Revista Xonguila Nº59

Page 1

BAÍA MALL

Do lançamento aos planos de expansão

From launch to expansion plans

10 ANOS DO FESTIVAL AZGO

A arte de celebrar a diversidade

The art of celebrating diversity

CARLOS SERRA

Pneus usados para proteger o ambiente Reusing tyres to protect the environment

MELISSA DINDA

A força criativa de uma escritora inovadora

The creative force of an innovative writer

Publicação mensal • Junho - June 2023 • Ed. 59 • Ano 06 • 300 MZN • xonguila.co.mz

Localizado a 30 minutos do aeroporto de Nacala, o Ossimba Beach Lodge garante um ambiente de tranquilidade e harmonia com a natureza, que é preservada com afinco.

Fotografia: Cortesia de Ossimba Beach Lodge

OSSIMBA BEACH LODGE

Localizado no norte de Moçambique, precisamente em Nacala Porto, encontra-se o Ossimba Beach Lodge, um sonho tornado realidade de um sul-africano, cuja construção data de 2008. Este retiro, localizado a apenas 30 minutos do aeroporto, garante um ambiente de tranquilidade e harmonia com a natureza, a qual é preservada com afinco.

Este eco-lodge opera inteiramente através de energia solar, destacando-se pelo seu forte compromisso com a conservação marinha e a educação e sensibilização da comunidade local. Com uma deslumbrante praia de águas cristalinas e areia fina, tornou-se um ponto de referência turístico, proporcionando um espaço de conservação e apreciação da natureza. O lodge, inserido em 50 hectares de floresta colorida e uma reserva marinha rica

em recifes e corais, foi concebido para oferecer descontracção, relaxamento e muita aventura.

A floresta adjacente, caracterizada por uma vasta diversidade de árvores, incluindo o magnífico embondeiro, serve de habitat para várias espécies de aves locais e migratórias, esquilos, mangustos, gálagos e macacos. Estas espécies podem ser observadas durante caminhadas pela floresta, uma experiência perfeita para os mais aventureiros e amantes da natureza.

Fotografia: Cortesia de Ossimba Beach Lodge Escrito por: Emília Gimo

As sete Ocean Villas são arejadas, cheias de luz, e oferecem uma vista privilegiada do mar, transmitindo uma sensação de calma e tranquilidade.

No lodge, a lista de actividades disponíveis é extensa. O Ossimba é um PADI Dive Resort de cinco estrelas, o que garante a presença de um instrutor qualificado para mergulhos de snorkel e cilindro. Esta é a oportunidade perfeita para explorar o oceano e vivenciar os recifes e corais em toda a sua singularidade e beleza. Talvez seja surpreendido por golfinhos amistosos e uma grande variedade de espécies que

habitam a reserva marinha.

Ossimba oferece ainda um deck de observação estrategicamente posicionado que proporciona aos hóspedes uma visão privilegiada do pôr-do-sol. Durante a temporada de baleias, de Julho a Setembro, é comum avistar o tubarão-baleia e a baleia-jubarte, esta última conhecida pelos seus saltos acrobáticos que criam um verdadeiro

espectáculo para os visitantes. Além disso, no lodge é possível fazer uso de caiaques para explorar os manguezais próximos, experimentar a velocidade das motos aquáticas ou praticar stand up paddle. As condições calmas das águas de Nacala proporcionam um dia memorável no oceano.

Em Ossimba, há também espaço para o romantismo. Organizam-se jantares na

praia sob um denso manto de estrelas. As sete Ocean Villas, extremamente populares entre os visitantes, são arejadas, cheias de luz e oferecem uma vista privilegiada do mar, transmitindo uma sensação de calma e tranquilidade. Os quartos, decorados com simplicidade e um toque rústico, contribuem para este cenário paradisíaco. Venha experimentar Moçambique na sua forma mais pura no Ossimba Beach Lodge.

Fotografia: Cortesia de Ossimba Beach Lodge
A floresta adjacente, com uma vasta diversidade de árvores, incluindo o magnífico embondeiro, serve de habitat a várias espécies de aves locais e migratórias, esquilos, mangustos, gálagos e macacos.
Fotografia: Cortesia de Ossimba Beach Lodge

OSSIMBA BEACH LODGE

Located in northern Mozambique in Nacala Porto, the Ossimba Beach Lodge is a dream come true to its South African owner, with construction dating back to 2008. This retreat, located just 30 minutes away from the airport, is guaranteed to provide a tranquil environment in harmony with nature, which is diligently preserved.

This eco-lodge operates entirely on solar power and stands out for its strong commitment to marine conservation and local community education and awareness. With a stunning beach of crystal-clear waters and fine sand, it has become a tourist hotspot, providing a space for nature conservation and appreciation. The lodge, set in 50 hectares of colourful forest and a marine reserve rich in reefs and coral, is designed to promote slowing down, relaxation and plenty of adventure.

The adjacent forest is characterised by a wide variety of trees, including the magnificent baobab, and serves as habitat for several species of local and migratory birds, squirrels, mongooses, galagoes and monkeys. These species can be observed during walks through the forest, a perfect experience for the more adventurous and nature loving guests.

At the lodge, the list of activities available is extensive. Ossimba is a five-star PADI Dive Resort, which guarantees the presence of a qualified instructor for snorkelling and scuba diving. This is the perfect opportunity to explore the ocean and experience the reefs and corals in

all their uniqueness and beauty. You may be surprised by friendly dolphins and a wide variety of species that inhabit the marine reserve.

Ossimba also offers a strategically positioned viewing deck that gives guests a privileged view of the sunset. During whale season, from July to September, it is common to spot the whale shark and the humpback whale, the latter being known for its acrobatic leaps that create a real show for visitors. In addition, at the lodge it is possible to make use of kayaks to explore the nearby mangroves, experience speeding on water bikes or practice stand up paddle. The calm conditions of the Nacala waters make for a memorable day out on the ocean.

In Ossimba, there is also room for romance. Dinners are held on the beach under a thick blanket of stars. The seven Ocean Villas, extremely popular with visitors, are airy and light and offer a privileged view of the sea, giving a sense of calm and tranquillity. The rooms, decorated with simplicity and a rustic touch, contribute to this heavenly setting. Come and experience Mozambique in its purest form at Ossimba Beach Lodge.

This is the perfect opportunity to explore the ocean and experience the reefs and corals in all their uniqueness and beauty. You may be surprised by friendly dolphins and a wide variety of species that inhabit the marine reserve.
Fotografia: Cortesia de Ossimba Beach Lodge

28 CARLOS SERRA

Reutilização de pneus faz milagres

Reusing tyres is working wonders

40 BAÍA MALL

Do lançamento aos planos de expansão

From launch to expansion plans

60 10 ANOS DO FESTIVAL AZGO

A arte de celebrar a diversidade

The art of celebrating diversity

70 MELISSA DINDA

A força criativa de uma escritora inovadora

The creative force of an innovative writer

108 CINEMA 35MM

Keteke, um absorvente filme ganês

Keteke, an absorbing Ghanaian film

112 ALCANCE

As sugestões da Alcance para este mês

This month’s reading suggestions by Alcance

Editores

114 KARINGANA

Textos livres com assinatura

Signature freewriting

4 OSSIMBA

LODGE

BEACH

Uma experiência de luxo à beira-mar

A luxurious experience by the sea

18

MILLENNIUM BIM

Na consciencialização sobre o albinismo Is raising awareness about albinism

70 MELISSA DINDA

A força criativa de uma escritora inovadora

The creative force of an innovative writer

78

JAY MENA

Capturando a essência da vida através da fotografia

Using photography to capture life’s essence

98

DRINKS AND SHOTS

by Pernod Ricard – Blue on Blue by Pernod Ricard – Blue on Blue

FICHA TÉCNICA/BIOS

90

FADO

Festival do Fado conquista Maputo Fado Festival dazzles Maputo

Propriedade/Property: Veludo & Mentol, Sociedade Unipessoal Lda • Conselho de Administração/Administrative Council: Omar Diogo, Nuno Soares, Mariano Silva • Director: Nuno Soares • Gestão de Conteúdos Editoriais/Editorial Content Management: Nuno Soares, Mariano Silva • Copy-desk (português): Fátima Ribeiro • Colunistas/Writers: Eliana Silva, Mariano Silva, Nuno Soares, Jaime Álvaro, Precidónio Silvério, Aayat Irfan • Tradução (Português-Inglês)/Translation (Portuguese-English): M. Gabriela Carrilho Aragão • Fotografia/

Photography: Mariano Silva • Design de Capa/Cover Design: Nuno Azevedo • Grafismo/Visuals: Omar Diogo • Infografia e Paginação/ Infographics and Pagination: Omar Diogo • Produtores Audiovisuais/Audiovisual Producers: Nuno Lopes, Ana Piedade, Mariano

Silva • Gestão de Redes Sociais/ Social Media Management: Nuno Soares • Conteúdos de Marketing e Comunicação/ Marketing and

Communication Contents: Omar Diogo, Nuno Azevedo • Gestão de Homepage e Edição Online/Homepage Management and Online

Editing: Omar Diogo, Jorge Oliveira

• Departamento Comercial/Commercial Department: Nuno Soares - comercial@xonguila.co.mz

• Impressão/Printing: Minerva Print

• Distribuição/ Distribution: Flotsam Moçambique, Lda

• ISSN: ISSN-0261-661

• Registo/Register: 02/Gabinfo-dec/2018

• Registo de Propriedade Industrial/Industrial Property Registration: 35065/2017 - 35066/2017 (15/01/2018)

Os artigos com assinatura reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, requer a autorização expressa da empresa titular da revista.

The articles reflect the authors opinion, and not necessarily the magazine opinion. All transcript or reproduction, partial or total, requires the authorization of the company that owns the magazine

Sumário Junho - June 2023 • Ed. 59 © Revista Xonguila | 15

Do Director / From the Director

Caros leitores,

Neste mês em que se celebra a criança e a independência de Moçambique, gostaríamos de saudar todos os cidadãos nossos leitores, reforçando o compromisso de, através das páginas da nossa revista, continuarmos a fazer e a promover todos os esforços, nas áreas que cobrimos, para que o nosso país tenha um futuro melhor, mais risonho e feliz.

É com grande prazer que dou as boas-vindas à 59ª edição da Xonguila, mais um número que traz até vós conteúdos únicos e convidativos, uma variedade de artigos que mostram a riqueza e diversidade que nos caracteriza.

Na primeira pessoa, Jay Mena partilha connosco o seu talento e paixão por, através da fotografia, capturar a beleza do mundo ao seu redor e, particularmente inspirada por questões sociais e humanitárias que afectam mulheres e crianças, documentar histórias que permitem uma viagem pelos desafios da vida. Viagem por uma história, a do Baía Mall, o maior shopping center de Moçambique, é também o que lhe propomos num artigo comemorativo do 5º aniversário deste empreendimento que é uma marca da nossa capital: uma retrospectiva do seu crescimento, seu impacto na comunidade local e planos futuros. Muito mais lhe reservamos, como a cobertura da 10ª edição do Festival Azgo, um dos maiores festivais de música de Moçambique, que regressou após três anos de interrupção devido à pandemia; a inovadora reutilização de pneus na protecção fluvial e costeira e outras acções desenvolvidas pelo ambientalista Carlos Serra e sua organização; um convite à descoberta da beleza e conforto do Ossimba Lodge, estância hoteleira que o poderá encantar, e Melissa Dinda falando do seu mais recente livro, Elementos. Aventure-se, pois, nas páginas da nossa revista, descobrindo estas e outras histórias e perspectivas interessantes.

Desejo a todos uma excelente leitura. Até à próxima edição.

Dear readers,

On the month when we celebrate Mozambican children and the country’s independence, we would like to salute all our citizen readers and reinforce our commitment to continue to endeavour all efforts — through the pages of our magazine, concerning the sectors we cover — so that our country may have a better, brighter and happier future.

It is with great pleasure that I welcome you to the 59th edition of Xonguila, yet another issue that brings you unique and enticing content through a variety of articles that display the richness and diversity that is so characteristic of us, of Mozambique.

Jay Mena shares with us, in her own words, her talent and passion for using photography to capture the beauty of the world around her, and to document stories that capture life’s challenges, especially those that speak to social and humanitarian issues affecting women and children. A journey through the story of Baía Mall, the largest shopping centre in Mozambique, is another offering. The article celebrates the 5th anniversary of this commercial enterprise, now also a landmark in our capital city: a retrospective of its growth, its impact on the local community and future plans. We have a lot more in store for you, such as coverage of the 10th edition of the Azgo Festival, one of the biggest music festivals in Mozambique, back after a three-year hiatus due to the pandemic; the innovative reuse of tyres in riverine and coastal protection projects, and other actions developed by environmentalist Carlos Serra and his organisation; an invitation to discover the beauty and comfort of Ossimba Lodge, a beach resort that is likely to charm you, and Melissa Dinda talking about her latest book, Elementos. Dare to venture into the pages of our magazine to discover these and other interesting stories and perspectives.

I wish you all an excellent reading. Until the next edition.

Com o apoio de:

Editorial 16 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023

Vê mais do que uma chávena de café?

Nós vemos cada passo da jornada do grão à chávena. Agricultores, transportadores, armazenistas, distribuidores e retalhistas, trabalhando juntos para garantir que o seu dia comece da melhor forma.

Se vê o que nós vemos, juntos, podemos ter um impacto positivo nas comunidades nas quais opera.

Fale com o Banco que tem a coragem para imaginar e a vontade para fazer as coisas acontecerem.

Isso é Africanicidade. Isso é Absa.

absa.co.mz/pt/corporativa-e-de-investimento/

Termos e Condições aplicáveis. Campanha válida até 31 de Dezembro de 2023. Para mais informações ligue para 1223/21344400, ou visite absa.co.mz

Absa Bank Moçambique , SA (registado sob o número 101220982)

é regulado pelo Banco de Moçambique.

Banca Corporativa e de Investimentos
Fotografia: Cortesia de Millennium bim

Mural pintado por crianças e o artista plástico Sebastião Coana, com o apoio do Millennium bim em parceria com a Associação khanimambo.

na consciencialização sobre o albinismo

O Millennium bim, em parceria com a Associação Khanimambo, apoiou a pintura de um mural criado no âmbito do Dia Mundial de Consciencialização sobre o Albinismo. A iniciativa faz parte dos esforços contínuos do Banco na promoção da inclusão e na mentalização sobre os desafios enfrentados pelas pessoas com albinismo em Moçambique.

Omural, que se localiza na baixa da cidade, é uma criação do renomado artista plástico Sebastião Coana, com o objectivo de sensibilizar a comunidade em geral para a importância de proteger e valorizar as pessoas com albinismo. Com cores vibrantes e elementos simbólicos, a obra de arte pretende transmitir uma mensagem de respeito, igualdade e aceitação da diferença.

O PCE do Millennium bim, João Martins, afirmou: “Através da arte, pinta -

mos um novo quadro de inclusão e consciencialização, rompendo barreiras de preconceito e celebrando a diversidade. O mural é um grito de igualdade, um convite para que todos olhem para além das diferenças.”

O apoio à pintura do mural é um dos pilares de acção do Programa de Responsabilidade Social do Banco “Mais Moçambique pra Mim”, que tem vindo a ser implementado ao longo dos anos com significativo impacto na vida dos moçambicanos.

Fotografia: Cortesia de Millennium bim
“O mural é um grito de igualdade, um convite para que todos olhem para além das diferenças.”
Fotografia: Cortesia de Millennium bim
–João Martins, PCE do Millennium bim.
Fotografia: Cortesia de Millennium bim

is raising awareness on albinism

Millennium bim, in partnership with Associação Khanimambo, supported the painting of a mural marking the International Albinism Awareness Day. The initiative is part of the Bank’s ongoing efforts to promote inclusion and raise awareness to the challenges faced by people with albinism in Mozambique.

The mural is located in downtown Maputo and was created by Sebastião Coana, a renowned local artist, with the aim of raising awareness in the general public about the importance of protecting and valuing people with albinism. Incorporating vibrant colours and symbolic elements, the artwork seeks to convey a message of respect, equality and acceptance of difference.

new picture of inclusion and conscientiousness, breaking down barriers of prejudice and celebrating diversity. The mural is a cry for equality, an invitation for all of us to look beyond our differences.”

Support for the painting of the mural is one of the action pillars of ‘Mais Moçambique pra Mim’ (More Mozambique for Me), the Bank’s Social Responsibility Programme, which has been consistently implemented over the

Junho - June 2023 • Ed. 59 © Revista Xonguila | 25 Millennium bim
Fotografia: Cortesia de Millennium bim

Support for the painting of the mural is one of the action pillars of ‘Mais Moçambique pra Mim’ (More Mozambique for Me), the Bank’s Social Responsibility Programme

Reutilização de pneus faz milagres na protecção fluvial e na Macaneta

Fotografia: Mariano Silva

“O rio Incomáti está profundamente alterado. Há várias actividades que mexeram com o fluxo normal das águas e a sua dinâmica, e isso começou a constituir uma série de ameaças.”

– Carlos Serra, ambientalista

Reutilização de pneus faz milagres na protecção fluvial e na Macaneta

Tem vindo a ser desenvolvido pelo ambientalista Carlos Serra um projecto de protecção fluvial e costeira que faz aproveitamento de pneus usados aplicando-os ao longo das margens do rio Incomáti e da praia de Macaneta, situada no distrito de Marracuene, na província de Maputo. Há várias décadas que o fenómeno da erosão costeira se tem acentuado, calculando-se que, nos últimos 30 anos, cerca de 50 metros de margem tenham sido perdidos.

Carlos Serra nasceu dois anos antes da independência na quarta maior cidade do país, a Beira, na província de Sofala, zona central de Moçambique. Cresceu na cidade das acácias, Maputo, onde se formou em Direito. Trabalha na área do ambiente desde o início dos anos 2000, e em 2004 tornou-se activista ambiental. Fundou a Cooperativa de Educação Ambiental “Repensar” em finais de 2018, a partir da então Cooperativa de Educação Ambiental “Ntumbuluku”, uma experiência inicial.

Serra não gosta de falar da sua vida privada porque, segundo ele, isso não releva. Entretanto, confidenciou-nos que é divorciado e é pai de uma menina, que é a sua alegria.

Construir uma barreira reutilizando pneus nas margens do rio Incomáti é uma ideia que surgiu a partir de um grito de socorro que o Macaneta Beach Resort emitiu. “Desesperados, já tinham tentado quase tudo para travar a fúria das águas e evitar que o rio galgasse o seu espaço e destruísse tudo o que eles tinham”, avançou o ambientalista. “Na realidade, o rio Incomáti está profundamente alterado. Há várias actividades que mexeram com o fluxo normal das águas e a sua dinâmica, e isso começou a constituir uma série de ameaças ao rio durante a sua trajectória”, explicou, sintetizando assim o projecto: “Nós

pensámos numa solução que fosse de relativo baixo custo, que reutilizasse materiais, resíduos que pudessem ser combinados com soluções de restauro natural ou ecológico. Desenvolvemos uma forma, e aprimorámos”.

Carlos Serra fez saber ainda que a experiência foi lançada em Fevereiro de 2021, com sucesso, mas, aprenderam com erros que também cometeram: “Houve momentos de fenómenos climáticos extremos que produziram alguns estragos no início da construção da barreira e fizeram com que reformulássemos todo o conceito e corrigíssemos com sucessos”.

Com ar sério e sereno, o ambientalista destacou: “O Resort estava bastante ameaçado. Tivemos chuvas, passámos por um momento crítico e dramático, corríamos o risco de perder a infra-estrutura principal, composta por restaurante, esplanada e instalações de apoio, incluindo uma sala de conferências. É uma zona de muito risco. Mais a sul a erosão é uma realidade muito grave”, desabafou.

Segundo Serra, a primeira intervenção de emergência foi feita junto das instalações. Mais tarde, alargou-se a frente de protecção costeira: “Alargámos não só para Sul mas também para Norte, em relação ao rio. Criámos um nível de defesa de pneus e areia, muito solo foi recuperado. É espectacular o que está a acontecer. Estamos a falar de

uma barreira com quase 300 metros. Não está finalizada, há ainda dois pontos por fechar. No final do processo, lançamos sempre a vegetação e criamos condições, através da colocação de solo de matope, para que a vegetação brote naturalmente, por si só, então temos alguns componentes da barreira tão verdes que nem dá para acreditar que ali na barreira há pneus”.

Os pneus usados pelo projecto Repensar são, na sua maioria, doados por instituições, bem como por amigos particulares. “Para além de usarmos pneus, contamos com muito entulho e alguma pedra proveniente de construções que estão a ser demolidas na Macaneta para dar lugar a outras. Também recorremos à vila de Marracuene para procuramos entulho –por vezes somos obrigados a comprar –portanto, é uma reutilização de resíduos de construção. Utilizamos areia do rio e matope, para nós matope é uma espécie de cimento, ele é fundamental para evitar a fuga da areia com as dinâmicas das marés”, explicou Serra.

De acordo com a nossa fonte, o projecto de protecção fluvial não tem orçamento, pois ele é feito com trabalho voluntário. “Pontualmente, pagamos mão-de-obra cirúrgica que é usada para reforçar os fins-de-semana. Depois da semana laboral, dedicamo-nos a este exercício, e tem sido assim há dois anos e dois meses”.

30 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023
Escrito por: Hélder Massinga Fotografia: Mariano Silva

“Nós pensámos numa solução que fosse de relativo baixo custo, que reutilizasse materiais, resíduos que pudessem ser combinados com soluções de restauro natural ou ecológico. Desenvolvemos uma forma, e aprimorámos”.

“Criámos um nível de defesa de pneus e areia, muito solo foi recuperado. É espectacular o que está a acontecer. Estamos a falar de uma barreira com quase 300 metros.”

Fotografia: Mariano Silva

No que tange ao número de pneus usados na construção da barreira, Serra avançou que não existe nenhuma estimativa, embora reconheça que foram usados milhares. “Os pneus visíveis são apenas um lado da moeda, aprendemos a usar pneus no interior da barreira para melhor estruturação. Para os pneus das aeronaves, como são mais pequenos, encontrámos uma aplicação fenomenal na construção do esqueleto, que é crucial para tornar a barreira mais consolidada e sólida. Optamos sempre por procurar pneus extremamente pesados provenientes das máquinas grandes e de tractores”, contou.

Para o ambientalista, o ideal seria terem sempre pneus pesados em quantidade, porque vão para a base da barreira. Infelizmente não chegam para toda a extensão, mas onde foram aplicados a fórmula é realmente perfeita. Na falta dos pneus pesados ou das máquinas, usam pneus de camiões; os pneus mais leves, como os dos automóveis ligeiros, vão para o topo ou para a estrutura interna.

Na mesma ocasião em que o entrevistámos, Carlos Serra falou de mais trabalho que tem vindo a desenvolver ao nível da Macaneta: “Temos um programa ambiental integrado que junta a educação ambiental formal, através do apoio entre escolas, e a informal, junto das comunidades, pescadores, comerciantes e uten-

tes da praia, turistas nacionais e estrangeiros, que são um elo chave, porque realmente, agora, com a abertura da nova estrada, a praia passou a ser mais procurada do que anteriormente, e nós exercemos essas actividades de educação. Apoiamos na gestão de resíduos. Não o fazemos em toda a localidade, mas numa parte dela, mantemos a estrada da Macaneta limpa, assim como uma parte da frente costeira. Fazemos igualmente monitoria, ou melhor, estudo, em relação aos tipos de resíduos encontrados, quantidades, marcas e embalagens. Construímos um eco-centro onde desenvolvemos uma série de actividades, juntamos um pouco de cultura e educação, para além do ambiente. Temos procurado, através desta construção, mostrar que é possível encontrar soluções alternativas de implantação de infra-estruturas no espaço principalmente em harmonia com a natureza. A nossa principal mensagem é: Não destrua a floresta costeira!”, enfatizou Serra.

Em paralelo, ocorrem algumas actividades ligadas a protecção terrestre. O nosso entrevistado também actua nesta componente: “Fizemos o restauro do mangal, lançámos cerca de 4.000 mudas de mangal no ano passado, numa extensão considerável. Fizemos o Dia Mundial da Limpeza, com sucesso, a nível nacional, claro com foco muito grande na Macaneta”, concluiu.

Reusing tyres is working wonders in river protection and in Macaneta

The environmentalist Carlos Serra has been developing a river and coastal protection project that reutilises used tyres by placing them along the banks of the Incomati river and Macaneta beach, situated in the Marracuene district of Maputo province. The phenomenon of coastal erosion has been increasing for several decades now, and it is estimated that in the last 30 years some 50 metres of shore have been lost.

Carlos Serra was born two years before Mozambique’s independence in the country’s fourth largest city of Beira, in the central province of Sofala. He grew up in the city of acacia trees, Maputo, where he completed a degree in Law. He has worked in the environmental sector since the early 2000s, and in 2004

he became an environmental activist. He founded the Cooperativa de Educação Ambiental Repensar (‘Environmental Education Cooperative “Repensar”’) in late 2018, from the then Cooperativa de Educação Ambiental Ntumbuluku, an earlier experiment.

Serra doesn’t like to talk about his private life because, ac-

cording to him, it isn’t relevant. However, he confided in us that he is the divorced father of a little girl, who is his joy.

The idea to build a barrier by reusing tyres on the banks of the Incomati River came from a cry for help issued by the Macaneta Beach Resort. “They were desperate; they had already tried almost everything

Fotografia: Mariano Silva

to stop the fury of the waters and prevent the river from invading their space and destroying everything they had”, explained the environmentalist. “In truth, the Incomati River is now deeply altered. There are several activities that have messed with the natural course of the waters and their dynamics, and this has begun to pose a series of threats to the river itself along its trajectory”, he explained, thus summarising the project: “We thought of a solution that was relatively low cost, that reused

materials and waste, and that could be combined with natural or ecological restoration solutions. We developed a method, and we improved it”.

Carlos Serra also noted that the project was successfully launched in February 2021, but that they have since learnt from mistakes made: “There were moments of extreme weather phenomena that produced some damage at the beginning of the construction of the barrier and made us reformulate

the whole concept, and then successfully correct it”.

With a serious and serene air, the environmentalist emphasized: “The Resort was quite threatened. We had rains, we went through a critical and dramatic moment, we ran the risk of losing the main infrastructure, comprising a restaurant, esplanade and support facilities, including a conference room. It’s a high-risk area. Further south, erosion is a very serious reality”, he said.

“After the working week, we dedicate ourselves to this exercise, and it has been like this for two years and two months”.

According to Serra, the first emergency intervention was carried out near the Resort’s premises. Later, the coastal protection front was broadened: “We extended it not only southwards, but also northwards, relative to the river. We created a level of defence made of tyres and sand, and a lot of soil was recovered. What’s happening now is spectacular. We are talking about a barrier that is almost 300 metres long. It’s not finished, there are still two points to be closed. At the end of the process, we always want to restore the vegetation and, by placing matope soil (a type of mud), we create conditions for the vegetation to sprout naturally, on its own. Some sections of the barrier are now so green that you can’t believe there are tyres [underneath] there, on the barrier”.

The tyres used by the Repensar project are mostly donated by institutions, as well as friends and other individuals. “As well as using tyres, we rely on a lot of rubble and some stone from buildings that are being demolished in Macaneta to make way for others. We also go to the village of Marracuene to look for rubble — sometimes we have to buy it — so we are also reusing construction waste. We use sand from the river and matope; for us, matope is a kind of cement, it’s fundamental to prevent the sand from escaping with the dynamics of the tides”, Serra explained.

According to our source, the river protection project has no budget as it is done with voluntary labour. “Occasionally, we pay for targeted labour on the weekends. After the working week, we dedicate ourselves to this exercise, and it has been like this for two years and two months”.

Regarding the number of tyres used in the construction of the barrier, Serra noted that there is no estimate, although acknowledging that thousands were used. “The tyres that are visible are only one side of the coin. We have learnt to use tyres inside the barrier to improve structure. For aircraft tyres, which are smaller, we found a phenomenal application: the construction of the skeleton, which is crucial to make the barrier more consolidated and solid. We are always on the lookout for extremely heavy tyres from large machines and tractors,” he said.

Fotografia: Mariano Silva

For the environmentalist, the ideal would be to always have a large quantity of those heavy tyres, because they go to the base of the barrier. Unfortunately, they are not enough of this kind, but wherever they have been applied, the outcome is really perfect. In the absence of the heavy tyres from tractors or machines, they use truck tyres. The lighter tyres, like

those of cars, are used at the top or in the internal structure of the barrier.

On the same occasion we interviewed him, Carlos Serra spoke of additional work he has been developing in Macaneta: “We have an integrated environmental programme that brings together formal environmental education supported by schools,

and informal education taking place among the communities, fishermen, tradesmen and beach goers, as well as national and foreign tourists who are a key factor because nowadays, with the opening of the new road, the beach has become more sought after than before, and we carry out these educational activities. We support waste management; we

don’t do it throughout the whole town but manage to cover a part of it. We keep the Macaneta road clean, as well as part of the shoreline. We also monitor, or rather study, the types of waste found, the quantities, brands and packaging. We’ve built an eco-centre where we develop a series of activities, bringing together a bit of culture and education, as

well as the environment. We have tried to demonstrate, through this framework, that it’s possible to find alternative solutions for building infrastructures in in harmony with nature. Our main message is: Don’t destroy the coastal forest!”, Serra emphasized.

There are some activities linked to land protection that are running concur-

rently with these other initiatives. Our interviewee is also active on that front: “We did the restoration of the mangrove, where we planted around 4,000 mangrove seedlings last year in a considerable extension. We successfully promoted activities on World Clean-up Day at a national level, albeit with a very big focus on Macaneta”, he concluded.

Fotografia: Mariano Silva

Baía Mall, do lançamento aos planos de expansão

Fotografia: Cortesia de Baia Mall

Baía Mall, do lançamento aos planos de expansão

Assinalando cinco anos de existência, o Baía Mall, o maior centro comercial de Moçambique, tem vindo a dar mais vivacidade a uma comunidade em crescimento. Ao longo deste quinquénio, solidificou-se como uma referência incontornável, provendo progresso e vitalidade ao panorama económico e social local. Na presente edição, convidamos o leitor a embarcar numa retrospectiva deste colosso do nosso comércio retalhista. Com a contribuição exclusiva de José Castilho, administrador da BROLL, iremos desvendar os marcos alcançados pelo Baía Mall e vislumbrar os seus audaciosos planos para o futuro.

Quais foram os marcos mais significativos durante os cinco anos de actividade do Baía Mall?

Desde logo, a conclusão do projecto de edificação deste espaço, extremamente ambicioso e que iria requerer uma gestão muito educativa no sentido de acolher as melhores práticas internacionais para este centro comercial, o que

veio a acontecer. Lembramos também a inauguração por sua excelência o Presidente da República, para nós o reconhecimento da necessidade deste activo e acolhimento do investimento internacional. Operacionalmente, lembramos o mês “Maio de 2019”, em que ultrapassámos, pela primeira vez, as 320.000 visitas mensais ao shopping, o que actualmente

se mantém consistente e esperamos aumentar. No capítulo de responsabilidade social que temos vindo a desenvolver desde o nosso início, são inúmeros os eventos e contributos em que temos participado: apoio às vítimas dos Ciclones Idai e Kenneth e, este ano, do Freddy. A nossa participação e contributo para a divulgação cultural, com exposições de arte e de carác-

ter social, ou na área da saúde, com conteúdo importante para a sociedade moçambicana, como, por exemplo, o Festival da Colheita ou exposições temporárias de artesanato local, acções de rastreio médico, etc. Adicionalmente, lembramos sempre datas importantes para a família e comunidade, como o Dia do Pai, o Dia da Mãe e o Dia da Mulher Moçambicana, o Dia Internacional da Mulher, o Dia da Família, envolvendo os mais diversos participantes que dão voz e exemplo à nossa juventude, as crianças e a própria família.

Que obstáculos destacariam como os mais desafiadores enfrentados durante este período?

A área comercial, a parte sem a qual não existiríamos, pois somos essencialmente um

espaço de comércio, foi a área em que encontrámos mais desafios, para compor o nosso mix de lojistas que hoje são a nossa força. Trazer a este espaço o melhor que Moçambique tem para oferecer no comércio formal foi um dos maiores desafios que encontrámos. Encontrar e formar, especializando o nosso quadro de pessoal na gestão no Centro, foi outro dos desafios que encontrámos e que felizmente sentimos ter superado com a nossa equipa actual.

De que maneira o Centro Comercial tem impactado a comunidade local?

Para além das acções específicas que referimos ao nível do enquadramento da responsabilidade social, o impacto do Baía Mall no comércio local foi extraordinário. Note que

iniciámos com um conjunto de lojistas habituados a outro tipo de comércio, em lojas em ruas de comércio ou shoppings em linha, comércio informal ou mesmo startups, que se iniciaram no Baía, num ambiente de shopping central onde as regras são comuns a todos os lojistas, com o objectivo de melhorar a oferta global e assim aumentar as vendas de cada um. Ao longo destes anos de existência, o desafio tem sido sempre adaptar os diferentes negócios a este modo de operar, que naturalmente tem vantagens. As comunidades de proximidade têm vindo a beneficiar também da nossa presença e acção em parceria com o município de Maputo, mas também em actividades direccionadas, muitas vezes propostas por nós, mas também por essas comunidades.

Fotografia: Cortesia de Baia Mall

Desde a vossa inauguração, quais as alterações implementadas que consideram mais significativas?

O Centro Comercial é quase um organismo vivo. Todos os dias se movimentam muitas variáveis que nos obrigam a uma constante gestão da mudança. Seja por solicitação, seja por obrigação ou planeamentos que sucessivamente vamos actualizando a todos os níveis. A actividade no Centro Comercial é muito dinâmica. Escolher as alterações que têm tido mais impacto é por isso muito difícil, porque temos muitas. Nesse sentido, escolheria a gestão dos lojistas e selecção dos negócios que mais fazem sentido neste espaço, porque funcionam melhor no conjunto dos lojistas, como a principal preocupação que tem levado a essas alterações, e com isso beneficiado o Centro Comercial. Temos actualmente em curso um es-

tudo para analisar melhorias ao nível da eficácia energética, que, cremos, trará grande impacto de futuro.

De que forma a pandemia da covid-19 impactou as vossas operações?

Houve diversos impactos em cadeia que foram significativos. Desde logo, o comércio foi fortemente afectado pela impossibilidade das visitas presenciais e obrigatoriedade de redução de horários. Em certos casos tivemos mesmo lojas que, pelo tipo de actividade, estiveram fechadas todo o tempo por imposição legal. Isso naturalmente afectou o negócio do Centro, diminuindo fortemente os retornos de investimento nesse período, que se prolongou por cerca de dois anos. Por outro lado, também as nossas acções de marketing e de gestão da manutenção sofreram paragens e atrasos por impossibilidade de serem

executadas, quer por não serem possíveis viagens internacionais de alguns fornecedores, quer mesmo por não existirem condições sanitárias que o permitissem. Mas destacamos pela positiva que a menor frequência de viagens levou a população de Maputo a criar hábitos de consumo local, alguns lojistas decidiram abrir comércio mais especializado, nomeadamente na moda, por aqui, e hoje notamos ter contribuído para um comércio mais consolidado, onde o consumidor tem comparativos mais imediatos, melhores preços e maior conforto nas suas compras. Este facto, que se nota sobretudo depois desse período com o consequente crescimento do comércio local, é uma das melhorias que ficou na era pós-covid.

Quais foram as lições mais relevantes que a vossa equipa de gestão adquiriu ao

44 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023
Fotografia: Cortesia de Baia Mall

longo destes cinco anos?

A gestão de centros comerciais da forma como o fazemos no Baía Mall, em linha com as melhores práticas internacionais, obrigou-nos a formar uma equipa de gestão com competências em diversas áreas. Na Contabilidade, Cobranças, Vendas, Manutenção, Marketing e em processos administrativos, tudo é especializado neste espaço. A melhor lição que tivemos ao longo deste tempo foi a de que vale a pena apostar na formação de quadros que nos chegam com a formação académica de base e que se dedicam à formação profissional quando estão expostos a estas funções. Vemos com muito carinho a evolução do nosso staff e consideramos que temos uma equipa que, na sua interacção com os diferentes interessados, quer sejam lojistas, fornecedores, entidades públicas ou outros, são capazes, competentes e dedicados.

Que estratégias têm adoptado para lidar com a crescente concorrência do comércio electrónico?

Na verdade, vemos o comércio electrónico como complementar e não como concorrente. A partir de um ponto físico localizado como é o Centro Comercial, potenciamos o negócio dos nossos lojistas também através do comércio electrónico. Ou melhor, são os nossos lojistas que o fazem, o que nos compete é a presença constante nos meios electrónicos e redes sociais, que temos vindo sempre a desenvolver. A partir daí, grande parte dos nossos lojistas pegam nesse potencial e concretizam uma componente cada vez mais importante do seu comércio.

Entre as acções e iniciati -

vas que organizaram, quais gostariam de destacar pela sua eficácia e impacto?

Poderiam descrever em que consistiram?

Nós temos particular interesse em destacar todas as acções em que nos envolvemos e que sabemos terem contribuído para aliviar o sofrimento de algumas pessoas. Essas não vamos enumerar porque o fazemos sempre que possível e com a colaboração empenhada dos nossos lojistas. Orgulhamo-nos de ter organizado alguns eventos que sabemos terem impacto na sociedade moçambicana como, por exemplo, termos colaborado com campanhas para preservação da biodiversidade, para fortalecer os artesãos locais ou mesmo os pequenos produtores agrícolas, para quem fomos criando espaços para a sua divulgação. Divulgámos e trouxemos para junto de nós, dos nossos lojistas, clientes e visitantes do Centro, personalidades públicas da nossa sociedade que, em eventos variados, quer na cultura, quer nas acções sociais, conviveram de perto com a nossa gente mais comum.

Tivemos outras actividades que inventámos ou reinventámos, com esforço para nos recriarmos, mas de que igualmente nos orgulhamos: em 2020, empenhámo-nos para juntar o material escolar possível, tendo doado à Escola Primária da Macaneta 756 kits de material escolar diverso; em 2021, criámos a campanha “Heróis da Covid-19”, em que, para além do plantio de 200 casuarinas na baía de Maputo ao ar livre para animar as pessoas e como forma de protecção contra a erosão da orla marítima da marginal, criámos uma exposição literária e fotográfica em ho -

menagem aos que sofreram com a covid-19, expusemos depoimentos de directores de hospitais, pacientes que recuperaram e familiares que perderam seus entes queridos; em 2023, ficámos satisfeitos por saber que, para além da doação de alimentos e produtos de primeira necessidade, conseguimos passar a experiência de degustação a algumas crianças que se deliciaram com ovos e doces da Páscoa. O maior desafio do departamento de marketing foi o de se reinventar para poder comunicar numa altura em que não nos era permitido gerar aglomerações. A covid-19 ensinou-nos a sobreviver no meio do mínimo e com uma mistura de vários sentimentos que se manifestavam à flor da pele.

De que forma o Baía Mall tem acompanhado as tendências de sustentabilidade e consciência ecológica? Em todos os aspectos e de todas as formas. Desde logo, o edifício foi desenvolvido com algumas características e equipamentos com vista à sustentabilidade ambiental, na altura com prioridade à instalação de uma estação de tratamento de águas, importante até porque estamos num local junto às praias. Participamos e desenvolvemos iniciativas de protecção da orla marítima, com programas de plantação de árvores cuja função é a de protecção contra a erosão. As nossas políticas de actuação incluem a sustentabilidade ambiental ao nível da recolha de lixos e separação para posterior reciclagem. Existe uma preocupação com a energia, e temos em curso estudos para utilização futura de autoprodução de energia, em princípio utilizando painéis solares.

Junho - June 2023 • Ed. 59 © Revista Xonguila | 45

Futuramente iremos desenvolver acções de compensação de carbono, porém temos isso como prematuro, uma vez que ainda estamos na fase de adaptação dos legistas. Por outro lado, temos desenvolvido inúmeras campanhas associadas quer à reciclagem quer à protecção da biodiversidade em risco, e campanhas contra a caça furtiva, que consideramos um flagelo que nos afecta a nível nacional.

Que actividades poderão os vossos clientes aguardar no futuro? Existem planos para expansão do Centro Comercial?

Do ponto de vista comercial, todos os nossos lojistas podem contar connosco, tal como contamos com eles,

para continuada e sustentadamente atingirmos objectivos de crescimento em linha com o crescimento económico do País, senão maiores. Apostamos em campanhas de marketing sucessivas, localizadas e usando todos os meios a que conseguimos ter acesso, para constantemente lembrarmos o consumidor da nossa qualidade e oferta disponível por parte de todos os lojistas. Esta dinamização é muito importante, pelo que lhe atribuímos uma prioridade alta. Em termos de actividades específicas, vamos aqui deixar em segredo, para que no futuro as nossas actividades surpreendam sempre pela positiva, como tem vindo a ser hábito no Baía. Com a certeza de que estamos atentos e

somos extremamente criativos no planeamento de actividades inovadoras, essenciais, em linha com os objectivos da comunidade e sempre com responsabilidade social. Estamos para servir a comunidade e é com a comunidade que vivemos também o nosso negócio. Quanto a planos de expansão, naturalmente o espaço onde existimos é limitado, e os retornos de investimento são particularmente demorados. Trata-se de um investimento de longo prazo que só após estes 5 anos podemos afirmar estar perto do seu potencial de exploração, pelo que é cedo para pensarmos nisso. Não obstante, o investidor tem hoje uma muito boa visão deste investimento, razão pela qual não excluímos

que possa vir a haver outros em linha com este, mas não no curto prazo.

Como gostariam que o Baía Mall fosse percepcionado pela comunidade e pelos clientes nos próximos cinco anos?

Penso que quanto aos próximos 5 anos ambicionamos essencialmente consolidar a

imagem que temos hoje. Ser o centro comercial de referência na capital, o que significa dizer, o centro comercial de referência no País, mas sobretudo continuar a demonstrar aos consumidores que é possível comprar com comodidade e conforto em Moçambique, e que a nossa oferta estará sempre direccionada para as necessidades do momento. A

par dos nossos objectivos comerciais, manteremos a nossa acção com a comunidade de proximidade, sem descurar os apoios nacionais de emergência a que sempre temos dado alguma resposta, e continuaremos a dinamizar o nosso espaço e zona envolvente nas vertentes da vida saudável, que inclui o desporto, o ambiente e a cultura.

Junho - June 2023 • Ed. 59 © Revista Xonguila | 47
“Vemos com muito carinho a evolução do nosso staff e consideramos que temos uma equipa que, na sua interacção com os diferentes interessados, quer sejam lojistas, fornecedores, entidades públicas ou outros, são capazes, competentes e dedicados.”
Fotografia: Cortesia de Baia Mall

Baía Mall, from launch to expansion plans

Celebrating five years on the market, Baía Mall, the largest shopping centre in Mozambique, has brought more life to a growing community. Throughout this five-year period, it has become an unavoidable landmark, providing progress and vitality to the local economic and social panorama. In this edition, we invite the reader to embark on a retrospective of this colossus of the local retail trade. Featuring an exclusive with José Castilho, Director of BROLL, we will unveil the milestones achieved by Baía Mall and glimpse into its audacious plans for the future.

What were the most significant milestones achieved during Baía Mall’s five years of activity?

We would begin with the successful completion the building project, which was extremely ambitious and required a very educational approach on the part of Management, in order to implement the best international practices for the shopping centre, all of which happened. We would also highlight the inauguration of the shopping centre by His Excellency the President of the Republic; for us, it represented an acknowledgement of the need for this asset [on the market], and a welcoming gesture for international investment. In terms of operations, we would spotlight the month “May 2019”, in which we exceeded, for the first time, the 320,000 monthly visits to the shopping centre, a figure which has since remained consistent and which we hope to increase. In terms of the social responsibility that we have implemented since inception, we have participated in numerous events, such as: support for the victims of Cyclones Idai and Kenneth and, this year, of Cyclone Freddy; our participation and contribution to cultural dissemination, with art and socially-oriented exhibitions, and in the health sphere, with important content for Mozambican society such as, for example, the Harvest Festival or temporary exhibitions of local handicrafts, medical screening actions, etc.

In addition, we always remember and mark important dates that celebrate family and community, such as Father’s Day and Mother’s Day, Mozambican Women’s Day, International Women’s Day and Family Day, involving the most diverse participants who a give voice to and serve as roles models to our youth, the children and the family itself.

Mozambique has to offer in the formal retail sector was one of the biggest challenges we faced. Finding and training our staff, specialising them in the management of the Centre, was another challenge we encountered, which we fortunately consider having since overcome with our current team.

How has the Shopping Centre impacted the local community?

What obstacles would you highlight as the most challenging you faced during this period?

The commercial department — without which we would not exist, as we are essentially a retail enterprise — was the area where we encountered the most challenges, [in particular] to make up our tenant mix, which is our strength today. Bringing together the best

Apart from the specific actions we mentioned regarding the social responsibility framework, Baía Mall’s impact on the local commercial sector has been extraordinary. Note that we began with a set of tenants used to other types of retail, such as highstreets or strip malls, informal sector retail or even startups. Being in Baía was, for many, their first venture into a closed mall environment where the rules are common to all tenants, aiming to diversify the overall offer and thus increase individual sales. Throughout these five years, the challenge has always been to adapt the different businesses to this way of operating, which naturally has advantages. The neighbouring communities have also been benefiting from our presence and actions in partnership with the municipality of Maputo, as well from targeted activities which are often proposed by us, but also by these communities.

48 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023
“In terms of the social responsibility that we have implemented since inception, we have participated in numerous events, such as: support for the victims of Cyclones Idai and Kenneth and, this year, of Cyclone Freddy”
Fotografia: Cortesia de
Mall
Baia

Since you launched, what are the most significant changes you have implemented?

The shopping centre is almost like a living organism. Every day, there are many variables that shift, forcing us to constantly manage change. Whether by request, obligation or planning, we are continually updating on all levels. The activity in the shopping centre is very dynamic, and so it’s very hard to pinpoint the changes that have had the most impact — there have been so many. If pressed, I would say that the main concern leading the changes is tenant management and the selection of the businesses that make the most sense in the space, work better together as tenants. That sort of exercise has benefited the shopping centre. We are currently undertaking a study to analyse improvements in energy efficiency, which we believe will have a great impact in the future.

How has the Covid-19 pandemic impacted your operations?

There were several significant knock-on effects. First of all, commerce was strongly affected by the impossibility of in-person visits and the mandates to reduce opening hours. In certain cases, we even had shops that, due to the type of activity, were temporarily closed due to legal impositions. This naturally affected the centre’s turnover, strongly diminishing the return on investment during this period, which lasted for about two years. On the other hand, our marketing and maintenance management actions also suffered stoppages and delays due to the impossibility of executing them, either because international travel was not

possible for some suppliers, or even because there were no sanitary conditions that would allow it. But we would like to highlight, on the positive side, that travel restrictions led the Maputo population to create local spending habits. Some shopkeepers have decided to open more specialised shops around here, namely in fashion, and today we note that they have contributed to a more consolidated trade, where the consumer has more readily available options, better prices and greater comfort in their purchases. This fact, which is especially noticeable after that period [of pandemic restrictions] and led to the consequent growth of local commerce, is one of the improvements of the post-covid era.

What are the most relevant lessons your management team has learnt during these five years?

Managing shopping centres the way we do at Baía Mall, i.e. in line with international best practices, required us to form a management team with skills in several areas. In Accounting, Collections, Sales, Maintenance, Marketing and in administrative processes, everything is specialised in this space. The best lesson we’ve learnt throughout this time, is that it’s definitely worth investing in training staff who come to us with basic academic knowledge and who subsequently dedicate themselves to professional training when exposed to those [managerial and administrative] roles. We view our staff’s evolution with great satisfaction and consider that we have a team that, in its interaction with the different stakeholders – be they tenants, suppliers, public entities or others – are capable, com

petent and dedicated.

What strategies have you adopted to deal with the growing competition from e-commerce?

We actually regard e-commerce as complementary [to what we do] rather than as competitor. We [the shopping centre] are a bricks-andmortar space that boosts our tenants’ business through e-commerce. Or rather, it is our tenants who do this; what we are responsible for is our constant presence in the electronic media and social networks, a presence we have always nurtured. From there, most of our tenants take advantage of this potential and turn it into an increasingly important part of their commerce.

Among the actions and initiatives you have organised, which would you like to highlight for their effectiveness and impact? Could you describe them a little?

We are particularly proud of all the actions we were involved with that helped alleviate the suffering of some people. We will not list them here because we do them whenever possible and with the committed collaboration of our tenants. We are also proud to have organised some events that we know have had an impact on Mozambican society on the whole, for example: collaborating with campaigns to preserve biodiversity, to strengthen local craftsmen or even small agricultural producers, for whom we have created spaces to promote their wares. We publicised and brought local public figures to us, to our shopkeepers, customers and visitors of the Centre; figures who, during various events related to

Junho - June 2023 • Ed. 59 © Revista Xonguila | 51
-
Fotografia: Cortesia de Baia Mall

culture and social actions, came to be close to our most ordinary people.

We’ve had other activities that we invented or reinvented in an effort to recreate ourselves, of which we are equally proud. In 2020, we strove to gather as many school supplies as possible, subsequently donating 756 kits of various school supplies to Macaneta Primary School. In 2021, we launched the campaign ‘Heroes of Covid-19’ where, in addition to planting 200 casuarina trees in the bay of Maputo — an outdoors activity to boost morale — to form a protection against the erosion of the shoreline, we created a literary and photographic exhibition in homage to those who suffered from Covid-19, and exhibited testimonials from hospital directors, patients who recovered and family members who lost their loved ones. In 2023, we were pleased to learn that, in addition to the donation of food and other basic necessities, we were able to delight some children with Easter eggs and sweets. The marketing department’s biggest challenge was to reinvent itself, so as to continue to communicate at a time when we were not allowed to generate crowds. Covid-19 taught us how to survive with the bare minimum and with a mixture of several feelings that were skin deep.

How has Baía Mall been keeping up with the sustainability and eco-conscious trends?

In all aspects and in all ways. First of all, the building was developed with some features and services targeted at environmental sustainability; chief among them, at the time, was the the installation of a water treatment plant,

which is important because we are located near the beach. We take part in and develop initiatives to protect the coastline, with tree-planting programmes to prevent erosion. Our policies include environmental sustainability in terms of waste collection and separation for subsequent recycling. There is a concern with energy use, and we have ongoing studies for the future use of self-produced energy, in principle using solar panels. In the future, we will develop actions for carbon offsetting, but we consider this to be a bit premature, as we are still in the adaptation phase. On the other hand, we have developed numerous campaigns linked to both recycling and protecting biodiversity at risk, as well as campaigns against poaching, which we consider a scourge that affects us at a national level.

What activities can your customers look forward to in the future? Are there plans to expand the shopping centre? From a commercial point of view, all our tenants can count on us, just as we count on them, to continuously and sustainably reach growth objectives in line with the country’s economic growth, if not greater. We continuously invest in marketing campaigns, produced locally and using all the means available to us, to remind the consumer of the quality of our service and the offerings available from all our tenants. This dynamism is very important, and we make it a high priority. In terms of specific activities, we will keep those a secret for now, so that in future our activities can continue to pleasantly surprise our visitors, as it has become a habit at Baía Mall. You can be certain that we are paying attention

and are extremely creative when planning innovative, essential activities, in line with the community’s goals and always with social responsibility in mind. We are here to serve the community, and it is with this same community that we also live out our business. As for expansion plans, naturally the space we currently have is limited, and returns on investment are particularly time consuming. This is a long-term investment, and it’s only after these five years that we can claim to be nearing its [full] exploitation potential, so it’s still early to think about it. Nevertheless, the investor has a very good view of this investment today, which is why we don’t exclude the possibility of there being others like this one, but not in the short term.

How would you like Baía Mall to be perceived by the community and the customers in the next five years?

I think that for the next five years, we essentially aim to consolidate the image we have today. To be the shopping centre of reference in the capital — which also means, in the country — but mainly to continue to demonstrate to the consumer that it’s possible to shop with convenience and comfort in Mozambique, and that our offer will always address the needs of the moment. Along with our commercial objectives, we will maintain our actions with the local community, without neglecting calls for national emergency support — to which we have always responded— and we will continue to make our space and surrounding area more dynamic in terms of supporting a healthy life, which includes sport, the environment and culture.

52 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023

Absa Bank

O banco pan-africano que cria soluções inovadoras

Fotografia: Cortesia de Absa Bank

Absa Bank

O banco pan-africano que cria soluções inovadoras

Impulsionar o crescimento dos negócios além-fronteiras só é possível através da força que resulta das parcerias. Conectados, os mercados conseguem mover empresas e oportunidades que vão além das culturas ou idiomas. Actualmente, o Absa Bank Moçambique é essa ponte: facilita, com sucesso, o contacto entre empresas e instituições de diversas geografias, sempre tendo em mente o crescimento de todos.

Como líderes de pensamento da indústria, o Absa tem o conhecimento e as capacidades que permitem uma compreensão e perspectiva únicas do continente africano e das suas infinitas possibilidades. E é isso que o torna num parceiro perfeito para o crescimento das empresas e das nossas economias.

É nesse contexto que o panafricanismo do Absa Bank surge como uma mais-valia. Na prática, o panafricanismo é uma ideologia e movimento que procura a união e solidariedade dos povos africanos em todo o mundo. Seguindo este paradigma, o Grupo Absa escolheu Moçambique para a sua Conferência Anual dos Presidentes de Conselho de Administração, reunindo os decisores máximos do Grupo e a liderança de todas as subsidiárias presentes no continente africano.

Esta acção demonstra a confiança no mercado moçambicano e a vontade de promover soluções que impulsionem o crescimento do País. Com esta visita, a liderança do Absa pode compreender e vivenciar, com todo o detalhe, o potencial de crescimento do País e reafirmar a estratégia do Banco para continuar a apoiar no desenvolvimento de Moçambique.

O sector bancário detém um papel fundamental na mobilização de recursos financeiros, na promoção do comércio e do investimento e na facilitação do crescimento económico em toda a África, especialmente tendo em conta que, na África Austral, Moçambique desempenha um papel crítico, não apenas pelo seu posicionamento geográfico estratégico, apoiando os vários países do interland, como também pelas inúmeras riquezas naturais, extensa costa e vasta área agrícola que possui, criando imensas oportunidades de novos negócios e investimentos.

Portanto, o Absa Bank assume aqui um papel crucial no financiamento de projectos de infra -

-estruturas, agricultura, indústria e outras áreas-chave para o desenvolvimento do País. Esses investimentos impulsionam o crescimento económico e ajudam a melhorar as condições de vida da população, o que fortalece o panafricanismo ao promover o progresso social e a redução da pobreza. Acima de tudo, o banco orgulha-se de ser Africano, colocando a confiança no continente e reafirmando o compromisso com o desenvolvimento e progresso socioeconómico de África.

56 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023 Absa Bank

O ABSA orgulha-se de ser Africano, colocando a confiança no continente e reafirmando o compromisso com o desenvolvimento e progresso socioeconómico de África.

Junho - June 2023 • Ed. 59 © Revista Xonguila | 57 Absa Bank
Fotografia: Cortesia de Absa Bank

Absa Bank

The pan-African bank that creates innovative solutions

Driving business growth beyond borders can only be accomplished on the strength of partnerships. When connected, markets are able to move companies and opportunities that transcend cultural and linguistic differences. Currently, Absa Bank Moçambique serves as this bridge: successfully facilitating contact between companies and institutions from diverse geographies, consistently targeting growth for all involved.

As industry thought leaders, Absa possesses the knowledge and capabilities that afford them a unique understanding and perspective of the African continent and its infinite possibilities. That is what makes it the perfect partner for growing companies and our economies.

It is within this context that Absa Bank’s pan-Africanism emerges as a significant asset. Pan-Africanism is an ideology and movement that seeks the unity and solidarity of African peoples worldwide. Following this paradigm, Absa Group chose Mozambique to host its Annual Chairmen of the Board Conference, bringing together the group’s highest decision-makers and leadership of all its subsidiaries on the African continent.

This action demonstrates confidence in the Mozambican market and a desire to promote solutions that drive the country’s growth. With this visit, Absa’s leadership have the opportunity to fully understand and experience the country’s growth potential and reaffirm the Bank’s continued strategic sup-

port of Mozambique’s development.

The banking sector plays a crucial role in mobilizing financial resources, promoting trade and investment, and facilitating economic growth across Africa, especially considering that, in Southern Africa, Mozambique plays a critical role, not only due to its strategic geographical positioning that supports various hinterland countries, but also due to its abundant natural resources, extensive coastline, and vast agricultural land, creating immense opportunities for new business and investment.

Therefore, Absa Bank takes on a pivotal role in financing infrastructure projects, agriculture, industry, and other key areas for the country’s development. These investments drive economic growth and help improve the living conditions of the population, which strengthens pan-Africanism by promoting social progress and poverty reduction. Above all, the Bank takes pride in being African, placing their trust on the continent and reaffirming its commitment to Africa’s socioeconomic development and progress.

Absa’s leadership have the opportunity to fully understand and experience the country’s growth potential and reaffirm the Bank’s continued strategic support of Mozambique’s development.

DO FESTIVAL AZGO

O Azgo é a principal plataforma nacional na promoção e internacionalização das criações artísticas nacionais, fomentando o melhor ambiente para intercâmbios com artistas internacionais.

Fotografia: Cortesia do Azgo

10 ANOS DO FESTIVAL AZGO

A arte de celebrar a diversidade

No passado mês de Maio, a vibrante cidade de Maputo foi palco da esperada 10ª Edição do Festival AZGO, considerado por muitos como a manifestação mais completa e diversificada das artes em Moçambique. Depois de um interregno de três anos, o festival regressou com uma dinâmica refrescante e um programa abrangente que decorreu de 19 a 21 de Maio. A noite inaugural deu-se no prestigiado Centro Cultural Franco-Moçambicano, enchendo de expectativa e ansiedade o ar da capital moçambicana. O segundo dia marcou presença no Campus Principal da UEM, onde artistas, gestores, produtores e, claro, o público apaixonado pela cultura e música se juntaram para celebrar o regresso do AZGO. Finalmente, no terceiro dia, foi realizado o encerramento do festival no campinho da Mafalala, numa colaboração entre a Khuzula e a Associação IVERCA. Com nomes consagrados como Stewart Sukuma, Mark Exodus, Elvira Viegas, Eduardo Paim, Helio Beatz, Radjha Ally, entre tantos outros, a 10ª Edição do Festival AZGO prometeu – e entregou – um ressurgimento triunfal da música e da cultura moçambicanas. Sobre esta edição falou-nos Paulo Chibanga, fundador do festival.

Para iniciar, poderias partilhar algo da trajectória do Azgo e da forma como o festival evoluiu nestas últimas dez edições?

Para começar, gostaríamos de expressar o nosso agradecimento por esta oportunidade de estarmos presentes numa publicação de renome, que tem sido uma referência na história da cultura e criatividade nacional e que carrega uma designação que não só expõe,

como nos transporta ao universo do belo!

Respondendo à vossa pergunta, o Festival Azgo tem-se afirmado como a principal plataforma de exposição das artes em toda a sua diversidade, contribuindo activamente para o crescimento artístico e cultural ao incitar uma maior consciência relativamente a questões culturais em Moçambique e na África Austral. O festival congrega públicos

distintos e variados artistas emergentes e já consolidados de diversos géneros, fomentando o património cultural moçambicano e a vida artística ao posicionar Moçambique como um destino incontornável para os apreciadores das artes e, particularmente, da música. Ao longo destes 10 anos, o festival gerou múltiplas oportunidades de profissionalização na indústria da música, promoveu o envolvimento das comuni-

62 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023
Fotografia: Cortesia do Azgo

dades locais e gerou emprego, associado à criação de uma plataforma destinada a incentivar intercâmbios musicais entre artistas locais e internacionais, estabelecendo uma rede de eventos musicais e iniciativas na África Austral, no continente africano e além-continente. Em termos estatísticos, o festival mobiliza anualmente cerca de 13.500 pessoas, incluindo participantes e equipa de trabalho.

No que se refere ao cartaz deste ano, quais foram os destaques e como decorreu a selecção dos artistas que participaram?

Cada festival é um festival único! Todos os anos reunimos uma equipa de curadoria que nos auxilia na definição do conceito, na escolha do line-up, na determinação das actividades pré e pós-festival e nos eventos paralelos aos principais três dias do festival. Para exemplificar, quando fomos forçados a cancelar o festival devido à pandemia, já tínhamos um conceito desenvolvido para ele. Contudo, ao retornarmos, decidimos criar um contexto actualizado, que respondesse às necessidades actuais. Os destaques incluíram a promoção e internacionalização dos artistas nacionais e a criação de um festival muito intimista – com uma atmosfera mais familiar – e com uma perspectiva futurista que contempla a moda, a gastronomia e o lifestyle.

Qual o papel desempenhado pelo Azgo na promoção da cultura e do turismo no país?

Como mencionei anteriormente, o Azgo é um autêntico aglutinador de artes e, já que o turismo também pode ser considerado uma arte, o Azgo é a principal plataforma nacional e de referência na promoção e internacionalização das criações artísticas nacionais, fomentando o melhor ambiente

para intercâmbios com artistas internacionais.

Considerando que esta é a primeira edição após a pandemia, quais foram os principais desafios na organização do evento?

Na realidade, o regresso é sempre um desafio! Conseguir reiniciar toda a maquinaria que esteve activa para a realização da 10ª edição foi tarefa relativamente simples, uma vez que contamos com uma equipa que conhece muito bem a sua função dentro do festival. O verdadeiro desafio, segundo o nosso entendimento, foi captar a atenção de todos. Foi assim que surgiu o seguimento Azgo Profuturo e Afro Futurístico. Este conceito, desenhado com a perspectiva de alavancar ainda mais a moçambicanidade, destacou-se particularmente pela identidade visual desta edição, assinada pelo artista plástico Psiconautah.

O tema deste ano foi o "Afro Futurismo". Poderias explicar um pouco o significado deste tema e como se reflectiu no festival?

Na verdade, o termo Afro Futurismo tornou-se bastante popular. Contudo, o lema desta 10ª edição é Diversidade Cultural e Paz. Este lema foi escolhido com o intuito de exaltar um dos pilares fundamentais do Azgo, que é a união de várias culturas num mesmo espaço, em ambiente de convívio e de harmonia. Estes valores são difundidos pelo festival através de uma programação que inclui iniciativas de solidariedade, fóruns de debate de ideias e de convergência das diferenças entre os intervenientes, programas de colaborações, promoção e divulgação dos artistas e das suas obras e a valorização da cidade de Maputo como um território cosmopolita. Sobretudo, o propósito é posicionar o

Festival Azgo como um símbolo artístico e turístico da Cidade das Acácias.

Houve algum momento particularmente marcante nesta edição que gostarias de partilhar?

Todo o festival foi marcante! Vejamos, tivemos o anúncio do regresso do festival, o primeiro post nas redes sociais, que deixou todos em suspense sobre o movimento. Na segunda fase, começámos a anunciar os artistas, a realização do primeiro flashmob na cidade de Maputo e a realização do festival no CCFM, na UEM e na Mafalala. Destaca-se ainda, no principal dia, a celebração da diversidade cultural e paz através da exaltação do lifestyle, que mereceu um prémio de 50 mil meticais, atribuído a Valter Mudanisse.

Como foi a reacção do público e dos patrocinadores?

Até ao momento, nós, enquanto equipa, estamos extremamente satisfeitos com o nível de contentamento que colhemos diariamente por parte do público, que se sente particularmente agraciado pelo regresso do Azgo, e com especial enfoque nas inovações que o festival trouxe, na limpeza no festival, na feira de gastronomia, no sistema de gestão financeira, na iniciativa inclusiva que proporcionou aos deficientes físicos a possibilidade de acompanharem as principais actuações sem nenhuma restrição, e no seguimento Afro Futurístico, que introduziu um conceito bastante inovador na cultura e, particularmente, na moda.

O que podemos antecipar para o futuro, em particular nas próximas edições?

O nosso objectivo anual é sempre apresentar novidades para superar e manter as inovações já introduzidas nas edições anteriores.

Junho - June 2023 • Ed. 59 © Revista Xonguila | 63

O lema escolhido para a 10ª edição foi Diversidade Cultural e Paz, para exaltar um dos pilares fundamentais do Azgo: a união de várias culturas num mesmo espaço, em ambiente de convívio e harmonia.

Fotografia: Mariano Silva
Fotografia: Cortesia do Azgo

10 YEARS OF THE AZGO FESTIVAL

The art of celebrating diversity

Last May, the vibrant city of Maputo hosted the long-awaited 10th Edition of the Azgo Festival, considered by many to be the most complete and diverse manifestation of the arts in Mozambique. After a three-year hiatus, the festival returned with a refreshingly dynamic and wide-ranging programme that ran on 19-21 May. The opening night took place at the prestigious Franco-Mozambican Cultural Centre (CCFM), filling the air of the Mozambican capital with anxious anticipation in the days prior. The second day took place on the Main Campus of Universidade Eduardo Mondlane (UEM), where artists, managers, producers and, of course, a public passionate about culture and music came together to celebrate Azgo’s return. Finally, on the third day, the festival closed on the Campinho da Mafalala (an open-air field for sports and recreation), an event jointly organized by Khuzula and the IVERCA Association. With renowned performers such as Stewart Sukuma, Mark Exodus, Elvira Viegas, Eduardo Paim, Helio Beatz, Radjha Ally, among many others, the 10th Edition of the Azgo Festival promised — and delivered — a triumphant resurgence of Mozambican music and culture. Paulo Chibanga, founder of the festival, spoke to us about this latest edition.

To begin with, could you share something about the trajectory of Azgo and the way the festival has evolved over these past ten editions?

Let me begin by expressing our gratitude for this opportunity to be featured in such a renowned publication, which has been a reference in the history of national culture and creativity, and whose name not only exhibits, but also transports us, to a beautiful universe!

In response to your question, the Azgo Festival has established itself as the main platform for showcasing the arts in all of their diversity, actively contributing to artistic and cultural growth by raising awareness about cultural issues in Mozambique and Southern Africa. The festival brings together different audiences and a variety of emerging and estab-

lished artists from various genres, promoting Mozambican cultural heritage and artistic life by positioning Mozambique as a must-visit destination for lovers of the arts, particularly music. For the past 10 years, the festival generated multiple opportunities for professionalization in the music industry, promoted the involvement of local communities and generated employment — all while creating a platform to encourage musical exchange between local and international artists, establishing a network of musical events and initiatives in Southern Africa, the African continent and beyond. Statistically speaking, the festival mobilises around 13,500 people annually, including participants and staff.

Regarding this year’s line-up, what were the

highlights and how did you select the artists who participated?

Each festival edition is unique! Every year, we put together a curatorial team that helps us define the concept, choose the line-up, determine the pre- and post-festival activities and the side events to the main three days of the festival. For example, we had already developed a concept for the [2020] festival when we were forced to cancel due to the pandemic. However, upon our return, we decided to create an updated context that could met current needs. Highlights included the promotion and internationalisation of national artists and the creation of a very intimate festival — with a more family-like atmosphere — and with a futuristic perspective that looks at fashion, gastronomy, and lifestyle.

What role does Azgo play in promoting culture and tourism in the country?

As I mentioned before, Azgo is a true aggregator of the arts, and since tourism can also be considered an art, Azgo is the main national and a reference platform for the promotion and internationalisation of national artistic creations, fostering the best environment for exchange with international artists.

Considering that this is the first edition after the pandemic, what were the main challenges in organising the event?

Actually, coming back is always a challenge! Putting in motion all the moving parts that were required for the realisation of the 10th edition was a relatively simple task, since we have a seasoned team that know their roles very well. The real challenge, in our view, was to capture everyone’s attention. This is how the segment ‘Azgo Profuturo’ and ‘Afro Futurístico’ came about. The concept, designed to leverage even more the identity notion of ‘moçambicanicade’ (mozambican-ness), was particularly evident in the visual identity of this edition, created by the visual artist Psiconautah.

This year’s theme was ‘Afro Futurism’. Could you tell us a bit about the meaning of this theme, and how it was reflected in the festival?

The term Afro Futurism has become quite popular. However, the motto for this 10th edition was ‘Cultural Diversity and Peace’. This motto was chosen in order to exalt one of the fundamental pillars of Azgo, which is the coming together of various cultures in the same space, in an environment of conviviality and harmony. These values were disseminated by the festival through a programme that included solidarity initiatives, forums for debating ideas and bridging differences between the participants, collaborations, promotion and dissemination of artists and their work and valuing

the city of Maputo as a cosmopolitan territory. Above all, our purpose is to always position the Azgo Festival as an artistic and touristic symbol of the City of Acacias (a moniker for Maputo).

Was there a particularly memorable moment in this edition that you would like to share?

The whole festival was quite memorable! Let's see…we had the announcement of the return of the festival, the first post on social networks, which left everyone in suspense about the next step. In the second phase, we started announcing the artists, we had the first flashmob event in the city of Maputo and then the festival shows at the CCFM, UEM and Mafalala. I would also highlight, on the main day, the celebration of cultural diversity and peace through the celebration of lifestyle, in the form of a prize of 50,000 Meticais for the most afro futuristic look, which was awarded to Valter Mudanisse.

How did the public and sponsors react?

So far, we as a team have been extremely satisfied with the level of contentment expressed to us by the public on a daily basis. The public feels particularly pleased with the return of Azgo, with special mentions to the innovations that the festival brought, the cleanliness of the festival, the food fair, the financial management system, the inclusivity initiative that gave the physically disabled the possibility of coming along to the main performances without any restrictions, and the ‘Afro Futurístico’ segment, which introduced a very innovative concept in culture, and particularly in fashion.

What can we look forward to in the future, particularly in the next editions?

Year on year, our objective is to always bring newness, to build on the innovations already introduced in previous editions and then surpass them.

68 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023
Fotografia:
Cortesia do Azgo

ELEMENTOS

A FORÇA CRIATIVA DE UMA ESCRITORA INOVADORA

Fotografia: Helton Perengue
Fotografia: Helton Perengue

ELEMENTOS

A FORÇA CRIATIVA DE UMA ESCRITORA INOVADORA

Melissa Dinda fala de si e da sua obra

Como surgiu a tua paixão pela arte da escrita?

A escrita sempre fez parte integrante da minha existência, desde tenra idade. Cresci num ambiente onde a leitura era muito valorizada, o que, naturalmente, despertou em mim o amor pela escrita. Sempre fui introvertida, encontrando na escrita a forma mais eficaz de expressar-me. Na escola, destacava-me na elaboração de redacções e textos literários, o que me permitiu desenvolver uma paixão profunda pela escrita. Gradualmente, evoluí para uma leitora voraz e uma escritora curiosa e criativa.

Poderias descrever o processo criativo por detrás da tua obra literária? Como surgiu a ideia e que desafios enfrentaste ao longo do percurso?

A criação do Elementos foi uma jornada intensa, mas simultaneamente fluida. Foi um período de reclusão voluntária, onde me desliguei das redes sociais e reduzi o convívio social ao mínimo, mergulhando num estado de introspecção profunda. Assim, permiti-me explorar, criar de forma autêntica e expressar sentimentos, emoções, aspirações, lições aprendidas, bem como experiências de vida que tive a oportunidade de vivenciar. Com um manancial de ideias em mente, o desafio consistia em abordar

múltiplos temas sem que o livro se tornasse disperso. Organizei os temas de interesse em categorias e comecei a escrever sem seguir uma ordem específica. Nos dias em que a inspiração escasseava, a disciplina era a minha aliada. Houve momentos de improdutividade, onde apenas uma frase era escrita, devido a bloqueios criativos ou falta de motivação, mas mantive-me firme no compromisso de ser consistente no processo de escrita. O meu processo criativo é bastante liberal, permitindo que ideias das mais absurdas às mais fascinantes coexistam, sendo posteriormente submetidas a uma revisão e crítica minuciosa, pois tenho um forte traço perfeccionista, que também se revelou um desafio na concepção do livro. O tema "elementos" surgiu de uma analogia aos quatro elementos da natureza: terra, fogo, água e ar, organizando os capítulos de acordo com os conceitos que cada elemento representa. O maior desafio deste percurso foi a publicação independente da obra, que implicou compreender o funcionamento de uma editora e contratar profissionais qualificados para a produção do livro e o evento de lançamento. Não poderia estar mais grata por ter uma equipa formada maioritariamente por mulheres incríveis, tendo-me transformado numa líder flexível.

“Permiti-me explorar, criar de forma autêntica e expressar sentimentos, emoções, aspirações, lições aprendidas, bem como experiências de vida que tive.”

Quais são as tuas principais referências literárias?

As minhas influências literárias são várias e diversificadas, mas destacam-se algumas que considero fundamentais, sem qualquer ordem de preferência: Paulina Chiziane, Lília Momplé, Mia Couto, José Craveirinha, Fernando Pessoa, Luis Bernardo Honwana, Chimamanda Ngodzi Adichie, Antoine de Saint-Exupéry, Jodi Picoult, Maya Angelou e Toni Morrison.

Queres partilhar connosco a temática central do teu novo livro?

Elementos apresenta-se como uma tapeçaria literária, onde a autenticidade e a criatividade coexistem. Trata-se de uma auto-expressão em forma de prosas que abordam variadas esferas da vida sob uma perspectiva poética, evidenciando a sua pluralidade e singularidade. A obra divide-se em quatro capítulos: Terra, Fogo, Mar e Ar, que são metáforas para diferentes conceitos. Estes vão desde reminiscências de memórias infantis, questões político-sociais, liberdade, amor, amizade, desamor, harmonia, compromisso social, à emancipação individual e colectiva, e auto-amor, entre outros. O prefácio foi gentilmente escrito pela Professora Ana Rita Santiago, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, a quem agradeço pela disponibilidade, tal como à Professora Sara Laísse pela recomendação.

A tua obra está disponível na Amazon. Como se desenvolveu essa relação?

A Amazon é a maior plataforma de venda de livros online a nível global. Como a minha obra foi produzida de forma independente e sem o apoio de uma editora, recorri ao Entrecho de Arte para auxiliar na submissão da obra. A disponibilização do meu livro na plataforma foi um processo mais dinâmico do

que esperava, recebendo um grande apoio da Amazon. Descobri que sou uma das poucas moçambicanas com uma obra disponível nesta plataforma e, apesar de a obra estar apenas em língua portuguesa, as ferramentas de divulgação disponibilizadas pela Amazon têm sido uma ajuda preciosa no processo de vendas.

Que conselhos darias a jovens escritores que estão a dar os primeiros passos no mundo literário e ambicionam ter sucesso nesta área? Para os jovens escritores, especialmente mulheres, o meu conselho é que acreditem em si mesmos. Sejam autênticos, invistam no vosso potencial e criem incessantemente. Procurem orientação de artistas mais experientes e partilhem a vossa arte. Cometam erros, pois não precisam ser perfeitos para começar. Iniciem o vosso percurso e, com o tempo, irão aperfeiçoar-se. Irão enfrentar desafios internos e externos, mas mantenham-se fiéis ao vosso propósito e tirem proveito de todas as experiências ao longo da jornada. Lembrem-se que tudo irá acabar por se encaixar. Sobretudo, usem a escrita como uma ferramenta de mudança, liberdade, emancipação e impacto positivo.

Podes adiantar-nos

alguns dos teus planos futuros? Existem projectos em desenvolvimento ou ideias que pretendas concretizar?

Embora tenha diversos planos para o futuro, gostaria de destacar dois projectos já em desenvolvimento, a tradução do Elementos para inglês e a realização de performances de declamação dos textos da obra, previstos para serem implementados ainda este ano. Pretendo continuar a contribuir para o desenvolvimento da literatura jovem e levar a minha escrita além-fronteiras.

74 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023
“ Embora tenha diversos planos para o futuro, gostaria de destacar dois projectos já em desenvolvimento, a tradução do Elementos para inglês e a realização de performances de declamação dos textos da obra, previstos para serem implementados ainda este ano.”
Fotografia: Helton Perengue

ELEMENTOS

THE CREATIVE FORCE OF AN INNOVATIVE WRITER

Melissa Dinda speaks to us about herself and her work

Where does your passion for writing come from?

Writing has always been an integral part of my being in the world, since I was very young. I grew up in an environment where reading was highly prized and encouraged, which naturally awoke in me a love for writing. I have always been an introvert, and writing is the most effective way for me to express myself. At school, I excelled in writing essays and literary texts, and this led me to develop a deep passion for writing. Over time, I became an avid reader and a curious and creative writer.

Could you describe the creative process behind your latest literary work? How did the idea come about, and what challenges did you face along the way?

Creating Elementos was journey that was at once intense and fluid. It was a period of voluntary seclusion; I went offline from social networks and reduced social interaction to a bare minimum, plunging into a deeply introspective state. In that way, I allowed myself to explore, create authentically and express feelings, emotions, aspirations, lessons learnt and life experiences lived through. With a wealth of ideas in mind, the challenge was to broach multiple topics without losing cohesion in the book. I organised interest topics into categories and started writing in no particular order. On days when inspiration was scarce, discipline was my ally. There were some unproductive moments, with only a single sentence written due to creative blocks or lack of motivation; but I remained firm in my commitment to write consistently. My creative process is quite liberal, allowing the most absurd ideas to coexist with fascinating ones, all being subsequently submitted to a thorough review and critique, since I have a strong perfectionist trait, which also became a challenge in the conception of the book. The topic ‘elementos’ (elements) arose from an analogy to the four natural elements: earth, fire, water and air, and became a structuring device: chapters are organised according to the concepts that each of those elements represents. The biggest challenge of this journey was the independent publication

of the book; it required me to understand the workings of a publishing house and hire qualified professionals to produce the book and the launch event. I couldn’t be more grateful to have a team mostly made up of incredible women, who turned me into a flexible leader.

What are your main literary references?

My influences are plenty and diverse, but some that I consider fundamental do stand out, in no particular order of preference: Paulina Chiziane, Lília Momplé, Mia Couto, José Craveirinha, Fernando Pessoa, Luis Bernardo Honwana, Chimamanda Ngodzi Adichie, Antoine de Saint-Exupéry, Jodi Picoult, Maya Angelou and Toni Morrison.

Could you tell us the central theme of your new book?

Elementos presents itself as a literary tapestry, where authenticity and creativity coexist. It is self-expression rendered in prose, delivered in texts that touch on the many spheres of life from a poetic perspective, at once reflecting plurality and singularity. The book is structured around four chapters: Earth, Fire, Sea and Air, acting as metaphors for the different concepts. These range from reminiscing on childhood memories, socio-political issues, freedom, love, friendship, lovelessness, harmony and social responsibility, to broaching individual and collective emancipation and selflove, among others. The preface was kindly written by Professor Rita Santiago, from Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, whom I thank for her availability. I’m also grateful to Professor Sara Laísse for the recommendation.

Your work is available on Amazon. How did you develop that relationship with them?

Amazon is the world’s largest online bookselling platform. Because my book was produced independently and without the backing of a publishing house, I reached out to Entrecho de Arte [a local writers collective] to assist me in submitting the book [to Amazon]. Making my book available on the platform was a more dynamic process than I had anticipated, and I received a lot of support

from Amazon. I found out that I am one of the few Mozambican authors with a book available on the platform and, despite it being available only in Portuguese, Amazon supplies publicity tools that have been a great help in promoting sales.

What advice would you give to young writers who are taking their first steps in the literary world and want to succeed in this field?

For young writers – especially women – my advice is to believe in yourselves. Be authentic, invest in your potential and create continuously. Seek guidance from more experienced artists and share your work. Make mistakes, you don’t need to be perfect to start something. Begin your journey and, in time, you will perfect the craft. You will face internal and external challenges, but stay committed to your purpose and make the most out of all the experiences along the way. Remember that everything will eventually fall into place. Above all, use writing as a tool for change, freedom, emancipation and positive impact.

Can you tell us a bit about your plans for the future? Are there any projects underway, or ideas you wish to realise?

Although I have several plans for the future, I would like to highlight two projects already underway: the translation of Elementos into English, and performance readings of the book already planned for this year. I intend to continue contributing to the development of youth literature and to take my work across borders.

Fotografia: Helton Perengue

Desenvolvi um amor profundo pela arte de eternizar momentos singulares e guardar memórias preciosas.

Cortesia de Jay
Fotografia:
Mena

Jay Mena

Júlia Mena, fotógrafa, mais conhecida por Jay Mena, fala-nos de si:

“O desabrochar da minha paixão pela fotografia ocorreu quando descobri a câmara do meu pai. Ele nunca chegou a ser um fotógrafo profissional, contudo, a sua paixão pela arte da fotografia era inegável. Foi através da lente da sua câmara que vislumbrei um novo universo, e desenvolvi um amor profundo pela arte de eternizar momentos singulares e guardar memórias preciosas. A partir desse momento, a fotografia transformou-se numa paixão incontornável, um canal privilegiado de expressão artística, que me permite explorar a minha criatividade, capturar a beleza do mundo ao meu redor e documentar histórias marcantes.

Sinto-me particularmente inspirada por questões sociais e humanitárias, especialmente as que afectam mulheres e crianças. Estou convencida de que a fotografia pode ser uma ferramenta poderosa para narrar histórias e aumentar a conscientização sobre estas questões de relevo. Quando fotografo mulheres e crianças, busco retratar a sua essência, a beleza que reside nas suas vidas, mesmo diante dos desafios que enfrentam. Creio que, por meio da fotografia, podemos contribuir para dar voz a estas pessoas, contando as suas histórias de forma impactante e significativa.

Para mim, a fotografia é uma forma de arte que pode transformar o mundo, e ambiciono continuar a utilizar este meio

para fazer a diferença na vida das pessoas. Ricardo Rangel, o renomado fotógrafo moçambicano, é uma grande inspiração para mim. A sua capacidade de capturar a essência da vida em Moçambique e de utilizar a fotografia para influenciar positivamente a vida das pessoas é admirável. A sua visão de usar a fotografia como uma ferramenta de mudança social tem sido uma influência marcante na minha abordagem à arte fotográfica. Aspiro seguir os seus passos, e os dos outros fotógrafos que me inspiram, na criação de narrativas poderosas através das minhas imagens.

Durante uma experiência gratificante em Metuge, Pemba, tive a oportunidade de visitar um centro de deslocados e ouvir histórias de mulheres e crianças que enfrentaram dificuldades extremas. Foi um momento desafiador, mas persisti, movida pela esperança. Como defensora de causas sociais, sinto a responsabilidade de usar a minha voz e as minhas competências para contribuir para um mundo mais justo e igualitário.

É inegável que a fotografia em Moçambique está em crescimento, no entanto, enfrentamos ainda alguns desafios para que seja plenamente valorizada e reconhecida como uma profissão de destaque. Entre estes desafios, destacam-se a falta de oportunidades para aprendizagem e desenvolvimento na área, a carência de equipamen-

tos e recursos adequados e a predominância masculina na profissão. Felizmente, já se observam medidas sendo tomadas para valorizar a fotografia, como a promoção de eventos fotográficos e a oferta de cursos para principiantes. Desejo que estas iniciativas possam potenciar uma maior valorização da fotografia em Moçambique no futuro. Espero também que se expandam para além de Maputo, abrangendo outras províncias do país, de forma que todos os fotógrafos, independentemente da sua localização, tenham acesso a oportunidades e recursos para desenvolver as suas habilidades e impulsionar as suas carreiras.

Na exposição colectiva com o tema "Desigualdade Social", apresentei um projecto fotográfico que sublinhou as injustiças sociais e a marginalização de grupos minoritários. Pretendi sensibilizar o público para a importância de lutarmos por uma sociedade mais justa e igualitária. Acredito piamente que a fotografia tem um papel crucial na sensibilização social e sinto-me orgulhosa de contribuir para esta causa através da minha arte. Participar em exposições colectivas oferece inúmeros benefícios para o crescimento profissional de um fotógrafo, desde a oportunidade de expor o seu trabalho a um público mais vasto e receber feedback, até à possibilidade de interagir com outros profissionais do meio.

80 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023
Capturando a essência da vida através da fotografia
Fotografia: Cortesia de Jay Mena

Ai nda mais, tal experiência auxilia o fotógrafo a aperfeiçoar a sua identidade artística e a capacidade de contar histórias através das suas imagens. O retorno positivo que recebi do público acerca do meu trabalho mais recente deu-me a certeza de que devo persistir. Juntamente com as obras de outros seis fotógrafos, oferecemos ao público a oportunidade de reflectir sobre como podemos contribuir para um mundo mais justo e inclusivo.

Nos próximos cinco anos, enquanto fotógrafa, pretendo continuar a documentar histórias que tocam e são relevantes. Para tanto, manter-me-ei actualizada com as tendências e mudanças

no meu campo de actuação, investirei no aperfeiçoamento das minhas habilidades e procurarei colaborar com outros artistas e organizações sociais. Além de continuar a desenvolver o meu trabalho, pretendo explorar novos horizontes, investindo em competências adicionais, como a produção de documentários e conteúdo audiovisual. Tenciono ainda trabalhar em projectos individuais e colaborativos com outros artistas e organizações sociais. Buscarei oportunidades de exposições e publicações em revistas e jornais de renome, como a Xonguila, com o objectivo de alcançar novos públicos e garantir que o meu trabalho continue a ter um impacto significativo.”

Fotografia: Cortesia de Jay Mena
Fotografia: Cortesia de Jay Mena

Jay Mena

Using photography to capture life’s essence

Júlia Mena, the photographer better known as Jay Mena, tells us about herself:

“My passion for photography blossomed when I discovered my father’s camera. He never became a professional photographer, despite is undeniable passion for the art of photography. It was through his camera’s lens that I glimpsed a new universe and developed a deep love for the art of eternalising unique moments, storing precious memories. From that moment on, photography became an unavoidable passion, a privileged means of artistic expression that allows me to explore my creativity, capture the beauty of the world around me and document remarkable stories.

I am particularly inspired by social and humanitarian issues, especially those affecting women and children. I believe that photography can be a powerful tool to tell stories and raise awareness about these major issues. When I photograph women and children, I seek to portray their essence, the beauty within their lives, even in the face of challenges. I believe that, through photography, we can contribute to giving these people a voice, in telling their stories in an impactful and meaningful way. For me, photography is an art form that can transform the

world, and I aspire to continue using this medium to make a difference in people’s lives. Ricardo Rangel, the renowned Mozambican photographer, is a great inspiration to me. His ability to capture the essence of life in Mozambique and use photography to positively influence people’s lives is admirable. His vision of using photography as a tool for social change has been a marked influence on my approach to photographic art. I aspire to follow in his footsteps, and those of other photographers who inspire me, when creating powerful narratives through my images.

During a rewarding experience in Metuge, Pemba, I had the opportunity to visit a centre for displaced people and hear stories of women and children who faced extreme hardship. It was a personally challenging moment, but I persisted, driven by hope. As an advocate for social causes, I feel a responsibility to use my voice and skills to contribute to a more just and equal world.

It is undeniable that photography in Mozambique is growing. However, we still face some challenges for it

to be fully valued and recognized as a profession. Among these challenges are the lack of opportunities for learning and development in the area, the lack of adequate equipment and resources and the male predominance in the profession. Fortunately, some measures have been taken to elevate photography, such as the promotion of photographic events and course offerings for beginners. I hope that these initiatives can lead to valuing photography in Mozambique in the future. I also hope that they expand beyond Maputo to other provinces in the country, so that all photographers, regardless of their location, can have access to opportunities and resources to develop their skills and boost their careers.

In the group exhibition themed ‘Social Inequality’, I presented a photographic project that highlighted social injustices and the marginalisation of minority groups. I intended to raise public awareness of the importance of fighting for a fairer and more equal society. I strongly believe that photography has a crucial role in raising social awareness and I am proud to contribute to this cause through my art.

Participating in group exhibitions offers numerous benefits for a photographer’s professional growth: from the opportunity to display your work to a wider audience and receive feedback, to the possibility of interacting with other professionals of the medium. In addition, such an experience helps the photographer hone their artistic identity and ability to tell stories through

their images. The positive feedback I received from the public about my most recent work solidified my will to persist. Together with the work of six other photographers, we give the public the opportunity to reflect on how we can contribute to a more just and inclusive world.

In the next five years, as a photographer, I intend

Together with the work of six other photographers, we give the public the opportunity to reflect on how we can contribute to a more just and inclusive world.

to continue documenting stories that are touching and relevant. To this end, I will keep up to date with trends and changes in my field, invest in improving my skills and seek collaborations with other artists and social organisations. Besides continuing to develop my work, I intend to explore new horizons by investing in additional skills, such as documentary and audiovisual con-

tent production. I also intend to work on individual and collaborative projects with other artists and social organisations. I will seek out exhibition opportunities and publications in reputable magazines and newspapers, such as Xonguila, with the aim of reaching new audiences and ensuring that my work continues to have a significant impact.”

Fotografia: Cortesia de Jay Mena

Festival do Fado conquista Maputo

Três anos de música e emoção

Mariano Silva
Fotografia:

O Montebelo Indy vibrou ao som de uma das mais celebradas vozes do fado contemporâneo: a incomparável Carminho.

Fotografia: Mariano Silva

Festival do Fado conquista Maputo

Três anos de música e emoção

O reconhecido Festival do Fado encontrou novamente o seu lar em Maputo, preenchendo a cidade com as melodias singulares e o sentimento profundo que só o fado consegue transmitir. Depois da edição híbrida de 2020, que contou com a presença de Fábia Rebordão, Cuca Roseta e Sara Correia, e da primeira edição presencial em 2022, com as estrelas do fado Katia Guerreiro e Hélder Moutinho, o ano de 2023 brindou o público com um evento ainda mais impactante.

Aedição de 2023, realizada presencialmente, proporcionou momentos inesquecíveis. No dia 8 de Junho, o Montebelo Indy Maputo Congress Hotel vibrou ao som de uma das mais celebradas vozes do fado contemporâneo: a incomparável Carminho. O público teve a oportunidade única de apreciar a sua actuação intensa e emocionante, que arrebatou a plateia.

No entanto, o festival ainda reservava surpresas. No dia 10 de Junho, os amantes de música portuguesa assistiram a um sublime concerto de guitarra portuguesa com a virtuosa interpretação de André Dias. Realizado na Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa, o evento foi marcado por uma aparição surpresa da fadista Carminho, que tornou a noite ainda mais especial. Ambos os concertos foram de entrada gratuita, mas com a lotação dos espaços limitada.

Complementando os concertos, o Festival do Fado ofereceu um workshop de guitarra portuguesa, conduzido por André Dias, e uma exibição do filme “Guitarras à portuguesa”, de Ivan Dias, que ocorreu, no dia 9 de Junho, no Camões – Centro Cultural Português de Maputo. Estas actividades, inseridas na celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, pretendiam divulgar e valorizar o fado, considerado património da humanidade.

Este evento internacional, o Festival do Fado, é realizado em dezassete cidades espalhadas pelos quatro cantos do globo: Europa, África, América Latina e Ásia. A iniciativa conta com o apoio de várias entidades portuguesas, entre as quais se destacam a Presidência da República Portuguesa, a Embaixada de Portugal em Maputo, o Camões - Centro Cultural Português em Maputo e o Museu do Fado.

Os amantes de música assistiram, na Escola Portuguesa de Moçambique, a um concerto de guitarra portuguesa com a virtuosa interpretação de André Dias. A aparição surpresa de Carminho tornou a noite ainda mais especial.

O Festival do Fado ofereceu ainda um workshop de guitarra portuguesa conduzido por André Dias, uma exibição do filme “Guitarras à portuguesa”, de Ivan Dias, no Camões – Centro Cultural Português de Maputo.

Fotografia: Mariano Silva

Fado Festival dazzles Maputo

Three years of music and deep feeling

The renowned Fado Festival found its home again in Maputo, filling the city with unique melodies and the deep feeling that only fado can convey. After a hybrid edition in 2020, which featured Fábia Rebordão, Cuca Roseta and Sara Correia, and the first in-person edition in 2022, with fado stars Katia Guerreiro and Hélder Moutinho, this year presented the public with an even more impactful event.

The 2023 edition, held in person, provided unforgettable moments. On June 8, the Montebelo Indy Maputo Congress Hotel vibrated to the sound of one of the most celebrated voices of contemporary fado: the incomparable Carminho. The public had a unique opportunity to enjoy her intense and moving performance, which swept the audience away.

However, the festival still had some surprises in store. On June 10, Portuguese music lovers attended a sublime concert of Portuguese guitar featuring a virtuoso performance by André Dias. Held at the Portuguese School of Mozambique — Centre for the Portuguese Language and Learning, the event was marked by a surprise appearance by the fado singer Carminho, which made the evening even more special. Both concerts were free of charge, but

with limited capacity.

Complementing the concerts, the Fado Festival offered a Portuguese guitar workshop, conducted by André Dias, and a screening of the film ‘Guitarras à portuguesa’, by Ivan Dias, which took place on June 9 at Camões — Portuguese Cultural Centre in Maputo. These activities, which were part of the celebration of Portugal Day, were aimed at promoting and valuing Fado music, which has UNESCO World Heritage status.

The Fado Festival is an international event held in seventeen cities around the world: Europe, Africa, Latin America and Asia. The initiative is supported by several Portuguese entities, chief among them the Presidency of the Portuguese Republic, the Portuguese Embassy in Maputo, Camões —Portuguese Cultural Centre in Maputo and the Fado Museum.

The Fado Festival is an international event held in seventeen cities around the world: Europe, Africa, Latin America and Asia.
Fotografia: Mariano Silva
Fotografia: Mariano Silva

In 2011 fado was inscribed on the Representative List of the Intangible Cultural Heritage of Humanity.

BLUE ON BLUE

INGREDIENTES:

ABSOLUT ELYX – 25 ML

BLUE CURAÇAO – 5 ML

CRANBERRY JUICE – 15ML

ÁGUA DE COCO – 15ML

MIRTILOS FRESCOS

Coloque todos os ingredientes num shaker, agite vigorosamente e sirva numa taça de cocktail. Utilize mirtilos frescos para decorar. Hélder Alves (Shaker)

Fotografia: Mariano Silva

BLUE ON BLUE

INGREDIENTS:

25ml Absolut Elyx

5ml Blue Curaçao

15ml Cranberry juice

15ml Coconut water

Fresh blueberries

Place all ingredients in a shaker, shake vigorously and serve in a cocktail glass. Garnish with fresh blueberries — Hélder Alves (Shaker).

Fotografia: Mariano Silva

11ª Festa da Música

Centro Cultural Franco-Moçambicano

Fotografia: Cortesia de CCFM

Primeira Mostra de Banda Desenhada - BDPALOP Camões – Instituto da Cooperação e da Língua

Fotografia:Cortesia de Anima Estúdio Criativo

Maputo Air Show – VIVO

Avenida 10 de Novembro

Fotografia: Paulo Alexandre Fotografia: Paulo Alexandre
Fotografia: Nuno Azevedo
Pernod Ricard Responsib’All Day Boske Fotografia: Cortesia de Pernod Ricard
Keteke é um filme emocionante, com muitos momentos humorísticos, mas explorando temas profundos como o valor da família e do sentimento de pertença à comunidade.

KETEKE

Keteke, realizado por Peter Sedufia, é um filme cativante e divertido cujo enredo gira em torno das peripécias de um jovem casal que empreende uma corrida contra o tempo para alcançar um hospital em momento oportuno para o nascimento do seu primeiro filho.

A película, cuja narrativa se desenrola no Gana da década de 80, acompanha a trajectória de Boi (interpretado por Adjetey Anang) e Atswei (Lydia Forson), enquanto enfrentam o desafio de apanhar o derradeiro comboio do dia para o hospital. Quando se vêem numa situação imprevista, a avaria do comboio, a opção que lhes resta é prosseguir a jornada a pé, vencendo inúmeros obstáculos pelo caminho. Keteke é um relato emocionante, recheado

de momentos humorísticos, mas não se coíbe de explorar temas mais profundos, como o valor da família e do sentimento de pertença à comunidade.

A dimensão estética do filme é digna de realce, uma vez que ele apresenta magníficas paisagens naturais e uma vibrante banda sonora a emoldurar na perfeição a narrativa. Keteke consegue, de forma notável, reproduzir o quotidiano do Gana, captando com autenticidade a atmosfera e o estado de espírito da época. As prestações de Adjetey Anang e Lydia Forson são brilhantes, oferecendo actuações emocionalmente carregadas e persuasivas. Com naturalidade, transmitem as emoções intensas e a alegria inerentes à situação, ganhando a simpatia do público.

Keteke é um filme absorvente e agradável, capaz de marcar indelevelmente quem o vê. É uma narrativa que toca fundo o coração e a alma, proporcionando ainda momentos de riso e ligeireza. Como notável exemplar do cinema africano, Keteke merece ser apreciado por todos os cinéfilos.

KETEKE

Keteke, directed by Peter Sedufia, is a captivating and entertaining film whose plot revolves around the adventures of a young couple who race against time to reach a hospital in time for the birth of their first child.

The film’s narrative is set in 1980s Ghana and follows the trajectory of Boi (Adjetey Anang) and Atswei (Lydia Forson) as they

face the challenge of catching the last train of the day to the hospital. Faced with an unforeseen situation — the train breaks

down — the only option left to them is to continue the journey on foot, overcoming numerous obstacles along the way. Keteke is a moving story filled with humorous moments, but it doesn’t shy away from exploring deeper themes such as the value of family and the sense of belonging to a community.

The aesthetic characteristics of the film are worth highlighting, featuring magnificent natural landscapes and a vibrant soundtrack that perfectly frames the narrative. Keteke remarkably manages to reproduce everyday life in Ghana, au -

thentically capturing the atmosphere and mood of that era. Adjetey Anang and Lydia Forson’s acting is brilliant, delivering emotionally charged and persuasive performances. The actors effortlessly convey the intense emotions and joy inherent to the situation, gaining the audience’s sympathy.

Keteke is an absorbing and enjoyable film, indelibly imprinting on the viewer. It is a narrative that touches the heart and the soul, while also providing moments of laughter and levity. Keteke deserves to be appreciated by all cinephiles as a remarkable example of African cinema.

Keteke accurately portrays everyday life in Ghana in the 1980s, authentically capturing the atmosphere and the spirit of the times.

Cronicontos da Cabeça do Velho

Cronicontos da Cabeça do Velho é, literalmente, uma colecção das primeiras estórias escritas por Adelino Albano Luís, em que, com uma linguagem fácil, comum e extrovertida, conta algumas peripécias e vivências inspiradas na sua cidade natal. Portanto, o presente livro é, também, um brinde à cidade da cabeça do velho (Chimoio).

Dentro dos enredos do livro, o sobrenatural é normal; os loucos também ditam as regras (Zé Televisão); as agências funerárias provocam inimizades (A "Os anjos da terra"); o amor cumpre leis próprias (O amor de Titos); o machismo é posto em causa (A última carta a Fombe); o "Nós Matamos o CãoTinhoso", de Bernardo Honwana, tem uma relação com um certo vendedor de badjias (O vendedor de badjias e o cão tinhoso).

Cronicontos da Cabeça do Velho é, nas palavras do seu autor, um livro simpático e digno de leitura.

Cronicontos da Cabeça do Velho

(‘Chronicles from the Old Man’s Head’)

Cronicontos da Cabeça do Velho is a collection of the first short stories written by Adelino Albano Luís who, with an easy, accessible, and extroverted language, narrates some adventures and experiences inspired by his hometown of Chimoio. Therefore, this book is also a toast to the city of the Cabeça do Velho (‘Old Man’s Head’, a nearby mountain that resembles the reclining head of an old man).

The stories feature plots where the supernatural is normal; madmen also dictate the rules (Zé Televisão); funeral parlours cause enmities (Os anjos da terra); love has its own laws (O amor de Titos); machismo is challenged (A última carta a Fombe); Luís Bernardo Honwana’s book, Nós Matamos o CãoTinhoso, has a relationship with a certain seller of badjias (O vendedor de badjias e o cão tinhoso).

Cronicontos da Cabeça do Velho is, in the author’s words, a friendly book and worth reading.

Mueda – Nos labirintos dos ritosde iniciação

O escritor Carlos Paradona Rufino Roque, sem ser antropólogo, traz-nos um autêntico manual dos ritos de iniciação praticados pelos povos da província nortenha de Cabo Delgado, fustigada pela guerra terrorista há quase meia década. O epicentro do enredo é Mueda (conhecida nos anais da história do país pela saga do massacre, mas, sobretudo, como símbolo de resistência contra colonialismo), mas o seu círculo abrange povoações nacionais mediatizadas pelo terrorismo e/ou pela sua gémea “gás do Rovuma” (Palma, Macomia, Muidumbue, Mbau, Nangade, Quissanga) e povoações do lado da Tanzania, Zanzibar, Mombassa e Ilhas Comores, com quem sempre fez comércio, etc.

O romance “Mueda”, que percorre os meandros dos ritos de iniciação, tem, na literatura moçambicana, antecessores ilustres – Mia Couto, Paulina Chiziane e outros, cujo valor literário das obras está no moçambicanizar ritos locais/particulares, mas também em fazer crescer e moçambicanizar a língua portuguesa introduzindo nela ritos, sabores e falares das nossas diferentes maneiras de dar razão à existência.

Mueda – Nos labirintos dos ritos de iniciação

(‘Mueda — In the labyrinths of initiation rites’)

Albeit not an anthropologist, writer Carlos Paradona Rufino Roque brings us a veritable manual of the initiation rites practised by the people of Cabo Delgado, a northern province ravaged by a terrorist conflict that has raged for almost half a decade now. The epicentre of the plot is Mueda — known in the annals of this country’s history for the colonial-era massacre that took place there but, above all, as a symbol of resistance against colonialism — but it also encompasses other villages recently mediatised by terrorism and/or by its twin, the “Rovuma gas” project (Palma, Macomia, Muidumbue, Mbau, Nangade, Quissanga), as well as villages on the Tanzanian side such as Zanzibar, Mombasa and the Comoros Islands, with which it has traded for centuries, and others.

The novel Mueda, which goes through the stages of the initiation rites, has distinguished predecessors in Mozambican literature, namely Mia Couto, Paulina Chiziane and others, whose literary value comes from writings that not only depict the ‘mozambicanisation’ of local or particular rites, but also expand the Portuguese language by ‘mozambicanising’ it, introducing into it the rites, flavours and words that reflect the different ways in which we give meaning to existence.

Sorriso

Gostaria de ter o poder de criar um mundo. E este mundo criado por mim seria somente habitado por crianças! Uma espécie de terra do nunca, parecida com a do Peter Pan, onde as crianças nunca envelheceriam, nem morreriam. Só que melhor… Na minha terra do nunca, onde os pássaros assobiariam lindas sinfonias, não existiriam guerras, violência, fome, doenças, ódios e todas essas coisas más. Sorriso seria o nome do meu mundo, e, neste local, não existiria o preto ou o branco, somente o amigo. Um lugar de paz, onde as crianças pudessem sonhar, livres, sem perigos e com direitos iguais. Neste local, os mais ousados poderiam até mesmo voar, uma vez que a única barreira para que os sonhos se tornassem realidade era apenas a imaginação de cada um. A felicidade seria a doutrina desta terra, um recreio interminável, repleto de esperança. Sorriso ficaria a milhares de quilómetros de nós, os adultos. Exactamente no canto oposto ao nosso no universo. Num lugar longínquo, distante deste planeta que estragámos, onde a nossa maldade não conseguisse ter a mais pequena influência. O adulto, que ser abominável.

Nuno Soares

116 | Revista Xonguila © Ed. 59 • Junho - June 2023

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.