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Entrevista

Reivindicativa, poética, a banda As Bahias e a Cozinha Mineira lança seu álbum mais profundo e conquista espaços, público, crítica, indicação ao Grammy Latino e show no Rock in Rio

de_ São Paulo

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Seguimos uma tradição ancestral de persistir e inventar

Raquel Virgínia, uma das três bases d’As Bahias: “somos uma banda que sonha alto”

Quatro anos depois de “Mulher”, dois anos depois de “Bixa”, As Bahias e a Cozinha Mineira lançam “Tarântula”, outro disco cujo próprio título evoca feminilidade e politização. Ao batizar seu novo trabalho autoral com o nome de uma operação da PM paulista para “limpar as ruas” e “combater a Aids” que, em 1987, derivou numa série de assassinatos de travestis, a banda aprofunda seu caminho de reivindicação. Sem jamais perder a poesia.

Com dez canções autorais — e uma única parceria, de Raquel e Projota em “Tóxico Romance” —, o disco fala de afetos, abismo social, feminilidade, filosofia, futebol, sexo, arte de elite x arte popular e outros temas. Traduz, assim, as inquietudes essencialmente variadas do trio, cuja própria história pessoal dá fé disso. Assucena é judia, baiana de Vitória da Conquista. Raquel é uma paulistana negra que chegou a cogitar uma carreira no axé. E Rafael é um homem branco de Poços de Caldas (MG) que teve seu primeiro contato com a música numa igreja cristã.

Formado pelas mulheres transexuais Assucena Assucena e Raquel Virgínia e pelo homem cissexual (que está conforme com seu gênero biológico) Rafael Acerbi, todos egressos do curso de História na USP, o grupo milita sobretudo na MPB, mas empapando-se de outros gêneros da nossa nobre tradição popular. O resultado é a indicação ao Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa — “somos as primeiras mulheres trans (ao lado de Liniker, indicada a Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa) a conseguir isso”, Assucena e Raquel celebraram. A entrega será no próximo dia 14 de novembro.

Em setembro, eles fizeram sua estreia no Rock in Rio. Uma das suas “vitórias mais lindas”, como descrevem nesta entrevista.

Assucena Assucena

O que a indicação ao Grammy Latino - a primeira a mulheres trans, como orgulhosamente afirmaram - representa para vocês?

Assucena: É sintomático de um apagamento, silenciamento histórico e, também, da supressão social de nossos talentos. Mas acho também que essas indicações d’As Bahias e também da Liniker apontam para um novo tempo construído por nós.

O Brasil é um dos países que mais matam LGBTs, mas é também um dos únicos onde trans e pessoas de outras minorias sexuais alcançam o estrelato na música, têm milhões de seguidores nas redes e atraem multidões aos shows. O que explica esse paradoxo?

Raquel: O Brasil é celeiro de resistência por via artística. Somos criativos por excelência e inventamos realidades. Sempre tivemos artistas que chamaram a atenção do mundo pelo ineditismo e por contrariar as estatísticas genocidas do Brasil, por contrariar os interesses retrógrados e conservadores. Só seguimos uma tradição ancestral de persistir e inventar.

E vocês chegaram ao Rock in Rio. Como foi essa experiência?

Raquel: O Rock in Rio é um grande sonho para muitas bandas. Somos uma banda que sonha alto, nos permitimos sonhar e trabalhamos duro para chegar aonde almejamos. O Rock in Rio faz parte das nossas vitórias mais lindas. Cantar com Elza (Soares) estará marcado para sempre na minha memória.

Rafael Acerbi: grupo se conheceu na USP

Já estão compondo para um novo álbum? Quais os projetos/planos de curto/médio prazo?

Rafael: Raquel, Assucena e eu compomos o tempo todo. Nestes anos, acumulamos canções que deixamos guardadas. Temos várias músicas não gravadas e outras a se fazer. Ainda não começamos a discutir o novo álbum, mas algumas canções já têm se mostrado interessantes para inaugurar uma nova fase.

LEIA MAIS A entrevista completa no site da UBC ubc.vc/Bahias

VEJA MAIS O clipe de “Volta”, do álbum “Tarântula” ubc.vc/ClipeBahias

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