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Pelo país

UMA CIDADE SEM ESTILO... ÚNICO

Do samba ao sertanejo, do pop ao funk, do rock ao hip hop, capital de Minas Gerais renova sua cena musical e vive um dos momentos mais efervescentes em décadas

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por_ Carol Braga de_ Belo Horizonte

A banda Rosa Neon, expoente da nova e plural criação belo-horizontina

por Sarah Leal

Não é um movimento; são muitos. Tantos, que fizeram a mistura ferver. Basta olhar a agenda cultural local: em pequenos shows na rua, nos lendários bares desta grande metrópole, em festivais e na rede, a música produzida em Belo Horizonte chama a atenção nacionalmente. Tem muita gente criando em estilos diferentes que, curiosamente, conseguem tecer diálogos. Tanto do ponto de vista artístico como da produção.

“Quando se fala em ‘cena mineira’ é até difícil porque são muitas cenas”, afirma a cantora e compositora Julia Branco. “Tenho convicção disso porque eu participo dessa cena e vejo acontecer”, diz a também cantora e instrumentista Nath Rodrigues. “Acho que é um dos melhores momentos para ser artista nesta cidade”, completa Marcelo Tofani, integrante da banda Rosa Neon.

Para o cantor, compositor e ator Luiz Rocha, a atual cena de BH não nega sua nobre tradição nas letras e melodias, mas permite se pensar em outras plataformas. Isso vale tanto para a produção autoral mais conectada à MPB como para rap, samba, pagode, indie rock ou eletrônica.

POP INDIE

O Rosa Neon ilustra bem isso. Formada por Tofani e por Luiz Gabriel Lopes, Marina Sena e Mariana Cavanellas, completa um ano neste mês de novembro. Desde o início, a aposta foi no meio de maior visibilidade na era digital: em vez de disco ou single, eles vêm apresentando as canções, uma por mês, diretamente em clipes no YouTube. O tom irreverente e a estética moderna os puseram diretamente no topo dos radares do hype nacional. O primeiro disco sai agora, junto com a turnê nacional. Tudo impulsionado pela rede.

AS MULHERES

Nath Rodrigues é testemunha da intensa colaboração que marca as cenas da cidade. Em 2019, ela lançou “Fractal”, seu primeiro álbum. Totalmente autoral, foi gravado a partir de uma campanha de financiamento coletivo. A banda de Nath Rodrigues só tem mulheres instrumentistas. “As mulheres eram reprimidas, mas, quando entendemos que também poderíamos fazer música, a coisa cresceu e aconteceu”, conta Nath. “As mulheres e os artistas negros são os que têm produzido mais fortemente e de forma mais contundente”, faz coro Luiz Rocha.

QUANDO SE FALA EM ‘CENA MINEIRA’ É ATÉ DIFÍCIL PORQUE SÃO MUITAS CENAS.”

Julia Branco, cantora e compositora

foto_ Florence Zyad

UM SÓ MOVIMENTO?

Thiago Delegado

foto_ Anna Clara Carvalho

Para o compositor e violonista Thiago Delegado, apesar de toda a intensidade criativa e colaborativa, a música feita em Belo Horizonte ainda é consumida por um gueto. O caso mineiro se diferencia de exemplos do Pará ou de Pernambuco onde, de fato, há verdadeiramente movimentos que vão na mesma direção.

Delegado faz a análise a partir da experiência gerada depois de três anos à frente do programa “A Hora do Improviso”, anteriormente veiculado pela Rádio Inconfidência. “Hoje, somos muito heterogêneos. Já tivemos uma unidade com o Clube da Esquina, com o rock do Skank, Jota Quest e Pato Fu, mas atualmente é muito diversificado.”

Barral Lima, diretor musical do grupo UN Music, selo, produtora e editora de BH, crê que esse é precisamente o segredo desse momento tão único: “Nunca se viu tanta música sendo produzida e lançada como hoje em BH. Nós inauguramos o selo Under Discos há menos de um ano e estamos no sexto lançamento, com alguns títulos já aguardando data na prateleira.”

A música de nicho, sobretudo o hip hop, ele diz, saiu dos guetos e das periferias e agita a renovação, atraindo gente de várias partes, o que torna a cidade um curioso melting pot fora do eixo Rio-São Paulo. “Essa vazão se dá, principalmente, através de dois lugares: internet e rua. São os pilares. As pequenas casas de shows estão cada vez mais raras nas cidades. Então é preciso ter sempre um bom material para buscar os festivais, em fase de crescimento, apesar do momento que vivemos.”

“Parte desse núcleo criativo de BH chega de várias cidades, principalmente do interior de Minas”, analisa Barral Lima. “Andando pelo interior, você percebe a riqueza musical deste estado e também a dificuldade que os artistas têm em cidades menores para promover a sua música e suas carreiras. BH ainda tem uma certa tranquilidade que as grandes metrópoles, como São Paulo e Rio, já não têm. Aqui você tem bons estúdios, ótimos profissionais, alta gastronomia, belos teatros, festivais diversos e uma tranquilidade de um cidade do interior. Bandas como Jota Quest, Skank e Pato Fu nunca precisaram sair da cidade para fazer sucesso ou se manter nele.”

OUÇA MAIS No Spotify da UBC, uma playlist com canções de alguns dos principais nomes da nova produção belo-horizontina ubc.vc/BHList

Luiz Rocha

foto_ Davi Mello

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