , em Loures, Lisboa.

Horta para todos! , Operação 400 & MAIS amigos , Juntos derrubamos Barreiras! , AmidARTE , e CultivARTE são as iniciativas premiadas pelo júri e evidenciam-se pela promoção de atividades de voluntariado nas áreas de sustentabilidade ambiental, direitos sexuais e reprodutivos e inclusão social.

Ajudar sem Custos: Consignação do IRS

A consignação do IRS permite doar a uma instituição, uma parte do imposto que iria reverter a favor do Estado, não tendo qualquer custo para o contribuinte. Através da consignação do IRS, todos podem atribuir 0,5% do IRS liquidado (imposto que cabe ao Estado, depois de descontadas as deduções) a uma entidade à sua escolha. Até 31 de março, já é possível escolher a organização à qual consignar 0,5% do IRS. Para apoiar a AMI, basta selecionar no Portal das Finanças, a Fundação de Assistência Médica Internacional ou o NIPC 502 744 910 Ajudar sem custos também é possível!

BREVES | 19 Nacional_

O mais recente PIPOL (Projetos Internacionais em parceria com Organizações Locais) da AMI, “Bolama Ka Pudi Pirdi Tina”, é desenvolvido em parceria com a Associação ProBolama para defender a música e tradições de 68 grupos de Tina, em Bolama, na Guiné-Bissau.

A Tina representa um estilo de música, um instrumento e uma dança. Mas, é, acima de tudo, um elemento de cerimónias familiares e comunitárias e um meio de partilha de histórias do quotidiano.

Em Bolama, assiste-se a uma extinção dos grupos de Tina. Através do “Bolama Ka Pudi Pirdi Tina” (na tradução do crioulo guineense “Bolama não pode perder a Tina”) a AMI planeia recolher memórias orais e registos audiovisuais; produzir um manual com a história e descrição

desta prática e gravar faixas musicais; constituir uma associação de artistas de Tina de Bolama; realizar programas de rádio, espetáculos e workshops.

“Bolama Ka Pudi Pirdi Tina” iniciou em dezembro de 2022 com a duração de 12 meses e um orçamento de 10.000,00 euros, 100% financiado pelo DIVERSIDADE, um instrumento do projeto PROCULTURA PALOP-TL (ação financiada pela União Europeia, co-financiada e gerida pelo Camões, I.P. em parceria com a EUNIC).

Bangladesh_

Chattogram: Novos futuros

A AMI iniciou o projeto “Providenciar acesso inclusivo e fortalecimento económico aos refugiados e deslocados dos bairros de lata de Chattogram, no Bangladesh”. Tem duração prevista até fevereiro de 2025 e é desenvolvido em estreita parceria com a organização Bangladesh Integrated Social Advancement Programme (BISAP).

Através deste projeto, a AMI e a BISAP pretendem promover o acesso ao emprego, com orientação e formação. Chattogram tem uma população de mais de 3.9 milhões de habitantes só no centro. E mais de 5 milhões de pessoas nas zonas costeiras e bairros de lata, parte deles são refugiados Bihari.

Na década de 1960, os Bihari (muçulmanos indianos) emigraram para a área oriental do Paquistão, integrada no Bangladesh em 1971, após o fim da guerra indo-paquistanesa. Hoje, os Bihari são vítimas de violência política. Vivem em campos de refugiados, perderam os seus bens, o seu trabalho e tornaram-se apátridas.

Até novembro, a AMI aposta na capacitação e empoderamento económico de raparigas em risco e em casamentos precoces nos Camarões, através de atividades económicas próprias geradoras de rendimento.

Este projeto representa uma continuação do projeto anteriormente financiado pela AMI, “Capacitação de 50 crianças noivas”, e tem como beneficiárias diretas 716 raparigas e indiretas, 20.000.

Em parceria com a SUSTAIN Cameroon e com um orçamento de 25.060,00 euros, dos quais 19.525,00 euros são financiados pela AMI, pretende-se apoiar o acesso a cursos vocacionais das jovens raparigas e fomentar o estabelecimento de pequenos negócios.

20 | Internacional_
Guiné-Bissau_
“Bolama não pode perder a Tina”
© DR
© DR © DR
Camarões_ Empoderar meninas vítimas de casamento precoce

Missão Natal ajudou

5.433 beneficiários AMI

Através de doações de empresas parceiras da AMI e particulares, um total de 5.433 pessoas foram apoiadas pela 12.ª Missão Natal AMI. Além de alimentos, os donativos incluíram brinquedos, livros e peças de vestuário para cerca de 470 crianças e jovens, dos 0 aos 16 anos, assim como bens de higiene e saúde para 450 adultos beneficiários da AMI.

Agora, parte destes donativos permitem a sustentabilidade do apoio alimentar e social em 2023, nos Centros Porta Amiga e Espaços de Prevenção à Exclusão Social. Ana Nascimento e Ana Ramalho, diretoras do Departamento de Ação Social da AMI afirmam que “toda a ajuda é essencial para que ninguém fique em lista de espera”.

Metas apenas alcançadas com a ajuda dos parceiros Allianz, Altri, Artsana, Auchan Retail, Biogen, Brandcare, Brodheim, Casais, Creative Minds, CCVO Beyond Optical Care, Concentra, Condi, Delta Cafés, DNC Técnica,

Pinhal de Leiria revive com Ecoética AMI

Todos os anos novas árvores chegam ao Pinhal de Leiria com o apoio da AMI, para combater a devastação causada pelos incêndios e contribuir para o reordenamento florestal. Março é tempo de voltar a colocar as mãos na terra e reflorestar. Com a contribuição do Novo Banco, ALDI, Fundação Escola Americana de Lisboa e Secretaria-Geral da Presidência de Conselho de Ministros é possível limpar terreno para plantar cerca de 7.000 novas árvores, cujo desenvolvimento a AMI vai acompanhar ao longo de cinco anos, garantindo a sobrevivência da nova floresta.

A caminhada da AMI rumo à proteção e conservação da floresta portuguesa começou em 2011 com o projeto Ecoética e desde então foram plantadas mais de 25 mil árvores de espécies autóctones.

Esporão, Finerge, Fundação Ageas Agir Com Coração, Gavex, Hipoges, Imperial, Indasa, InnoWave Technologies, IPST - Instituto Português do Sangue e da Transplantação, Maxdata, Mundiarroz, Nobre, Grupo Nors, Novo Banco, Ópticas Portugal, Parras Wine, Programa MEOS, Petrotec, Pierre-Fabre, Plural, ProCME, Rar Refinarias Açúcar Reunidas S.A., Rui Almeida e Arlindo Almeida Despachantes, S4L, Sage, Serviroad, Sovena Portugal, TAP, Teifil, Turbomar, Unicre, Wurth.

Solidário” com o MB WAY

Contribuir para a ajuda humanitária da AMI no Bangladesh, Síria, passando pela Ucrânia até Portugal, pode ser tão fácil como aceder ao “Ser Solidário” da SIBS, disponível em toda a rede multibanco ou na aplicação MB WAY, à distância de um gesto. No Multibanco basta selecionar Transferências e Débitos Diretos, a seguir Ser Solidário e AMI, indicando o valor do donativo. Através da aplicação MB WAY basta aceder a Ser Solidário e selecionar a AMI ou enviar diretamente para o número 962 777 431.

Sendo a AMI uma Instituição de Utilidade Pública e exercendo Atividades de Superior interesse Social, os donativos são dedutíveis nos impostos nos termos dos artigos n.º 61, 62 e 63 do Decreto-Lei nº215/89, de 21 de junho, alterado e republicado pelo Decretolei nº108/2008, de 26 de junho, sendo majorado em 40% e servindo o recibo para efeitos fiscais.

BREVES | 21 Mecenato_
“Ser

AGENDA AMI

15 E 16 DE ABR

Recolha alimentar nas lojas Auchan de Almada, Amoreiras, Cascais, Coimbra, Porto e Vila Nova de Gaia

5 A 25 DE JUN

27.ª Campanha de Reciclagem de Radiografias

Estas foram algumas das missões que os Amigos da AMI ajudaram a financiar em 2022:

▪ Apoio a 8000 beneficiários de três campos de refugiados e bairros de lata no Bangladesh.

▪ Atribuição de 41 bolsas de estudo a jovens entre os 18 e os 35 anos em Portugal.

▪ Empoderamento de 1600 mulheres no Brasil.

Saiba como pode ser Amigo da AMI em: ami.org.pt/como-ajudar/amigos-da-ami

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NECESSIDADES ATUAIS DE VOLUNTARIADO

Voluntariado Nacional

CPA Porto

Distribuição de cabazes alimentares

20 a 24 de março / 17 a 21 de abril

Abrigo do Porto Psiquiatra

CPA Vila Nova de Gaia Enfermeiro

Apoio Domiciliário Lisboa Psicólogo e enfermeiro

CPA Cascais Voluntários para ações de formação Voluntários para distribuição de alimentos

CPA Olaias Enfermeiro e advogado

Abrigo da Graça Vigilantes, Psicólogo, Médico e Psiquiatra

Voluntariado Internacional

Madagáscar Médico(a) especialista em Ginecologia e Obstetrícia

Para apresentação de propostas, por favor, contacte-nos através do e-mail voluntariado@ami.org.pt

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11 5 0 2 7 4 4 9 1 0

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