MOÇAMBIQUE Fragmentos da memória de uma nação que nascia
Ao longo de cinco décadas, Moçambique construiu a sua identidade a partir de momentos históricos carregados de coragem, sacrifício e esperança. Agora que celebramos 50 anos de Independência, revisitamos alguns factos marcantes da história do povo moçambicano na conquista e construção da sua soberania.
Os Acordos de Lusaka
Foi a 7 de Setembro de 1974, em Lusaka, na Zâmbia, que, após 10 anos de luta armada travada pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o novo governo de Portugal saído da Revolução de Abril reconheceu o direito do povo moçambicano à Independência e aceitou transferir os poderes que detinha para a FRELIMO como seu legítimo representante. Os acordos assinados também fixaram a data da Independência para 25 de Junho de 1975.
O Governo de Transição
Entre o acordo de paz com Portugal e a proclamação da Independência, Moçambique teve um governo de transição com ministros moçambicanos e portugueses, chefiado por Joaquim Alber-
to Chissano, com apenas 34 anos de idade, na qualidade de Primeiro-Ministro. Os acordos de Lusaka previram igualmente a figura de um Alto-Comissário com funções equivalentes às de Chefe de Estado, cargo que foi desempenhado pelo Almirante português Vitor Crespo.
A Viagem Triunfal de Samora Machel
Samora Machel, que liderava a luta a partir da Tanzânia — uma das bases de apoio à FRELIMO — regressou a Moçambique a 23 de Maio de 1975, entrando pela fronteira Norte. Percorreu todo o país, discursando para enormes multidões em todos os principais centros populacionais. Chegou a Lourenço Marques, a capital, hoje Maputo, 30 dias depois.
A Chama da Unidade
Enquanto Samora Machel atravessava o país, equipas de corredores — incluindo idosos e crianças — transportaram uma tocha simbólica também de Cabo Delgado até à capital. Essa Chama da Unidade, igualmente designada Chama da Revolução, foi acesa em Nangade por Raimundo Pachinuapa, Governador da Província de Cabo Delgado. Passando pelas mãos de 2.217 pessoas, percorreu 4.300 km, até ser erguida por Samora em Xai-Xai, no dia 23 de Junho.
A Proclamação da Independência
A 25 de Junho de 1975, no Estádio da Machava, em Maputo, Samora Machel declarou perante uma enorme moldura humana visivelmente emocionada: “Moçambicanas, moçambicanos, operá-
rios, camponeses, combatentes, povo moçambicano. Em vosso nome, às zero horas de hoje, o Comité Central da Frelimo proclama solenemente a Independência total e completa de Moçambique e a sua constituição em República Popular de Moçambique.” Uma explosão de palmas de alegria se ouviu. A data coincidiu simbolicamente com a fundação da FRELIMO (1962) e com o início da luta armada (1964), ligando as origens do movimento à conquista da liberdade.
Os Símbolos da Nação O primeiro hino nacional, "Viva, Viva a FRELIMO", composto por Justino Sigaulane Chemane, homenageava o movimento libertador. Manteve-se até 30 de Abril de 2002.
A primeira bandeira de Moçambique apresentava quatro triângulos diagonais nas cores verde, preto, amarelo e vermelho, separados por linhas brancas, representando, respectivamente, a riqueza da terra moçambicana, o continente africano e a identidade do povo,
os recursos minerais do país, a luta armada pela Independência, e a paz.
Profundamente simbólica, a bandeira reflectia os ideais revolucionários da época. No canto superior esquerdo, sobre fundo vermelho, figurava o emblema nacional — uma roda dentada envolvendo uma enxada (o trabalho agrícola), um livro (a educação como base do progresso), uma espingarda (a defesa e vigilância) e a estrela vermelha (a solidariedade internacional e o espírito revolucionário).
Fotografia: Fátima Ribeiro
A primeira bandeira foi oficialmente alterada em 1983. Passou a apresentar três faixas horizontais — verde no topo, preto ao centro (com bordas brancas), e amarelo na base. A roda dentada foi removida, e a espingarda, a enxada e o livro passaram a estar sobrepostos a um triângulo vermelho com uma estrela amarela de cinco pontas ao fundo. Mantiveram-se os significados simbólicos, mas a apresentação tornou-se mais moderna e institucional.
A Primeira Constituição
A Viagem Triunfal de Samora Machel foi interrompida na praia do Tofo, em Inhambane, para uma reunião histórica em que, como parte do processo de
transição de Moçambique para um estado soberano, foi estabelecida a primeira Constituição da República e decidido que Samora Machel (41 anos de idade) seria o primeiro presidente da República. A primeira Constituição vigorou até 1990, ano em que a instauração do multipartidarismo levou à aprovação de uma nova Constituição.
A Chuva de Bênçãos
Choveu no dia da Independência em pleno estádio da Machava, o que, para grande parte da população moçambicana ali presente e por todo o território, significava a bênção dos ancestrais a tão importante celebração e ao país que nascia.
A Transmissão Nacional
A Rádio Moçambique acompanhou em directo os acontecimentos, transmitindo os discursos, os cânticos, os relatos e os apelos à unidade nacional. A rádio foi o fio condutor entre a praça e o resto do país, o eco de um novo tempo que então começava.
A Lei da Nacionalidade
No alvorecer da Independência de Moçambique, entrou em vigor a Lei da Nacionalidade Moçambicana. Aprovada cinco dias antes, pelo Comité Central da Frente de Libertação de Moçambique. Coube a Samora Moisés Machel o gesto simbólico de a mandar publicar, selando o nascimento jurídico da identidade mo-
çambicana. A regulamentação dessa lei — moldura necessária para lhe dar corpo — tomaria forma num decreto aprovado a 16 de Agosto do mesmo ano pelo recém-instituído Conselho de Ministros, já em plena marcha da construção nacional.
Cinquenta anos depois, Moçambique continua a escrever a sua história com a mesma coragem que guiou os passos da conquista da liberdade. Que esta celebração da Independência seja também um momento de renovação do compromisso com o futuro — um futuro de inclusão, paz e prosperidade partilhada. É na memória dos que lutaram e no sonho dos que vivem que se ergue a nação moçambicana.
MOZAMBIQUE Fragments from the birth of a nation
Over the course of five decades, Mozambique has forged its identity through historic moments marked by courage, sacrifice, and hope. As the country celebrates 50 years of Independence, we revisit some of the defining episodes in the Mozambican people's journey to claim and build their sovereignty.
The Lusaka Accords
On 7 September 1974, in Lusaka, Zambia, following ten years of armed struggle led by the Mozambique Liberation Front (FRELIMO), Portugal's new post-Carnation Revolution government recognised the Mozambican people's right to independence and agreed to transfer power to FRELIMO as their le-
gitimate representative. The accords also set the date for independence: 25 June 1975.
The Transitional Government
Between the peace agreement with Portugal and the declaration of independence, Mozambique was governed by a transitional administration composed of both Mo-
zambican and Portuguese ministers. The government was headed by Joaquim Alberto Chissano, just 34 years old at the time, serving as Prime Minister. The Lusaka Accords also established the position of High Commissioner, with powers equivalent to those of a Head of State, a role undertaken by Portuguese Admiral Vitor Crespo.
Samora Machel’s Triumphal Journey
Samora Machel, who led the liberation struggle from Tanzania — one of FRELIMO’s key support bases — returned to Mozambique on 23 May 1975, entering through the northern border. He travelled the length of the country, addressing vast crowds in all major population centres. He arrived in the capital, then Lourenço Marques and now Maputo, 30 days later.
The Flame of Unity
As Samora Machel made his way across the country, teams of runners — including elderly citizens and children — carried a symbolic torch from Cabo Delgado to the cap-
ital. Known as the Flame of Unity, or Flame of the Revolution, it was lit in Nangade by Raimundo Pachinuapa, Governor of Cabo Delgado Province. Passed hand to hand by 2,217 people, it travelled 4,300 kilometres before being raised by Samora in Xai-Xai on 23 June.
The Proclamation of Independence
National Symbols
The first national anthem, Viva, Viva a FRELIMO, composed by Justino Sigaulane Chemane, paid homage to the liberation movement and remained in use until 30 April 2002. Mozambique’s original flag featured four diagonal triangles in green, black, yellow, and red, separated by white lines.
On 25 June 1975, at the Machava Stadium in Maputo, Samora Machel declared before an emotionally charged crowd: “Mozambican women, Mozambican men, workers, peasants, fighters, Mozambican people. In your name, at midnight today, the Central Committee of FRELIMO solemnly proclaims the total and complete independence of Mozambique and its establishment as the People’s Republic of Mozambique.” A resounding wave of applause erupted. The date symbolically echoed the founding of FRELIMO (1962) and the start of the armed struggle (1964), linking the movement’s origins to the achievement of freedom.
Fotografia: Fátima Ribeiro
These colours symbolised, respectively, the richness of the land, the African continent and national identity, the country’s mineral resources, the armed struggle for independence, and peace. Profoundly symbolic, the flag reflected the revolutionary ideals of the era. In the top left corner, on a red background, the national emblem was displayed: a cogwheel encircling a hoe (agricultural labour), a book (education as the foundation of progress), a rifle (defence and vigilance), and a red star (international solidarity and revolutionary spirit). The first flag was officially modified in 1983. It adopted a more modern and institutional design, with three horizontal stripes — green at the top, black in the centre (bordered in white), and yellow at the bottom. The cogwheel was removed, and the rifle, hoe, and book were placed over a red triangle featuring a five-pointed yellow star. While the design evolved, the symbolic meanings remained unchanged.
The First Constitution
Samora Machel’s Triumphal Journey paused on Tofo beach, in Inhambane, for a historic meeting. As part of Mozambique’s transition to sovereign statehood, the first Constitution of the Republic was established, and it was decided that Samora Machel, aged 41, would become the country’s first President. This Constitution remained in force until 1990, when the advent of multiparty democracy led to the adoption of a new Constitution.
A Shower of Blessings Rain fell on Independence Day, at Machava Stadium. For many Mozambicans present — and across the country — it was seen as a sign of ancestral blessing for the momentous occasion and the birth of the nation.
The National Broadcast Radio Mozambique broadcast the events live, carrying speeches, songs, and calls for national unity. The station served as the connective thread between the stadium and the wider nation — the voice of a new
era beginning to unfold.
The Nationality Law
At the dawn of independence, Mozambique’s Nationality Law came into effect, having been approved five days earlier by FRELIMO’s Central Committee.
Samora Moisés Machel took the symbolic step of ordering its publication, thereby formally enshrining Mozambique’s national identity. The law’s regulatory framework — essential for its implementation — took shape with a decree issued on 16 August of that year by the newly established Council of Ministers, as the country moved ahead with national reconstruction.
Fifty years on, Mozambique continues to write its story with the same courage that fuelled its liberation. Let this Independence Day also mark a renewal of the nation’s commitment to its future — a future of inclusion, peace, and shared prosperity. It is in the memory of those who fought and in the dreams of those who live that the Mozambican nation stands.
Moçambique
Fragmentos da memória de uma nação que nascia Fragments from the birth of a nation
30 Millennium bim
reafirma compromisso na cidade da Beira reaffirms commitment in the city of Beira
50 Juntos pelo ambiente
Colaboradores do BCI em acção na Costa do Sol BCI employees in action at Costa do Sol
76 Heineken, Franco e Champions
Uma noite para a história
A night to remember
Osvaldo Passirivo
O corpo que fala em silêncio
The body that speaks in silence
84 CFAO Mobility
Segurança na estrada! Road safety!
92 Favas Contadas
Boa mesa, boa gente, boa conversa Good food, good company, good conversation
100 emprego.co.mz
A dinâmica do mercado laboral moçambicano
The dynamics of mozambique’s labour market
Djodje
A voz de um Atlântico crioulo
The voice of a creole Atlantic
FICHA TÉCNICA/BIOS
Tete
Um dia na província de Tete
A day in Tete province
66
Propriedade/Property: Veludo & Mentol, Sociedade Unipessoal Lda • Conselho de Administração/Administrative Council: Omar Diogo, Nuno Soares • Director: Nuno Soares • Gestão de Conteúdos Editoriais/Editorial Content Management: Nuno Soares, Fátima Ribeiro, Omar Diogo • Copy-desk (português): Fátima Ribeiro • Colunistas/Writers: Dércio Parker, Sany Weng, Emilia Gimo • Tradução (Português-Inglês)/Translation (Portuguese-English): Pedro Sargaço • Fotografia/Photography: Helton Perengue • Design de Capa/Cover Design: Nuno Azevedo • Grafismo/Visuals: Omar Diogo • Infografia e Paginação/ Infographics and Pagination: Omar Diogo • Produtores Audiovisuais/Audiovisual Producers: Omar Diogo, Nuno Lopes, Ana Piedade • Gestão de Redes Sociais/ Social Media Management: Nuno Soares • Conteúdos de Marketing e Comunicação/ Marketing and Communication Contents: Omar Diogo, Nuno Azevedo • Gestão de Homepage e Edição Online/Homepage Management and Online Editing: Omar Diogo, Jorge Oliveira • Departamento Comercial/ Commercial Department: Nuno Soares - comercial@xonguila.co.mz • Impressão/Printing: Txelene LDA • Distribuição/ Distribution: Flotsam Moçambique, Lda • ISSN: ISSN-0261-661 • Registo/Register: 02/Gabinfo-dec/2018 • Registo de Propriedade Industrial/Industrial Property Registration: 35065/2017 - 35066/2017 (15/01/2018)
Os artigos com assinatura reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, requer a autorização expressa da empresa titular da revista.
The articles reflect the authors opinion, and not necessarily the magazine opinion. All transcript or reproduction, partial or total, requires the authorization of the company that owns the magazine 38
Do Director / From the Director
Há datas que marcam uma nação para sempre. A 25 de Junho de 1975, Moçambique conquistava a sua independência. Cinquenta anos depois, celebramos essa vitória com orgulho e renovada esperança.
Nesta edição especial, trazemos fragmentos da memória de uma nação que nascia, entre muitos outros conteúdos. Entrevistámos Osvaldo Passirivo, coreógrafo e professor que tem levado o nome do país aos palcos do mundo, e conversámos com Djodje, cantor cabo-verdiano com fortes laços com Moçambique, que nos fala da sua personalidade musical, do que o move, dos bastidores da Broda Music…
Visitámos o restaurante Favas Contadas, onde se serve mais do que comida, servem-se memórias. Recordamos ainda a noite mágica da final da Liga dos Campeões no CCFM, realizada com apoio da Heineken, num ambiente que juntou futebol, cultura e festa.
E há mais: o Millennium bim reafirma o compromisso com a Beira, damos dicas financeiras falamos da bijuteria artesanal da marca Calia, e viajamos com Miguel Peral pela província de Tete. E ainda mais poderá o leitor descobrir nas páginas desta edição.
Boa leitura — e feliz mês da Independência!
There are dates that mark a nation forever. On 25 June 1975, Mozambique gained its independence. Fifty years later, we celebrate that victory with pride and renewed hope.
In this special edition, we bring fragments of the memory of a nation being born, among many other features. We interviewed Osvaldo Passirivo, choreographer and teacher who has taken the name of the country to stages around the world, and we spoke with Djodje, a Cape Verdean singer with strong ties to Mozambique, who tells us about his musical personality, what drives him, and the behind-the-scenes of Broda Music…
We visited the restaurant Favas Contadas, where more than food is served – memories are served. We also recall the magical night of the Champions League final at CCFM, held with the support of Heineken, in an atmosphere that brought together football, culture, and celebration.
And there’s more: Millennium bim reaffirms its commitment to Beira, we give financial tips, talk about the artisanal jewellery of the Calia brand, and travel with Miguel Peral through the province of Tete. And even more awaits the reader in the pages of this edition.
Happy reading – and happy Independence Month!
Nuno Soares Director
O corpo que fala em silêncio: Osvaldo Passirivo e a dança como território
O meu corpo é o meu templo sagrado de partilha e recepção desta fé ancestral, tradicional, clássica, moderna e futurista.
O corpo que fala em silêncio: Osvaldo Passirivo e a dança como território
Há artistas que criam para entreter. Outros, para questionar. Osvaldo Passirivo dança como quem escava memórias e levanta poeiras antigas, com gestos que desafiam o tempo e o ruído. Coreógrafo, intérprete e professor, Passirivo tem levado Moçambique aos palcos do mundo — mas nunca deixou que o corpo se desligasse da terra que o formou. Das ruas de Maputo às salas de espectáculo de Bruxelas e Lisboa, o seu percurso artístico é feito de inquietações: sobre o que somos, sobre o que carregamos, sobre o que escondemos. Nesta conversa com a Xonguila, ele revela-se não apenas como artista, mas como guardião de gestos ancestrais, condutor de afectos e tradutor de silêncios.
A dança levou-te de Maputo a palcos internacionais, mas também te trouxe de volta às raízes. Se te pedisse para descrever o ponto de partida invisível de cada nova criação tua — o momento antes do primeiro passo — o que encontraria?
Antes do primeiro passo, há sempre um silêncio-turbilhão — ressonâncias do meu trajecto artístico. Não é vazio, é um lugar cheio de fantasmas, memórias, vozes dos meus ancestrais, do batuque ao longe, do corpo a acordar para uma dor ou uma alegria antiga. É ali que tudo começa. Invisível, sim, mas presente.
Quando crias uma coreografia, procuras contar uma história, lançar uma pergunta ao público, ou provocar uma emoção? Preferes que o público compreenda ou sinta o que está a acontecer em cena?
Crio para perguntar, mas já coreografei ou fiz direcção de movimento para criações que contam histórias, pois cada colaboração é ímpar. Cada gesto meu carrega uma dúvida, uma inquietação, mas, por vezes, pergunto-me se tudo tem de ser perguntado e/ou respondido. "Não" me interessa oferecer respostas — prefiro abrir fendas e deixar reticên-
cias. Se alguém sair do espectáculo sem certezas, mas com o corpo mexido por dentro, então dançámos juntos. Prefiro que sintam. A compreensão é um luxo e subjectiva; o sentir é urgência.
Se o corpo do outro vibra com o meu, já estamos a dialogar — próximos ou distantes.
Que silêncios de Moçambique procuras traduzir em movimento?
Os silêncios do meu país falam alto, mas muito alto. O silêncio dos que se foram sem dizer adeus, pois deixam um silêncio vazio para os que ficam, o das mulheres que carregam o Independência desde sempre, o das ruas que dançam mesmo sem música — pois as ruas, avenidas, etc. do meu Moçambique dançam as histórias nelas vividas. Tento traduzi-los sem traí-los.
E se a cidade de Maputo fosse um corpo em movimento, como seria a sua dança?
Maputo dança com a anca solta, mas com o peito apertado. É um corpo quente, pulsante, mas também cansado de carregar promessas. A sua dança é feita de improviso, de ter de se adaptar às situações existentes, pois a dança (arte) é mediocrizada por quem a devia
Os silêncios do meu país falam alto, mas muito alto — o silêncio dos que se foram sem dizer adeus, o das mulheres que carregam o Independência, o das ruas que dançam mesmo sem música.
apoiar. Mas, como somos resilientes, fazemos história (pandzamos). Só para reflectirmos: a dança, desde o jardim-de-infância até à fase adulta e profissional, mesmo assim, vê o reconhecimento demorar a chegar.
Já houve algum momento em palco que te tenha feito repensar a tua relação com a dança? Sim, houve um momento. Estava em residência criativa do espectáculo SMILE IF YOU CAN, do Horácio Macuácua, em Maputo. De repente, senti que dançava parado no mesmo espaço, com um buquê de rosas, e percebi que a dança não consiste só em mover-se — o estar estático num espaço performático já nos leva a um lugar que começa estático e termina dinâmico, ou de outras formas. A partir daí, a dança passou a ser algo mais aberto... Mas importa referir que, a cada criação, permito que o corpo, a mente e a minha espiritualidade se coloquem em questionamento deste corpo global...
Que gesto teu em cena achas que mais se aproxima de uma oração?
O meu corpo é o meu templo sagrado de partilha e recepção desta fé ancestral, tradicional, clássica, moderna e futurista. Quando me ajoelho, deito, rolo, caminho num chão performático — é ao chão que o corpo fala com algo maior do que ele. Esse gesto é reza, é entrega, é gratidão, é bênção e é fé.
Qual foi o momento mais cru e honesto da tua carreira artística?
Foi quando fazia danças urbanas, no Grupo Makinistas. Na escola primária — foi de lá que saíram os primeiros contratos, mas, ao mesmo tempo, foi a fase "crua" do Osvaldo Passirivo. Depois, veio a transição para a dança contemporânea, vinda das danças tradicionais. Ali não havia truque nem filtro. Só verdade.
Como lidas com a tradição e a inovação sem que uma apague a outra?
A tradição não é um museu — é uma correnteza. Ou seja, tem épocas de alta e de baixa, mas está
sempre lá: a minha essência. Inovo com os pés dentro do terreiro, com respeito, mas sem medo, pois não há futuro sem raiz, e não há raiz que não queira crescer.
O que é que o teu corpo ainda não conseguiu dizer, mas insiste em tentar?
Dores que o corpo ainda não sabe dizer com o movimento, mas acabo por partilhar essa reflexão com outros corpos — e acaba por ser uma forma de ver essas minhas dores em outros corpos que podem ser iguais e distintas. Talvez também porque doem demais. Mas vou tentando — a cada ensaio, a cada espasmo, tento. O corpo é insistente, como a exteriorização dessa dor.
Fala-nos sobre o teu projecto actual. O que representa ele para ti, tanto no aspecto artístico quanto no pessoal?
Estou a trabalhar num solo chamado WHY. É uma performance de dança contemporânea que explora as complexidades e nuances das questões existenciais humanas.
A peça mergulha nas profundezas da mente, questionando o propósito da vida, a natureza da escolha, a busca pela identidade e a luta contra a incerteza. Mas é também a busca por algumas respostas pessoais — sou pai e tenho um campeão: um filho especial. Ao mesmo tempo, tento entender quem é realmente especial: eu, por saber lidar com ele, ou ele, por aceitar-me e confiar em mim (família)? Cada indivíduo pode ter uma interpretação única do que dá sentido à sua vida — e essa busca pode evoluir ao longo do tempo. O importante é que cada pessoa encontre o que ressoa com
as suas próprias experiências e valores.
Guardas alguma imagem da tua infância que ainda hoje te faça mover em palco?
A imagem da minha mãe, do meu pai e da minha irmã a dançarem sempre em casa — o meu pai, descamisado, como gostava de estar, o que acabou por se tornar uma marca em todos nós. Agora, com o meu filho, também ficamos assim. E, como é algo cultural ou tradicional, nas danças tradicionais estamos sempre descamisados e sempre com um sorriso contagiante... A minha família — de sangue e das artes — é, por si só, muito feliz, apesar das adversidades da vida.
O que te emociona mais: uma plateia em silêncio absoluto ou uma que reage intensamente?
O silêncio absoluto arrepia — é conexão mútua, ou seja, é quando o público respira comigo. Mas confesso que também adoro o outro lado, quando alguém grita “eish!” no meio da dança, dependendo do contexto em que nos encontramos. E, particularmente, quando é Moçambique a responder — pois dançar em casa é uma dádiva, é a realização de um sonho sempre que subo ao palco em Moçambique.
Se tivesses de imaginar o corpo moçambicano do futuro — aquele que dançará daqui a 50 anos — e deixasses um último movimento como legado, o que veríamos nessa dança?
Imagino um corpo híbrido: ancestral e electrónico, pois o moçambicano consegue adaptar-se facilmente — não só ao nível da dança, mas também noutras áreas. Vejo um corpo que dança com os algoritmos, mas que ainda sabe o cheiro da terra molhada. Um corpo que não esqueceu o xitsuketa... E se tivesse de sair de cena hoje, o último movimento seria simples: uma mão estendida, a abrir e a fechar devagar. Como quem diz: ainda há mais, mas agora é convosco — é passagem de testemunho.
Vejo um corpo que dança com os algoritmos, mas que ainda sabe o cheiro da terra molhada. Um corpo que não esqueceu o xitsuketa...
The body that speaks in silence: Osvaldo Passirivo and dance as a territory
There are artists who create to entertain. Others, to provoke thought. Osvaldo Passirivo dances as though he is excavating memories and stirring up ancient dust, with gestures that challenge time and noise. Choreographer, performer and teacher, Passirivo has brought Mozambique to stages around the world — yet he has never let his body disconnect from the land that shaped him. From the streets of Maputo to the theatres of Brussels and Lisbon, his artistic journey is driven by restlessness: about who we are, what we carry, what we hide. In this conversation with Xonguila, he reveals himself not just as an artist, but as a guardian of ancestral gestures, a conduit of affection, and a translator of silences.
Dance has taken you from Maputo to international stages, but has also brought you back to your roots. If I asked you to describe the invisible starting point of each new creation — the moment before the first step — what would I find?
Before the first step, there is always a silence-whirlwind — resonances of my artistic path. It’s not emptiness; it’s a place full of ghosts, memories, voices of my ancestors, distant drumming, the body awakening to an old pain or joy. That’s where it all begins. Invisible, yes, but present.
When you create a choreography, do you aim to tell a story, pose a question to the audience, or provoke an emotion? Do you prefer the audience to understand or to feel what’s happening on stage?
I create to ask, but I’ve also choreographed or directed movement for works that tell stories, because each collaboration is unique. Each of my gestures carries a doubt, a restlessness, but sometimes I wonder if
everything needs to be asked and/or answered. I’m not interested in offering answers — I’d rather open cracks and leave ellipses. If someone leaves the show without certainties but internally moved, then we’ve danced together.
I prefer them to feel. Understanding is a luxury and subjective; feeling is an urgency. If the other person’s body resonates with mine, we’re already in dialogue — whether near or far.
What silences of Mozambique are you trying to translate into movement?
The silences of my country speak loudly, very loudly. The silence of those who left without saying goodbye, leaving an empty silence for those who remain; the silence of women who have carried the world without complaint since forever; the silence of stre ets that dance even without music — because the streets, avenues, etc. of my Mozambique dance the stories lived upon them. I try to translate them without betraying them.
And if the city of Maputo were a body in motion, what would its dance be like?
Maputo dances with loose hips, but with a tight chest. It’s a warm, pulsating body, but also tired of carrying promises. Its dance is made of improvisation, of having to adapt to current circumstances, because dance (art) is diminished by those who should be supporting it. But, as we are resilient, we make history (we "pandza"). Just to reflect: from nursery school to adulthood and the professional stage, dance still waits for recognition to arrive.
Was there ever a moment on stage that made you reconsider your relationship with dance?
Yes, there was a moment. I was in the creative residency for the show SMILE IF YOU CAN, by Horácio Macuácua, in Maputo. Suddenly, I felt like I was dancing while standing still in one spot, holding a bouquet of roses, and I realised that dance is not just about movement — being static in a performative space already takes us somewhere that starts static and ends dynamic, or in other forms. From that point, dance became something more open... But it’s important to say that with each creation, I allow my body, mind and spirituality to question this global body...
Which of your gestures on stage do you think comes closest to a prayer?
My body is my sacred temple for sharing and receiving this ancestral, traditional, classical, modern and futuristic faith. When I kneel, lie down, roll, walk on a performative floor — it’s to the ground that the body speaks to something greater than itself. That gesture is prayer, surrender, gratitude, blessing and faith.
What has been the rawest and most honest moment of your artistic career?
It was when I did urban dances, in the group Makinistas. In primary school — that’s where the first contracts came from, but it was also the “raw” phase of Osvaldo Passirivo. Then came the transition to contemporary dance, emerging from traditional dances. There were no tricks or filters there. Just truth.
How do you deal with tradition and innovation without one erasing the other?
Tradition is not a museum — it’s a current. That is, it has high and low tides, but it’s always there: my essence. I innovate with my feet grounded in the terreiro, with respect but without fear, because there is no future without roots, and no root that doesn’t want to grow.
What has your body not yet managed to say, but keeps trying?
Pains that the body still doesn’t know how to express through movement, but I end up sharing that reflection with other bodies — and it ends up being a way of seeing those pains of mine in other bodies that may be alike and different. Maybe also because they hurt too much. But I keep trying — with each rehearsal, each spasm, I try. The body is persistent, like the externalisation of that pain.
Tell us about your current project. What does it represent to you, both artistically and personally?
I’m working on a solo called WHY. It’s a contemporary dance performance that explores the complexities and nuances of human existential questions. The piece delves into the depths of the mind, questioning the purpose of life, the nature of choice, the search for identity and the struggle against uncertainty. But it’s also a search for some personal answers — I’m a father and I have a champion: a special son. At the same time, I try to understand who is really special: me, for knowing how to care for him, or him, for accepting and trusting me (as family)? Each individual may have a unique interpretation of what gives their life meaning — and that search can evolve over time. The important thing is that each person finds what resonates with their own experiences and values.
Do you carry any image from your childhood that still moves you on stage today?
The image of my mother, father and sister always dancing at home — my father, shirtless, as he liked to be, which ended up becoming a trademark for all of us. Now, with my son, we also do the same. And, as it’s something cultural or traditional, in traditional
“Maputo dances with loose hips, but with a tight chest — a warm, pulsating body, tired of carrying promises.”
dances we are always shirtless and always with a contagious smile... My family — of blood and of the arts — is, in itself, very joyful, despite life’s adversities.
What moves you more: an audience in absolute silence or one that reacts intensely?
Absolute silence gives me goosebumps — it’s mutual connection, when the audience breathes with me. But I must admit I also love the other side, when someone shouts “eish!” in the middle of a dance, depending on the context. And, particularly, when it’s Mozambique responding — because dancing at home is a gift, it’s the fulfilment of a dream every time I step onto a stage in Mozambique.
If you had to imagine the Mozambican body of the future — the one that will dance fifty years from now — and leave a final movement as your legacy, what would we see in that dance?
I imagine a hybrid body: ancestral and electronic, because the Mozambican can adapt easily — not only in dance but in other areas too. I see a body that dances with algorithms, but still knows the smell of wet earth. A body that hasn’t forgotten the xitsuketa... And if I had to exit the stage today, the final movement would be simple: an outstretched hand, opening and closing slowly. As if to say: there’s more, but now it’s up to you — it’s a passing of the torch.
Fotografia: Mariano Silva
Millennium bim reafirma compromisso com a cidade da Beira
Millennium bim reafirma compromisso com a cidade da Beira
O Presidente da Comissão Executiva (PCE) do Millennium bim, Rui Pedro, apresentou-se oficialmente ao empresariado e aos Clientes da cidade da Beira, num encontro que assinala uma nova fase de proximidade e colaboração entre o Banco e o sector privado moçambicano. Esta iniciativa dá continuidade ao encontro anteriormente realizado em Maputo e insere-se numa estratégia mais ampla de aproximação da equipa de gestão do Millennium bim aos seus principais Clientes, em diferentes regiões do país.
Oevento contou com a presença de mais 3 membros da Comissão Executiva, incluindo o mais recente Administrador Executivo, Januário Valente, responsável pelo segmento de Corporate e Banca de Investimento, bem como Ana Torres, responsável pelo segmento de Retalho e Marketing, e Liliana Catoja, que responde pela área de crédito e suporte.
Na ocasião, Rui Pedro destacou a importância da Beira como símbolo de resiliência e visão estratégica para o desenvolvimento do país. “Além de ser a terceira maior cidade de Moçambique, a Beira é um lugar de resiliência e reinvenção, um ponto de partida e de chegada, com um porto que liga Moçambique ao mundo e um tecido empresarial que pulsa com ambição", referiu.
Durante a sua intervenção, Rui Pedro reforçou o papel do Millennium bim como parceiro estratégico das empresas moçambicanas, oferecendo soluções financeiras adaptadas às suas necessidades: "Queremos que contem connosco como verdadeiros parceiros. Parceiros
que compreendem o vosso negócio. Que oferecem financiamento ajustado, gestão eficiente de tesouraria e plataformas digitais à altura da vossa ambição.”
Num ano em que o Millennium bim celebra o seu 30.º aniversário, Rui Pedro sublinhou o compromisso contínuo com o desenvolvimento sustentável: "Estamos aqui para apoiar projectos empresariais que criam impacto real e geram valor duradouro para o país.”
"O Millennium bim é um Banco feito de relações duradouras, pautado pela confiança e pelo compromisso com o desenvolvimento económico de Moçambique," concluiu Rui Pedro, lançando um desafio ao empresariado local: “Desafiem-nos! Queremos ouvir-vos, compreender melhor as vossas necessidades e criar soluções que impulsionem o vosso sucesso.”
Com esta apresentação, o Millennium bim reforça a sua posição como parceiro estratégico do sector privado moçambicano, comprometido com a inovação, sustentabilidade e crescimento económico do país.
Fotografia: Cortesia de Millennium bim
“Estamos aqui para apoiar projectos empresariais que criam impacto real e geram valor duradouro para o país.”
Rui Pedro - Presidente da Comissão Executiva (PCE) do Millennium bim
“A Beira é um lugar de resiliência e reinvenção, um ponto de partida e de chegada, com um porto que liga Moçambique ao mundo e um tecido empresarial que pulsa com ambição”
Rui Pedro - Presidente da Comissão Executiva (PCE) do Millennium bim
Fotografia: Cortesia de Millennium bim
Millennium bim reaffirms commitment to the city of Beira
The Chief Executive Officer (CEO) of Millennium bim, Rui Pedro, officially introduced himself to the business community and clients in the city of Beira, during an event that marks a new phase of proximity and collaboration between the bank and Mozambique’s private sector. This initiative follows a similar event previously held in Maputo and forms part of a broader strategy aimed at bringing Millennium bim’s management team closer to its key clients across different regions of the country.
The event was attended by three other members of the Executive Committee, including the newly appointed Executive Director, Januário Valente, who is responsible for Corporate and Investment Banking, as well as Ana Torres, in charge of Retail and Marketing, and Liliana Catoja, who oversees credit and support services.
On the occasion, Rui Pedro highlighted Beira’s importance as a symbol of resilience and strategic vision for the country’s development. “Besides being the third-largest city in Mozambique, Beira stands for resilience and reinvention — a point of departure and arrival, with a port that connects Mozambique to the world and a business fabric driven by ambition,” he stated.
In his speech, Rui Pedro emphasised Millennium bim’s role as a strategic partner for Mozambican businesses, providing financial solutions tailored to their needs: “We want you to count on us as true partners. Partners who understand your business. Who provide
appropriate financing, efficient treasury management, and digital platforms that match your ambition.”
In a year when Millennium bim celebrates its 30th anniversary, Rui Pedro reaffirmed the bank’s ongoing commitment to sustainable development: “We are here to support business projects that make a real impact and generate lasting value for the country.”
“Millennium bim is a bank built on long-standing relationships, guided by trust and a commitment to Mozambique’s economic development,” Rui Pedro concluded, issuing a challenge to the local business community: “Challenge us! We want to hear from you, better understand your needs, and create solutions that drive your success.”
Through this presentation, Millennium bim strengthens its position as a strategic partner of Mozambique’s private sector, committed to innovation, sustainability, and the country’s economic growth.
Djodje
A voz de um Atlântico crioulo
Djodje não canta apenas canções — canta pedaços de si, com o ritmo de Cabo Verde e a alma de um
Atlântico crioulo.
Fotografia: Cortesia de Djodje
Djodje
A voz de um Atlântico crioulo
É mais do que uma voz. É uma ponte. Entre gerações, entre continentes, entre o que é dito e o que ainda está por cantar. Aos 36 anos, Djodje carrega nas suas melodias o ritmo de Cabo Verde e o pulso de uma diáspora que dança sem pedir licença. Compositor, intérprete e produtor, é um nome que se fez ouvir sem ruído — com elegância, consistência e autenticidade. Nesta conversa com a Xonguila, recuamos à infância, mergulhamos nos bastidores da sua editora, Broda Music, questionamos os limites da fama e da arte, e celebramos a ligação afectiva com Moçambique. Aqui, Djodje não responde como estrela — mas como homem, criador e irmão de uma cultura que se escreve em crioulo, batuque e memória.
Mininu di Oru” não nasce só do talento — nasce também da luta. Olhando agora para os teus trabalhos mais recentes, como o EP Elements ou músicas como “Tentason” e “Nu Ka Gosta Poku”, sentes que essas feridas ainda cantam contigo?
Ou estás a viver uma fase mais leve, mais entregue ao prazer e ao amor, sem esquecer o que te formou?
Em todas as músicas que faço, toda a minha história está comigo. Então, se uma música é mais festiva ou mais triste, por assim dizer, são momentos e são partes de mim. Então, “Tentason”, ou “Nu Ka Gosta Poku”, ou o álbum “Mininu di Oru”, são, são partes de mim e são, são pedaços da minha história. Porque, para mim, o essencial é, em cada música, ter sempre a verdade — a verdade sobre o momento, sobre quem é o artista Djodje — e isso é o que eu tenho de transpor para a minha música.
Há algum som na tua infância que, mesmo hoje, ecoa na tua música?
Com certeza, o som que ecoa em mim até hoje são as festas de quintal, onde os meus tios, a minha família, juntava-se para tocar
e cantar — o que nós chamamos, em Cabo Verde, de tocatinas.
E haverá alguma coisa que não tenhas cantado, por medo, respeito ou porque ainda não estavas pronto?
Se ainda não cantei algo, é porque não senti que fosse tempo, não por medo. Tudo o que eu canto é porque sinto. Então, se ainda não cantei alguma coisa, é porque, se calhar, ainda não chegou o momento.
Num mundo saturado de artistas “virais”, como é que o Djodje se mantém autêntico? E o que é que nunca permitirias que mudassem em ti?
O meu segredo, entre aspas, para a autenticidade — e até é um bocado redundante — é manter-me fiel à minha essência, ou seja, é ser autêntico mesmo. Então, esse é que é o maior segredo. E eu não digo que não há nada que não permitisse que mudasse em mim, porque nós estamos em constantes mudanças, né? Mas, com certeza, não permitiria que retirassem a minha essência. Isso, não.
Fotografia: Cortesia de Djodje
Nos bastidores da tua carreira, há decisões que nem sempre são visíveis. Já houve alguma colaboração que te tenha ensinado mais do que esperavas, mesmo que tenha sido difícil?
As colaborações são sempre momentos de muito aprendizado. Portanto, há, sim, momentos em que as coisas não têm corrido tão bem, mas foi um aprendizado. E, quando corre muito bem, também é um aprendizado. Portanto, acho que é por isso que eu gosto muito de fazer colaborações.
Fundaste a Broda Music. Já pensaste em parar de cantar para seres apenas produtor e mentor? O que é que mais te apaixona: o palco ou os bastidores?
Eu gosto igualmente do palco e dos bastidores. Portanto, o trabalho de produtor e de mentor é algo que eu gosto de fazer, mas não penso em deixar de cantar para fazer só isso — e vice-versa. Acho que as duas coisas podem andar de mãos dadas, e é o que tem acontecido até hoje.
E sentes haver alguma parte do teu percurso que o público ainda não tenha compreendido bem?
A parte do meu percurso que eu acho que o público ainda não entendeu muito bem, se calhar, é a fase “Mininu di Oru”. Mas tenho a certeza de que essa fase, ao longo da minha carreira, irá ser muito, muito mais valorizada e compreendida. Sim.
Kriol Kings é um movimento ou um momento? Há espaço para uma nova geração dentro desse conceito?
Kriol Kings é, com certeza, um movimento. Kriol Kings é — é o encontro de dois artistas já com uma carreira consolidada e que querem deixar um legado para as novas gerações. E, com certeza,
há espaço para a nova geração. Tanto é que, nos concertos que fazemos como Kriol Kings, e que já fizemos, há sempre espaço tanto para artistas já mais consagrados como para artistas da nova geração. Portanto, é, sim, um movimento.
Tens uma playlist secreta que ninguém esperaria de ti? O que há nela? Não tenho nenhuma playlist secreta, mas, com certeza, seria muito surpreendente ouvirem a minha playlist (risos), porque é uma playlist muito eclética — que tem desde música tradicional cabo-verdiana, a hip-hop, R&B, kizomba, a música dos PALOP, música brasileira como a de Djavan, Sting... Portanto, é uma playlist muito eclética, e acho que isso também ajuda muito naquilo que é a minha criação musical.
Já nos habituaste a álbuns com identidade forte e evoluções marcantes. O que é que podes já revelar sobre o que vem aí? Títulos, colaborações, géneros, novas línguas… o que podemos esperar, ou não esperar de todo?
Neste momento, estou a preparar músicas novas. Com certeza, este ano vou ter vários lançamentos, e quero focar-me mesmo nisso, em ter vários conteúdos, lançar música nova, lançar formatos novos, fazer concertos. Estou numa fase em que sinto que quero dar mais ao público, em termos do que é o meu conteúdo artístico. É essencialmente isso.
Se a tua carreira acabasse amanhã, que legado pessoal querias garantir que ficava para Cabo Verde e para o mundo lusófono?
O maior legado que eu acho que deixo para Cabo Verde e para o mundo lusófono é que, com certeza, os sonhos se realizam com trabalho, com foco, com determinação. Qualquer sonho se pode
realizar, e esse eu acho que é o maior legado que eu acabo por deixar e por representar.
Como vês o futuro da música lusófona? Sinceramente, eu estou esperançoso com o percurso da música lusófona. Acho que temos ainda muito para conquistar, de uma forma geral, e o que eu espero e desejo é que haja mais colaborações entre artistas da lusofonia, dos PALOP, né? E acho que isso vai fazer com que a nossa música chegue a pontos muito, muito, muito mais distantes, e que consigamos também explorar o potencial que tem a música dos PALOP, a música lusófona.
Já pisaste palcos moçambicanos e sentiste o calor de um povo que dança com alma. O que é que Moçambique representa para ti enquanto artista, e que mensagem gostarias de deixar a quem te ouve por cá — não só como cantor, mas como irmão de uma cultura que também é tua?
Desde muito cedo na minha carreira, mesmo antes de ir para Moçambique, sempre senti um amor muito forte do povo de Moçambique. Quando consegui ir lá actuar pela primeira vez, esse amor fez-se sentir também, e é recíproco. E Moçambique tem sido, cada vez mais, um país com muito significado na minha vida, não só a nível profissional, como também pessoal. Tenho amigos e irmãos, digamos assim, moçambicanos, e quero estar mais próximo da cultura moçambicana, quero estar mais próximo de Moçambique. Adoro Moçambique — é um dos países preferidos da minha família. O meu filho também adora. Portanto, quero agradecer a Moçambique pelo carinho, pelo amor, e saibam que, aqui, também têm um artista que ama muito Moçambique e quer estar mais próximo.
Desde muito cedo na minha carreira, sempre senti um amor muito forte do povo de Moçambique. Quando consegui ir lá actuar pela primeira vez, esse amor fez-se sentir também, e é recíproco.
Djodje
The voice of a creole Atlantic
It’s more than a voice. It’s a bridge. Between generations, between continents, between what is spoken and what is yet to be sung. At 36, Djodje carries in his melodies the rhythm of Cape Verde and the pulse of a diaspora that dances without asking permission. Composer, performer, and producer, he is a name that made itself heard without noise — with elegance, consistency, and authenticity. In this conversation with Xonguila, we go back to his childhood, dive into the backstage of his label, Broda Music, question the boundaries of fame and art, and celebrate his emotional connection with Mozambique. Here, Djodje doesn’t respond as a star — but as a man, a creator, and a brother to a culture written in Creole, batuque, and memory.
“Mininu di Oru” wasn’t born only from talent — it also came from struggle. Looking now at your most recent works, such as the EP Elements or songs like “Tentason” and “Nu Ka Gosta Poku”, do you feel those wounds still sing with you? Or are you living a lighter phase now, more given to pleasure and love, without forgetting what shaped you? In all the songs I make, my entire story is with me. So, whether a song is more festive or more melancholic, so to speak, they are moments and parts of me. So, “Tentason”, “Nu Ka Gosta Poku”, or the album Mininu di Oru, are parts of me and pieces of my story. Because, for me, the essential thing is to always have truth in each song — the truth of the moment, of who the artist Djodje is — and that’s what I have to put into my music.
Is there a sound from your childhood that still echoes in your music today? Certainly, the sound that still echoes in me today are the backyard parties, where my uncles, my family, would get together
to play and sing — what we call tocatinas in Cape Verde.
And is there anything you’ve never sung about — out of fear, respect, or simply because you weren’t ready yet?
If I haven’t sung about something, it’s because I didn’t feel it was time, not out of fear. Everything I sing is because I feel it. So, if I haven’t sung something yet, it’s because maybe the moment hasn’t come.
In a world saturated with “viral” artists, how does Djodje stay authentic? And what is something you would never allow to be changed in you?
My secret, in quotes, for authenticity — and it’s almost a bit redundant — is staying true to my essence, that is, being authentic. That is the greatest secret. And I wouldn’t say there’s absolutely nothing I wouldn’t allow to change in me, because we’re constantly changing, right? But, certainly, I wouldn’t allow my essence to be taken away. That, never.
Behind the scenes of your career, there are decisions that aren’t always visible. Has there ever been a collaboration that taught you more than you expected, even if it was difficult? Collaborations are always moments of great learning. So yes, there have been times when things didn’t go so well, but they were learning moments. And when it goes very well, it’s also a learning moment. That’s why I really enjoy doing collaborations.
You founded Broda Music. Have you ever thought about stopping singing to focus solely on producing and mentoring? What do you love more: the stage or the backstage? I like both the stage and the backstage equally. So, the work of producer and mentor is something I enjoy doing, but I don’t think about stopping singing to do only that — and vice versa. I think both things can go hand in hand, and that’s what has happened until now.
Fotografia: Cortesia de Djodje
Do you feel there’s a part of your journey the public still doesn’t fully understand?
The part of my journey that I think the public hasn’t quite grasped yet is probably the Mininu di Oru phase. But I’m sure that phase, over the course of my career, will be much more valued and understood. Yes.
Is Kriol Kings a movement or a moment? Is there room for a new generation within that concept?
Kriol Kings is definitely a movement. Kriol Kings is — it’s the meeting of two artists who already have established careers and who want to leave a legacy for the new generations. And yes, there is room for the new generation. In the concerts we’ve done as Kriol Kings, there’s always space for both established artists and those from the newer generation. So yes, it’s a movement.
Do you have a secret playlist no one would expect from you? What’s in it?
I don’t have a secret playlist, but it would definitely be very surprising to hear my playlist (laughs), because it’s a very eclectic mix — from traditional Cape Verdean music, to hip-hop, R&B, kizomba, music from the PALOP, Brazilian music like Djavan, Sting... So it’s very eclectic, and I think that also greatly influences my musical creativity.
We’re used to albums with strong identity and clear evolution from you. What can you reveal about what’s coming next? Titles, collaborations, genres, new languages... what can we expect, or not expect at all?
At the moment, I’m preparing new songs. Definitely, this year I’ll have several releases, and I really want to focus on that — on having lots of content, releasing new music, new formats, doing concerts. I’m at a stage where I feel I want to give more to the public in terms of my artistic content. That’s essentially it.
If your career ended tomorrow, what personal legacy would you want to leave for Cape Verde and the Lusophone world?
The greatest legacy I think I leave for Cape Verde and the Lusophone world is that dreams do come true with work, focus, and determination. Any dream can come true, and I believe that’s the greatest legacy I leave and represent.
How do you see the future of Lusophone music?
Honestly, I’m hopeful about the path of Lusophone music. I think there’s still a lot for us to conquer, in general, and what I hope and wish for is more collaboration between artists from the Lusophone world, the PALOP, right? And I think that will make our music reach much further, and allow us to explore the potential that PALOP and Lusophone music has.
You’ve performed on Mozambican stages and felt the warmth of a people who dance with soul. What does Mozambique mean to you as an artist, and what message would you like to leave to those who listen to you here — not just as a singer, but as a brother to a culture that is also your own?
Since very early in my career, even before going to Mozambique, I always felt a strong love from the Mozambican people. When I finally managed to perform there for the first time, that love was truly felt and it’s mutual. And Mozambique has become increasingly significant in my life, not only professionally, but personally too. I have friends and, let’s say, brothers from Mozambique, and I want to be closer to the Mozambican culture, I want to be closer to Mozambique. I love Mozambique — it’s one of my family’s favourite countries. My son loves it too. So I want to thank Mozambique for the affection, for the love, and know that, here, you also have an artist who loves Mozambique very much and wants to stay close.
Juntos pelo ambiente:
Colaboradores
do BCI em acção na Costa do Sol
Mais de 100 colaboradores do BCI uniram-se para assinalar o Dia Mundial do Ambiente, celebrado a 5 de Junho, com uma acção de voluntariado dedicada à limpeza da Praia da Costa do Sol.
Promovida pelo Banco, a iniciativa contou com a presença de representantes de várias instituições e individualidades que se juntaram à causa, entre as quais o Conselho Municipal de Maputo, o Instituto Nacional do Mar (INAMAR), o ambientalista Carlos Serra Jr., membros da sua equipa e estudantes universitários, num gesto colectivo de cidadania ambiental e responsabilidade partilhada.
Na ocasião, o Presidente da Comissão
Executiva do BCI, Francisco Costa, afirmou que a iniciativa “enquadra-se, acima de tudo, numa convicção: a preocupação com o ambiente deve ser colectiva. É uma responsabilidade institucional, mas é também uma decisão pessoal.” E acrescentou: “pretendemos que esta acção sirva de exemplo e motive outros a se juntarem, promovendo um ambiente melhor para todos”.
Por sua vez, Carlos Serra Jr. destacou o simbolismo da Praia da Costa do Sol,
onde, em 2015, iniciaram-se as acções de limpeza e monitoria ambiental. Na sua intervenção, sublinhou: “Voltar com tanta força, com um número tão grande, é bonito de ver. Após anos a pregar, por vezes no deserto, sentimos agora uma luz no fundo do túnel”. Reforçou ainda a importância do trabalho contínuo de separação e análise dos resíduos encontrados, como forma de informar as autoridades, responsabilizar os produtores e compreender os comportamentos dos cidadãos: “Apanhamos de tudo, e isso permite-nos saber o que está a ser consumido ou descartado na praia”, disse.
E como testemunhou uma das colaboradoras do BCI enquanto participava
activamente na recolha de resíduos: “Esta iniciativa pode parecer pequena diante da dimensão do problema ambiental, mas cada gesto conta. Retirar um pedaço de plástico ou uma garrafa da areia é contribuir directamente para um futuro melhor. O impacto pode não ser imediato aos olhos de todos, mas é real e necessário”.
Sob o lema “Praia Limpa, Futuro Limpo”, a acção coordenada pela Direcção de Sustentabilidade, reforça o compromisso do BCI com práticas sustentáveis, a educação ambiental e a preservação do património natural. Cada resíduo recolhido representou um passo significativo rumo a um futuro mais limpo, consciente e partilhado.
“A preocupação com o ambiente deve ser colectiva. É uma responsabilidade institucional, mas é também uma decisão pessoal.”
Francisco Costa, Presidente da Comissão Executiva do BCI
Fotografia: Cortesia do BCI
Carlos Serra Jr. destacou o simbolismo da Praia da Costa do Sol, onde, em 2015, iniciaram as acções de limpeza e monitoria ambiental.
Together for the environment: BCI employees in action at Costa do Sol
More than 100 BCI employees came together to mark World Environment Day, celebrated on 5 June, with a volunteer effort dedicated to cleaning Costa do Sol Beach.
Promoted by the Bank, the initiative was attended by representatives from various institutions and notable individuals who joined the cause, including the Maputo City Council, the National Maritime Institute (INAMAR), environmentalist Carlos Serra Jr., members of his team, and university students—an expression of collective environmental citizenship and shared responsibility.
On the occasion, the Chairman of BCI’s Executive Committee, Francisco Costa, stated that the initiative “is above all based on a conviction: concern for the environment must be a collective one. It is an institutional responsibility, but also a personal decision.” He added, “we hope this action serves as an example and inspires others to join in, promoting a better environment for all.”
Carlos Serra Jr., in turn, highlighted the symbolism of Costa do Sol Beach, where clean-up and environmental monitoring efforts began in 2015. In his address, he noted, “Returning in such strength, with so many people, is a wonderful sight. After years of preaching, sometimes into the void,
we now feel a light at the end of the tunnel.” He also stressed the importance of the ongoing work in sorting and analysing the collected waste as a way to inform authorities, hold producers accountable, and understand citizen behaviour: “We find all sorts of things, and that helps us understand what is being consumed or discarded on the beach,” he said.
As one BCI employee shared while actively collecting waste: “This initiative may seem small compared to the scale of the environmental problem, but every gesture counts. Removing a piece of plastic or a bottle from the sand is a direct contribution to a better future. The impact may not be immediately visible to everyone, but it is real and necessary.”
Under the motto “Clean Beach, Clean Future,” the action, coordinated by the Sustainability Department, reinforces BCI’s commitment to sustainable practices, environmental education, and the preservation of natural heritage. Each piece of waste collected represented a significant step towards a cleaner, more conscious, and shared future.
Fotografia: Cortesia do BCI
We hope this action serves as an example and inspires others to join in, promoting a better environment for all.
Francisco Costa, Presidente da Comissão Executiva do BCI
Castle Lite e NBA
unem-se em Moçambique
Castle Lite e NBA unem-se em Moçambique
Pela primeira vez em território moçambicano, a National Basketball Association (NBA) junta-se a uma marca de bebidas para lançar uma campanha de grande escala. Trata-se da Castle Lite — marca do grupo AB InBev, representada localmente pela Cervejas de Moçambique (CDM) — que apresentou oficialmente, no campus da Universidade Eduardo Mondlane, uma parceria estratégica com a mais prestigiada liga de basquetebol do mundo.
Sob o conceito Lite Side of the Court, a iniciativa vai muito além do marketing tradicional. O objectivo é claro: posicionar a Castle Lite como um agente de transformação cultural, usando o basquetebol como ponto de partida para falar de estilo de vida, inclusão, juventude e autenticidade.
Um lançamento pensado ao detalhe O evento de apresentação foi concebido como uma verdadeira celebração da cultura courtside. Influenciadores, jornalistas, atletas, artistas e parceiros de negócios da CDM juntaram-se numa atmosfera cuidadosamente montada: um espaço com personalização de camisolas, desafios interactivos, activações visuais e performances ao vivo.
“Esta parceria é um marco. Queremos oferecer ao público moçambicano não só uma marca, mas uma experiência que conecta desporto, atitude e autenticidade”, afirmou Galo Rivera, Director Geral da CDM. Ao seu lado, Milton Caifaz, jovem talento do basquetebol nacional e embaixador da marca Castle Lite, reforçava o compromisso de aproximar o universo NBA da realidade moçambicana.
A promessa: levar moçambicanos até Abu Dhabi
No centro da campanha está um prémio e
experiência de sonho: a oportunidade de assistir, com tudo pago, a um jogo oficial da pré-temporada da NBA em Abu Dhabi. Um desejo aspiracional para muitos. Os participantes poderão habilitar-se através da compra de uma Castle Lite, fazer o scan do QR em cima da carica, e seguir as instruções do website. Poderão, ainda, desfrutar de mais experiências em vários pontos de venda.
Uma campanha com três tempos: lançar, envolver, transformar
A estratégia desenvolve-se em três fases: Launch, Engage e Experience. Depois do lançamento, seguem-se activações em redes sociais e pontos de venda, eventos, vídeos com influenciadores e desafios como o Bucket Shot Challenge, onde consumidores podem ganhar prémios ao acertar num cesto de basquetebol ao comprar Castle Lite.
O tom da campanha é descontraído, mas não superficial. Mistura humor, estilo, auto-expressão e orgulho cultural, com conteúdos digitais onde os protagonistas tentam pronunciar nomes como “Giannis Antetokounmpo” ou montam visuais inspirados em estrelas da NBA. Os momentos são captados em vídeo e disseminados nas redes sociais com o hashtag oficial: #LiteSideOfTheCourt.
A marca também aposta em visibilidade urbana, com publicidade em zonas de alto tráfego em Maputo, Beira e Nampula, e em programas televisivos desportivos e de entretenimento, onde os apresentadores surgirão com visuais inspirados no universo NBA.
Nova geração, nova forma de brindar
Com esta parceria, a Castle Lite reforça o seu posicionamento como uma marca global com presença activa no contexto local. A sua ligação à NBA reflecte uma geração que vive o desporto como parte
integrante da cultura — uma experiência que se expressa no modo como se dança, se veste, se pensa e se consome, com ritmos cada vez mais transversais e conectados.
Esta campanha surge como um estímulo à visibilidade do talento jovem, promovendo abordagens marcadas por ambição, criatividade e vontade de crescer, enquanto convida o público a celebrar o jogo com leveza, frescura e liberdade — valores com os quais a Castle Lite se identifica e que procura amplificar.
“Esta parceria é um marco. Queremos oferecer ao público moçambicano não só uma marca, mas uma experiência que conecta desporto, atitude e autenticidade”
-Galo Rivera, Director Geral da CDM.
Castle Lite and the NBA Join forces in Mozambique
For the first time on Mozambican soil, the National Basketball Association (NBA) is partnering with a beverage brand to launch a large-scale campaign. The brand in question is Castle Lite — part of the AB InBev group and repre sented locally by Cervejas de Moçambique (CDM) — which officially unveiled a strategic partnership with the world’s most prestigious basketball league at the Eduardo Mondlane University campus.
Under the concept Lite Side of the Court, the initiative goes far beyond traditional marketing. The objective is clear: to position Castle Lite as an agent of cultural transformation, using basketball as a starting point to talk about lifestyle, inclusion, youth and authenticity.
A Carefully Planned Launch
The launch event was designed as a true celebration of courtside culture. Influencers, journalists, athletes, artists, and CDM business partners gathered in a meticulously curated space featuring personalised jerseys, interactive challenges, visual activations, and live performances.
“This partnership is a milestone. We want to offer the Mozambican public not just a brand, but an experience that connects sport, attitude, and authenticity,” said Galo Rivera, Managing Director of CDM. Alongside him was Milton Caifaz, a rising talent in national basketball and Castle Lite brand ambassador, reaffirming the commitment to bring the NBA universe closer to Mozambican reality.
The Promise: Taking Mozambicans to Abu Dhabi
At the heart of the campaign is a dream prize and experience: the chance to at-
tend an official NBA pre-season game in Abu Dhabi — all expenses paid. A highly aspirational opportunity. Participants can enter by purchasing a Castle Lite, scanning the QR code on the bottle cap, and following the instructions on the website. They can also enjoy additional experiences at various points of sale.
A Three-Part Campaign: Launch, En gage, Transform
The strategy unfolds in three phases: Launch, Engage, and Experience. Follow ing the launch, there will be activations on social media and at points of sale, events, influencer-led videos, and chal lenges such as the Bucket Shot Challenge, where consumers can win prizes by scor ing a basketball hoop shot upon purchas ing Castle Lite.
The tone of the campaign is relaxed but not superficial. It blends humour, style, self-expression and cultural pride, with digital content featuring individuals attempting to pronounce names like “Giannis Antetokounmpo” or styling looks inspired by NBA stars. These moments are captured on video and shared across social media under the official hashtag: #LiteSideOfTheCourt.
The brand is also investing in urban vis-
ibility, with advertising in high-traffic areas of Maputo, Beira, and Nampula, as well as on sports and entertainment TV shows where presenters will appear in NBA-inspired outfits.
New Generation, New Way to Toast
Through this partnership, Castle Lite strengthens its positioning as a global brand with an active presence in the local context. Its connection to the NBA reflects a generation that embraces sport as an
integral part of culture — an experience expressed in the way people dance, dress, think, and consume, with increasingly interconnected and cross-cultural rhythms.
This campaign acts as a boost for youth talent visibility, promoting approaches driven by ambition, creativity, and a desire to grow, while inviting the public to celebrate the game with lightness, freshness, and freedom — values that Castle Lite identifies with and aims to amplify.
Um dia na província de Tete: uma viagem entre verdes e sonhos
Era uma manhã soalheira em Tete, província que parece ter sido pintada à mão com os tons dos verdes mais magníficos e os castanhos de uma terra firme e intensa. Nós, dois amigos com espírito de aventura, e alguma dose de loucura, decidimos aproveitar o dia que tínhamos livre para descobrir a beleza desta província, espelho da natureza moçambicana em estado puro. E que dia fantástico nos aguardava!
Quando saímos de Tete, pelas 8h00 da manhã, a estrada parecia ser apenas mais um caminho, com alguns buracos e mau piso, mas, ao longo do percurso, tornava-se cada vez mais verde, um verde intenso que nos prendia o olhar. Os embondeiros reuniam famílias à sua sombra, sendo uma presença constante. Ao longo da estrada víamos que as pessoas trabalhavam à volta dos maiores embondeiros, como se os ramos e folhas fossem os telhados que os abrigavam do sol inclemente.
Passámos o Songo, um lugar que lembrava uma qualquer fotografia de uma cidade numa montanha europeia: limpa, cuidada, organizada e com espaços para os seus habitantes conviverem. De seguida, chegámos à nossa primeira paragem: Cahora Bassa.
Ah, Cahora Bassa! Uma verdadeira maravilha em que a engenharia e a natureza se uniram, erguendo-se imponente junto ao rio Zambeze, reflectindo o céu e as nuvens com uma serenidade quase religiosa. Sentir aquela força de água contida, ouvir o sussurrar das correntes e observar aquela vastidão de água que alimenta vidas por todo o Moçambique é uma experiência que fica para sempre na memória. A barragem parece o cora-
ção pulsante desta região, alimentando esperança e energia para todo o país. E as pessoas? As pessoas de Tete são a alma deste lugar. Com olhos brilhantes e corações abertos, mostram que a beleza de um local também reside na sua gente. Vivem em harmonia com a natureza, celebrando cada dia com uma esperança que contagia quem por aqui passa.
Depois de termos feito cerca de 150 km e visitado um dos pontos mais importantes de Moçambique, resolvemos ir “passear” — um passeio de mais 85 km para almoçarmos. As estradas locais serpenteavam entre campos de algodão, árvores frondosas e pequenas comunidades. Cada trecho revelava um Tete diferente: o brilho do sol na pele, o sorriso caloroso das pessoas que encontrávamos pelo caminho. Quase duas horas depois de termos partido, chegámos ao Moringa Lodge. As vistas deste lodge fantástico tiravam-nos o fôlego. Valeu cada minuto da viagem...
O almoço foi divinal: lagostins de água doce e peixe grelhado. Aproveitei o tempo e fui tirar mais umas fotografias deste lugar fantástico. Mas o “passeio” não tinha ainda terminado. Tínhamos cerca de quatro horas para regressar a Tete, de modo a não perdermos o avião para Maputo, o que, nestas estradas, não foi fácil conseguir. Quase à tabela, conseguimos.
Fotografia: Miguel Peral
“A barragem parece o coração pulsante desta região, alimentando esperança e energia para todo o país.”
Pela estrada regressámos, optando por um outro caminho. Já ao final do dia, enquanto o sol se despedia atrás das colinas, sentimos que tínhamos descoberto mais do que uma região — tínhamos vivido um quadro real de pureza e força, um pedaço do paraíso. Tete é assim: uma combinação de verdes intensos, uma barragem imponente, estradas que unem histórias e, sobretudo, um povo que cativa pela sua alegria de viver e de partilhar a sua riqueza natural.
Se algum dia passares por aqui, abre bem os olhos e o coração. Tete guarda segredos que só os que verdadeiramente param para olhar conseguem desvendar: a beleza simples de um lugar onde a natureza e o homem caminham lado a lado, em harmonia perfeita.
“Tete é assim: uma combinação de verdes intensos, uma barragem imponente, estradas que unem histórias e um povo que cativa pela alegria de viver e de partilhar a sua riqueza natural.”
Fotografia: Miguel Peral
A day in Tete province:
A journey through greens and dreams
It was a sunny morning in Tete, a province that seems to have been hand-painted with the most magnificent shades of green and the earthy browns of solid, intense land. We, two friends with a spirit of adventure— and a fair dose of madness—decided to make the most of our free day by discovering the beauty of this province, a mirror of Mozambican nature in its purest form. And what a fantastic day lay ahead!
When we left Tete at around 8am, the road seemed like just another path, riddled with potholes and poor tarmac, but as we drove on, it became increasingly verdant—a deep green that captured our gaze. The baobabs gathered families in their shade, their presence a constant
along the way. As we travelled, we saw people working around the largest baobabs, as if the branches and leaves formed
roofs sheltering them from the relentless sun.
We passed through Songo, a place that resembled a photograph of a city perched in the European mountains: clean, well-kept, organised, and with spaces for its inhabitants to socialise. Then we arrived at our first stop: Cahora Bassa.
Ah, Cahora Bassa! A true marvel where engineering and nature come together, rising majestically beside the Zambezi River, reflecting the sky and clouds with an almost religious serenity. To feel the force of that contained water, to hear the whispering currents and gaze upon that vast stretch of water nourishing life throughout Mozam-
bique is an experience that stays with you forever. The dam seems to be the beating heart of this region, fuelling hope and energy for the entire country. And the people? The people of Tete are the soul of this place. With bright eyes and open hearts, they show that a place’s beauty also lies in its people. They live in harmony with nature, celebrating each day with a contagious hope that touches everyone who passes through.
After covering around 150 km and visiting one of Mozambique’s most important landmarks, we decided to go for a “drive”—an extra 85 km just to have lunch. The local roads wound through cotton fields, leafy trees, and small communities. Each stretch revealed a different side of Tete: the sun’s glow on our skin, the warm smiles of those we met along the way. Almost two hours after setting off, we arrived at Moringa Lodge. The views from this stunning lodge were breathtaking. Every minute of the journey was worth it...
Lunch was divine: freshwater crayfish and grilled fish. I took the time to snap a few more photos of this fantastic place. But our “drive” wasn’t over yet. We had about four hours to make it back to Tete in time for our flight to Maputo—which, on these roads, was no easy task. With just moments to spare, we made it.
We returned by a different route. As the day came to an end and the sun set behind the hills, we felt we had discovered more than just a region—we had lived through a real-life painting of pu -
rity and strength, a slice of paradise. That’s Tete for you: a blend of deep greens, a towering dam, roads that link stories, and above all, a people who captivate with their joy for life and their generosity in sharing their natural wealth.
If you ever pass through here, open your eyes—and your heart. Tete holds secrets that only those who truly stop to look will uncover: the simple beauty of a place where nature and humanity walk side by side, in perfect harmony.
“To gaze upon that vast stretch of water nourishing life throughout Mozambique is an experience that stays with you forever.”
Fotografia: Miguel Peral
Heineken, Franco e Champions uma noite para a história
No passado dia 31 de Maio, o Centro Cultural Franco-Moçambicano voltou a provar que futebol e cultura podem caminhar lado a lado — e com estilo. Pelo terceiro ano consecutivo, o espaço no coração de Maputo transformou-se num estádio para acolher a transmissão da final da Liga dos Campeões UEFA, num ambiente que rivalizava com a própria Allianz Arena, em Munique, na Alemanha.
Em ecrã gigante, sob as estrelas e entre amigos, viveu-se o duelo entre o Paris Saint-Germain e o Inter de Milão. As portas abriram às 18h, mas o entusiasmo chegou bem antes. Entre bancadas animadas, promoções especiais e cervejas fresquinhas, criou-se uma atmosfera que só o futebol — e certos anfitriões — sabem proporcionar.
A Heineken esteve mais uma vez na linha da frente desta celebração, levando a fasquia cada vez mais alto. Já não se trata apenas de assistir a um jogo — trata-se de viver a Champions. A marca, que tem apostado em criar momentos memoráveis para os moçambicanos, voltou a oferecer uma noite vibrante, em que os cânticos e as gargalhadas ecoaram por todo o recinto. A final terminou com uma vitória expressiva do PSG, por 5–0, celebrada com entusiasmo pelos seus adeptos
A escolha do CCFM é, aliás, bastante acertada. Este espaço, símbolo de intercâmbio e criatividade, tem-se revelado
um palco ideal para eventos que aproximam pessoas, independentemente da nacionalidade ou do clube. Ali, o futebol ganha um novo significado — é celebração, partilha, pertença. E quem lá esteve sabe: não se tratou apenas de um jogo, mas de uma experiência. Desde a chegada, passando pelas activações, que surpreenderam os mais atentos, até ao apito final, tudo contribuiu para uma noite inesquecível. A energia era contagiante, a organização exemplar e a cerveja, como se exige nestas ocasiões, servida no ponto
Com iniciativas como esta, percebe-se que há marcas que valorizam o entretenimento de forma genuína, promovendo ligações reais com o seu público. E há eventos que, mesmo repetindo-se ano após ano, conseguem sempre inovar e surpreender.
Em Maputo celebrou-se a Champions como em Munique — ou, quem sabe, até com mais alma. Porque, aqui, o futebol sente-se com o coração inteiro. E isso não há marcador que consiga medir.
Entre bancadas animadas, promoções especiais e cervejas fresquinhas, criou-se uma atmosfera que só o futebol — e certos anfitriões — sabem proporcionar.
Fotografia: Cortesia da Heineken
A Heineken esteve mais uma vez na linha da frente desta celebração, levando a fasquia cada vez mais alto.
Fotografia: Cortesia da Heineken
Heineken, Franco and the Champions League
A night for the history books
On 31st May, the Franco-Mozambican Cultural Centre once again proved that football and culture can go hand in hand — and in style. For the third consecutive year, the venue in the heart of Maputo was transformed into a stadium to host the live broadcast of the UEFA Champions League final, in an atmosphere to rival that of Munich’s Allianz Arena.
On a giant screen, under the stars and among friends, the clash between Paris Saint-Germain and Inter Milan came to life. Doors opened at 6pm, but the excitement had arrived long before. With buzzing stands, special promotions and icecold beers, the setting became one that only football — and certain hosts — know how to deliver.
Heineken was once again at the forefront of this celebration, raising the bar higher than ever. It’s no longer just about watching a match — it’s about living the Champions League. The brand, which continues to invest in creating unforgettable moments for Mozambicans, delivered yet another vibrant evening, where chants and laughter echoed across the grounds. The final ended with a resounding 5–0 win for PSG, celebrated enthusiastically by their supporters.
The choice of the CCFM is, indeed, a fitting one. This venue, a symbol of cultural exchange and creativity, has proved to be
an ideal stage for events that bring people together, regardless of nationality or club allegiance. Here, football takes on a new meaning — it’s about celebration, sharing, and belonging. And those who were there know: this wasn’t just a match, it was an experience. From arrival, through the surprise-filled activations, to the final whistle, every moment contributed to an unforgettable evening. The energy was contagious, the organisation flawless, and the beer, as required on such occasions, perfectly chilled.
With initiatives like this, it’s clear that some brands genuinely value entertainment, fostering real connections with their audiences. And there are events which, even when repeated year after year, still find ways to innovate and amaze.
In Maputo, the Champions League was celebrated like in Munich — or perhaps, with even more soul. Because here, football is felt with a full heart. And that’s something no scoreboard can measure.
In Maputo, the Champions League was celebrated like in Munich — or perhaps, with even more soul.
CFAO Mobility Segurança na estrada!
No mês de Maio, quando se celebra o Dia da Segurança Rodoviária, a equipa da revista Xonguila acompanhou um momento especial: um evento interno totalmente dedicado a este tema, que é — e continuará a ser — uma prioridade absoluta para a empresa e seus colaboradores.
Organizado com empenho pela equipa dos Embondeiros, o evento decorreu ao longo de toda a manhã e envolveu colaboradores de diferentes áreas da empresa, incluindo a Direcção, num ambiente de partilha, aprendizagem e responsabilidade colectiva. Contou com a presença da associação AMVIRO, que partilhou conselhos valiosos sobre comportamentos seguros na estrada e reforçou a importância da inspecção básica de viaturas — porque cuidar do nosso veículo é também cuidar da nossa vida e da vida dos outros.
A manhã foi marcada por concursos práticos e divertidos, que testaram os conhecimen -
tos dos participantes sobre sinalização rodoviária, regras básicas de trânsito e troca de pneus. Foi especialmente inspirador ver a participação activa de vários colegas, em especial das mulheres, num espaço tradicionalmente dominado por homens — mostrando que a segurança é, e deve ser, uma responsabilidade de todos, sem distinção.
Este evento coincidiu com a chegada de Wictor Bezerra, o novo chefe de oficina da CFAO Mobility. Brasileiro, com mais de 20 anos de experiência em mecânica e diagnóstico automóvel da marca, Wictor veio reforçar a equipa técnica com o seu vasto conhecimento e paixão por oficina.
A manhã foi marcada por concursos práticos e divertidos, que testaram os conhecimentos dos participantes sobre sinalização rodoviária, regras básicas de trânsito e troca de pneus.
Fotografia: Cortesia da CFAO
Cuidar do nosso veículo é também cuidar da nossa vida e da vida dos outros.
The presence of the AMVIRO association, which shared valuable advice on safe driving behaviours and emphasised the importance of basic vehicle inspections.
CFAO Mobility Road safety!
In May, as Road Safety Day is commemorated, the Xonguila magazine team witnessed a special moment: an internal event entirely dedicated to this theme, which is — and will continue to be — an absolute priority for the company and its employees.
Organised with dedication by the Embondeiros team, the event took place throughout the morning and brought together employees from various departments of the company, including Management, in an atmosphere of sharing, learning, and collective responsibility. The event featured the presence of the AMVIRO association, which shared valuable advice on safe driving behaviours and emphasised the importance of basic vehicle inspections — because taking care of our vehicle also means taking care of our own life and the lives of others.
The morning was marked by practical and entertaining competi-
tions, testing participants' knowledge of road signs, basic traffic rules, and tyre changing. It was especially inspiring to see the active involvement of several colleagues, particularly women, in a space traditionally dominated by men — demonstrating that safety is, and should be, everyone’s responsibility, regardless of gender.
This event coincided with the arrival of Wictor Bezerra, the new head of the CFAO Mobility workshop. A Brazilian with over 20 years of experience in mechanics and vehicle diagnostics for the brand, Wictor joins the technical team, bringing with him extensive expertise and a deep passion for workshop operations.
Fotografia: Cortesia da CFAO
Favas Contadas é uma viagem gastronómica por Portugal, do Minho ao Algarve.
Fotografia: Helton Perengue
Favas Contadas Boa mesa, boa gente, boa conversa
Maputo precisa de espaços que inspirem. Lugares onde a cultura não se sirva apenas num prato, mas também em forma de memória, de encontros, de sabores partilhados. O restaurante Favas Contadas nasce desse impulso, de um desejo colectivo, mas também daquelas coincidências felizes que só acontecem entre amigos. Foi, aliás, num desses momentos descontraídos, a saborear favas num fim de tarde de sexta-feira, que alguém soltou a expressão — “favas contadas” — e assim ficou, como que
selando uma promessa de boa comida, boa mesa e boa disposição.
Favas Contadas é um projecto nascido da união entre a paixão gastronómica e a experiência da Spice Your Soul, instalado no edifício da Associação Portuguesa de Moçambique, em plena Polana Cimento. A sua identidade está profundamente ligada à comunidade luso-moçambicana e, sobretudo, ao desejo de partilhar a rica e variada cozinha portuguesa com todos quantos cruzam o seu caminho.
A ementa é um verdadeiro
roteiro por Portugal, do Minho ao Algarve. O pernil de porco à sexta-feira e o cozido à portuguesa aos domingos tornaram-se clássicos, mas há ainda lugar para iguarias como o arroz do mar, a feijoada à transmontana, os chocos à algarvia, a carne de porco à alentejana ou a chanfana de cabrito. E, claro, as inevitáveis favas: guisadas com ovo escalfado ou servidas frias em salada com chouriço — uma homenagem ao nome e à génese do espaço.
Fiel às receitas tradicionais, o Favas Contadas recusa modas passageiras ou
fusões forçadas. A prioridade é o sabor genuíno, a comida que lembra casa, avós, viagens e afectos. A maioria dos ingredientes é adquirida localmente, mas alguns produtos-chave são importados, não por vaidade, mas por respeito às receitas que assim o exigem.
Ainda assim, o compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade social é permanente — visível nas parcerias com a Academia do Bacalhau e nas acções conjuntas com a Associação Portuguesa. O ambiente do restaurante evoca as típicas tascas portuguesas, sem pretensões, mas com muito charme.
A equipa é o coração do Favas Contadas. Há quem já venha com anos de experiência e quem esteja a aprender, mas todos são parte da mesma família. As decisões são partilhadas, as ideias circulam e o bem-estar dos trabalhadores é visto como um ingrediente essencial para o sucesso. Num sector exigente como o da restauração, a consistência é o maior desafio.
O restaurante enfrenta esse teste todos os dias, apostando em produtos de qualidade, formação constante e uma forte ligação com fornecedores.
A participação em eventos gastronómicos e culturais,
como o recente arraial dos Santos Populares ou encontros que juntam arte e cozinha, ajudam a reforçar o vínculo com a cidade e a sua gente.
Os planos para o futuro incluem serviço de pequeno-almoço com opções saudáveis e entregas ao domicílio para residentes de condomínios próximos, mantendo o cuidado artesanal que distingue a casa. Mas o maior sonho é simples: continuar a ser um sítio onde as pessoas regressem, levadas pela memória de um sabor ou pelo aconchego de um ambiente genuíno.
Fotografia: Helton Perengue
Fiel às receitas tradicionais, o Favas Contadas recusa modas passageiras e fusões forçadas.
Favas Contadas
Good food, good company, good conversation
Maputo is in need of places that inspire—spaces where culture is served not only on a plate but also as memory, as encounters, as shared flavours. The restaurant Favas Contadas was born of that impulse—a collective desire, sparked by one of those happy coincidences that only happen among friends. It was, in fact, during one such relaxed moment, enjoying a dish of fava beans on a Friday evening, that someone uttered the phrase “favas contadas” (a Portuguese idiom meaning “a done deal”), and it stuck—like a promise of good food, a welcoming table, and great company.
Favas Contadas is the result of a partnership between gastronomic passion and the experience behind Spice Your Soul. Housed within the Portuguese Association of Mozambique’s building in Polana Cimento, the restaurant is deeply rooted in the Luso-Mozambican community, driven above
all by a desire to share Portugal’s rich and varied cuisine with all who pass through its doors.
The menu is a true culinary journey through Portugal—from the Minho to the Algarve. Pork knuckle on Fridays and cozido à portuguesa on Sundays have become firm favourites, while other signature dishes include seafood rice, feijoada à transmontana, Algarve-style cuttlefish, carne de porco à alentejana, and goat chanfana. And, of course, the eponymous fava beans: stewed with poached egg or served cold in a salad with chorizo—a tribute to the restaurant’s name and origins.
Faithful to traditional recipes, Favas Contadas steers clear of fleeting trends and forced fusions. The priority is authentic flavour—food that evokes home, grandparents, journeys, and affection. Most ingredients are sourced locally, though key imports are made when necessary to respect the
integrity of traditional recipes. Still, the commitment to sustainability and social responsibility remains firm, seen in partnerships with the Academia do Bacalhau and joint initiatives with the Portuguese Association. The atmosphere echoes that of a traditional Portuguese tasca—unpretentious, but full of charm. The team is the heart of Favas Contadas.
Some bring years of experience, others are still learning—but all are part of the same family. Decisions are shared, ideas circulate freely, and the wellbeing of staff is seen as a crucial ingredient for success. In a demanding sector like hospitality, consistency is the greatest challenge. The restaurant faces it
daily, with quality ingredients, ongoing training, and strong ties with suppliers. Participation in gastronomic and cultural events—such as the recent Santos Populares fair or gatherings that blend art and cuisine—helps strengthen its bond with the city and its people.
Future plans include a
breakfast service with healthy options and home deliveries for nearby residential blocks, always with the same artisanal care that defines the restaurant. But the greatest ambition is simple: to remain a place people return to—drawn back by the memory of a flavour or the warmth of a truly genuine setting.
Fotografia: Helton Perengue
A dinâmica do mercado laboral moçambicano
A dinâmica do mercado laboral moçambicano
O mercado de trabalho moçambicano enfrenta desafios significativos, incluindo a alta concorrência por oportunidades e a necessidade de processos de recrutamento mais eficientes e transparentes. Neste contexto, a plataforma emprego.co.mz tem desempenhado um papel crucial ao facilitar a interacção entre empresas e candidatos, bem como ao gerar dados relevantes para a compreensão da dinâmica do emprego no país.
Indicadores e impacto no recrutamento
Desde a sua criação, o emprego.co.mz registou mais de 23.474 vagas publicadas, assegurando a conformidade legal e a revisão criteriosa dos conteúdos divulgados. Cada vaga recebe, em média, 2.239 visualizações, garantindo ampla exposição tanto para os candidatos como para os recrutadores. O impacto da plataforma também se reflecte no grande volume de interacções: mais de 2.721.653 candidaturas foram enviadas, permitindo que as empresas tenham acesso a uma base de dados diversificada. O elevado número de 336 candidaturas por vaga demonstra a competitividade do mercado e a necessidade de ferramentas que auxiliem na selecção eficiente dos candidatos. Para os recrutadores, a plataforma oferece recursos avançados, como testes de aptidão com inteligência artificial e algoritmos de
compatibilidade, que ajudam a identificar os perfis mais adequados para cada posição. Como resultado, 1.743.082 visualizações de recrutadores foram registadas, fortalecendo a estratégia de employer branding das empresas.
O reflexo dos dados na realidade moçambicana O mercado de trabalho em Moçambique tem-se mostrado altamente concentrado em determinados centros urbanos, com a maioria das oportunidades formais localizadas na Cidade de Maputo e nas províncias ligadas a projectos extractivos e industriais.
As 37.209 candidaturas espontâneas registadas na plataforma demonstram a necessidade de uma maior diversificação do mercado laboral e a criação de novas oportunidades em regiões menos industrializadas. A concorrência intensa por emprego é outra realidade
incontornável. A taxa média de candidaturas por vaga confirma que cada posição atrai centenas de interessados, o que exige dos candidatos uma preparação cada vez mais sólida e dos recrutadores ferramentas sofisticadas para encontrar o talento certo.
Com um total de 1.873.877.663 visitas desde 2012, o emprego.co.mz consolidou-se como uma ferramenta indispensável para o mercado laboral moçambicano. O volume expressivo de interacções mostra que a digitalização do recrutamento é um caminho sem retorno, trazendo vantagens tanto para empregadores como para profissionais em busca de oportunidades. Contudo, o futuro do mercado de trabalho em Moçambique dependerá da capacidade de adaptar-se às novas dinâmicas de emprego, promovendo um ambiente laboral mais inclusivo e eficiente para todos.
As 37.209 candidaturas espontâneas mostram a necessidade de diversificar o mercado laboral e criar oportunidades fora dos grandes centros.
The dynamics of mozambique’s labour market
The Mozambican labour market faces significant challenges, including high competition for opportunities and the need for more efficient and transparent recruitment processes. In this context, the platform emprego.co.mz has played a crucial role in facilitating interaction between companies and candidates, as well as in generating relevant data for understanding the dynamics of employment in the country.
Indicators and Impact on Recruitment
Since its creation, emprego.co.mz has registered more than 23,474 published vacancies, ensuring legal compliance and careful review of the published content. Each vacancy receives, on average, 2,239 views, ensuring broad exposure for both candidates and recruiters.
The platform's impact is also reflected in the large volume of interactions: more than 2,721,653 applications have been submitted, allowing companies access to a diverse database. The high number of 336 applications per vacancy demonstrates the competitiveness of the market and the need for tools that assist in the efficient selection of candidates. For recruiters, the platform offers advanced resources, such as AI-powered aptitude tests and compatibility algorithms,
which help identify the most suitable profiles for each position. As a result, 1,743,082 recruiter views have been recorded, strengthening companies' employer branding strategies.
The Reflection of Data on Mozambican Reality
The labour market in Mozambique has proven to be highly concentrated in certain urban centres, with most formal opportunities located in the City of Maputo and in provinces linked to extractive and industrial projects.
The 37,209 spontaneous applications registered on the platform demonstrate the need for greater diversification of the labour market and the creation of new opportunities in less industrialised regions. The intense competition for jobs is another undeniable reality. The average
rate of applications per vacancy confirms that each position attracts hundreds of interested candidates, which requires increasingly solid preparation from candidates and sophisticated tools from recruiters to find the right talent.
With a total of 1,873,877,663 visits since 2012, emprego.co.mz has established itself as an indispensable tool for the Mozambican labour market. The significant volume of interactions shows that the digitalisation of recruitment is a path with no return, bringing advantages both for employers and for professionals in search of opportunities. However, the future of the labour market in Mozambique will depend on the capacity to adapt to new employment dynamics, promoting a more inclusive and efficient work environment for all.
Baía Mall celebrou 7 anos com arte e animais
No passado dia 7 de Junho de 2025, o Baía Mall celebrou o seu sétimo aniversário com uma homenagem original à fauna e à arte moçambicanas. A iniciativa, lançada a 23 de Janeiro, convidou artistas plásticos do país a criar obras inspiradas em animais bravios e marinhos de Moçambique, com o objectivo de promover a protecção da biodiversidade através da expressão artística.
A iniciativa contou com a participação de 46 artistas plásticos, cada um apresentando a sua obra e justificando a escolha do animal retratado. A 27 de Maio, o júri seleccionou 17 peças, mas, para garantir maior diversidade,
foi dada aos artistas a oportunidade de pintar novos animais. Com isso, chegaram novas propostas e o número total subiu para 24 obras em avaliação. No dia 5 de Junho, o júri escolheu as sete melhores, entre as quais se destacaram as três vencedoras, que receberam prémios de 21.000, 14.000 e 7.000 meticais, a usar nas lojas do Baía Mall.
A cerimónia decorreu no dia 7 de Junho, no Food Court do shopping, e contou com a presença dos artistas, representantes de lojas e restaurantes, parceiros, patrocinadores e a equipa do Baía Mall. Para além da entrega dos prémios, todos os presentes
Fotografia:
Helton
Perengue
foram convidados a votar no animal que mais deveria representar Moçambique, tendo em conta o seu simbolismo, evolução e presença no habitat natural.
O elefante foi o mais votado, com 16 votos, seguido de perto pelo leão, com 14. Outros animais também se destacaram, revelando diferentes interpretações sobre o que representa a identidade natural do país.
Foi um momento de celebração, marcado por sorrisos, partilha e actividades para toda a família, num ambiente onde a criatividade e a consciência ambiental caminharam lado a lado.
Dahomey: um regresso com alma e memória
Por vezes, o cinema não serve apenas para entreter. Serve para pensar, para devolver dignidade, para mexer com a história. Dahomey, filme de 2024 realizado por Mati Diop, é um desses raros momentos em que a arte encontra o seu propósito mais profundo: o de curar feridas abertas com imagens, sons e ideias.
Premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim, Dahomey acompanha o simbólico regresso ao Benim de 26 obras-primas saqueadas pela França em 1892, durante a invasão do antigo Reino do Daomé. Estas peças de arte africana, até então expostas no Museu do Quai Branly em Paris, foram finalmente repatriadas em 2021 – um acto que gerou debate, esperança e também desconforto. Diop constrói um documentário de grande densidade poética e política, dando voz a uma estátua do Rei Ghezo que narra o regresso das obras saqueadas ao Benim. Através da melancólica narração de Makenzy Orcel, a peça torna-se protagonista de uma travessia simbólica, que culmina num debate aceso entre estudantes universitários sobre o alcance e os limites da restituição patrimonial. Enriquecido por uma fotografia sensível e por uma banda sonora subtil, afirma-se como uma obra tecnicamente apurada e intelectualmente provocadora.
Integrou o Top 5 de documentários do ano do National Board of Review e foi exibido em diversos festivais de renome, como o Cinéma du Réel (Paris), TIFF, San Sebastián, Londres, Sydney, Nova Iorque e Tóquio. Representou o Senegal na corrida aos Óscares. A crítica internacional foi amplamente favorável, com elogios do The Guardian à sua abordagem “poética e corajosa”, e do Financial Times, que o descreveu como uma “meditação serena sobre o retorno das obras saqueadas”. No Rotten Tomatoes obteve 99 % de aprovação, e 85 em 100 no Metacritic.
Este documentário, disponível na plataforma MUBI, é uma experiência sensorial, intelectual e emocional. Inquieta, ilumina e convida à reflexão sobre o passado colonial e, sobretudo, sobre o futuro que os africanos aspiram construir com voz própria, memória recuperada e dignidade restaurada.
Dahomey: A Return with Soul and Memory
At times, cinema does more than entertain. It challenges, restores dignity, and reclaims history. Dahomey, a 2024 documentary directed by Mati Diop, stands as one of those rare instances where art fulfils its deepest purpose: to heal open wounds through images, sound, and thought.
Awarded the Golden Bear at the Berlin Film Festival, Dahomey follows the symbolic return to Benin of 26 masterpieces looted by France in 1892 during the invasion of the former Kingdom of Dahomey. These works of African art, previously displayed at the Musée du Quai Branly in Paris, were finally repatriated in 2021—an act that sparked debate, hope, and discomfort in equal measure. Diop crafts a documentary rich in both poetic and political depth, giving voice to a statue of King Ghezo, who narrates the return of the looted artefacts to Benin. Through the melancholic narration of Makenzy Orcel, the statue becomes the central figure in a symbolic journey that culminates in a heated debate among university students on the scope and limitations of cultural restitution. Enhanced by sensitive cinematography and a subtle score, the film emerges as a technically refined and intellectually stirring work.
A Top 5 documentary of the year according to the National Board of Review, Dahomey has screened at numerous prestigious festivals including Cinéma du Réel (Paris), TIFF, San Se-
bastián, London, Sydney, New York, and Tokyo. It represented Senegal in the race for the Oscars. International critics responded enthusiastically: The Guardian praised its “poetic and brave” approach, while the Financial Times called it “a serene meditation on the return of looted treasures.” The film holds a 99% rating on Rotten Tomatoes and an 85 on Metacritic.
Now available on MUBI, this documentary is a sensory, intellectual, and emotional experience. It unsettles, enlightens, and compels reflection— not only on the colonial past, but on the future Africans seek to shape, with recovered memory, restored dignity, and a voice of their own.
Cinquenta anos a florir entre pedras
Cinco décadas. Meio século
Coração que bate, bate… há 18.250 dias
Uma vida que atravessou guerras, secas, cheias e recomeços
Um povo que aprendeu a refazer-se continuamente
Hoje, Moçambique é verbo em movimento
Resiste, transforma-se, inventa caminhos
Não somos perfeitos — mas somos nossos
Talvez a mais bela forma de independência
Com meio século vivido
Ainda somos um país a aprender-se
Jovem no tempo, antigo no sonho
Temos feridas, sim, mas também sementes
E a esperança, essa, nunca deixou de em nós renascer