
4 minute read
Introdução
Após o colapso dos preços das commodities no início de 2010, os países da América Latina e Caribe (ALC) têm buscado novos motores de crescimento que, além de elevar a produtividade, preservem e potencializem os ganhos patrimoniais alcançados na década anterior. Graças à sua capacidade de desenvolver capital humano qualificado, o ensino superior pode ser um motor formidável de progresso econômico e social.
Um tipo específico de ensino superior conhecido como curso superior de curta duração (CSCD) forma capital humano qualificado em dois ou três anos. Diferentemente dos cursos de bacharelado (com duração usual de cinco ou seis anos na ALC), CSCDs são curtos e de cunho marcadamente prático, tendo o claro objetivo de treinar os alunos para o trabalho em um espaço de tempo relativamente curto. Interessados em atrair alunos, os provedores de tais cursos têm incentivos para acompanhar os novos desenvolvimentos no mercado de trabalho e incorporar novas tecnologias, práticas e conhecimentos em suas grades curriculares.
Advertisement
Sendo um tipo de treinamento que ocorre após o ensino médio, os CSCDs atraem um público bastante variado. A primeira categoria consiste em pessoas que não podem cursar um bacharelado por causa do trabalho ou responsabilidades familiares, ou devido ao preparo acadêmico insuficiente. A segunda categoria consiste em aqueles que poderiam ter bons resultados no bacharelado, mas não estão dispostos a gastar o tempo ou recursos necessários, optando ao invés disso por uma capacitação mais curta e prática, e talvez mais bem remunerada. Uma terceira categoria são aqueles que talvez já tenham um diploma de bacharelado, mas estão buscando um treinamento curto e específico em sua área de conhecimento (por exemplo, um cientista da computação interessado em aprender animação por computador), ou em outra área (por exemplo, um historiador interessado em marketing).
De forma mais ampla, pessoas com interesse em melhorar as suas habilidades atuais para aplicar em uma ocupação semelhante (aperfeiçoamento ou “upskilling”) ou adquirir novas habilidades para aceder a uma nova ocupação (requalificação ou “reskilling”) podem gravitar em direção aos cursos superiores de curta duração.
O amplo poder de atração dos CSCDs contrasta com a visão que prevalece na região, onde os CSCDs arcam com o estigma de ser a opção menos desejável de ensino superior. Quando bem projetados, esses cursos têm o potencial de tornarse uma ferramenta crucial para a desenvolvimento profissional da força de trabalho no novo mundo do trabalho — onde a expectativa é que as pessoas mudem de ocupação, e até mesmo de carreira, várias vezes ao longo da vida,1 precisando ser treinadas de forma rápida, eficiente, e em contato próximo com o mercado de trabalho.
CSCDs não interessam apenas aos indivíduos, mas também aos empregadores, que enfrentam dificuldades para encontrar mão de obra qualificada. De acordo com a Pesquisa do Banco Mundial sobre Empresas (World Bank Enterprise Survey) de 2019, 24 por cento das empresas no mundo relatam que consideram uma força de trabalho com escolaridade inadequada como uma grande limitação. Na ALC, contudo, esse número sobe para 32 por cento, o maior de todas as regiões. Oferecer a variedade de habilidades exigidas pelo mercado de trabalho — de engenheiros a técnicos; de médicos a técnicos de raio-x — é uma função vital de um sistema de ensino superior funcional e dinâmico.2
Embora a necessidade de capital humano qualificado na região da ALC já exista há alguns anos — particularmente desde o final da “Década de Ouro” — a necessidade tornou-se absolutamente urgente com a pandemia de COVID-19.3 No entanto, por mais séria que esteja sendo a crise econômica em consequência da pandemia, ela não fez mais que acelerar as mudanças estruturais do mercado de trabalho que já estavam em andamento (Beylis et al., 2020). Antes mesmo da pandemia, máquinas já vinham substituindo seres humanos em tarefas de rotina mediante a automação, e a internet vinha substituindo a interação pessoal mediante o crescimento das plataformas eletrônicas. A produtividade e o valor de mercado de trabalhadores que produzem valor agregado intangível, como pesquisadores, analistas, programadores e designers, já vinha aumentando graças a novas tecnologias e ao aumento da concorrência.
A pandemia meramente aprofundou essas tendências. Diante da quarentena e dos requisitos de distanciamento social, algumas empresas substituíram os trabalhadores por máquinas para tarefas repetitivas, ou por plataformas eletrônicas para tarefas de muito contato. Em contrapartida, trabalhadores que produzem valor agregado intangível têm enfrentado um aumento na demanda (e tem conseguido fazer teletrabalho). Outros trabalhadores que não podem ser substituídos por uma máquina ou pela internet, como trabalhadores da área de saúde, também tem enfrentado uma demanda crescente. Em outras palavras, embora a pandemia tenha prejudicado o emprego e o produto agregado, os resultados não foram iguais para todas as empresas e trabalhadores. Muitas empresas e postos de trabalho foram destruídos, mas apareceram muitos outros.
É pouco provável que os empregos que desapareceram voltem. Para encontrar uma nova ocupação, essas pessoas precisam adquirir habilidades relevantes para o novo mundo do trabalho. Isso inclui tanto habilidades cognitivas (como pensamento crítico, capacidades analíticas, e capacidade de resolver problemas), quanto habilidades interpessoais (como trabalho em equipe, comunicação