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2.2 Estimativa de retornos mincerianos
salários médios de dois grupos: trabalhadores que declaram ser portadores de um diploma de CSCD e de um diploma de ensino médio como seu grau mais alto de escolaridade, respectivamente. Assim, o retorno de um diploma de CSCD em relação a um diploma de ensino médio pode ser aproximado pela razão entre W scp e WHS. Para entender o conceito, consideremos, por exemplo, uma razão igual a 1,25, equivalente a um retorno de 25 por cento. Isso significaria que, em média, trabalhadores com um diploma de CSCD ganham 25 por cento a mais do que trabalhadores com um diploma de ensino médio. Obviamente, uma comparação justa envolveria grupos que fossem equivalentes em termos de observação (com exceção do grau de escolaridade mais alto concluído). Para levar isso em conta, a análise é ajustada às características do trabalhador. O Quadro 2.2 descreve suscintamente a equação de Mincer (Mincer 1974), que é o modelo econométrico convencional usado para estimar os retornos da educação.
Quadro 2.2. Estimativa de retornos mincerianos
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A análise pioneira de Jacob Mincer (1974) estabeleceu as bases para um dos modelos econométricos mais populares na economia do trabalho aplicada: o modelo de Mincer. Em poucas palavras, a estratégia busca comparar os salários de indivíduos que declaram diferentes graus de escolaridade após o controle por outras características observadas (X). O resultado dessa comparação é conhecido como o retorno minceriano da educação. Formalmente, consideremos o seguinte modelo de regressão (subscritos individuais i omitidos para fins de simplificação):
ln W (S,X) = α + βS + X’γ + ε,
onde W normalmente denota salários de adultos, S denota anos de escolaridade e X é um conjunto de variáveis, incluindo experiência no mercado de trabalho e seu quadrado, área urbana e indicadores de região, entre outros controles. Uma vez que ln W (S, X) – ln W (S – 1, X) é aproximadamente igual a (W (S, W) – W (S – 1, X))/W(S – 1, X) para qualquer S, o coeficiente β é interpretado como o retorno econômico de um ano adicional de escolaridade. A configuração pode ser estendida para permitir efeitos não lineares da escolaridade. Para tanto, consideremos D s como uma variável binária, assumindo o valor 1 se o trabalhador declarar o grau de escolaridade s como sua escolaridade máxima e 0 nos demais casos; e de modo que
∑= =
S Ds 1
s 0 . Assim, uma versão mais flexível do modelo de Mincer é
(lnWS s∑ β) =α + + =1 , ' X D Xs s S γ+ ε, (B2.2.1)
onde βs s = 1,...,S é o retorno econômico do grau de escolaridade D s em relação a D0 (referência). Na aplicação empírica descrita nesta seção, o conjunto de níveis de escolaridade considerados inclui (a) ensino fundamental; (b) ensino médio (diploma de ensino médio);(c) evasão de CSCD (ensino superior sem conclusão de CSCD); (d) conclusão de CSCD; (e) evasão de
(quadro continua próxima página)
Quadro 2.2 Estimativa de retornos mincerianos (continuação)
bacharelado; e (f) conclusão de bacharelado. Para a maior parte da análise, o “diploma de ensino médio” é a categoria de referência e, portanto, os parâmetros de interesse (ou seja, aqueles correspondentes às opções (c) a (f)) devem ser interpretados em relação a esse grau de escolaridade. A estimativa da equação (B2.2.1) também considera o impacto potencial da autos seleção no emprego. Para isso, a equação é estimada com base em um modelo de autos seleção à la Heckman, usando características de histórico familiar como restrições de exclusão.
A Tabela 2.1 mostra o retorno minceriano de CSCDs no início dos anos 2000, início dos anos 2010 e final dos anos 2010. Para fins de completude e comparação, a tabela também informa os retornos de qualquer curso superior (bacharelado ou CSCD) e de um bacharelado.15 Esses retornos são relativos a um diploma de ensino médio.
A tabela mostra várias constatações interessantes. Em primeiro lugar, independentemente do período de análise, na maioria dos países os retornos mincerianos de cursos de bacharelado são maiores do que os de CSCDs. Os retornos de cursos de bacharelado variam de 70 por cento (início dos anos 2010 na Argentina) a 178 por cento (final dos anos 2010 no Chile). Em segundo lugar, os retornos dos cursos superiores foram caracterizados por um declínio constante entre o início dos anos 2000 e o final dos anos 2010. Esse padrão é impulsionado principalmente por uma diminuição no retorno dos cursos de bacharelado, que passou de 139 por cento no início dos anos 2000 para 109 por cento quase duas décadas depois. A evolução dos retornos dos CSCDs oferece uma visão menos pessimista. Em média, ao longo de duas décadas, os egressos de CSCDs obtiveram salários aproximadamente 60 por cento mais altos do que os de egressos do ensino médio. Durante esse período, os retornos mincerianos dos CSCDs aumentaram para a metade dos países.
As figuras 2.1 e 2.2 apresentam essas constatações graficamente. A Figura 2.1 mostra as mudanças nos retornos entre o início dos anos 2000 e o final dos anos 2010 para cursos de bacharelado e CSCDs. A figura mostra que, enquanto a maioria dos países experimentou uma redução no retorno dos cursos de bacharelado, 7 dos 12 países experimentaram um aumento no retorno dos cursos superiores de curta duração, com ganhos variando de 5 a 45 pontos percentuais. A Figura 2.2 exibe os retornos dos CSCDs nos 12 países e para o período de análise mais recente (final dos anos 2010), que também são mostrados na Tabela 2.1. Para El Salvador e Bolívia, o modelo de Mincer oferece estimativas acima de 100 por cento; a faixa fica entre 40 por cento e 80 por cento para Argentina, Chile, Equador, Honduras, Paraguai e Uruguai entre 20 e 40 por cento para Costa Rica e Peru. No geral, esses resultados sugerem uma vantagem dos CSCDs sobre a alternativa de um diploma de ensino médio.
À primeira vista, as vantagens de um CSCD em relação ao ensino médio apresentadas na Figura 2.2 podem não ser surpreendentes, visto que refletem, em última análise, o retorno econômico de novas habilidades e capacidades.