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pelo pais gilberto monteiro
A ALMA GAÚCHA MISSÃO: TRADUZIR A ALMA GAÚCHA

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Aos 50 anos de carreira, Gilberto Monteiro se consolida como mestre da gaita-ponto e ultrapassa gerações com simplicidade
Texto e fotos_ Matheus Passos Beck de_ Porto Alegre
A trilha incidental do imaginário coletivo sobre o Rio Grande do Sul é uma milonga forte e, ao mesmo tempo, harmoniosa. A mítica “Milonga para as Missões” marca o ritmo tanto do trote dos animais do pampa quanto dos pés calçados de botas que dançam nos salões. Porém, quem procura pela canção nas plataformas digitais corre o risco de encontrar dezenas de versões, de Victor & Léo a Mastruz com Leite, mas não a original, a do seu autor — que, diferentemente do que muitos pensam, não é Renato Borghetti.
Acordeonista, Gilberto Monteiro começou a dedilhar a famosa canção em sua gaita de oito baixos aos 15 anos. Lançou-a nove anos mais tarde, em 1977, e cedeu-a ao programa “Fogo de Chão”, na Band. “Onde tocava, era um balaço”, conta. “Fico feliz. Não sou metido, fico na minha. Esse é um tema bem simples, mas tem muita força.”
Os 50 anos de carreira de Gilberto oscilam entre álbuns essenciais ao cancioneiro gaúcho, como
“Pra Ti Guria” e “De Lua e Sol”, e composições solo ou em parceria com amigos, como Joviniano Pires e Lúcio Yanel. “Respeito todo tipo de música. Mas me criei fazendo vaneira, milonga, xote e chamamé.”
A ligação com as culturas argentina e uruguaia é motivo de inspiração. É comum no título de uma canção ou em uma conversa escapar algum termo em espanhol. Efeito da criação por uma família que deixou Tacuarembó, no Uruguai, e se fixou em Santiago, perto da fronteira Brasil-Argentina.
De certa forma, Gilberto nunca deixou sua cidade. Parece não se afetar pelo barulho dos carros na zona norte de Porto Alegre, onde vive em um terreno modesto com o cachorro Duque. “Sempre penso que estou em Santiago. Lá, tu espichas o beiço e já estás chegando. Aqui, eu saio, pego esse trânsito bárbaro e me atraso. Vira um despelote”, ri, deslizando a expressão do Cone Sul que caracteriza uma bagunça.
ANDANÇAS
“Esse acordeão é um Hohner alemão. Só que qualquer instrumento, fabricado onde for, quando se estabiliza em uma região, vai pegar a cor dela através de quem a executa. Cada um tem uma forma de expressar a música”, reflete. “Tu podes dar o sentimento em uma nota musical.”
Duas de suas composições mais recentes — o zamba “Saudade de Colônia” e a chacarera “La Fronteiriça de São Borja” — são homenagens a amigos dos lugares por onde passou. Aos 66 anos, Gilberto não é diferente daquele piá que serviu à Aeronáutica porque queria voar. É um compositor simples que procura na complexidade de um acorde aplicar sua identidade tão ligada à gaita-ponto: