AUDIOVISUAL 32
A lei 12.485, de 2011, que obriga as emissoras de TV por assinatura dedicadas a filmes, séries, animação e documentários a exibir pelo menos três horas e trinta minutos de conteúdo brasileiro por semana em seu horário nobre, abriu uma grande porta para a produção nacional. No caso dos desenhos animados, a cota foi superada em 92% em apenas quatro anos. Oportunidade de trabalho não só para os próprios produtos audiovisuais, mas também para as trilhas sonoras deles.
“Quando terminei a primeira temporada, eu nem sabia o que era um cue sheet (documento que descreve o uso de música numa produção audiovisual com todas as informações técnicas). Foi um dos músicos que contratei, e que vem de uma família de advogados, que me ajudou. Muitas vezes, o que você recebe pelos direitos fonomecânicos (de gravação) é pouco. Se eu não recebesse até hoje os direitos de execução pública, não teria valido a pena”, descreve Tatit.
“O impacto da lei foi enorme. O conteúdo nacional, especialmente o infantil, agrada o público e é um bom negócio”, diz Débora Ivanov, presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Brasileiros já têm boa fama lá fora
O associado Paulo Tatit, autor da trilha de “Peixonauta” e “Escola Pra Cachorro” (esta junto com Sandra Peres, sua parceira no projeto infantil “Palavra Cantada”), é um dos inúmeros profissionais que já desenvolvem trabalhos de grande qualidade e têm retorno financeiro por eles. Muito bem informado sobre os meandros da produção e da documentação do seu trabalho, o que facilita o recebimento dos direitos, ele compôs todas as canções originais e inéditas da série, que teve 52 episódios só na primeira leva.
O cable retransmission foi criado em 1985, quando a aferição de dados de programação de canais sediados num país e exibidos em outros era difícil. Assim, a regra determina que, quando não há informações suficientes sobre os autores das canções, o dinheiro da execução pública seja enviado ao país de origem do sinal para que lá se faça a distribuição. Muitas vezes, a programação-base que a emissora do país de origem usa, porém, é a de lá, e, se o desenho brasileiro não se emite internacionalmente, pode ser que o autor nacional tenha problemas para receber. “Antes, quase não havia conteúdo brasileiro nesses canais, por isso dava no mesmo. Isso mudou. Por isso o Ecad e as associações estão trabalhando para mudar a regra e chegar ao máximo de distribuição feita localmente ”, diz Peter Strauss, gerente de relações internacionais, distribuição e licenciamento da UBC.
Paulo Tatit, criador da trilha original de “Peixonauta”
foto_ Daryan Dornelles
Obras feitas por produtoras daqui, como “Peixonauta”, “O Show da Luna!”, “Escola Pra Cachorro”, “Mundo Bita” e “Galinha Pintadinha”, entre outras, extrapolaram as nossas fronteiras. Grande parte da distribuição relativa aos direitos autorais das músicas executadas já é feita localmente, enquanto outra ainda depende de distribuição internacional por conta de um mecanismo global chamado cable retransmission, ou retransmissão de TV a cabo, estabelecido entre as sociedades de autores e cujas regras vêm sendo atualizadas.
As séries, como lembra Tatit, são extensas. Então, ele recomenda cuidado na hora de fazer um orçamento justo, pois a elaboração de um trabalho original demanda tempo e muita experimentação: “Recebi avaliações muito positivas da trilha do ‘Peixonauta’, pois foi a primeira vez que se ouviu um pandeiro, um cavaquinho, ou mesmo um acordeão, tocando choro, samba e outros ritmos brasileiros em uma trilha de desenho animado. Pegou bem uma trilha com cara de Brasil.”